Fatos surgidos durante a semana deixam bastante claro que a oposição farisaica já jogou a toalha e sabe que está prestes a levar uma “surra de rabo de tatu” nas eleições presidenciais de outubro.
O intuito imediato agora é barrar a onda vermelha que ameaça varrer o país elegendo na maioria dos estados governadores aliados ao projeto petista, além de uma confortável bancada tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal.
Mesmo que a oposição de direita consiga manter os governos estaduais de São Paulo – duvido que não haja segundo turno ali – e Minas Gerais – por ora há apenas a ascensão do “Boneco de Ventríloquo”, coisa já esperada, enquanto Hélio Costa continua a ser competitivo, algo que Serra, por exemplo, parece não ser mais no plano federal – será pouquíssimo se comparado à força que imaginava obter antes de deflagrada a campanha. A oposição farisaica corre o sério risco de se ver reduzida a pó.
Diante dessa iminência a oposição farisaica está apelando aos discursos mais baixos. E não me refiro a baixaria na internet ou no horário eleitoral gratuito, ela está apelando para novos e antigos subterfúgios e sofismas na busca desesperada de construir um discurso capaz de legitimar um golpe de estado.
O Partido do Capital – a mídia oligopolizada – sempre teve lampejos nesse sentido, seja na forma de denuncismo, principal artimanha desde a “crise do mensalão”, seja o flerte com o golpismo expresso no discurso udenista contra, por exemplo, o PNDH ou a Revisão da Lei de Anistia ou, ainda, os aplausos incontidos perante a judicialização da política.
Mas quanto ao PSDB, é difícil determinar quando definitivamente adotou essa linha (golpista) como estratégia política. Talvez tenha sido quando o presidenciável tucano cunhou o governo de Luis Inácio Lula da Silva como sendo uma tentativa de implantação duma Republica Sindicalista – exatamente o mesmo termo usado pela UDN e os militares em 1964 para derrubar Jango.
Já durante o 8º Congresso Brasileiro de Jornais, no dia 19 último, José Serra declarou para deleite da plateia presente: "Uma coisa é divergir de notícias, uma coisa é debater as notícias, outra coisa, completamente diferente, é usar a opressão do Estado... em função do partido"; e emendou ao tratar das inúmeras conferências promovidas pelo governo federal nesses sete anos do Presidente Lula: "Essa é uma via democrática de estabelecer o controle, porque as conferências pagas com o dinheiro público são de frações de partido, do PT, que é a favor disso". O tucano ainda acusou categoricamente os petistas de realizarem "perseguição sistemática e pressão psicológica" sobre membros da imprensa.
Tais declarações foram refutadas e dadas como fantasiosas pelo insuspeito Financial Times através de seu correspondente no Brasil, Jonathan Wheatley, curiosamente num artigo onde defende Serra como único capaz de retomar as “imperiosas” reformas iniciadas nos idos FFHH.
Talvez tenha sido no Congresso Brasileiro de Jornais que Serra deu o sinal de que, na impossibilidade de chegar ao poder através do voto, a coalizão conservadora da qual ele próprio é líder – PSDB/DEMO/PPS/CNA/Partido do Capital et caterva – deve se dispor a tomar o poder doutras maneiras.
Nessa semana que passou o Partido do Capital foi fértil em criar inúmeras teorias a fim de justificar uma ruptura democrática. Vários colunistas têm emprestado suas penas para alertar acerca do perigo de “chavinização” da política brasileira. Entretanto, na verdade, nem eles sabem ao certo o significado do termo que eles próprios insistem em forjar.
Numa delas Ricardo Noblat postou em seu blog um artigo de Sandro Vaia cujo teor acusa o Partido dos Trabalhadores de não saber lidar com as instituições democráticas, de aparelhamento do Estado – essa lenga-lenga é antiga, surrada e fácil de ser desmontada – além de não saber conviver com a oposição, chegando mesmo a querer dizimá-la. Esquece-se o jornalista conservador que o Partido dos Trabalhadores foi ao longo de 22 anos, desde sua fundação em 1980 até a eleição de Lula para a presidência da República em 2002, oposição sistemática aos diversos governos federais do período. Passando, e sobrevivendo, como oposição pelo Gal. Figueiredo, o último ditador do ciclo militar, pelos governos Sarney e Collor, pelo governo Itamar/FFHH e pelos mandatos presidenciais de FFHH, e enquanto tal jamais pregou a ruptura democrática. Muito pelo contrário, ao longo de sua trajetória foi aos poucos se submetendo ao status quo e se institucionalizando.
Na visão torpe e oportunista de Vaia, a continuidade do PT a frente do governo federal poderá colocar em xeque as instituições democráticas.
No sábado Serra surgiu novamente em cenário carregando o figurino “vivandeira de quartel” – Marco Aurélio Garcia já havia alertado sobre o fim melancólico do ex-governador de São Paulo. Leiam o que Serra foi capaz de dizer em encontro com associados do Clube Militar no Rio de Janeiro:
"Em 64, não sei se os senhores já estavam nas Forças Armadas, mas uma grande motivação da derrubada de Jango era a ideia, equivocada, de uma 'república sindicalista'. Não tinha menor possibilidade, tal a fraqueza (do governo)... Mas eles (PT) fizeram agora uma república sindicalista. Não pelo socialismo, estatismo, mas para curtir"
Tal declaração dispensa maiores comentários, por si só já é bastante didática e escancara o que passa pela cabeça da oposição farisaica.
Todavia nenhuma tentativa de golpe de Estado nesse país pode ser pensada ou aventada sem a palavra de Gilmar Mendes. E foi justamente ele quem retornou aos holofotes nesse domingo.
Em entrevista à Folhona Ditabranda Mendes fez inúmeras elucubrações sobre a suposta quebra de sigilo fiscal de pessoas vinculadas ao PSDB. Também referiu-se, ainda que disfarçadamente, ao PT como partido clandestino, acusou o governo federal de aparelhamento do Estado e ao mesmo tempo de usar de “paradigmas selvagens da política sindical”.
Em suma, tudo parece estar orquestrado para uma tentativa de ruptura democrática, resta saber se há na direita coesão e coragem para tanto.
domingo, 29 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
Funk Cultural – Chorar de Rir
Inteligência, criatividade e irreverência. Essas são algumas das virtudes de Marcelo Adnet e seu divertidíssimo “funk cultural”.
É de chorar de rir!!!
É de chorar de rir!!!
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Robert Fisk no Página 12: Agora dizem que venceram
Por Robert Fisk, no Página 12 da Argentina
Via Carta Maior
Quando se invade um país há que se ter um primeiro soldado – da mesma maneira que um último. O primeiro homem à frente da primeira coluna do exército estadunidense de invasão que chegou à praça Fardous, no centro de Bagdá em 2003 foi o cabo David Breeze do Terceiro Batalhão, Quarto Regimento de Fuzileiros. Por esse motivo, claro que se destacou que não se tratava de um soldado. Os fuzileiros não são soldados. São fuzileiros. Mas ele não falava com sua mãe há dois meses e por isso – igualmente inevitável – lhe ofereci meu telefone de satélite para que ligasse para sua casa no Michigan. Todo jornalista sabe que se consegue uma boa história se empresta o telefone a um soldado na guerra.
“Oi, pessoal”, gritou o cabo Breeze. “Estou em Bagdá. Estou ligando para dizer oi, os amo, estou bem. Eu amo vocês, pessoal. A guerra terminará em poucos dias. Vamos nos ver daqui a pouco”. Sim, todos diziam que a guerra terminaria logo. Não consultaram os iraquianos sobre esse passo agradável. Os primeiros terroristas suicidas – um policial em seu automóvel e depois duas mulheres num automóvel – já tinham atacado os estadunidenses numa grande rodovia que leva a Bagdá. Haveria ainda uma centena de ataques. Haverá mais centenas no Iraque no futuro.
De maneira que não deveríamos nos deixar enganar com as palhaçadas das últimas horas da partida na fronteira com o Kuwait, das últimas tropas de “combate” duas semanas antes do previsto. Tampouco pelo grito infantil “Vencemos!” dos soldados adolescentes, alguns dos quais deviam ter 12 anos quando George W. Bush enviou seu exército para esta catastrófica aventura iraquiana. Deixam atrás 50 mil homens e mulheres – um terço do total da força de ocupação estadunidense – que serão atacados e terão, além disso, de lutar contra a insurgência.
Sim, oficialmente eles tem de treinar homens armados e as milícias, e os mais pobres dos pobres que se uniram ao novo exército iraquiano, cujo próprio comandante não acredita que estejam prontos para defender seu país até 2020. Porém seguramente estarão ocupados – porque seguramente um dos “interesses estadunidenses” deve ser defender sua própria presença – junto aos milhares de mercenários indisciplinados e armados, ocidentais e orientais, que abrem caminho ao redor do Iraque, a tiros, para salvaguardar nossos preciosos diplomatas e empresários ocidentais, de modo que, dizendo com força, não estamos partindo!
Em troca, os milhões de soldados estadunidenses que passaram pelo Iraque trouxeram aos iraquianos uma doença. Do Afeganistão – pelo qual mostraram tanto interesse depois de 2001 como o mostrarão quando começarem a “deixar” o país, no ano que vem – trouxeram a infecção da Al Qaeda.
Trouxeram a enfermidade da guerra civil. Injetaram corrupção em grande escala no Iraque. Estamparam o selo de tortura em Abu Graib - um sucessor válido da mesma prisão sob o vil governo de Saddam -, depois de estampar o selo da tortura em Bagram e em prisões no Afeganistão. Tornaram sectário um país que, apesar da brutalidade e da corrupção de Sadam, até então conseguia manter juntos sunitas e xiitas.
E porque os xiitas invariavelmente governariam essa nova “democracia”, os soldados estadunidenses deram ao Irã a vitória que tanto buscou em vão na terrível guerra de 1980-1988 contra Saddam. Por certo os homens que atacaram a embaixada dos Estados Unidos no Kuwait nos velhos tempos maus – homens que eram aliados dos terroristas suicidas que explodiram a base da Marinha em Beirut, em 1983 -, agora ajudam a governar o Iraque. Os Dawa eram “terroristas”, naqueles tempos. Agora são “democratas”.
É engraçado como nos esquecemos dos 241 homens do serviço estadunidense que morreram na aventura do Líbano. O cabo David Breeze provavelmente tinha dois ou três anos naquele período. Mas a enfermidade continua. O desastre dos Estados Unidos no Iraque infectou a Jordânia com a AlQeda - as bombas no hotel de Amã – e depois novamente o Líbano. A chegada dos homens armados do Fatah al Islam no campo de refugiados palestinos de Nahra-Bared, no norte do Líbano – seus 34 dias com o exército libanês -. e a quantidade de mortes civis foram um resultado direto do levante sunita no Iraque. A AlQeda tinha chegado ao Líbano. Depois do Iraque, sob a ocupação estadunidense, reinfectou o Afeganistão com o terrorismo suicida, o autoimolador que transformou os soldados estadunidenses de homens que lutam em homens que se escondem.
De todas as maneiras, agora estão ocupados reescrevendo a narrativa. Um milhão de iraquianos estão mortos. A Blair eles não importam em nada – não figuram entre os beneficiários de direitos. Tampouco importa a maioria dos soldados estadunidenses. Vieram, viram, perderam. E agora dizem que ganharam. Os árabes, sobrevivendo a seis horas de eletricidade por dia em seu inóspito país, devem esperar que não haja mais vitórias como esta.
Tradução: Katarina Peixoto
Via Carta Maior
Quando se invade um país há que se ter um primeiro soldado – da mesma maneira que um último. O primeiro homem à frente da primeira coluna do exército estadunidense de invasão que chegou à praça Fardous, no centro de Bagdá em 2003 foi o cabo David Breeze do Terceiro Batalhão, Quarto Regimento de Fuzileiros. Por esse motivo, claro que se destacou que não se tratava de um soldado. Os fuzileiros não são soldados. São fuzileiros. Mas ele não falava com sua mãe há dois meses e por isso – igualmente inevitável – lhe ofereci meu telefone de satélite para que ligasse para sua casa no Michigan. Todo jornalista sabe que se consegue uma boa história se empresta o telefone a um soldado na guerra.
“Oi, pessoal”, gritou o cabo Breeze. “Estou em Bagdá. Estou ligando para dizer oi, os amo, estou bem. Eu amo vocês, pessoal. A guerra terminará em poucos dias. Vamos nos ver daqui a pouco”. Sim, todos diziam que a guerra terminaria logo. Não consultaram os iraquianos sobre esse passo agradável. Os primeiros terroristas suicidas – um policial em seu automóvel e depois duas mulheres num automóvel – já tinham atacado os estadunidenses numa grande rodovia que leva a Bagdá. Haveria ainda uma centena de ataques. Haverá mais centenas no Iraque no futuro.
De maneira que não deveríamos nos deixar enganar com as palhaçadas das últimas horas da partida na fronteira com o Kuwait, das últimas tropas de “combate” duas semanas antes do previsto. Tampouco pelo grito infantil “Vencemos!” dos soldados adolescentes, alguns dos quais deviam ter 12 anos quando George W. Bush enviou seu exército para esta catastrófica aventura iraquiana. Deixam atrás 50 mil homens e mulheres – um terço do total da força de ocupação estadunidense – que serão atacados e terão, além disso, de lutar contra a insurgência.
Sim, oficialmente eles tem de treinar homens armados e as milícias, e os mais pobres dos pobres que se uniram ao novo exército iraquiano, cujo próprio comandante não acredita que estejam prontos para defender seu país até 2020. Porém seguramente estarão ocupados – porque seguramente um dos “interesses estadunidenses” deve ser defender sua própria presença – junto aos milhares de mercenários indisciplinados e armados, ocidentais e orientais, que abrem caminho ao redor do Iraque, a tiros, para salvaguardar nossos preciosos diplomatas e empresários ocidentais, de modo que, dizendo com força, não estamos partindo!
Em troca, os milhões de soldados estadunidenses que passaram pelo Iraque trouxeram aos iraquianos uma doença. Do Afeganistão – pelo qual mostraram tanto interesse depois de 2001 como o mostrarão quando começarem a “deixar” o país, no ano que vem – trouxeram a infecção da Al Qaeda.
Trouxeram a enfermidade da guerra civil. Injetaram corrupção em grande escala no Iraque. Estamparam o selo de tortura em Abu Graib - um sucessor válido da mesma prisão sob o vil governo de Saddam -, depois de estampar o selo da tortura em Bagram e em prisões no Afeganistão. Tornaram sectário um país que, apesar da brutalidade e da corrupção de Sadam, até então conseguia manter juntos sunitas e xiitas.
E porque os xiitas invariavelmente governariam essa nova “democracia”, os soldados estadunidenses deram ao Irã a vitória que tanto buscou em vão na terrível guerra de 1980-1988 contra Saddam. Por certo os homens que atacaram a embaixada dos Estados Unidos no Kuwait nos velhos tempos maus – homens que eram aliados dos terroristas suicidas que explodiram a base da Marinha em Beirut, em 1983 -, agora ajudam a governar o Iraque. Os Dawa eram “terroristas”, naqueles tempos. Agora são “democratas”.
É engraçado como nos esquecemos dos 241 homens do serviço estadunidense que morreram na aventura do Líbano. O cabo David Breeze provavelmente tinha dois ou três anos naquele período. Mas a enfermidade continua. O desastre dos Estados Unidos no Iraque infectou a Jordânia com a AlQeda - as bombas no hotel de Amã – e depois novamente o Líbano. A chegada dos homens armados do Fatah al Islam no campo de refugiados palestinos de Nahra-Bared, no norte do Líbano – seus 34 dias com o exército libanês -. e a quantidade de mortes civis foram um resultado direto do levante sunita no Iraque. A AlQeda tinha chegado ao Líbano. Depois do Iraque, sob a ocupação estadunidense, reinfectou o Afeganistão com o terrorismo suicida, o autoimolador que transformou os soldados estadunidenses de homens que lutam em homens que se escondem.
De todas as maneiras, agora estão ocupados reescrevendo a narrativa. Um milhão de iraquianos estão mortos. A Blair eles não importam em nada – não figuram entre os beneficiários de direitos. Tampouco importa a maioria dos soldados estadunidenses. Vieram, viram, perderam. E agora dizem que ganharam. Os árabes, sobrevivendo a seis horas de eletricidade por dia em seu inóspito país, devem esperar que não haja mais vitórias como esta.
Tradução: Katarina Peixoto
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Cláudio Lembo, uma voz no deserto da direita tupiniquim
Com todas as ressalvas que eu possa ter a Cláudio Lembo, sou obrigado a admitir que o ex-governador de São Paulo trata-se de rara exceção na direita tupiniquim – talvez outra exceção seja o economista e ex-ministro Bresser Pereira. Todavia, não sei se Lembo é de fato uma exceção por ser voz lúcida na oposição de direita, ou se ele apenas está do lado errado do jogo político.
Leiam o artigo assinado por Lembo e depois eu comento.
Não há como se implantar um hiper presidencialismo no Brasil
Por Cláudio Lembo, no Terra Magazine
Esta América Latina sofre surtos esquizofrênicos com regularidade. Os seus intelectuais visitam universidades no exterior retornam com a cabeça feita.
Nada mais fácil que convencer um intelectual sul-americano. Acostumado à escassez, torna-se dócil e bom expositor de ideais alheias depois de conhecer a riqueza e as possibilidades de seus colegas estrangeiros.
O professor de tal academia falou: é verdade. Por mais absurda que seja a tese exposta. Muitas vezes sem conhecer profundamente as sociedades analisadas eles oferecem conclusões acabadas sobre o futuro.
Em cada época o tema é diferente. Houve oportunidade que todas as pessoas da situação eram más e perversas. Assim prescreviam os estrangeiros.
Não importava a obra governamental. As grandes hidroelétricas erguidas. Era da situação, não prestava. Devia ser combatido. Tudo que partia do governo não tinha qualidade.
Grandes obras de infraestrutura foram erguidas. Só críticas. Nada de positivo. Hoje, passados os anos, as obras são admiradas e seus autores esquecidos.
Esta foi um das mais amargas conseqüências de regime militar. As balas de papel disparadas pelos intelectuais soberbos e mal intencionados. Foram muitas as vítimas deste período.
Voltam, agora, os intelectuais com novo modismo. Agredir o presidencialismo e tecer loas ao parlamentarismo. Exatamente isto. Voltam a falar, em pequenos grupos, em adoção do regime parlamentar.
O povo - com sua exemplar sabedoria - por duas vezes rejeitou a fórmula parlamentar de governo. Não importa. Os intelectuais sabem e o povo é naif. Os intelectuais não ouvem a opinião das ruas.
Não é apenas esta faceta das conversas intramuros que deve ser registrada. Há mais. Dizem que o presidencialismo tornou-se um hiper presidencialismo.
Isto é mal, porque sufoca os demais poderes dos governos contemporâneos. Afirmam que Montesquieu - e a sua teoria da tripartição dos poderes - são balela.
Daí surge duas vertentes. Uma leva a um golpismo de direita com suporte no velho argumento de que o povo não sabe votar. É preciso ter cuidado. A democracia dá liberdade à sociedade para escolher.
Nada mais equivocado que esta última assertiva. É o que apontam os intelectuais. Desejam, como em outras épocas, o governo dos déspotas esclarecidos. Não importa quem seja ele, desde que componente da elite econômica.
E, dentro desta paranóia, abominam todos os que têm contato direito com o povo e, desta maneira, escuta-o e deseja resolver suas situações críticas centenárias.
Ontem abominavam o operário que, não sabendo seu lugar, desejava ser presidente da República. Agora, não admitem sucessão no interior dos mesmos quadros de militância.
Erram mais uma vez. Os partidos organizados têm a obrigação de oferecer nomes à escolha dos eleitores nos pleitos. Estes precisam selecionar seus candidatos de acordo com suas preocupações.
A opinião pública brasileira - extremamente evoluída - pode escolher um candidato com grande entusiasmo e, depois, durante o exercício do mandato fiscalizá-lo arduamente.
Não há hipótese de se implantar, nestas terras, um hiper presidencialismo que conduz a atrofia dos demais poderes, deixando de existir o salutar controle de um poder sobre o outro.
As instituições nacionais já passaram por situações extremamente graves e sempre conseguimos salvá-las e permanecer na boa caminhada da democracia.
O hiper presidencialismo, em vários países sul americanos, surgiu do equívoco das classes conservadores. Os governos conduziam-se com normalidade.
Os meios de comunicação foram usados para exercício de um golpismo vergonhoso. Houve reação e os governos legítimos se mantiveram. Foi assim que ocorreu na Venezuela. A conseqüência foi o endurecimento dos embates.
Aqui, no Brasil, o bom senso sempre termina vencendo. O que se precisa é de um legítimo partido de oposição, capaz de fazer frente aos adversários.
Quando um partido de oposição, refere-se positivamente ao líder do adversário, na busca de arrecadar apoio popular, alguma coisa esta errada.
Comentário meu: Obviamente Cláudio Lembo está se referindo ao Partido do Capital – ou mídia oligopolizada, termos que ele jamais usaria – aos blogues de esgoto e a instrumentalização da oposição de direita por esses atores. O que levou, ao cabo de sete anos e meio, a constatação de que a direita não possui nenhum discurso calcado na realidade brasileira e, pior, ficou acossada frente o enorme prestígio e carisma do Presidente Lula. Lembo ainda teve o cuidado de não classificar o governo Lula como populista ou de dizer se as conquistas sociais desse mesmo governo são perenes ou frágeis.
Entretanto, não vejo o porquê do parlamentarismo não poder ser implantado no Brasil e no que este sistema de governo implicaria em redução da democracia. De minha parte, defendo o parlamentarismo por, dentre muitas outras coisas, acreditar que se trata de um regime mais adequado a uma sociedade com tantas desigualdades e em processo de construção democrática. Nessa mesma linha de raciocínio acredito que o parlamentarismo facilita a construção de ferramentas a fim de se transpor duma democracia meramente formal para uma democracia substancial.
Leiam o artigo assinado por Lembo e depois eu comento.
Não há como se implantar um hiper presidencialismo no Brasil
Por Cláudio Lembo, no Terra Magazine
Esta América Latina sofre surtos esquizofrênicos com regularidade. Os seus intelectuais visitam universidades no exterior retornam com a cabeça feita.
Nada mais fácil que convencer um intelectual sul-americano. Acostumado à escassez, torna-se dócil e bom expositor de ideais alheias depois de conhecer a riqueza e as possibilidades de seus colegas estrangeiros.
O professor de tal academia falou: é verdade. Por mais absurda que seja a tese exposta. Muitas vezes sem conhecer profundamente as sociedades analisadas eles oferecem conclusões acabadas sobre o futuro.
Em cada época o tema é diferente. Houve oportunidade que todas as pessoas da situação eram más e perversas. Assim prescreviam os estrangeiros.
Não importava a obra governamental. As grandes hidroelétricas erguidas. Era da situação, não prestava. Devia ser combatido. Tudo que partia do governo não tinha qualidade.
Grandes obras de infraestrutura foram erguidas. Só críticas. Nada de positivo. Hoje, passados os anos, as obras são admiradas e seus autores esquecidos.
Esta foi um das mais amargas conseqüências de regime militar. As balas de papel disparadas pelos intelectuais soberbos e mal intencionados. Foram muitas as vítimas deste período.
Voltam, agora, os intelectuais com novo modismo. Agredir o presidencialismo e tecer loas ao parlamentarismo. Exatamente isto. Voltam a falar, em pequenos grupos, em adoção do regime parlamentar.
O povo - com sua exemplar sabedoria - por duas vezes rejeitou a fórmula parlamentar de governo. Não importa. Os intelectuais sabem e o povo é naif. Os intelectuais não ouvem a opinião das ruas.
Não é apenas esta faceta das conversas intramuros que deve ser registrada. Há mais. Dizem que o presidencialismo tornou-se um hiper presidencialismo.
Isto é mal, porque sufoca os demais poderes dos governos contemporâneos. Afirmam que Montesquieu - e a sua teoria da tripartição dos poderes - são balela.
Daí surge duas vertentes. Uma leva a um golpismo de direita com suporte no velho argumento de que o povo não sabe votar. É preciso ter cuidado. A democracia dá liberdade à sociedade para escolher.
Nada mais equivocado que esta última assertiva. É o que apontam os intelectuais. Desejam, como em outras épocas, o governo dos déspotas esclarecidos. Não importa quem seja ele, desde que componente da elite econômica.
E, dentro desta paranóia, abominam todos os que têm contato direito com o povo e, desta maneira, escuta-o e deseja resolver suas situações críticas centenárias.
Ontem abominavam o operário que, não sabendo seu lugar, desejava ser presidente da República. Agora, não admitem sucessão no interior dos mesmos quadros de militância.
Erram mais uma vez. Os partidos organizados têm a obrigação de oferecer nomes à escolha dos eleitores nos pleitos. Estes precisam selecionar seus candidatos de acordo com suas preocupações.
A opinião pública brasileira - extremamente evoluída - pode escolher um candidato com grande entusiasmo e, depois, durante o exercício do mandato fiscalizá-lo arduamente.
Não há hipótese de se implantar, nestas terras, um hiper presidencialismo que conduz a atrofia dos demais poderes, deixando de existir o salutar controle de um poder sobre o outro.
As instituições nacionais já passaram por situações extremamente graves e sempre conseguimos salvá-las e permanecer na boa caminhada da democracia.
O hiper presidencialismo, em vários países sul americanos, surgiu do equívoco das classes conservadores. Os governos conduziam-se com normalidade.
Os meios de comunicação foram usados para exercício de um golpismo vergonhoso. Houve reação e os governos legítimos se mantiveram. Foi assim que ocorreu na Venezuela. A conseqüência foi o endurecimento dos embates.
Aqui, no Brasil, o bom senso sempre termina vencendo. O que se precisa é de um legítimo partido de oposição, capaz de fazer frente aos adversários.
Quando um partido de oposição, refere-se positivamente ao líder do adversário, na busca de arrecadar apoio popular, alguma coisa esta errada.
Comentário meu: Obviamente Cláudio Lembo está se referindo ao Partido do Capital – ou mídia oligopolizada, termos que ele jamais usaria – aos blogues de esgoto e a instrumentalização da oposição de direita por esses atores. O que levou, ao cabo de sete anos e meio, a constatação de que a direita não possui nenhum discurso calcado na realidade brasileira e, pior, ficou acossada frente o enorme prestígio e carisma do Presidente Lula. Lembo ainda teve o cuidado de não classificar o governo Lula como populista ou de dizer se as conquistas sociais desse mesmo governo são perenes ou frágeis.
Entretanto, não vejo o porquê do parlamentarismo não poder ser implantado no Brasil e no que este sistema de governo implicaria em redução da democracia. De minha parte, defendo o parlamentarismo por, dentre muitas outras coisas, acreditar que se trata de um regime mais adequado a uma sociedade com tantas desigualdades e em processo de construção democrática. Nessa mesma linha de raciocínio acredito que o parlamentarismo facilita a construção de ferramentas a fim de se transpor duma democracia meramente formal para uma democracia substancial.
domingo, 22 de agosto de 2010
Cocaine – Eric Clapton
Em meados da década de 1960 muros londrinos foram pichados com a seguinte frase: “Eric Clapton is God”.
Àquela época Clapton integrava o John Mayall & the Bluesbreakers e antes já fizera parte do lendário Yardbirds – depois de Clapton Jeff Beck e Jimy Page seriam guitarristas da banda.
Ainda naquela década formaria com Ginger Baker e Jack Bruce o Cream, quando a fama de deus da guitarra se tornaria ainda mais forte.
Passou por vários projetos em parceria com outros astros da música – Blind Faith, com Steve Winwood e de novo Jack Bruce; Derek and the Dominos com Duane Allman.
Cocaine é um clássico do rock, música e acordes deliciosos de se ouvir e está presente no álbum Slowland de 1977, já na fase solo do cantor e compositor.
Àquela época Clapton integrava o John Mayall & the Bluesbreakers e antes já fizera parte do lendário Yardbirds – depois de Clapton Jeff Beck e Jimy Page seriam guitarristas da banda.
Ainda naquela década formaria com Ginger Baker e Jack Bruce o Cream, quando a fama de deus da guitarra se tornaria ainda mais forte.
Passou por vários projetos em parceria com outros astros da música – Blind Faith, com Steve Winwood e de novo Jack Bruce; Derek and the Dominos com Duane Allman.
Cocaine é um clássico do rock, música e acordes deliciosos de se ouvir e está presente no álbum Slowland de 1977, já na fase solo do cantor e compositor.
sábado, 21 de agosto de 2010
Surra de rabo de tatu
Não estarei em Poços durante o dia, mas não poderia deixar de comentar que vi com espanto o Datafolha colocando Dilma Rousseff 17 pontos a frente de José Serra. Dilma já chega a 47% das intenções de voto. Por outro lado Serra e Marina somam apenas 39%, respectivamente 30% e 9% das intenções de voto.
A se confirmar um cenário assim, tão desolador para oposição, considerando que estamos ainda no início do horário eleitoral e a campanha de Serra tem sido de desastrosa à catastrófica, a surra (eleitoral) que o PT pregará na oposição farisaica será, como se diz aqui em Minas, de "rabo de tatu”!
A se confirmar um cenário assim, tão desolador para oposição, considerando que estamos ainda no início do horário eleitoral e a campanha de Serra tem sido de desastrosa à catastrófica, a surra (eleitoral) que o PT pregará na oposição farisaica será, como se diz aqui em Minas, de "rabo de tatu”!
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Serra em estado de “decomposição”
O debate principal durante a pré-campanha foi acerca da capacidade de transferência da popularidade (votos) de Lula para Dilma e, através dessa transferência, qual seria o teto da petista. Pois é, o debate agora mudou radicalmente. Agora a questão é saber qual o piso de Serra!
Em minha avaliação Serra está muito próximo do perigoso terreno onde uma campanha fracassada entra em estado de "decomposição". Ou seja, muitas pessoas, um percentual ainda indefinido e que a principio declarou voto em Serra, começa a migrar para Dilma. Por quê? Isso é esquizofrênico? Pode até parecer e ser esquizofrênico, mas faz parte da cultura política do eleitor brasileiro. Uma parcela considerável do eleitorado gosta mesmo é de votar em quem está na frente e justifica essa atitude da seguinte maneira: “não queria perder meu voto”.
A persistir nos erros de campanha a oposição farisaica poderá se surpreender com o piso de Serra e a rápida decomposição do tucano. Erros dos mais variados tamanhos, tipos e tonalidades. A começar pela demora em se declarar candidato, passando pela espera de Aécio em aceitar a condição de coadjuvante e depois com a atrapalhada divulgação de Álvaro Dias como vice para dali a pouco desfazer o convite ao tucano e confirmar o neointegralista Índio da Costa. Mais tarde foi o próprio neointegralista o responsável por mais lambanças através de declarações capazes de fazer a ultradireita gozar de alegria e atrair a ira dos movimentos verdadeiramente democráticos da sociedade brasileira.
No mais, a campanha tucana está denotando a total carência de projeto, discurso e rumo, retrato fiel duma oposição farisaica sucumbida à força de um presidente extremamente popular, carismático, competente e que trouxe o tema da desigualdade social para o primeiro plano do cenário político nacional.
As chances de José Serra levar o jogo para o segundo turno começam a ficar, a cada dia, mais remotas. No Sul e em São Paulo, os bastiões de Serra e da oposição farisaica, Dilma vem crescendo, embora num ritmo mais lento do que o verificado no restante do país, enquanto Serra encontra toda a sorte de dificuldades, a começar pelos correligionários que fazem corpo mole ou então pela baixíssima popularidade da governadora do Rio Grande do Sul – o maior colégio eleitoral da região Sul – Yeda Crusius.
No Rio de Janeiro a candidatura Fernando Gabeira, que no início pareia ser uma jogada de mestre, vem mostrando grandes dificuldades em angariar votos num Estado que se tornou nas últimas décadas bastante conservador em termos regionais e esquizofrenicamente progressista em termos nacionais – justamente o contrário da necessidade demo-tucana. Não obstante do outro lado encontra-se uma máquina de propaganda muito bem orquestrada, que somada ao ultimato dado ao PT fluminense para se coligar ao PMDB de Sérgio Cabral, devem garantir uma reeleição tranquila para o governador que manda a polícia sitiar e invadir morros.
Já em Minas, Serra depende em demasia da vontade de Aécio, o mais forte cabo eleitoral do Estado. Entretanto Aécio está mais preocupado com um conselho que Tancredo Neves sempre dava aos aliados Mais ou menos assim: “o político que quiser construir um projeto nacional, tem que fechar seu próprio Estado em torno de si”. Portanto, a despeito de todo o trauma, magoa ou mesmo a torcida para que Serra perca abrindo caminho para tornar-se o principal nome da oposição, Aécio tem como prioridade eleger Antonio Anastasia governador de Minas. E isso tem se mostrado uma tarefa um pouco mais árdua do que o neto de Tancredo imaginava.
Anastasia é uma invenção de Aécio, um boneco de ventríloquo, incapaz de ter luz própria, de personalidade recatada e avessa aos holofotes. (Segundo consta teria até mesmo, há uns dois meses, pensado em desistir da candidatura dado a dificuldade em empolgar os eleitores mineiros.)
Para piorar a situação, Lula conta com altíssima popularidade dentre os mineiros e Aécio teme contaminar a candidatura de seu boneco de ventríloquo caso os eleitores o associe a Serra.
No restante do país as dificuldades de Serra já eram conhecidas e calculadas, sendo justamente as dificuldades encontradas nesses locais explanados acima que devem levar a eleição a ser decidida no primeiro turno. O surgimento nos últimos dias de campanha de uma onda Dilma tenderá não só a consolidar os votos daqueles já dispostos a votarem na petista, mas também roubar votos de Serra.
Obviamente ainda é deveras cedo para dar qualquer veredito acerca do resultado final das eleições, mas também, por ora, seria lutar contra os fatos não dizer que a eleição caminha para um final bastante previsível neste momento.
Em minha avaliação Serra está muito próximo do perigoso terreno onde uma campanha fracassada entra em estado de "decomposição". Ou seja, muitas pessoas, um percentual ainda indefinido e que a principio declarou voto em Serra, começa a migrar para Dilma. Por quê? Isso é esquizofrênico? Pode até parecer e ser esquizofrênico, mas faz parte da cultura política do eleitor brasileiro. Uma parcela considerável do eleitorado gosta mesmo é de votar em quem está na frente e justifica essa atitude da seguinte maneira: “não queria perder meu voto”.
A persistir nos erros de campanha a oposição farisaica poderá se surpreender com o piso de Serra e a rápida decomposição do tucano. Erros dos mais variados tamanhos, tipos e tonalidades. A começar pela demora em se declarar candidato, passando pela espera de Aécio em aceitar a condição de coadjuvante e depois com a atrapalhada divulgação de Álvaro Dias como vice para dali a pouco desfazer o convite ao tucano e confirmar o neointegralista Índio da Costa. Mais tarde foi o próprio neointegralista o responsável por mais lambanças através de declarações capazes de fazer a ultradireita gozar de alegria e atrair a ira dos movimentos verdadeiramente democráticos da sociedade brasileira.
No mais, a campanha tucana está denotando a total carência de projeto, discurso e rumo, retrato fiel duma oposição farisaica sucumbida à força de um presidente extremamente popular, carismático, competente e que trouxe o tema da desigualdade social para o primeiro plano do cenário político nacional.
As chances de José Serra levar o jogo para o segundo turno começam a ficar, a cada dia, mais remotas. No Sul e em São Paulo, os bastiões de Serra e da oposição farisaica, Dilma vem crescendo, embora num ritmo mais lento do que o verificado no restante do país, enquanto Serra encontra toda a sorte de dificuldades, a começar pelos correligionários que fazem corpo mole ou então pela baixíssima popularidade da governadora do Rio Grande do Sul – o maior colégio eleitoral da região Sul – Yeda Crusius.
No Rio de Janeiro a candidatura Fernando Gabeira, que no início pareia ser uma jogada de mestre, vem mostrando grandes dificuldades em angariar votos num Estado que se tornou nas últimas décadas bastante conservador em termos regionais e esquizofrenicamente progressista em termos nacionais – justamente o contrário da necessidade demo-tucana. Não obstante do outro lado encontra-se uma máquina de propaganda muito bem orquestrada, que somada ao ultimato dado ao PT fluminense para se coligar ao PMDB de Sérgio Cabral, devem garantir uma reeleição tranquila para o governador que manda a polícia sitiar e invadir morros.
Já em Minas, Serra depende em demasia da vontade de Aécio, o mais forte cabo eleitoral do Estado. Entretanto Aécio está mais preocupado com um conselho que Tancredo Neves sempre dava aos aliados Mais ou menos assim: “o político que quiser construir um projeto nacional, tem que fechar seu próprio Estado em torno de si”. Portanto, a despeito de todo o trauma, magoa ou mesmo a torcida para que Serra perca abrindo caminho para tornar-se o principal nome da oposição, Aécio tem como prioridade eleger Antonio Anastasia governador de Minas. E isso tem se mostrado uma tarefa um pouco mais árdua do que o neto de Tancredo imaginava.
Anastasia é uma invenção de Aécio, um boneco de ventríloquo, incapaz de ter luz própria, de personalidade recatada e avessa aos holofotes. (Segundo consta teria até mesmo, há uns dois meses, pensado em desistir da candidatura dado a dificuldade em empolgar os eleitores mineiros.)
Para piorar a situação, Lula conta com altíssima popularidade dentre os mineiros e Aécio teme contaminar a candidatura de seu boneco de ventríloquo caso os eleitores o associe a Serra.
No restante do país as dificuldades de Serra já eram conhecidas e calculadas, sendo justamente as dificuldades encontradas nesses locais explanados acima que devem levar a eleição a ser decidida no primeiro turno. O surgimento nos últimos dias de campanha de uma onda Dilma tenderá não só a consolidar os votos daqueles já dispostos a votarem na petista, mas também roubar votos de Serra.
Obviamente ainda é deveras cedo para dar qualquer veredito acerca do resultado final das eleições, mas também, por ora, seria lutar contra os fatos não dizer que a eleição caminha para um final bastante previsível neste momento.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Meio século de Beatles como Beatles
Há 50 anos, Beatles iniciavam em Hamburgo fase que antecedeu o fenômeno
Do site DW-WORLD.DE
John, Paul, George, Stuart e Pete desembarcaram em Hamburgo em 17 de agosto de 1960. Naquela noite eles fariam seu primeiro show na cidade, dando início à fase de amadurecimento que culminaria no sucesso mundial.
Deve ter sido uma experiência e tanto para os cinco garotos de Liverpool: na manhã de 17 de agosto de 1960, os músicos, que somente há pouco se apresentavam sob o nome The Beatles, chegaram a Hamburgo, desembarcando num ambiente no mínimo peculiar.
O bairro era St. Pauli, cheio de bordéis, casas de strip stease e bares de marinheiros. E foi num desses locais, o Indra, que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Stuart Sutcliffe e Pete Best fizeram, já naquela noite, sua primeira apresentação na cidade alemã, para um público formado por prostitutas e seus clientes.
Os Beatles ainda eram desconhecidos e estavam muito longe do sucesso que alcançariam anos mais tarde como os "quatro fabulosos". E eram também bastante jovens. O mais velhos dos cinco, Sutcliffe, mal havia completado 20 anos. O mais novo, Harrison, tinha 17 – e escondia a idade.
Foi o empresário Alan Williams quem agenciou os primeiros shows dos Beatles em Hamburgo. A proposta era tentadora: 100 libras por semana, equivalente hoje a mais ou menos 3.000 euros.
"Depois de tocar, eles costumavam voltar para tomar um café com torrada. Se você quisesse torrada com marmelada, tinha de pagar um penny a mais. Ainda posso ver Paul McCartney dizendo a John Lennon: 'Você está louco, isso custa um penny a mais!' E olhe só quanto dinheiro ele possui hoje", relata Williams.
Acomodação precária
Beatles se apresentaram no Star-ClubOs Beatles tocavam todas as noites, até oito horas seguidas. No Indra, eles dividiam o palco com as strippers – quando a banda fazia uma pausa, era a vez de as garotas subirem ao palco para fazer sua performance.
O proprietário do Indra era Bruno Koschmider, então um dos principais empresários da noite de Hamburgo. Além de vários clubes, ele era dono de um cinema, o Bambi Kino, que exibia filmes pornôs. Foi atrás do telão do Bambi Kino que Koschmider acomodou os Beatles.
O beatlemaníaco Ulf Krüger, que fez amizade com a banda na época, fala de dois cômodos sem janelas, pouco iluminados, ao lado do banheiro masculino. "A área desse alojamento era de 16 metros quadrados. Os músicos dormiam em antigas camas de campanha. Como lavabo eles usavam a pia do banheiro masculino que ficava ao lado", relembra Krüger.
Do Indra os Beatles foram para um clube maior, o Kaiserkeller, também de propriedade de Koschmider. O primeiro show deles no novo palco foi em 4 de outubro de 1960, e eles se apresentariam lá até o final do mês, quando abandonaram definitivamente Koschmider.
O novo clube era o Top Ten. O dono, Peter Eckhorn, oferecia mais dinheiro, um equipamento de som melhor e – principalmente – um lugar descente para dormir.
Camisinha em chamas
A rescisão do contrato com Koschmider originou uma das histórias mais antológicas da primeira passagem dos Beatles por Hamburgo: quando McCartney e Best voltaram ao Bambi Kino para pegar suas coisas, encontraram o local na maior escuridão. Eles então penduraram uma camisinha num prego na parede do local e tocaram fogo nela. Não houve maiores danos, mas Koschmider registrou queixa na polícia por tentativa de incêndio.
McCartney e Best foram detidos, passaram algumas horas na prisão e acabaram deportados no início de dezembro. Por ser menor de idade, esse também já havia sido o caso de Harrison. Koschmider também o havia delatado.
Os anos de formação
Os Beatles em 1963, já famosos no mundo todoO único dos Beatles a ficar em Hamburgo foi Sutcliffe. Ele preferiu ficar com a namorada, a alemã Astrid Kirchherr, e só voltou para Liverpool em janeiro. Sutcliffe optaria em definitivo por Hamburgo em abril de 1961, quando os Beatles voltaram para uma segunda temporada de apresentações no Top Ten. Ele deixou a banda para estudar arte e viria a falecer um ano depois, pouco antes da terceira temporada de shows dos Beatles na cidade.
Em 1962 os Beatles fariam mais três temporadas em Hamburgo, desta vez no Star-Club. A primeira foi em abril, a segunda, em novembro e a terceira, em dezembro.
Estudiosos e beatlemaníacos são unânimes em afirmar que os anos em Hamburgo marcaram o amadurecimento dos Beatles – as noites seguidas de apresentações desenvolveram as habilidades performáticas dos músicos e os transformaram numa banda coesa.
"Nosso ponto alto como live band alcançamos em Hamburgo", diria Harrison mais tarde. "Nós tínhamos que ser muito bons como banda para tocar oito horas todas as noites". Ou, nas palavras de Lennon: "Não teríamos nunca evoluído tanto se tivéssemos ficado em casa. Eu posso ter nascido em Liverpool, mas me tornei um adulto em Hamburgo".
AS/dw/dpa/epd
Revisão: Carlos Albuquerque
Do site DW-WORLD.DE
John, Paul, George, Stuart e Pete desembarcaram em Hamburgo em 17 de agosto de 1960. Naquela noite eles fariam seu primeiro show na cidade, dando início à fase de amadurecimento que culminaria no sucesso mundial.
Deve ter sido uma experiência e tanto para os cinco garotos de Liverpool: na manhã de 17 de agosto de 1960, os músicos, que somente há pouco se apresentavam sob o nome The Beatles, chegaram a Hamburgo, desembarcando num ambiente no mínimo peculiar.
O bairro era St. Pauli, cheio de bordéis, casas de strip stease e bares de marinheiros. E foi num desses locais, o Indra, que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Stuart Sutcliffe e Pete Best fizeram, já naquela noite, sua primeira apresentação na cidade alemã, para um público formado por prostitutas e seus clientes.
Os Beatles ainda eram desconhecidos e estavam muito longe do sucesso que alcançariam anos mais tarde como os "quatro fabulosos". E eram também bastante jovens. O mais velhos dos cinco, Sutcliffe, mal havia completado 20 anos. O mais novo, Harrison, tinha 17 – e escondia a idade.
Foi o empresário Alan Williams quem agenciou os primeiros shows dos Beatles em Hamburgo. A proposta era tentadora: 100 libras por semana, equivalente hoje a mais ou menos 3.000 euros.
"Depois de tocar, eles costumavam voltar para tomar um café com torrada. Se você quisesse torrada com marmelada, tinha de pagar um penny a mais. Ainda posso ver Paul McCartney dizendo a John Lennon: 'Você está louco, isso custa um penny a mais!' E olhe só quanto dinheiro ele possui hoje", relata Williams.
Acomodação precária
Beatles se apresentaram no Star-ClubOs Beatles tocavam todas as noites, até oito horas seguidas. No Indra, eles dividiam o palco com as strippers – quando a banda fazia uma pausa, era a vez de as garotas subirem ao palco para fazer sua performance.
O proprietário do Indra era Bruno Koschmider, então um dos principais empresários da noite de Hamburgo. Além de vários clubes, ele era dono de um cinema, o Bambi Kino, que exibia filmes pornôs. Foi atrás do telão do Bambi Kino que Koschmider acomodou os Beatles.
O beatlemaníaco Ulf Krüger, que fez amizade com a banda na época, fala de dois cômodos sem janelas, pouco iluminados, ao lado do banheiro masculino. "A área desse alojamento era de 16 metros quadrados. Os músicos dormiam em antigas camas de campanha. Como lavabo eles usavam a pia do banheiro masculino que ficava ao lado", relembra Krüger.
Do Indra os Beatles foram para um clube maior, o Kaiserkeller, também de propriedade de Koschmider. O primeiro show deles no novo palco foi em 4 de outubro de 1960, e eles se apresentariam lá até o final do mês, quando abandonaram definitivamente Koschmider.
O novo clube era o Top Ten. O dono, Peter Eckhorn, oferecia mais dinheiro, um equipamento de som melhor e – principalmente – um lugar descente para dormir.
Camisinha em chamas
A rescisão do contrato com Koschmider originou uma das histórias mais antológicas da primeira passagem dos Beatles por Hamburgo: quando McCartney e Best voltaram ao Bambi Kino para pegar suas coisas, encontraram o local na maior escuridão. Eles então penduraram uma camisinha num prego na parede do local e tocaram fogo nela. Não houve maiores danos, mas Koschmider registrou queixa na polícia por tentativa de incêndio.
McCartney e Best foram detidos, passaram algumas horas na prisão e acabaram deportados no início de dezembro. Por ser menor de idade, esse também já havia sido o caso de Harrison. Koschmider também o havia delatado.
Os anos de formação
Os Beatles em 1963, já famosos no mundo todoO único dos Beatles a ficar em Hamburgo foi Sutcliffe. Ele preferiu ficar com a namorada, a alemã Astrid Kirchherr, e só voltou para Liverpool em janeiro. Sutcliffe optaria em definitivo por Hamburgo em abril de 1961, quando os Beatles voltaram para uma segunda temporada de apresentações no Top Ten. Ele deixou a banda para estudar arte e viria a falecer um ano depois, pouco antes da terceira temporada de shows dos Beatles na cidade.
Em 1962 os Beatles fariam mais três temporadas em Hamburgo, desta vez no Star-Club. A primeira foi em abril, a segunda, em novembro e a terceira, em dezembro.
Estudiosos e beatlemaníacos são unânimes em afirmar que os anos em Hamburgo marcaram o amadurecimento dos Beatles – as noites seguidas de apresentações desenvolveram as habilidades performáticas dos músicos e os transformaram numa banda coesa.
"Nosso ponto alto como live band alcançamos em Hamburgo", diria Harrison mais tarde. "Nós tínhamos que ser muito bons como banda para tocar oito horas todas as noites". Ou, nas palavras de Lennon: "Não teríamos nunca evoluído tanto se tivéssemos ficado em casa. Eu posso ter nascido em Liverpool, mas me tornei um adulto em Hamburgo".
AS/dw/dpa/epd
Revisão: Carlos Albuquerque
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
No país da piada pronta
José Simão é dono da sarcástica frase: “No país da piada pronta”.
Hoje ouvi algumas dessas piadas.
Primeiro foi de manhã na escola onde leciono. Um colega de profissão me contou que o “Boneco de Ventríloquo” – o governador tampão e candidato a reeleição Antonio Anastasia – soltou a seguinte piada na sexta-feira passada em Pouso Alegre: "Eu sou professor, filho de professor e entendo as reivindicações da categoria”.
Ah! Bom. Imagine se ele não se preocupasse com as reivindicações da categoria? Teria mandado não só a tropa de choque da PM nos esperar na Praça Liberdade com escopetas e cães. Teria mandado essa tropa descer o cassete nos professores depois de quase dois meses onde o “Boneco de Ventríloquo” se mostrou irredutível e declarou que não negociara com a categoria em greve.
Já a segunda piada, e dessa me absterei de fazer qualquer comentário, pois é auto-interpretativa, vem da boca do liquidacionista (PPS) Roberto Freire: “Não acredito que alguém vá se lembrar de Lula como de Getúlio Vargas ou Juscelino Kubitschek, porque Bolsa Família não dá sustentação a ninguém. A única grande obra de engenharia do Brasil nos últimos anos foi o Rodoanel, em São Paulo".
Hoje ouvi algumas dessas piadas.
Primeiro foi de manhã na escola onde leciono. Um colega de profissão me contou que o “Boneco de Ventríloquo” – o governador tampão e candidato a reeleição Antonio Anastasia – soltou a seguinte piada na sexta-feira passada em Pouso Alegre: "Eu sou professor, filho de professor e entendo as reivindicações da categoria”.
Ah! Bom. Imagine se ele não se preocupasse com as reivindicações da categoria? Teria mandado não só a tropa de choque da PM nos esperar na Praça Liberdade com escopetas e cães. Teria mandado essa tropa descer o cassete nos professores depois de quase dois meses onde o “Boneco de Ventríloquo” se mostrou irredutível e declarou que não negociara com a categoria em greve.
Já a segunda piada, e dessa me absterei de fazer qualquer comentário, pois é auto-interpretativa, vem da boca do liquidacionista (PPS) Roberto Freire: “Não acredito que alguém vá se lembrar de Lula como de Getúlio Vargas ou Juscelino Kubitschek, porque Bolsa Família não dá sustentação a ninguém. A única grande obra de engenharia do Brasil nos últimos anos foi o Rodoanel, em São Paulo".
domingo, 15 de agosto de 2010
Crazy
Pra encerrar o domingo e deixar o Guilherme mais feliz, o clipe de “Crazy”, que deixou muita gente louca no comecinho dos 90.
Love In Elevator
Tá aí Guilherme
Atendendo a pedidos – tô parecendo um DJ – Aerosmith em “Love In Elevator”, mais uma música do clássico Pump.
Atendendo a pedidos – tô parecendo um DJ – Aerosmith em “Love In Elevator”, mais uma música do clássico Pump.
Janies's Got A Gun
Sempre gostei de musica, Rock & Roll e MPB em especial. Hoje tenho uma coleção razoável de CDs, mas não me esqueço do primeiro compact disc que vi em minha frente, era o álbum Pump do Aerosmith. Morador do interior e sem dinheiro para comprar um exemplar daquele (tanto o parelho quanto o cd estavam fora da minha condição financeira de adolescente no início dos anos 90), esperei por anos para tê-lo em minha atual coleção.
Aqui vai o clássico “Janie’s Got A Gun”, a música de Pump que mais gosto.
Aqui vai o clássico “Janie’s Got A Gun”, a música de Pump que mais gosto.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Chupa essa manga Itamar
José Serra em entrevista ao vivo à bancada do Jornal Nacional – aquela mesma bancada que jactou de forma tão deselegante e deseducada acusações e comparações sem nexo para cima da candidata Dilma Rousseff – declarou em alto em bom som aquilo que este humilde blogueiro que vos escreve vem afirmando há muito tempo: o Plano Real é fruto do governo FFHH.
Mas o plano Real não foi lançado no primeiro semestre de 1994, no governo do presidente Itamar Franco?
Mais ou menos. Itamar Franco era àquela altura apenas o testa de ferro, quem de fato dava as cartas era o todo poderoso ministro da Fazenda e primeiro-ministro extraoficial Fernando Henrique Cardoso, não por acaso também o presidenciável governista nas eleições daquele ano.
Bom, que FFHH é o pai do Plano Real – até porque Itamar nunca foi governo de verdade seja na esfera federal ou na estadual – qualquer cidadão com senso crítico sabe. O duro é justamente Itamar reconhecer isso, ainda mais quando tal afirmação sai da boca de um antigo novo aliado.
Qual será a reação do intempestivo Itamar depois dessa declaração do seu presidenciável???
Estou curioso pra ver.
Mas o plano Real não foi lançado no primeiro semestre de 1994, no governo do presidente Itamar Franco?
Mais ou menos. Itamar Franco era àquela altura apenas o testa de ferro, quem de fato dava as cartas era o todo poderoso ministro da Fazenda e primeiro-ministro extraoficial Fernando Henrique Cardoso, não por acaso também o presidenciável governista nas eleições daquele ano.
Bom, que FFHH é o pai do Plano Real – até porque Itamar nunca foi governo de verdade seja na esfera federal ou na estadual – qualquer cidadão com senso crítico sabe. O duro é justamente Itamar reconhecer isso, ainda mais quando tal afirmação sai da boca de um antigo novo aliado.
Qual será a reação do intempestivo Itamar depois dessa declaração do seu presidenciável???
Estou curioso pra ver.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Um vice que dá orgulho
O tal Índio da Costa simplesmente sumiu de cena – ou teria sido retirado de cena? – e Michel Temer, por ora, cumpre ritualisticamente o que se esperava dele. Discrição.
O tempo passou, Temer foi o escolhido a vice e não escrevi nada sobre o assunto. De forma breve e seca escreverei. Já que o PT optou por uma aliança nacional com o PMDB – algo impensável por ambas as partes há alguns anos – o ideal seria alguém do chamado PMDB histórico, de tendência esquerdista e que somasse votos. Não há dentro do PMDB alguém que melhor reúna tais predicados que Roberto Requião. Mas Requião não conta com o apoio incondicional dos caciques peemedebistas – Sarney e Calheiros à frente –, portanto seu nome nunca foi de fato considerado para ocupar o posto de vice-presidente.
Já Michel Temer é desde sempre visto como um político ponderado e capaz de aglutinar em torno de si os diversos interesses que formam o PMDB, um partido cartorial. Contra Temer corre o fato de ter sido presidente da Câmara dos Deputados entre o fim do primeiro mandato e o inicio do segundo mandato de FFHH, período onde se consumou a privataria e a escandalosa emenda da reeleição. A favor está o tom moderado, a capacidade – já citada antes – de unir o PMDB e a reputação ilibada, não obstante pertença a um partido sempre presente em escândalos de corrupção.
Todavia, não é sobre Michel Temer e menos ainda sobre Índio da Costa que quero escrever hoje. O que me motivou a escrever sobre candidatos a vice é o desenrolar da campanha em Minas.
Aqui o candidato à vice de Hélio Costa nem é escondido e nem se espera que seja discreto. Muito pelo contrário. Patrus Ananias está de forma bem mineira se tornando uma das peças principais da campanha. Matéria publicada hoje pelo jornal Valor mostra como o ex-ministro do Desenvolvimento Social vem ocupando lugar de destaque, tanto na disputa pelo Palácio da Liberdade quanto na coordenação de Dilma Rousseff no Estado. Patrus coordena também o programa de governo de Hélio Costa e em todo o material de campanha de Costa, o nome do petista tem destaque igual ao do peemedebista (o sítio da campanha se chama Hélio+Patrus). Num eventual governo PMDB-PT, Patrus deverá ficar responsável pela área social.
Quando Patrus aceitou a condição de candidato à vice na chapa de Hélio Costa escrevi que talvez isso desse alento aos militantes petistas, muitos inconformados em não ter o número treze como opção para o governo, e que Patrus é um destes homens que enobrecem a vida pública e nos faz orgulhar de ser mineiro.
Em minha modesta opinião Patrus Ananias está fazendo justamente aquilo que se poderia esperar de alguém com a sua envergadura, ser um candidato à vice presente e ao mesmo tempo aglutinador e multiplicador.
O tempo passou, Temer foi o escolhido a vice e não escrevi nada sobre o assunto. De forma breve e seca escreverei. Já que o PT optou por uma aliança nacional com o PMDB – algo impensável por ambas as partes há alguns anos – o ideal seria alguém do chamado PMDB histórico, de tendência esquerdista e que somasse votos. Não há dentro do PMDB alguém que melhor reúna tais predicados que Roberto Requião. Mas Requião não conta com o apoio incondicional dos caciques peemedebistas – Sarney e Calheiros à frente –, portanto seu nome nunca foi de fato considerado para ocupar o posto de vice-presidente.
Já Michel Temer é desde sempre visto como um político ponderado e capaz de aglutinar em torno de si os diversos interesses que formam o PMDB, um partido cartorial. Contra Temer corre o fato de ter sido presidente da Câmara dos Deputados entre o fim do primeiro mandato e o inicio do segundo mandato de FFHH, período onde se consumou a privataria e a escandalosa emenda da reeleição. A favor está o tom moderado, a capacidade – já citada antes – de unir o PMDB e a reputação ilibada, não obstante pertença a um partido sempre presente em escândalos de corrupção.
Todavia, não é sobre Michel Temer e menos ainda sobre Índio da Costa que quero escrever hoje. O que me motivou a escrever sobre candidatos a vice é o desenrolar da campanha em Minas.
Aqui o candidato à vice de Hélio Costa nem é escondido e nem se espera que seja discreto. Muito pelo contrário. Patrus Ananias está de forma bem mineira se tornando uma das peças principais da campanha. Matéria publicada hoje pelo jornal Valor mostra como o ex-ministro do Desenvolvimento Social vem ocupando lugar de destaque, tanto na disputa pelo Palácio da Liberdade quanto na coordenação de Dilma Rousseff no Estado. Patrus coordena também o programa de governo de Hélio Costa e em todo o material de campanha de Costa, o nome do petista tem destaque igual ao do peemedebista (o sítio da campanha se chama Hélio+Patrus). Num eventual governo PMDB-PT, Patrus deverá ficar responsável pela área social.
Quando Patrus aceitou a condição de candidato à vice na chapa de Hélio Costa escrevi que talvez isso desse alento aos militantes petistas, muitos inconformados em não ter o número treze como opção para o governo, e que Patrus é um destes homens que enobrecem a vida pública e nos faz orgulhar de ser mineiro.
Em minha modesta opinião Patrus Ananias está fazendo justamente aquilo que se poderia esperar de alguém com a sua envergadura, ser um candidato à vice presente e ao mesmo tempo aglutinador e multiplicador.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
“Apelação tucano-conservadora” ou “A filha de Belzebu”
Impressionante. Em 2002 foi à vez da Regina “Tô Com Medo” Duarte. Agora em 2010 é a vez de Maitê “Machos Selvagens Salvem-nos” Proença. Vejam o que a atriz global declarou sobre Dilma Rousseff:
Maitê Proença: “A mulher ainda é tratada como escrava na África, Ásia, países árabes, na maior parte do planeta. Só no ocidente houve progressos, muitos, mas ainda há discriminação. ‘Quem sabe a própria venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma’”?
Li no Viomundo que Chico Anysio disse em entrevista a uma rádio que Dilma está proibida de entrar em 11 países.
É a campanha de satanização de Dilma Rousseff a todo o vapor. E levando em conta as barbaridades que veem sendo ditas, não é difícil imaginar que até mesmo uma ruptura com as instituições democráticas (formais) – noutras palavras, um golpe de Estado – seja aceita como salvação contra a chegada da filha de Belzebu à presidência.
Foi através de discursinhos assim que as elites dominantes e o Partido do Capital transformaram Hugo Chávez em antípoda da democracia e celebraram o malfadado golpe venezuelano em 2002.
Maitê Proença: “A mulher ainda é tratada como escrava na África, Ásia, países árabes, na maior parte do planeta. Só no ocidente houve progressos, muitos, mas ainda há discriminação. ‘Quem sabe a própria venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma’”?
Li no Viomundo que Chico Anysio disse em entrevista a uma rádio que Dilma está proibida de entrar em 11 países.
É a campanha de satanização de Dilma Rousseff a todo o vapor. E levando em conta as barbaridades que veem sendo ditas, não é difícil imaginar que até mesmo uma ruptura com as instituições democráticas (formais) – noutras palavras, um golpe de Estado – seja aceita como salvação contra a chegada da filha de Belzebu à presidência.
Foi através de discursinhos assim que as elites dominantes e o Partido do Capital transformaram Hugo Chávez em antípoda da democracia e celebraram o malfadado golpe venezuelano em 2002.
domingo, 8 de agosto de 2010
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Centenário de Adoniran Barbosa
O que seria da música popular brasileira se não tivesse existido Adoniran Barbosa?!?!
Plínio, o melhor do primeiro debate
Confesso que dei pouca atenção ao debate de ontem à noite na Bandeirantes. Debates tão cheio de regras e com as campanhas cada vez mais aos cuidados dos marqueteiros, há muito que deixaram de chamar a atenção de simpatizantes, militantes ou apenas eleitores. Apenas aqueles mais politizados ou os mais curiosos por política ainda sentem ânimos de ficar a frente do aparelho de TV assistindo aos debates, mesmo assim, na grande maioria dos casos, sem a vibração de outros tempos.
Os candidatos, embora haja nítida diferença entre as proposta apresentadas, sobretudo no modo como veem o papel do Estado, se portam diante das câmeras como produtos pasteurizados.
Não é somente a semelhança no discurso dos candidatos – pasteurização das campanhas – evitando adentrar em temas polêmicos a culpada pela pouca audiência dos debates. O formato rígido e nada flexível, além, obviamente, do crescente desinteresse da população pela política de forma geral também são corresponsáveis.
Num cenário assim era de se esperar que os candidatos coadjuvantes se saíssem melhor e aproveitassem o espaço para fugir da mesmice. Mas esperar isso de Marina Silva quando ela é candidata por uma legenda de aluguel que nem o PV é pedir demais.
Do outro lado Plínio de Arruda Sampaio, um socialista que não tem vergonha de sê-lo, soube aproveitar o espaço e defender exatamente aquilo que há décadas defende. Na verdade o candidato do PSOL é sinônimo de coerência, ética e integridade dentro da esquerda brasileira. Os valores humanistas estão tão arraigados na biografia de Plínio, que é impossível dissociá-lo da luta pelos direitos civis e por uma sociedade onde a superação da desigualdade seja sua marca.
Plínio é a exceção à regra nessa campanha. No entanto dificilmente terá mais que 5% dos votos no primeiro domingo de outubro – e olhe que 5% já será uma vitória. Não obstante, saiu como vencedor do primeiro debate e terminará as eleições com a biografia, e consequentemente a admiração da esquerda, do mesmo modo de quando iniciou.
Os candidatos, embora haja nítida diferença entre as proposta apresentadas, sobretudo no modo como veem o papel do Estado, se portam diante das câmeras como produtos pasteurizados.
Não é somente a semelhança no discurso dos candidatos – pasteurização das campanhas – evitando adentrar em temas polêmicos a culpada pela pouca audiência dos debates. O formato rígido e nada flexível, além, obviamente, do crescente desinteresse da população pela política de forma geral também são corresponsáveis.
Num cenário assim era de se esperar que os candidatos coadjuvantes se saíssem melhor e aproveitassem o espaço para fugir da mesmice. Mas esperar isso de Marina Silva quando ela é candidata por uma legenda de aluguel que nem o PV é pedir demais.
Do outro lado Plínio de Arruda Sampaio, um socialista que não tem vergonha de sê-lo, soube aproveitar o espaço e defender exatamente aquilo que há décadas defende. Na verdade o candidato do PSOL é sinônimo de coerência, ética e integridade dentro da esquerda brasileira. Os valores humanistas estão tão arraigados na biografia de Plínio, que é impossível dissociá-lo da luta pelos direitos civis e por uma sociedade onde a superação da desigualdade seja sua marca.
Plínio é a exceção à regra nessa campanha. No entanto dificilmente terá mais que 5% dos votos no primeiro domingo de outubro – e olhe que 5% já será uma vitória. Não obstante, saiu como vencedor do primeiro debate e terminará as eleições com a biografia, e consequentemente a admiração da esquerda, do mesmo modo de quando iniciou.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
José Serra em Poços de Caldas
O presidenciável tucano José Serra esteve em Poços de Caldas ontem, quarta-feira, 4 de agosto. Acompanhado por Aécio Neves e pelo “Boneco de Ventríloquo” – o governador tampão Antonio Anastasia – visitou a APAE e depois se reuniu com algumas lideranças políticas da região no Palace Hotel. Mais tarde Serra, já sem os candidatos ao Senado e ao governo de Minas, mas ainda acompanhado por deputados e pelo prefeito de Poços, esteve numa tradicional padaria da cidade despertando interesse de meia dúzia de transeuntes. (Isso numa cidade onde Lula nunca venceu em nenhum dos oito turnos de eleições presidenciais que disputou e ainda perdeu por uma diferença considerável para o Picolé de Chuchu e Príncipe do Atraso em 2006).
Além das promessas de campanha e do costumeiro trololó, Serra teria declarado que Poços de Caldas já fez parte do território paulista. Tal declaração me foi relatada por um partidário do ex-governador de São Paulo que, segundo este mesmo partidário, deixou Aécinho e seu boneco de ventríloquo desconcertados, além de imediatamente virar chacota entre os presentes.
Peço ajuda aos amigos e historiadores e demais interessados na História de Poços para ter certeza que tal declaração não passou de um espasmo – ou delírio megalomaníaco da típica empáfia paulista – de José Serra. Pelo o que conheço da história do município, o mais parecido que houve foi uma disputa política entre as províncias de São Paulo e Minas Gerais sobre os limites de cada qual com Poços fazendo parte da questão.
Penso que a citada declaração é mais uma do capitulo "Serra fala o lhe vem à cabeça". E, portanto, seja sintomática duma campanha sem discurso, sem projeto, sem rumo, sem saber a que veio.
Aliás, Serra deveria também saber com quem anda. O prefeito de Poços de Caldas, Paulinho Courominas (PPS), está com a popularidade pra debaixo do chão e apareceu em várias fotos ao lado do presidenciável tucano. Assim vai ficar difícil garantir a vitoria até onde os tucanos sempre levaram a melhor.
Além das promessas de campanha e do costumeiro trololó, Serra teria declarado que Poços de Caldas já fez parte do território paulista. Tal declaração me foi relatada por um partidário do ex-governador de São Paulo que, segundo este mesmo partidário, deixou Aécinho e seu boneco de ventríloquo desconcertados, além de imediatamente virar chacota entre os presentes.
Peço ajuda aos amigos e historiadores e demais interessados na História de Poços para ter certeza que tal declaração não passou de um espasmo – ou delírio megalomaníaco da típica empáfia paulista – de José Serra. Pelo o que conheço da história do município, o mais parecido que houve foi uma disputa política entre as províncias de São Paulo e Minas Gerais sobre os limites de cada qual com Poços fazendo parte da questão.
Penso que a citada declaração é mais uma do capitulo "Serra fala o lhe vem à cabeça". E, portanto, seja sintomática duma campanha sem discurso, sem projeto, sem rumo, sem saber a que veio.
Aliás, Serra deveria também saber com quem anda. O prefeito de Poços de Caldas, Paulinho Courominas (PPS), está com a popularidade pra debaixo do chão e apareceu em várias fotos ao lado do presidenciável tucano. Assim vai ficar difícil garantir a vitoria até onde os tucanos sempre levaram a melhor.
domingo, 1 de agosto de 2010
Chomsky: A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.
O intelectual estadunidense, pai da linguística e polêmico ativista por suas posturas contra o intervencionismo militar dos Estados Unidos, visitou a Colômbia para ser homenageado pelas comunidades indígenas do Departamento de Cauca. Confira a entrevista dada a Luis Angel Murcia, do jornal Semana.com.
Revista Forum
O morro El Bosque, um pedaço de vida natural ameaçado pela riqueza aurífera que se esconde em suas entranhas, desde a semana passada tem uma importância de ordem internacional. Essa reserva, localizada no centro da cidade de Cauca, muito próxima ao Maciço colombiano, é o cordão umbilical que hoje mantêm aos indígenas da região conectados com um dos intelectuais e ativistas da esquerda democrática mais prestigiados do planeta.
Noam Chomsky. Quem o conhece assegura que é o ser humano vivo cujas obras, livros ou reflexões, são as mais lidas depois da Bíblia. Sem dúvida, Chomsky, com 81 anos de idade, é uma autoridade em geopolítica e Direitos Humanos.
Sua condição de cidadão estadunidense lhe dá autoridade moral para ser considerado um dos mais recalcitrantes críticos da política expansionista e militar que os EUA aplica no hemisfério. No seu país e na Europa é ouvido e lido com muito respeito, já ganhou todos os prêmios e reconhecimentos como ativista político e suas obras, tanto em linguística como em análise política, foram premiadas.
Sua passagem discreta pela Colômbia não era para proferir as laureadas palestras, mas para receber uma homenagem especial da comunidade indígena que vive no Departamento de Cauca. O morro El Bosque foi rebatizado como Carolina, que é o mesmo nome de sua esposa, a mulher que durante quase toda sua vida o acompanhou. Ela faleceu em dezembro de 2008.
Em sua agenda, coordenada pela CUT e pela Defensoria do Povo do Vale, o Senhor Chomsky dedicou alguns minutos para responder exclusivamente a Semana.com e conversar sobre tudo.
Que significado tem para o senhor esta homenagem?
Estou muito emocionado; principalmente por ver que pessoas pobres que não possuem riquezas se prestem a fazer esse tipo de elogios, enquanto que pessoas mais ricas não dão atenção para esse tipo de coisa.
Seus três filhos sabem da homenagem?
Todos sabem disso e de El Bosque. Uma filha que trabalha na Colômbia contra as companhias internacionais de mineração também está sabendo.
Nesta etapa da sua vida o que o apaixona mais: a linguística ou seu ativismo político?
Tenho estado completamente esquizofrênico desde que eu era jovem e continuo assim. É por isso que temos dois hemisférios no cérebro.
Por conta desse ativismo teve problemas com alguns governos, um deles e o mais recente foi com Israel, que o impediu de entrar nas terras da palestina para dar uma palestra.
É verdade, não pude viajar, apesar de ter sido convidado por uma universidade palestina, mas me deparei com um bloqueio em toda a fronteira. Se a palestra fosse para Israel, teriam me deixado passar.
Essa censura tem a ver com um de seus livros intitulado "Guerra ou Paz no Oriente Médio"?
É por causa dos meus 60 anos de trabalho pela paz entre Israel e a Palestina. Na verdade, eu vivi em Israel.
Como qualifica o que se passa no Oriente Médio?
Desde 1967, o território palestino foi ocupado e isso fez da Faixa de Gaza a maior prisão ao ar livre do mundo, onde a única coisa que resta a fazer é morrer.
Chegou a se iludir com as novas posturas do presidente Barack Obama?
Eu já tinha escrito que é muito semelhante a George Bush. Ele fez mais do que esperávamos em termos de expansionismo militar. A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.
Quando Obama foi galardoado com o prêmio Nobel de Paz, o quê o senhor pensou?
Meia hora após a nomeação, a imprensa norueguesa me perguntou o que eu pensava do assunto e respondi: “Levando em conta o seu recorde, este não foi a pior nomeação”. O Nobel da Paz é uma piada.
Os EUA continuam a repetir seus erros de intervencionismo?
Eles tem tido muito êxito. Por exemplo, a Colômbia tem o pior histórico de violação dos Direitos Humanos desde o intervencionismo militar dos EUA.
Qual é a sua opinião sobre o conceito de guerra preventiva que os Estados Unidos apregoam?
Não existe esse conceito, é simplesmente uma forma de agressão. A guerra no Iraque foi tão agressiva e terrível que se assemelha ao que os nazistas fizeram. Se aplicarmos essa mesma regra, Bush, Blair e Aznar teriam de ser enforcados, mas a força é aplicada aos mais fracos.
O que acontecerá com o Irã?
Hoje existe uma grande força naval e aérea ameaçando o Irã e, somente a Europa e os EUA pensam que isso está certo. O resto do mundo acredita que o Irã tem o direito de enriquecer urânio. No Oriente Médio três países (Israel, Paquistão e Índia) desenvolveram armas nucleares com a ajuda dos EUA e não assinaram nenhum tratado.
O senhor acredita na guerra contra o terrorismo?
Os EUA são os maiores terroristas do mundo. Não consigo pensar em qualquer país que tenha feito mais mal do que eles. Para os EUA, terrorismo é o que você faz contra nós e não o que nós fazemos a você.
Há alguma guerra justa dos Estados Unidos?
A participação na Segunda Guerra Mundial foi legítima, entretanto eles entraram na guerra muito tarde.
Essa guerra por recursos naturais no Oriente Médio pode vir a se repetir na América Latina?
É diferente. O que os EUA tem feito na América Latina é, tradicionalmente, impor brutais ditaduras militares que não são contestados pelo poder da propaganda.
A América Latina é realmente importante para os Estados Unidos?
Nixon afirmou: “Se não podemos controlar a América Latina, como poderemos controlar o mundo”.
A Colômbia tem algum papel nessa geopolítica ianque?
Parte da Colômbia foi roubada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá. A partir de 1990, este país tem sido o principal destinatário da ajuda militar estadunidense e, desde essa mesma data tem os maiores registros de violação dos Direitos Humanos no hemisfério. Antes o recorde pertencia a El Salvador que, curiosamente também recebia ajuda militar.
O senhor sugere que essas violações têm alguma relação com os Estados Unidos?
No mundo acadêmico, concluiu-se que existe uma correlação entre a ajuda militar dada pelos EUA e violência nos países que a recebem.
Qual é sua opinião sobre as bases militares gringas que há na Colômbia?
Não são nenhuma surpresa. Depois de El Salvador, é o único país da região disposto a permitir a sua instalação. Enquanto a Colômbia continuar fazendo o que os EUA pedir que faça, eles nunca vão derrubar o governo.
Está dizendo que os EUA derruba governos na América Latina?
Nesta década, eles apoiaram dois golpes. No fracassado golpe militar da Venezuela em 2002 e, em 2004, seqüestraram o presidente eleito do Haiti e o enviaram para a África. Mas agora é mais difícil fazê-lo porque o mundo mudou. A Colômbia é o único país latinoamericano que apoiou o golpe em Honduras.
Tem algo a dizer sobre as tensões atuais entre Colômbia, Venezuela e Equador?
A Colômbia invadiu o Equador e não conheço nenhum país que tenha apoiado isso, salvo os EUA. E sobre as relações com a Venezuela, são muito complicadas, mas espero que melhorem.
A América Latina continua sendo uma região de caudilhos?
Tem sido uma tradição muito ruim, mas, nesse sentido, a América Latina progrediu e, pela primeira vez, o cone sul do continente está a avançando rumo a uma integração para superar seus paradoxos, como, por exemplo, ser uma região muito rica, mas com uma grande pobreza.
O narcotráfico é um problema exclusivo da Colômbia?
É um problema dos Estados Unidos. Imagine que a Colômbia decida fumigar a Carolina do Norte e o Kentucky, onde se cultiva tabaco, o qual provoca mais mortes do que a cocaína.
Revista Forum
O morro El Bosque, um pedaço de vida natural ameaçado pela riqueza aurífera que se esconde em suas entranhas, desde a semana passada tem uma importância de ordem internacional. Essa reserva, localizada no centro da cidade de Cauca, muito próxima ao Maciço colombiano, é o cordão umbilical que hoje mantêm aos indígenas da região conectados com um dos intelectuais e ativistas da esquerda democrática mais prestigiados do planeta.
Noam Chomsky. Quem o conhece assegura que é o ser humano vivo cujas obras, livros ou reflexões, são as mais lidas depois da Bíblia. Sem dúvida, Chomsky, com 81 anos de idade, é uma autoridade em geopolítica e Direitos Humanos.
Sua condição de cidadão estadunidense lhe dá autoridade moral para ser considerado um dos mais recalcitrantes críticos da política expansionista e militar que os EUA aplica no hemisfério. No seu país e na Europa é ouvido e lido com muito respeito, já ganhou todos os prêmios e reconhecimentos como ativista político e suas obras, tanto em linguística como em análise política, foram premiadas.
Sua passagem discreta pela Colômbia não era para proferir as laureadas palestras, mas para receber uma homenagem especial da comunidade indígena que vive no Departamento de Cauca. O morro El Bosque foi rebatizado como Carolina, que é o mesmo nome de sua esposa, a mulher que durante quase toda sua vida o acompanhou. Ela faleceu em dezembro de 2008.
Em sua agenda, coordenada pela CUT e pela Defensoria do Povo do Vale, o Senhor Chomsky dedicou alguns minutos para responder exclusivamente a Semana.com e conversar sobre tudo.
Que significado tem para o senhor esta homenagem?
Estou muito emocionado; principalmente por ver que pessoas pobres que não possuem riquezas se prestem a fazer esse tipo de elogios, enquanto que pessoas mais ricas não dão atenção para esse tipo de coisa.
Seus três filhos sabem da homenagem?
Todos sabem disso e de El Bosque. Uma filha que trabalha na Colômbia contra as companhias internacionais de mineração também está sabendo.
Nesta etapa da sua vida o que o apaixona mais: a linguística ou seu ativismo político?
Tenho estado completamente esquizofrênico desde que eu era jovem e continuo assim. É por isso que temos dois hemisférios no cérebro.
Por conta desse ativismo teve problemas com alguns governos, um deles e o mais recente foi com Israel, que o impediu de entrar nas terras da palestina para dar uma palestra.
É verdade, não pude viajar, apesar de ter sido convidado por uma universidade palestina, mas me deparei com um bloqueio em toda a fronteira. Se a palestra fosse para Israel, teriam me deixado passar.
Essa censura tem a ver com um de seus livros intitulado "Guerra ou Paz no Oriente Médio"?
É por causa dos meus 60 anos de trabalho pela paz entre Israel e a Palestina. Na verdade, eu vivi em Israel.
Como qualifica o que se passa no Oriente Médio?
Desde 1967, o território palestino foi ocupado e isso fez da Faixa de Gaza a maior prisão ao ar livre do mundo, onde a única coisa que resta a fazer é morrer.
Chegou a se iludir com as novas posturas do presidente Barack Obama?
Eu já tinha escrito que é muito semelhante a George Bush. Ele fez mais do que esperávamos em termos de expansionismo militar. A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.
Quando Obama foi galardoado com o prêmio Nobel de Paz, o quê o senhor pensou?
Meia hora após a nomeação, a imprensa norueguesa me perguntou o que eu pensava do assunto e respondi: “Levando em conta o seu recorde, este não foi a pior nomeação”. O Nobel da Paz é uma piada.
Os EUA continuam a repetir seus erros de intervencionismo?
Eles tem tido muito êxito. Por exemplo, a Colômbia tem o pior histórico de violação dos Direitos Humanos desde o intervencionismo militar dos EUA.
Qual é a sua opinião sobre o conceito de guerra preventiva que os Estados Unidos apregoam?
Não existe esse conceito, é simplesmente uma forma de agressão. A guerra no Iraque foi tão agressiva e terrível que se assemelha ao que os nazistas fizeram. Se aplicarmos essa mesma regra, Bush, Blair e Aznar teriam de ser enforcados, mas a força é aplicada aos mais fracos.
O que acontecerá com o Irã?
Hoje existe uma grande força naval e aérea ameaçando o Irã e, somente a Europa e os EUA pensam que isso está certo. O resto do mundo acredita que o Irã tem o direito de enriquecer urânio. No Oriente Médio três países (Israel, Paquistão e Índia) desenvolveram armas nucleares com a ajuda dos EUA e não assinaram nenhum tratado.
O senhor acredita na guerra contra o terrorismo?
Os EUA são os maiores terroristas do mundo. Não consigo pensar em qualquer país que tenha feito mais mal do que eles. Para os EUA, terrorismo é o que você faz contra nós e não o que nós fazemos a você.
Há alguma guerra justa dos Estados Unidos?
A participação na Segunda Guerra Mundial foi legítima, entretanto eles entraram na guerra muito tarde.
Essa guerra por recursos naturais no Oriente Médio pode vir a se repetir na América Latina?
É diferente. O que os EUA tem feito na América Latina é, tradicionalmente, impor brutais ditaduras militares que não são contestados pelo poder da propaganda.
A América Latina é realmente importante para os Estados Unidos?
Nixon afirmou: “Se não podemos controlar a América Latina, como poderemos controlar o mundo”.
A Colômbia tem algum papel nessa geopolítica ianque?
Parte da Colômbia foi roubada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá. A partir de 1990, este país tem sido o principal destinatário da ajuda militar estadunidense e, desde essa mesma data tem os maiores registros de violação dos Direitos Humanos no hemisfério. Antes o recorde pertencia a El Salvador que, curiosamente também recebia ajuda militar.
O senhor sugere que essas violações têm alguma relação com os Estados Unidos?
No mundo acadêmico, concluiu-se que existe uma correlação entre a ajuda militar dada pelos EUA e violência nos países que a recebem.
Qual é sua opinião sobre as bases militares gringas que há na Colômbia?
Não são nenhuma surpresa. Depois de El Salvador, é o único país da região disposto a permitir a sua instalação. Enquanto a Colômbia continuar fazendo o que os EUA pedir que faça, eles nunca vão derrubar o governo.
Está dizendo que os EUA derruba governos na América Latina?
Nesta década, eles apoiaram dois golpes. No fracassado golpe militar da Venezuela em 2002 e, em 2004, seqüestraram o presidente eleito do Haiti e o enviaram para a África. Mas agora é mais difícil fazê-lo porque o mundo mudou. A Colômbia é o único país latinoamericano que apoiou o golpe em Honduras.
Tem algo a dizer sobre as tensões atuais entre Colômbia, Venezuela e Equador?
A Colômbia invadiu o Equador e não conheço nenhum país que tenha apoiado isso, salvo os EUA. E sobre as relações com a Venezuela, são muito complicadas, mas espero que melhorem.
A América Latina continua sendo uma região de caudilhos?
Tem sido uma tradição muito ruim, mas, nesse sentido, a América Latina progrediu e, pela primeira vez, o cone sul do continente está a avançando rumo a uma integração para superar seus paradoxos, como, por exemplo, ser uma região muito rica, mas com uma grande pobreza.
O narcotráfico é um problema exclusivo da Colômbia?
É um problema dos Estados Unidos. Imagine que a Colômbia decida fumigar a Carolina do Norte e o Kentucky, onde se cultiva tabaco, o qual provoca mais mortes do que a cocaína.
Domingão, dia de muita música
Hoje é dia de uma das músicas preferidas de minha esposa.
A clássica “Have You Ever Seen The Rain?” interpretada por seu criador, John Forgety antigo líder do Credence Clearwater Revival.
A clássica “Have You Ever Seen The Rain?” interpretada por seu criador, John Forgety antigo líder do Credence Clearwater Revival.
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