E lá se foi Nelson Jobim. E, diga-se de passagem, já foi tarde. A forma canhestra e calhorda como o próprio Jobim escolheu para deixar o governo, dada a sua incontinência verbal, denota um mau caratismo explicito e sem pudor.
Não restam dúvidas de que Jobim conseguiu o que desejava: livrar-se das frágeis amarras que o ligavam ao governo de forma que pudesse posar de incompreendido, e, enfim, seguir adiante trabalhando junto à oposição farisaica pela qual nunca fez questão de esconder sua predileção.
Se a nomeação de Jobim para o Ministério da Defesa em 2007 mostrou-se uma hábil jogada politica de Lula a fim de aplacar a leviandade da mídia oligopolizada que insistia em colar no então presidente a responsabilidade pela tragédia do voo 3054 da TAM – afinal Jobim era mais visto como aliado da oposição do que exatamente ministro de Estado, uma voz coerente e solitária num governo repleto de aloprados –, com o andar da carruagem Jobim se mostrou mais inconveniente do que útil, até ficar claro que se tratava de fato dum quinta coluna.
O próximo passo da oposição será dar a Jobim pendores de vítima injustiçada que não suportava mais conviver dentro dum governo incompetente, ineficiente e carregado de idiotas que perderam a modéstia, termo este usado pelo próprio ex-ministro após uma citação de Nelson Rodrigues – talvez Jobim estivesse se olhando no espelho.
Ainda bem que Jobim, ao menos no governo, já é página virada e o nome de seu substituto melhora qualitativamente o governo da Presidenta Dilma. Celso Amorim, o novo ministro da Defesa, tem a seu favor uma longa lista de serviços prestados a soberania brasileira, além de uma lealdade já comprovada durante os oito anos do governo Lula. Críticas pontuais a Amorim – sobretudo pelas negociações durante a rodada de Doha da OMC – apenas mostram que ele não se trata de unanimidade, já que toda unanimidade, para resgatar Nelson Rodrigues tão admirado por Jobim, é burra.
Aos poucos Dilma vai dando uma cara mais sua ao seu próprio governo e com as saídas de Palocci, Alfredo Nascimento e Jobim a Esplanada dos Ministérios ganha em caráter, competência e lealdade, virtudes tão importantes para República e o Estado.
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