Por Tiago Mafra
Mais do mesmo: “Não de somente o peixe, ensina a pescar”. Creio que já passamos desta fase, principalmente quando se sabe que a questão não é propriamente o ensinar a pescar, mas a quem pertence a vara e os apetrechos para o desenvolvimento da pesca.
A desigualdade social presente em nossa sociedade é fruto do modo de vida e produção a que estamos submetidos. Esse sistema nos viola a todo dia, nos impede de sermos plenamente cidadão e de buscarmos coletivamente as respostas para as questões problemáticas e as situações críticas que enfrentamos.
Tendemos a colocar unicamente no indivíduo a culpa, como se este fosse o responsável por não conseguir pescar. Como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman, “tendemos a culpabilizar o indivíduo em questões exteriores a ele, não geradas por ele, mas sofridas por ele. Somos impelidos a buscar soluções biográficas para questões sistêmicas”.
Assim, em tempos de crise, voltam os apelos para o “resgate do espírito empreendedor”, do “protagonismo”, da independência em relação ao Estado. Cabe salientar que independência em relação ao Estado, na atua conjuntura, nos leva a uma dependência do mercado, que não perdoa e explora das mais diversas formas o trabalhador e todos os seus espaços de vivencia.
Precisamos sim de protagonistas, mas daqueles que se reconhecem como componentes de algo maior, de um grupo que partilha das mesmas necessidades de classe e que pode a partir daí, construir conjuntamente o poder de forma reflexiva, crítica e legítima. Esse protagonismo reconhece primeiramente, que o problema não é o próprio indivíduo, mas a estrutura que o cerca, para então, poder propor algo novo.
A ONU alerta que juntamente com os demais países da América Latina, o Brasil compõe a área mais desigual do mundo. Ou seja: carece de distribuição de renda, terra e de controle das informações, para poder tomar em suas mãos os rumos de sua existêcia.
O geógrafo negro Milton Santos, certa vez escreveu que tempos de crise estrutural requerem remédios estruturais.
Não nos enganemos pelo discurso da culpabilização individual. O país carece de reforma agrária, distribuição de renda e a construção de espaços efetivamente democráticos, onde o povo seja capaz de aprender e de decidir sem intermediações. Talvez nesse dia, possamos falar em ensinar a pescar, pois os instrumentos da pesca serão de todos.
Tiago Barbosa Mafra, Professor de História e Geografia na rede municipal de ensino de Poços de Caldas e no pré-vestibular comunitário Educafro.
2 comentários:
Gostei, é esse tipo de resposta que temos de dar, a essas máximas ideológicas que permeam o senso comum.
Postar um comentário