A imprensa livre começou a ser julgada em Istambul pelo regime
turco na pessoa de 44 jornalistas de órgãos de comunicação social curdos
acusados de terem “laços com organização terrorista”. Os acusados começaram por
ser impedidos de se dirigir ao tribunal na sua língua materna.
“No ato de acusação é o jornalismo livre que está em
julgamento, porque não se percebe qualquer outro motivo para estas
perseguições”, declarou Kadri Gursel, editorialista do jornal turco de grande
circulação “Milliyet” e presidente da seção turca do Instituto Internacional de
Imprensa (IPI).
Os 44 jornalistas são, na sua maior parte, trabalhadores de
órgãos de comunicação social em língua curda como é o caso da agência de
imprensa “Dicle” e os jornais “Ozgur Gundem” e “Azadiya Welat”. As autoridades
judiciais turcas, tradicionalmente associadas ao poder militar e seguindo a
orientação do governo islamita, acusam os jornalistas de terem ligações com a
União das Comunidades Curdas, uma organização clandestina que o regime declarou
como ramo urbano do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Doze dos acusados incorrem em penas até 22 anos e meio de
prisão enquanto “dirigentes de uma organização terrorista”. Outros estão
ameaçados de penas até 15 anos de prisão por “pertencerem a uma organização
terrorista”. Entre os réus, 36 estão em prisão preventiva desde a sua detenção,
em dezembro do ano passado, permanecendo longos meses sem culpa formada,
violando os preceitos legais da própria Turquia.
O julgamento está sendo acompanhado por militantes pela
liberdade de imprensa na Turquia e também por deputados que denunciam este
processo como um atentado à liberdade de expressão.
Os presentes salientam ainda o fato de a liberdade de
imprensa estar sendo julgada por um regime que funciona como base estratégica
da intervenção dos Estados Unidos, de países da União Europeia e da Otan na
Síria apoiando grupos “rebeldes” afetos a organizações extremistas islâmicas
que, noutras circunstâncias, têm sido declaradas internacionalmente como
“terroristas”.
A primeira audiência, na segunda-feira, começou com três
horas de atraso porque o juiz fez evacuar a sala várias vezes antes mesmo do
início dos debates. Assistentes presentes na sala fizeram-se ouvir com mensagens
como “não temos medo de pressões” e “não vão conseguir silenciar a imprensa
livre”.
Quando os trabalhos se iniciaram registou-se um novo
incidente porque alguns dos acusados responderam à chamada em curdo,
comportamento que o sistema judicial turco não permite. O curdo é a língua
materna de uma minoria da população da Turquia superior a 15%. Os advogados de
defesa mantêm a sua posição de requerem ao tribunal as respostas dos acusados
em curdo para que possam dispor de todos os recursos para se defenderem
eficazmente.
Numerosos deputados nacionais turcos presentes no tribunal,
em Istambul, denunciaram todos estes fatos como visíveis atentados à liberdade
de expressão num país que é candidato à União Europeia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário