terça-feira, 11 de setembro de 2012

Turquia coloca jornalismo livre no banco dos réus



A imprensa livre começou a ser julgada em Istambul pelo regime turco na pessoa de 44 jornalistas de órgãos de comunicação social curdos acusados de terem “laços com organização terrorista”. Os acusados começaram por ser impedidos de se dirigir ao tribunal na sua língua materna.

“No ato de acusação é o jornalismo livre que está em julgamento, porque não se percebe qualquer outro motivo para estas perseguições”, declarou Kadri Gursel, editorialista do jornal turco de grande circulação “Milliyet” e presidente da seção turca do Instituto Internacional de Imprensa (IPI).

Os 44 jornalistas são, na sua maior parte, trabalhadores de órgãos de comunicação social em língua curda como é o caso da agência de imprensa “Dicle” e os jornais “Ozgur Gundem” e “Azadiya Welat”. As autoridades judiciais turcas, tradicionalmente associadas ao poder militar e seguindo a orientação do governo islamita, acusam os jornalistas de terem ligações com a União das Comunidades Curdas, uma organização clandestina que o regime declarou como ramo urbano do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Doze dos acusados incorrem em penas até 22 anos e meio de prisão enquanto “dirigentes de uma organização terrorista”. Outros estão ameaçados de penas até 15 anos de prisão por “pertencerem a uma organização terrorista”. Entre os réus, 36 estão em prisão preventiva desde a sua detenção, em dezembro do ano passado, permanecendo longos meses sem culpa formada, violando os preceitos legais da própria Turquia.

O julgamento está sendo acompanhado por militantes pela liberdade de imprensa na Turquia e também por deputados que denunciam este processo como um atentado à liberdade de expressão.

Os presentes salientam ainda o fato de a liberdade de imprensa estar sendo julgada por um regime que funciona como base estratégica da intervenção dos Estados Unidos, de países da União Europeia e da Otan na Síria apoiando grupos “rebeldes” afetos a organizações extremistas islâmicas que, noutras circunstâncias, têm sido declaradas internacionalmente como “terroristas”.

A primeira audiência, na segunda-feira, começou com três horas de atraso porque o juiz fez evacuar a sala várias vezes antes mesmo do início dos debates. Assistentes presentes na sala fizeram-se ouvir com mensagens como “não temos medo de pressões” e “não vão conseguir silenciar a imprensa livre”.

Quando os trabalhos se iniciaram registou-se um novo incidente porque alguns dos acusados responderam à chamada em curdo, comportamento que o sistema judicial turco não permite. O curdo é a língua materna de uma minoria da população da Turquia superior a 15%. Os advogados de defesa mantêm a sua posição de requerem ao tribunal as respostas dos acusados em curdo para que possam dispor de todos os recursos para se defenderem eficazmente.

Numerosos deputados nacionais turcos presentes no tribunal, em Istambul, denunciaram todos estes fatos como visíveis atentados à liberdade de expressão num país que é candidato à União Europeia.



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