O triunfo do PT em Poços soma-se a outras vitórias
importantes em Minas que deram ao partido a responsabilidade de governar o
maior número de habitantes no estado de Aécio Neves. Serão mais de 3,4 milhão de
habitantes ou 17% do total do estado governados pelo PT a partir de janeiro
próximo. Um feito importante para um partido que pretende em 2014 derrubar a
hegemonia tucana em Minas e no plano federal dar outro mandato a Dilma Rousseff.
Isso se torna ainda mais relevante se levarmos em conta o clima de terrorismo
dessas eleições municipais que transcorreram, numa “suprema” coincidência, de
forma paralela ao julgamento do chamado “mensalão”.
Outro dado relevante é que 2012 marcou o triunfo do novo
sobre o velho em boa parte do país: Eloísio Lourenço sobre Geraldo Thadeu (e
Paulinho Courominas) em Poços; Fernando Haddad sobre José Serra em São Paulo;
Geraldo Júlio sobre Humberto Costa no Recife; são alguns exemplos dum processo
de renovação da politica nacional. Os velhos nomes que marcaram a transição do
período militar para a consolidação da democracia estão dando lugar a novos
nomes e a uma salutar oxigenação da vida política.
Voltando a Poços, após oito longos anos o PT voltará a
governar a maior cidade do Sul de Minas Gerais (segunda maior mesorregião
mineira) e o 14º maior PIB do estado. O partido ganhou esse direito após uma
das eleições mais espetaculares de toda a história política da cidade. Com um
candidato, a princípio, pouco conhecido do eleitorado e disputando a Prefeitura
contra o atual prefeito e um ex-prefeito atualmente no terceiro mandato de
deputado federal, o PT surpreendeu a muitos e trouxe uma enorme alegria, além,
claro, de um desabafo aos seus filiados, simpatizantes, militantes e a todos
aqueles que sonham com uma Poços diferente da que nos acostumamos a ver e morar
nos últimos anos.
O Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores seguiu
a risca aquilo que o PT nacional já vinha elaborando e optou pela renovação de
seus quadros – tomemos o slogan de Haddad em São Paulo: "o
homem novo para um tempo novo". Pois tanto Eloísio Lourenço
quanto Nizar El Khatib surgiram nessas eleições como neófitos no jogo
político-eleitoral e pela primeira vez, após várias eleições, o PT lançou chapa
pura.
A estratégia petista no caso de Poços era a do “novo”
representando uma mudança, um novo modo de se fazer política em oposição a um
modo arcaico, obsoleto e ultrapassado no qual a máquina pública é vista apenas
como meio para atingir objetivos que não possuem qualquer valor republicano.
Passadas as eleições e com a estratégia petista triunfando, vejo que essa
mudança e esse novo, personificados na figura do prefeito eleito Eloísio
Lourenço, trarão vida nova a política local, que há muito já dava sinais claros
da necessidade de renovação de seus quadros, tanto à esquerda quanto à direita.
E foi justamente nisso que se assentou a vitória de
Eloísio e do PT: na percepção que o momento histórico pedia por renovação, por
um novo discurso, por novas ideias, novas caras, novos compromissos. A fenomenal
arrancada de Eloísio, saindo de meros 4% na primeira pesquisa Ibope divulgada em
29 de agosto, na qual aparecia numa ingrata 4ª posição, até chegar em 7 de
outubro angariando 44,05% dos votos – por pouco não obteve a soma dos votos de
seus dois principais adversários – confirmou essa percepção. No mais, a
campanha de seus adversários se mostrou desde cedo repleta do mais do mesmo.
Não fosse a forma propositiva, ponderada e serena como Eloísio conduziu a campanha,
estaríamos fadados a uma campanha sem nenhuma novidade para a população
poços-caldense ou sequer algum discurso que tratasse dos problemas cotidianos,
mesmo com a cidade passando por uma grave crise administrativa e vendo seus indicadores
socioeconômicos e sua importância política no âmbito estadual caindo cada vez
mais.
Chega a espantar ouvir tanta gente se perguntando qual
foi o segredo do PT nessa campanha, quando na realidade não houve segredo
algum. Costumo dizer que cada eleição tem a sua própria história. Os fatores
que levaram a vitória petista em Poços nesse 2012 dificilmente se repetirão.
Todavia o PT se mostrou sábio ao manter candidatura própria, mesmo diante de
muitas tribulações. Ao insistir na
candidatura própria, o partido se viu obrigado a fazer uma campanha com poucos
recursos financeiros, mas ao mesmo tempo chamando a responsabilidade para a
militância. Indubitavelmente aí reside boa parte do seu “segredo”, na força da
sua militância e naquilo que o partido representa.
Outros fatores vieram a colaborar para o excelente
desempenho petista na maior cidade do Sul de Minas – afinal, além da
espetacular virada de Eloísio, o PT ainda fez os dois vereadores mais votados
de toda a mesorregião, respectivamente Paulo Tadeu e Professor Flávio –, entre
eles podemos citar que enquanto se assistia as mais variadas baixarias em pleno
horário eleitoral – baixarias que exploravam desde a dor de mães que haviam
perdido os filhos até ataques a vida pessoal dos candidatos, passando por denúncias
de mau uso de recursos e equipamentos públicos – a campanha petista soube
canalizar o sentimento de frustração da sociedade poços-caldense ante o
abandono da cidade e a consequente rejeição ao atual prefeito, além de fazer o
clima presunçoso de “já ganhou” que tomou conta da candidatura de Geraldo
Thadeu jogar contra o próprio candidato.
Eloísio também soube explorar o vazio de projetos dos
candidatos mais experientes e a falta de explicação para a ruptura do “grupo
dos caciques” (Geraldo, Navarro, Mosconi) com Paulinho Courominas. Num terreno
como este Eloísio soube com raro faro político capitalizar o desejo de mudança
e o desconforto causado pelo deserto de ideias apresentado pelos dois
principais oponentes.
Com certeza Poços viverá outros tempos com Eloísio e o PT
sepultando o coronelismo conforme implantem politicas sociais que atendam de
fato a população e que tragam consigo a responsabilidade no trato da coisa
pública, além do estreitamento do diálogo com a sociedade, tornando a cidade
mais justa, mais democrática e mais transparente.
4 comentários:
E como escrevi dias atrás e também mencionei na última reunião de diretório: que nunca mais duvidem da força e da capacidade do PT em Poços de Caldas. Nos momentos mais difíceis, temos que manter o apego àquilo que nos erigiu, não nos dobrar a alianças que nos destroem frente a opinião pública e entre nós mesmo.
Parabéns a nós, que não desistimos e optamos pelo menos provável. Demonstramos que é viável e é possível. O próximo passo é realizar um bom governo, com a cara do socialismo. É nossa próxima batalha.
Boa Sorte pra todos nós!
Amigo Hudson:
O mundo gira e o blog do Hudson roda o Brasil inteiro. É um prazer sempre renovado fazer-me presente neste espaço. Aos vencedores a coroa de louros, e os parabéns pelas vitórias obtidas. O amigo sabe a minha aversão pelo PT, contudo, votei mais uma vez num petista em Friburgo para o nosso Legislativo, porque eu voto no homem e não uma sigla que se viu enlameada por elementos com sonhos além dos que é possível ter. O caso Mensalão é para ser mesmo esclarecido; aliás, nem precisava. Já sabemos que para fazer vencedoras suas propostas, o governo Lula usou de meios ilícitos pagando aos deputados federais por uma vitória incontestável. Esse caso não é uma invenção dos partidos opositores, mas uma realidade vergonhosa. Não defendo "a" ou "b"; sou totalmente contra o PSDB e o DEM e os seus homens. Tenho aversão redobrada por FHC e sua empáfia de homem letrado. Acompanhei o nascimento do PT desde a sua fundação e as suas primeiras reuniões. Acreditei que finalmente o Brasil teria o partido do trabalhador e, pois, do povo brasileiro. Votei no candidato Lula e em sua primeira vitória como governante. Aos poucos, porém, abriram-se os meus olhos; o entendimento se aguçou e a minha avaliação sobre o homem Lula soçobrou de vez. Sinta o amigo que não sou apegado a esse ou àquele nome, a essa ou àquela sigla. Sou, tão somente, a favor de um homem Probo - melhor sem partido algum - para a condução dessa pátria infeliz cujo povo se inebria ao aceno de promessas e tem por base de sua cultura novelas, BBBs, Fazendas, carnaval, samba e cachaça, sem falar no futebol. Até 20l4, muita água passará por baixo dos acontecimentos futuros. Não se deve esquecer o velho caçador de marajás, de Alagoas. Esse é outro que não gosto de citar o nome. Foi um desastre. Uma nódoa nojenta introduzida à nobre arte da política. Um abraço.
Infelizmente Morani, homens isolados não desenvolvem política. Isso é resultado de ação coletiva em busca de um fim. Os partidos representam modos de ver e realizar projetos e programas para o país. Os erros que o PT cometeu, temos que ter como referência para que não se repitam. Apesar de achar que não há inocentes nesse jogo, o modo como o julgamento da ação 470 (mensalão) se mostra como uma ferramenta de condenação baseada na denuncia infundada, não comprovada e baseada na fala de quem tinha interesses envolvidos.
Mas enfim, continuo a defender o resgate daquele partido que o senhor achou que era uma saída para o país, aquele da década de 1980. Claro que adaptado ao modelo econômico do século XXI. Adaptado não no sentido de ceder a ele, mas a ponto de compreender este sistema e criar a forma de subvertê-lo.
O partido não é perfeito e se fosse, não precisaria de militantes e muito menos de auto crítica. Ainda creio no partido como forma de transformação e em todos nós como forma de transformação dos partidos. Desacreditar isso é individualizar a responsabilidade e a ação.
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