Nesse sábado inicia dentro do projeto social e cultural da ACJC (Associação Cultura, Juventude & Cidadania) mais um ciclo de oficinas.
A entrada, como de praxe no projeto,é franca.
Venha, participe, divulgue...
Ciclo de Oficinas Juventude e Cidadania
Religiosidade e Religiões Populares. Círculo de Cultura
Prof. Dr. Ronaldo Salles
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Profa. MSC. Maria José de Souza
Professora Aposentada e Pesquisadora em Religião
Resumo
A Associação Cultural Juventude e Cidadania – ACJC, em parceria com o Instituto Cultural Companhia Bella de Artes promovem há 3 anos o Projeto “Ciclo de Oficinas Juventude e Cidadania” e dando início às atividades deste ano, a oficina será ministrada pelo Professor Ronaldo Salles, da UFBA e Maria José de Souza, professora de Poços de Caldas. Os dois pesquisadores já publicaram livros sobre religião, sendo especialistas no estudo das religiões ditas “populares”.
A oficina acontece neste sábado, dia 30 de maio, a partir das 16hs no Teatro Nicionelly de Carvalho, na Cia. Bella, Rua Prefeito Chagas, 315, SL. A entrada é franca e aos participantes, estudantes e público em geral que participar das oficinas será ofertado certificado de participação.
Participe! Divulgue!
Maiores informações: 3715 5563, Cia. Bella
quinta-feira, 28 de maio de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
“Não reeleja ninguém” é uma campanha burra e alienada
Pelo Professor Idelber Avelar no seu ótimo blog:
http://www.idelberavelar.com/
Acho que não uso a palavra “alienação” desde minha época de militância trotskista. Mas não há outro termo para definir essa irresponsável campanha disseminada na internet por Daniela Thomas e Marcelo Tas. É a alienação e o conformismo em sua típica versão Morumbi-Leblon: quero mudar tudo o que está aí, desde que eu não tenha que me dar ao trabalho de procurar informação ou tirar as pantufas. "Não reeleja ninguém" significa: Tire todos os 513 deputados de lá e coloque outros 513 que exercerão seus mandatos sem serem incomodados. Assim você poderá passar mais quatro anos vociferando indignação vazia e repetindo a cantilena de que todos os políticos são corruptos, enquanto fura mais uma filinha, sonega mais um imposto e joga mais uma embalagem de Doritos pela janela do seu Toyota Camry.
Fiz uma busca no Google. Há 6.650 ocorrências da sandice. A única coisa coerente que encontrei foi o texto de Marcelo Soares, Saiba por que a campanha “Não reeleja ninguém” é de uma burrice atroz. O resto é bateção de lata sem qualquer raciocício que vá além do quero acabar com todos esses políticos que estão aí.
Um jornalista esportivo adere à campanha. Logo depois, demonstra ter mais de dois neurônios lançando a pergunta: se não reelegermos ninguém, vamos eleger quem? Não consegue encontrar uma resposta para a pergunta que ele próprio formulou, mas mesmo assim mantém o selinho da campanha. É o retrato da pobreza política da nossa classe média.
Um profissional da área de Direito adere à campanha. Tampouco demonstra convicção, mas afirma que isso compensaria a decisão do STF que permitiu a candidatura de políticos com “ficha-suja”. O que se está chamando “ficha-suja” aqui não é a existência de sentenças condenatórias transitadas em julgado. É a existência de um processo em trâmite. Era só o que nos faltava: proibir a candidatura de quem está sendo processado. Se você quisesse eliminar a candidatura de alguém, bastaria inventar um motivo e processar o sujeito. Até que você perdesse o processo, a candidatura estaria impugnada. Como é possível que um profissional do Direito seja incapaz de fazer esse raciocínio?
Como afirmei no Twitter, a campanha “Não reeleja ninguém” é típica de quem não se lembra em quem votou. Minha Deputada Federal, Jô Moraes (PC do B), não está revolucionando a Câmara, mas está honrando seu mandato. Recebo semanalmente um informativo detalhado. Ela trabalha agora na emenda à Constituição 438/01, que expropria terras onde houver trabalho escravo. O escritório político de Jô em Belo Horizonte fica ali no Santo Agostinho, na Rua Araguari, 1685/05. Está em funcionamento permanente. Nunca deixo de ser atendido pela sua assessora de imprensa, Graça Gomes. Qual desses indignados sabe o que anda fazendo o seu Deputado? Qual desses indignados lembra-se sequer em quem votou?
Que tal, indignados, lançar a campanha "Não reeleja nenhum membro da bancada ruralista"? Que tal "Não reeleja donos de concessões de rádio e televisão"? Que tal, Daniela Thomas, uma campanha "Não reeleja membros da bancada evangélica", esse grupo em guerra permanente contra a saúde das mulheres? Ah, isso dá muito trabalho, né? Tem que pesquisar, ir atrás, essas coisas. É mais fácil vociferar contra tudo o que está aí.
A campanha “Não reeleja ninguém” ganhou bastante ímpeto com o colapso do gabeirismo. Despolitizado até a medula, o gabeirismo só tinha o discurso da “ética” -- entre aspas e em minúscula, claro, porque não há nada ali que tenha que muito que ver com esse ramo da Filosofia. Com a história das passagens aéreas, o que mais se encontra nas caixas de comentários do “Não reeleja ninguém” é gabeirista desiludido. Não lhes ocorre pensar que o problema não é Gabeira, nem Zé Dirceu, nem Delúbio, e sim um modelo de compreensão da política que a reduz completamente à cantilena moralizante.
Sim, é evidente que há muita coisa que se moralizar no Congresso. Discutir qual é a reforma política que nos possibilitaria ter partidos fortes e representativos, reduzindo assim o fisiologismo e as negociatas, são outros quinhentos. Para essa discussão, não contemos com as Danielas Thomas e Marcelos Tas. Eles não estão interessados nisso. Essa discussão dá muito trabalho e nela ninguém pode posar de vestal da pureza.
Comentário meu: Também votei na Jô Moraes, também sigo o seu trabalho na Câmara dos Deputados e até aqui não vi, ou soube de nada, que pudesse desaboná-la.
http://www.idelberavelar.com/
Acho que não uso a palavra “alienação” desde minha época de militância trotskista. Mas não há outro termo para definir essa irresponsável campanha disseminada na internet por Daniela Thomas e Marcelo Tas. É a alienação e o conformismo em sua típica versão Morumbi-Leblon: quero mudar tudo o que está aí, desde que eu não tenha que me dar ao trabalho de procurar informação ou tirar as pantufas. "Não reeleja ninguém" significa: Tire todos os 513 deputados de lá e coloque outros 513 que exercerão seus mandatos sem serem incomodados. Assim você poderá passar mais quatro anos vociferando indignação vazia e repetindo a cantilena de que todos os políticos são corruptos, enquanto fura mais uma filinha, sonega mais um imposto e joga mais uma embalagem de Doritos pela janela do seu Toyota Camry.
Fiz uma busca no Google. Há 6.650 ocorrências da sandice. A única coisa coerente que encontrei foi o texto de Marcelo Soares, Saiba por que a campanha “Não reeleja ninguém” é de uma burrice atroz. O resto é bateção de lata sem qualquer raciocício que vá além do quero acabar com todos esses políticos que estão aí.
Um jornalista esportivo adere à campanha. Logo depois, demonstra ter mais de dois neurônios lançando a pergunta: se não reelegermos ninguém, vamos eleger quem? Não consegue encontrar uma resposta para a pergunta que ele próprio formulou, mas mesmo assim mantém o selinho da campanha. É o retrato da pobreza política da nossa classe média.
Um profissional da área de Direito adere à campanha. Tampouco demonstra convicção, mas afirma que isso compensaria a decisão do STF que permitiu a candidatura de políticos com “ficha-suja”. O que se está chamando “ficha-suja” aqui não é a existência de sentenças condenatórias transitadas em julgado. É a existência de um processo em trâmite. Era só o que nos faltava: proibir a candidatura de quem está sendo processado. Se você quisesse eliminar a candidatura de alguém, bastaria inventar um motivo e processar o sujeito. Até que você perdesse o processo, a candidatura estaria impugnada. Como é possível que um profissional do Direito seja incapaz de fazer esse raciocínio?
Como afirmei no Twitter, a campanha “Não reeleja ninguém” é típica de quem não se lembra em quem votou. Minha Deputada Federal, Jô Moraes (PC do B), não está revolucionando a Câmara, mas está honrando seu mandato. Recebo semanalmente um informativo detalhado. Ela trabalha agora na emenda à Constituição 438/01, que expropria terras onde houver trabalho escravo. O escritório político de Jô em Belo Horizonte fica ali no Santo Agostinho, na Rua Araguari, 1685/05. Está em funcionamento permanente. Nunca deixo de ser atendido pela sua assessora de imprensa, Graça Gomes. Qual desses indignados sabe o que anda fazendo o seu Deputado? Qual desses indignados lembra-se sequer em quem votou?
Que tal, indignados, lançar a campanha "Não reeleja nenhum membro da bancada ruralista"? Que tal "Não reeleja donos de concessões de rádio e televisão"? Que tal, Daniela Thomas, uma campanha "Não reeleja membros da bancada evangélica", esse grupo em guerra permanente contra a saúde das mulheres? Ah, isso dá muito trabalho, né? Tem que pesquisar, ir atrás, essas coisas. É mais fácil vociferar contra tudo o que está aí.
A campanha “Não reeleja ninguém” ganhou bastante ímpeto com o colapso do gabeirismo. Despolitizado até a medula, o gabeirismo só tinha o discurso da “ética” -- entre aspas e em minúscula, claro, porque não há nada ali que tenha que muito que ver com esse ramo da Filosofia. Com a história das passagens aéreas, o que mais se encontra nas caixas de comentários do “Não reeleja ninguém” é gabeirista desiludido. Não lhes ocorre pensar que o problema não é Gabeira, nem Zé Dirceu, nem Delúbio, e sim um modelo de compreensão da política que a reduz completamente à cantilena moralizante.
Sim, é evidente que há muita coisa que se moralizar no Congresso. Discutir qual é a reforma política que nos possibilitaria ter partidos fortes e representativos, reduzindo assim o fisiologismo e as negociatas, são outros quinhentos. Para essa discussão, não contemos com as Danielas Thomas e Marcelos Tas. Eles não estão interessados nisso. Essa discussão dá muito trabalho e nela ninguém pode posar de vestal da pureza.
Comentário meu: Também votei na Jô Moraes, também sigo o seu trabalho na Câmara dos Deputados e até aqui não vi, ou soube de nada, que pudesse desaboná-la.
sábado, 23 de maio de 2009
Petrobras – A Oposição Sem Rumo
Leandro Fortes deu uma boa definição para a aventura que os demos, tucanos, liquidacionistas, e toda a sorte de entreguistas e privateiros estão fazendo ao promoverem uma CPI da Petrobras. “Uma cruzada ao fundo do poço”, segundo o jornalista da carta Capital.
Diria eu que, melhor ainda, trata-se duma epopéia. Ou talvez, autoflagelo, um tiro de bazuca dado no próprio pé – essa expressão é do Locatelli.
A oposição conseguiu aquilo que vínhamos pedindo desde 2003, ou seja, ver o povo nas ruas para defender os interesses e a soberania nacional. A direita conseguiu, quem diria, resgatar os movimentos sociais, sindicatos e organizações populares da letargia a qual se encontravam. Só tem um probleminha, para a direita obviamente, esses movimentos saíram às ruas no ímpeto de denunciar as manobras entreguistas e politiqueiras da própria direita.
Essa aventura está sendo também didática. Afinal uma sucessão de declarações e atitudes da direita, mostram perfeitamente o corolário desse grupo de políticos antipovo. Como por exemplo, a ameaça de obstruir as votações no plenário do Senado caso o povo continue a sair às ruas contra a CPI da Petrobras. Assim tornam publico, mais uma vez, o desprezo e ojeriza que sentem pelo povão.
Os grandes jornais da mídia oligopolizada, aliados incondicionais da direita, não perderam tempo e correram a publicar editorias defendendo a emocionante epopéia entreguista. O Otavinho Frias afirmou com todas as letras que, nenhuma empresa no Brasil, ainda mais uma estatal, pode estar imune a investigação de uma CPI. Concordo plenamente com ele. Inclusive lhe sugiro que nos próximos editoriais defenda uma CPI sobre a fusão entre Sadia e Perdigão, e enfim, possamos tomar conhecimento sobre quantos trabalhadores perderão o emprego e quais unidades serão fechadas. Ou então, sobre outra fusão, a do Itaú com o Unibanco, como serão as relações trabalhistas num setor onde já é notória a degradação da qualidade de trabalho, e, ainda, qual o impacto que essa fusão terá diretamente sobre os ditames das escorchantes taxas cobradas pelos bancos na Terra de Santa Cruz. O publisher da Folha poderia propor também uma CPI que investigasse a conduta do Grupo Folha durante a ditadura militar – ditadura a qual Otavinho prefere chamar de ditabranda –, como se deu inicio ao apoio logístico daquele grupo, cujas peruas eram cedidas para o transporte de presos políticos. A sociedade brasileira tem curiosidade em elucidar tal relação.
Hoje li na Folha Online mais uma das perolas da oposição farisaica. O senador Arthrur Virgílio afirmou ao rebater críticas da ministra Dilma Rousseff sobre a CPI instalada, que a Petrobras “está dominada por políticos derrotados”. Isso, na visão do nobre senador amazonense, é indigno e os ocupantes do primeiro escalão da estatal são incompetentes por natureza.
Acho que o senador Arthur Virgílio estava em Marte nos últimos 7 anos, ou então, pelo menos desde 2006, estava ocupado contanto a enormidade de votos que recebeu para o governo do Amazonas, 5%. Então só pra informá-lo.
A Petrobras valia, a preço de mercado, pouco mais de 50 bilhões de dólares em 2002, hoje vale cerca de 460 bilhões. Durante esse período não tivemos sequer um único acidente que lembrasse de longe o derramamento de óleo que ocorreu nas baías de Guanabara ou Paranaguá, e tampouco algo similar ao afundamento da P36. O barril do petróleo foi ao patamar histórico de US$145,00 na Bolsa de Nova York, no entanto, no mercado interno, o preço da gasolina, do óleo diesel e outros derivados, se manteve praticamente estável nesse período. Mais, a Petrobras se tornou a maior empresa da America Latina, descobriu uma das maiores reservas de petróleo do mundo na chamada camada do Pré-Sal. É sinônimo de tecnologia de ponta em extração de petróleo em alto-mar, e em 2006 o Brasil se tornou um dos poucos países do mundo – pelo menos do que eu vivo, não sei ao certo quanto ao senador Virgílio e seus colegas de oposição – auto-suficiente em petróleo. Além de tudo isso, a empresa estatal tem tido papel relevante como impulsionadora da economia nacional ao tocar projetos do porte de refinarias e gasodutos. É de suma importância salientar que seus acionistas, incluindo àqueles brasileiros que usaram o FGTS e compraram ações durante o governo FFHH, estão muito satisfeitos com o desempenho da empresa na bolsa de valores.
Agora, se é pra ter uma CPI da Petrobras, por que não começar investigando a dinheirama torrada pra trocar o nome da empresa para “Petrobrax”, os desastres ambientais causados pelos derramamentos da década de 1990, e o afundamento da P36?
Diria eu que, melhor ainda, trata-se duma epopéia. Ou talvez, autoflagelo, um tiro de bazuca dado no próprio pé – essa expressão é do Locatelli.
A oposição conseguiu aquilo que vínhamos pedindo desde 2003, ou seja, ver o povo nas ruas para defender os interesses e a soberania nacional. A direita conseguiu, quem diria, resgatar os movimentos sociais, sindicatos e organizações populares da letargia a qual se encontravam. Só tem um probleminha, para a direita obviamente, esses movimentos saíram às ruas no ímpeto de denunciar as manobras entreguistas e politiqueiras da própria direita.
Essa aventura está sendo também didática. Afinal uma sucessão de declarações e atitudes da direita, mostram perfeitamente o corolário desse grupo de políticos antipovo. Como por exemplo, a ameaça de obstruir as votações no plenário do Senado caso o povo continue a sair às ruas contra a CPI da Petrobras. Assim tornam publico, mais uma vez, o desprezo e ojeriza que sentem pelo povão.
Os grandes jornais da mídia oligopolizada, aliados incondicionais da direita, não perderam tempo e correram a publicar editorias defendendo a emocionante epopéia entreguista. O Otavinho Frias afirmou com todas as letras que, nenhuma empresa no Brasil, ainda mais uma estatal, pode estar imune a investigação de uma CPI. Concordo plenamente com ele. Inclusive lhe sugiro que nos próximos editoriais defenda uma CPI sobre a fusão entre Sadia e Perdigão, e enfim, possamos tomar conhecimento sobre quantos trabalhadores perderão o emprego e quais unidades serão fechadas. Ou então, sobre outra fusão, a do Itaú com o Unibanco, como serão as relações trabalhistas num setor onde já é notória a degradação da qualidade de trabalho, e, ainda, qual o impacto que essa fusão terá diretamente sobre os ditames das escorchantes taxas cobradas pelos bancos na Terra de Santa Cruz. O publisher da Folha poderia propor também uma CPI que investigasse a conduta do Grupo Folha durante a ditadura militar – ditadura a qual Otavinho prefere chamar de ditabranda –, como se deu inicio ao apoio logístico daquele grupo, cujas peruas eram cedidas para o transporte de presos políticos. A sociedade brasileira tem curiosidade em elucidar tal relação.
Hoje li na Folha Online mais uma das perolas da oposição farisaica. O senador Arthrur Virgílio afirmou ao rebater críticas da ministra Dilma Rousseff sobre a CPI instalada, que a Petrobras “está dominada por políticos derrotados”. Isso, na visão do nobre senador amazonense, é indigno e os ocupantes do primeiro escalão da estatal são incompetentes por natureza.
Acho que o senador Arthur Virgílio estava em Marte nos últimos 7 anos, ou então, pelo menos desde 2006, estava ocupado contanto a enormidade de votos que recebeu para o governo do Amazonas, 5%. Então só pra informá-lo.
A Petrobras valia, a preço de mercado, pouco mais de 50 bilhões de dólares em 2002, hoje vale cerca de 460 bilhões. Durante esse período não tivemos sequer um único acidente que lembrasse de longe o derramamento de óleo que ocorreu nas baías de Guanabara ou Paranaguá, e tampouco algo similar ao afundamento da P36. O barril do petróleo foi ao patamar histórico de US$145,00 na Bolsa de Nova York, no entanto, no mercado interno, o preço da gasolina, do óleo diesel e outros derivados, se manteve praticamente estável nesse período. Mais, a Petrobras se tornou a maior empresa da America Latina, descobriu uma das maiores reservas de petróleo do mundo na chamada camada do Pré-Sal. É sinônimo de tecnologia de ponta em extração de petróleo em alto-mar, e em 2006 o Brasil se tornou um dos poucos países do mundo – pelo menos do que eu vivo, não sei ao certo quanto ao senador Virgílio e seus colegas de oposição – auto-suficiente em petróleo. Além de tudo isso, a empresa estatal tem tido papel relevante como impulsionadora da economia nacional ao tocar projetos do porte de refinarias e gasodutos. É de suma importância salientar que seus acionistas, incluindo àqueles brasileiros que usaram o FGTS e compraram ações durante o governo FFHH, estão muito satisfeitos com o desempenho da empresa na bolsa de valores.
Agora, se é pra ter uma CPI da Petrobras, por que não começar investigando a dinheirama torrada pra trocar o nome da empresa para “Petrobrax”, os desastres ambientais causados pelos derramamentos da década de 1990, e o afundamento da P36?
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Regina "Buffalo Bill" Duarte
Regina Duarte também tem medo de índio
Do Blog do Sakamoto
http://colunistas.ig.com.br/sakamoto
A atriz global e pecuarista Regina Duarte, em discurso na abertura da 45ª Expoagro, em Dourados (MS), disse que está solidária com os produtores e lideranças rurais quanto à questão de demarcação de terras indígenas e quilombolas no estado.
“Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, afirmou a atriz, neste domingo (18), com referência à previsão de criação de novas reservas na região de Dourados. “O direito à propriedade é inalienável”, explicou ela, de forma curta, grossa e maravilhosamente elucidativa o que faz do BRASIL um brasil. Em verdade, ela deve estar sentindo medo desde a campanha presidencial de 2002…
(O deputado Ronaldo Caiado, principal defensor desses princípios, deveria cobrar royalties de Regina Duarte… Inalienáveis deveriam ser o direito à vida e à dignidade, mas terra vale mais que isso por aqui.)
“Podem contar comigo, da mesma forma que estive presentes nos momentos mais importantes da política brasileira.” Ela e o marido são criadores da raça Brahman em Barretos (SP).
Dos 60 assassinatos de indígenas ocorridos no Brasil inteiro em 2008, 42 vítimas (70% do total) eram do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, de acordo com dados Conselho Indígenista Missionário (Cimi). “Ninguém é condenado quando mata um índio. Na verdade, os condenados até hoje são os indígenas, não os assassinos”, afirma Anastácio Peralta, liderança do povo Guarani Kaiowá da região.
“Nós estamos amontoados em pequenos acampamentos. A falta de espaço faz com que os conflitos fiquem mais acirrados, tanto por partes dos fazendeiros que querem nos massacrar, quanto entre os próprios indígenas que não tem alternativa de trabalho, de renda, de educação”, lamenta Anastácio Peralta.
A população Guarani Kaiowá é composta por mais de 44,5 mil. Desse total, mais de 23,3 mil estão concentrados em três terras indígenas (Dourados, Amambaí e Caarapó), demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (criado em 1910 e extinto em 1967), que juntas atingem 9.498 hectares de terra. Enquanto os fazendeiros, muitos dos quais ocuparam irregularmente as terras, esparramam-se confortavelmente por centenas de milhares de hectares. O governo não tem sido competente para agilizar a demarcação de terras e vem sofrendo pressões até da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Mesmo em áreas já homologadas, os fazendeiros-invasores se negam a sair - semelhante ao que ocorreu com a Raposa Serra do Sol.
É esse massacre lento que a pecuarista apóia, como se as vítimas fossem os pobres fazendeiros. Só espero que, na tentativa de apoiar a causa, ela não resolva levar isso para a tela da TV, em um épico sobre a conquista do Oeste brasileiro, nos quais os brancos civilizados finalmente livram as terras dos selvagens pagãos.
Do Blog do Sakamoto
http://colunistas.ig.com.br/sakamoto
A atriz global e pecuarista Regina Duarte, em discurso na abertura da 45ª Expoagro, em Dourados (MS), disse que está solidária com os produtores e lideranças rurais quanto à questão de demarcação de terras indígenas e quilombolas no estado.
“Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, afirmou a atriz, neste domingo (18), com referência à previsão de criação de novas reservas na região de Dourados. “O direito à propriedade é inalienável”, explicou ela, de forma curta, grossa e maravilhosamente elucidativa o que faz do BRASIL um brasil. Em verdade, ela deve estar sentindo medo desde a campanha presidencial de 2002…
(O deputado Ronaldo Caiado, principal defensor desses princípios, deveria cobrar royalties de Regina Duarte… Inalienáveis deveriam ser o direito à vida e à dignidade, mas terra vale mais que isso por aqui.)
“Podem contar comigo, da mesma forma que estive presentes nos momentos mais importantes da política brasileira.” Ela e o marido são criadores da raça Brahman em Barretos (SP).
Dos 60 assassinatos de indígenas ocorridos no Brasil inteiro em 2008, 42 vítimas (70% do total) eram do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, de acordo com dados Conselho Indígenista Missionário (Cimi). “Ninguém é condenado quando mata um índio. Na verdade, os condenados até hoje são os indígenas, não os assassinos”, afirma Anastácio Peralta, liderança do povo Guarani Kaiowá da região.
“Nós estamos amontoados em pequenos acampamentos. A falta de espaço faz com que os conflitos fiquem mais acirrados, tanto por partes dos fazendeiros que querem nos massacrar, quanto entre os próprios indígenas que não tem alternativa de trabalho, de renda, de educação”, lamenta Anastácio Peralta.
A população Guarani Kaiowá é composta por mais de 44,5 mil. Desse total, mais de 23,3 mil estão concentrados em três terras indígenas (Dourados, Amambaí e Caarapó), demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (criado em 1910 e extinto em 1967), que juntas atingem 9.498 hectares de terra. Enquanto os fazendeiros, muitos dos quais ocuparam irregularmente as terras, esparramam-se confortavelmente por centenas de milhares de hectares. O governo não tem sido competente para agilizar a demarcação de terras e vem sofrendo pressões até da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Mesmo em áreas já homologadas, os fazendeiros-invasores se negam a sair - semelhante ao que ocorreu com a Raposa Serra do Sol.
É esse massacre lento que a pecuarista apóia, como se as vítimas fossem os pobres fazendeiros. Só espero que, na tentativa de apoiar a causa, ela não resolva levar isso para a tela da TV, em um épico sobre a conquista do Oeste brasileiro, nos quais os brancos civilizados finalmente livram as terras dos selvagens pagãos.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Improvável
Ainda estou digerindo a informação, correta ou equivocada, sobre uma chapa puro sangue tucano.
Sinceramente acho pouco provável Aécinho entrar de vice. Aécinho tem uma eleição garantida pro Senado, e de lá, com Serra presidente, pode negociar seu apoio tendo em troca o antigo jeitinho brasileiro de usar o poder da caneta para empossar aliados no primeiro, segundo, terceiro, quarto... escalão. Poderá também pleitear a presidência da Casa ou algum ministério estratégico e de grande visibilidade. No entanto, caso aceite ser vice de Serra o apoio já é intrínseco, e a barganha tende a ser menor.
Aécinho deve levar em conta também outras coisas numa eventual presidência Serra. Qual a garantia de que Serra não disputará a reeleição? Um acordo entre ambos parece estar condicionado ao fim da reeleição, todavia, imagine o caro leitor a pressão que governadores e prefeitos farão contra o fim de tal instituto, e mesmo muitos parlamentares que vislumbram para si a oportunidade de se encastelar por 8 anos a frente do executivo. Outra coisa, caso o governo Serra naufrague e tenha uma avaliação negativa – coisa não muito improvável, pois sempre será comparado ao seu antecessor imediato, ou alguém imagina que mesmo com apoio da mídia oligopolizada Serra igualará os recordes de popularidade de Lula? – ele próprio (Aécinho) sendo seu vice, também pagará o ônus.
Agora, consumada a chapa pura sangue, fica espaço aberto para outras candidaturas. O DEMO passa por uma crise de identidade, na verdade escassez de votos, muito grande, e num cenário assim pode lançar César Maia, só pra marcar terreno, ajudar alguns candidatos ao governo estadual e ao Congresso e divulgar a sigla. Mas, bom mesmo para o PT seria ver um cenário pulverizado, com muitas candidaturas, uma mais a esquerda (PSOL). Uma mais a direita, qualquer nome do DEMO, ou então Paulo Maluf (PP) roubando votos do Serra em São Paulo e entre os mais conservadores. E outra de centro(?) com o PMDB lançando algum nome, quem sabe Hélio Costa pra tirar votos dos tucanos em Minas, ou Roberto Requião no Sul. Um desses dois também seria um bom vice – se for o Costa, haja pragmatismo, mas vá lá, dentro da atual conjuntura é melhor isso a entregar o Estado nas mãos dos privateiros.
O certo é que ainda está cedo, e como se diz aqui em Minas, muita água há de passar por debaixo da ponte.
Sinceramente acho pouco provável Aécinho entrar de vice. Aécinho tem uma eleição garantida pro Senado, e de lá, com Serra presidente, pode negociar seu apoio tendo em troca o antigo jeitinho brasileiro de usar o poder da caneta para empossar aliados no primeiro, segundo, terceiro, quarto... escalão. Poderá também pleitear a presidência da Casa ou algum ministério estratégico e de grande visibilidade. No entanto, caso aceite ser vice de Serra o apoio já é intrínseco, e a barganha tende a ser menor.
Aécinho deve levar em conta também outras coisas numa eventual presidência Serra. Qual a garantia de que Serra não disputará a reeleição? Um acordo entre ambos parece estar condicionado ao fim da reeleição, todavia, imagine o caro leitor a pressão que governadores e prefeitos farão contra o fim de tal instituto, e mesmo muitos parlamentares que vislumbram para si a oportunidade de se encastelar por 8 anos a frente do executivo. Outra coisa, caso o governo Serra naufrague e tenha uma avaliação negativa – coisa não muito improvável, pois sempre será comparado ao seu antecessor imediato, ou alguém imagina que mesmo com apoio da mídia oligopolizada Serra igualará os recordes de popularidade de Lula? – ele próprio (Aécinho) sendo seu vice, também pagará o ônus.
Agora, consumada a chapa pura sangue, fica espaço aberto para outras candidaturas. O DEMO passa por uma crise de identidade, na verdade escassez de votos, muito grande, e num cenário assim pode lançar César Maia, só pra marcar terreno, ajudar alguns candidatos ao governo estadual e ao Congresso e divulgar a sigla. Mas, bom mesmo para o PT seria ver um cenário pulverizado, com muitas candidaturas, uma mais a esquerda (PSOL). Uma mais a direita, qualquer nome do DEMO, ou então Paulo Maluf (PP) roubando votos do Serra em São Paulo e entre os mais conservadores. E outra de centro(?) com o PMDB lançando algum nome, quem sabe Hélio Costa pra tirar votos dos tucanos em Minas, ou Roberto Requião no Sul. Um desses dois também seria um bom vice – se for o Costa, haja pragmatismo, mas vá lá, dentro da atual conjuntura é melhor isso a entregar o Estado nas mãos dos privateiros.
O certo é que ainda está cedo, e como se diz aqui em Minas, muita água há de passar por debaixo da ponte.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Deaf, Dumb And Blind Kid
Nesse mês de maio, no dia 23 para ser mais exato, se passarão 40 anos desde a edição do disco-duplo Tommy da banda britânica The Who.
O mundo mudou, e muito, de lá pra cá. O homem foi a Lua (?), o Brasil já foi tri, tetra e agora é penta. O cinema foi substituído pelo vídeo-cassete, que foi substituído pelo DVD e que agora está dando a vez ao blu-ray. O Muro de Berlim caiu assim como o deus “Mercado” se mostrou feito de barro. A America Latina deixou de ser um conjunto de republiquetas de bananas, todas dominadas por milicos reaças, para se tornar ambiente fértil aos movimentos populares e democráticos. O Brasil elegeu e reelegeu um metalúrgico presidente da República – e não fosse esse metalúrgico a nossa desigualdade social ainda seria igual à de 1969. Entre avanços progressistas e sucessivas reações conservadoras, a Terra continuou a girar em torno do Sol e algumas continuam mui parecidas. (O golpismo da elite tupiniquim é exatamente o mesmo)
Contudo, temos também coisas boas que permanecem mais ou menos da mesma forma. Por exemplo, os fãs da “banda mais barulhenta de todos os tempos” seguem ouvindo a saga poética do garoto que não pode falar ouvir ou enxergar.
“Pete Townshend, Roger Daltrey, John Entwistle e Keith Moon – um dos quartetos mais poderosos da História do rock – conseguiram fazer da estória do garoto surdo, mudo e cego (deaf, dumb and blind kid) que se torna um ‘‘mago do pinbal” e falso messsias, uma obra atemporal. A ópera-rock Tommy se configuraria nos idos futuros num dos mais populares álbuns de Hard Rock – antes mesmo da invenção do Hard Rock.
A trama que se desenrola cadenciada pelo baixo elegante de John Entwistle e a batera de Keith Moon nos leva a uma viagem psicodélica. A gostosa sensação de curtir músicas com letras arrojadas – não sei se é bem esse o termo, mas na falta de outro que me venha a cabeça, fica esse mesmo – é fascinante. A crueza e crueldade do mundo se apresenta de forma alegórica e caricata. A instituição religião, seus dogmas e a fé dos humildes de coração formam uma tragicomédia lírica e algumas vezes assustadora. A sordidez do ser humano emana das letras compostas (quase todas) pelo gênio de Townshend e cantadas por Roger Daltrey – sem sombra de dúvidas um dos maiores vocalistas do tempo em que os deuses do rock caminhavam sobre a Terra.
É como se do fundo das canções do disco, algo de nosso ser mais mesquinho e corrupto implorasse por misericórdia e quem sabe por uma lobotomia. Vale à pena ouvir e prestar atenção na odisséia do jovem mago.
Tommy pode até não ser a obra-prima do The Who – há controvérsias em meu âmago sobre se é este ou então Who´s Next – mas com certeza é o mais autoral e foi o mais difícil de ser realizado, além de ter sido predecessor importante para outras obras do próprio quarteto (Quadrophenia) e outras bandas.
O mundo mudou, e muito, de lá pra cá. O homem foi a Lua (?), o Brasil já foi tri, tetra e agora é penta. O cinema foi substituído pelo vídeo-cassete, que foi substituído pelo DVD e que agora está dando a vez ao blu-ray. O Muro de Berlim caiu assim como o deus “Mercado” se mostrou feito de barro. A America Latina deixou de ser um conjunto de republiquetas de bananas, todas dominadas por milicos reaças, para se tornar ambiente fértil aos movimentos populares e democráticos. O Brasil elegeu e reelegeu um metalúrgico presidente da República – e não fosse esse metalúrgico a nossa desigualdade social ainda seria igual à de 1969. Entre avanços progressistas e sucessivas reações conservadoras, a Terra continuou a girar em torno do Sol e algumas continuam mui parecidas. (O golpismo da elite tupiniquim é exatamente o mesmo)
Contudo, temos também coisas boas que permanecem mais ou menos da mesma forma. Por exemplo, os fãs da “banda mais barulhenta de todos os tempos” seguem ouvindo a saga poética do garoto que não pode falar ouvir ou enxergar.
“Pete Townshend, Roger Daltrey, John Entwistle e Keith Moon – um dos quartetos mais poderosos da História do rock – conseguiram fazer da estória do garoto surdo, mudo e cego (deaf, dumb and blind kid) que se torna um ‘‘mago do pinbal” e falso messsias, uma obra atemporal. A ópera-rock Tommy se configuraria nos idos futuros num dos mais populares álbuns de Hard Rock – antes mesmo da invenção do Hard Rock.
A trama que se desenrola cadenciada pelo baixo elegante de John Entwistle e a batera de Keith Moon nos leva a uma viagem psicodélica. A gostosa sensação de curtir músicas com letras arrojadas – não sei se é bem esse o termo, mas na falta de outro que me venha a cabeça, fica esse mesmo – é fascinante. A crueza e crueldade do mundo se apresenta de forma alegórica e caricata. A instituição religião, seus dogmas e a fé dos humildes de coração formam uma tragicomédia lírica e algumas vezes assustadora. A sordidez do ser humano emana das letras compostas (quase todas) pelo gênio de Townshend e cantadas por Roger Daltrey – sem sombra de dúvidas um dos maiores vocalistas do tempo em que os deuses do rock caminhavam sobre a Terra.
É como se do fundo das canções do disco, algo de nosso ser mais mesquinho e corrupto implorasse por misericórdia e quem sabe por uma lobotomia. Vale à pena ouvir e prestar atenção na odisséia do jovem mago.
Tommy pode até não ser a obra-prima do The Who – há controvérsias em meu âmago sobre se é este ou então Who´s Next – mas com certeza é o mais autoral e foi o mais difícil de ser realizado, além de ter sido predecessor importante para outras obras do próprio quarteto (Quadrophenia) e outras bandas.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
A mídia tupiniquim e Álvaro Uribe
O Senado da Colômbia começará a discutir amanhã (14/05/2009), e talvez até coloque em votação, a mudança na Constituição a fim de permitir um terceiro mandato consecutivo a Álvaro Uribe. A mídia oligopolizada tupiniquim simplesmente se omitiu de tratar do assunto, gerando, assim, um nítido contraste com as recentes coberturas que tem feito sobre acontecimentos políticos na também vizinha Venezuela.
Ambas, Venezuela e Colômbia, são países fronteiriços com o Brasil. A Colômbia possuí a terceira maior população da América Latina, 44.379.598 habitantes. Já a população da Venezuela não passa de 27.934.783 habitantes (62% menor). A comparação entre o PIB colombiano, US$422.483 bilhões, com o venezuelano, US$223.430 bilhões (portanto 89% menor), e a renda per capita, na Colômbia, US$8.891 e na Venezuela, US$8.125 (9,42% menor), mostram um pouco das diferenças entre os dois países, e caso nossa mídia fosse realmente isenta e imparcial como tanto propagandeia, em qual dos dois deveria estar mais atenta.
Não bastassem todos esses números, há ainda outros nuances difíceis de passar despercebidos.
A personagem atendida diretamente pela provável mudança constitucional, o atual presidente Álvaro Uribe Vélez, é desde os tempos do Cowboy Bush um dos principais aliados da política de controle de drogas dos EEUU, e com certeza o maior aliado da Casa Branca na América do Sul. Todavia, antes de galgar tal posto, teve na década de 1980 seu nome incluído em uma lista negra da CIA por envolvimento com os cartéis de drogas. Outra notícia, nada auspiciosa para as instituições colombianas, trata do fato de muitos congressistas, funcionários do alto escalão e nomes da confiança do presidente da República, estarem buscando refúgio em outros países, fugindo dessa forma da justiça de seu país que lhes julga, ou, em muitos casos, os condenou por ligações com narcotráfico e grupos paramilitares de direita – esquadrões da morte como são conhecidos cá no Brasil. E, ao que tudo indica, o próprio Uribe possuí fortes laços com esses segmentos nada legais ou democráticos.
Também é bom lembrar que o Congresso estadunidense ainda não aprovou o TLC, acordo de livre comércio entre EEUU e Colômbia, porque, segundo os congressistas norte-americanos,o nível de violência contra integrantes de sindicatos na Colômbia tem aumentado a cada ano, e não se vê disposição do atual governo em reverter tal quadro. Aliás, a Colômbia detêm o recorde mundial de perseguição e assassinato à trabalhadores organizados.
Como fiquei sabendo sobre a tramitação do projeto de re-reeleição na Colômbia através da revista Fórum, tapei o nariz e fui dar uma vasculhada nos principais sites de notícias da mídia oligoplizada. Resultado, Globo, Folha, Estadão, Veja, Ricardo Barriga Noblat, Reinaldo Boca-de-Esgoto Azevedo, nenhum deles tocou no assunto, ainda que fosse superficialmente. Nada, nadica de nada (isto hoje à tarde).
Acho que é até desnecessário fazer qualquer comparação a forma como tratam Hugo Chávez – coronel, ditador, tirano... – com a complacência que têm por Uribe. Se isso não mostrar engajamento ideológico, então que raio é?
A matéria que segue foi pescada do site da Revista Fórum
[http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=6960]
Senado colombiano votará lei que permite reeleição de Álvaro Uribe
O projeto de lei que poderá permitir a segunda reeleição do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, será discutido em plenária pelo Senado amanhã, 14, com grandes chances de ser aprovado rapidamente.
Caso a medida seja ratificada, as autoridades deverão convocar um referendo sobre o tema. Como o Senado é amplamente dominado por setores alinhados ao presidente, espera-se que o aval seja dado em pouco tempo, talvez amanhã mesmo.
O debate sobre um possível terceiro mandato de Uribe, que chegou ao governo em 2002, teve início no ano passado, quando grupos simpáticos a ele começaram a recolher assinaturas para impulsionar uma nova mudança na Constituição. De lá para cá, mais de cinco milhões de firmas foram reunidas.
Para que pudesse concorrer ao segundo mandato, Uribe já fora beneficiado, em 2004, por uma outra emenda constitucional.
Desta vez, com as assinaturas em mãos, os promotores da campanha pela nova reeleição levaram, no dia 11 de setembro de 2008, um projeto de lei ao Legislativo. Em dezembro, o dispositivo foi aprovado pela Câmara dos Deputados, onde também a maioria é governista.
Após retornar do período de recessão, em 16 de março, o Congresso voltou a discutir o assunto, que agora chega ao Senado. Depois, bastará uma reunião final entre as duas casas parlamentares e o último aval da Corte Constitucional.
Sempre quando é questionado sobre a possibilidade de permanecer no poder, Uribe adota um tom evasivo. Diz que o mais importante é insistir no processo de pacificação do país iniciado por seu governo.
A oposição, porém, chama a atenção para as denúncias de violações dos direitos humanos, que teriam se intensificado durante os anos da gestão Uribe, quando as Forças Armadas ampliaram suas ações para combater grupos armados e narcotraficantes, muitas vezes afetando a população civil.
Cientes de que o projeto de lei deve passar com facilidade pelo Senado, os setores críticos ao governo já preparam uma campanha para um eventual referendo. A ideia é esvaziar a votação.
De acordo com uma pesquisa da consultoria Invamer Gallup divulgada no dia 8 de maio, 59% dos consultados disseram estar dispostos a participar do referendo e, desta porcentagem, 84% votarão a favor de Uribe.
O presidente possui um alto índice de popularidade, que beira os 70%, número expressivo para um governante que chega ao fim do segundo mandato.
Para participar das eleições, marcadas para maio de 2010, os partidos devem apresentar com até seis meses de antecedência seus candidatos.
Isto quer dizer que, caso Uribe pretenda mesmo concorrer, é preciso que a emenda constitucional seja sancionada até o fim do ano.
Ambas, Venezuela e Colômbia, são países fronteiriços com o Brasil. A Colômbia possuí a terceira maior população da América Latina, 44.379.598 habitantes. Já a população da Venezuela não passa de 27.934.783 habitantes (62% menor). A comparação entre o PIB colombiano, US$422.483 bilhões, com o venezuelano, US$223.430 bilhões (portanto 89% menor), e a renda per capita, na Colômbia, US$8.891 e na Venezuela, US$8.125 (9,42% menor), mostram um pouco das diferenças entre os dois países, e caso nossa mídia fosse realmente isenta e imparcial como tanto propagandeia, em qual dos dois deveria estar mais atenta.
Não bastassem todos esses números, há ainda outros nuances difíceis de passar despercebidos.
A personagem atendida diretamente pela provável mudança constitucional, o atual presidente Álvaro Uribe Vélez, é desde os tempos do Cowboy Bush um dos principais aliados da política de controle de drogas dos EEUU, e com certeza o maior aliado da Casa Branca na América do Sul. Todavia, antes de galgar tal posto, teve na década de 1980 seu nome incluído em uma lista negra da CIA por envolvimento com os cartéis de drogas. Outra notícia, nada auspiciosa para as instituições colombianas, trata do fato de muitos congressistas, funcionários do alto escalão e nomes da confiança do presidente da República, estarem buscando refúgio em outros países, fugindo dessa forma da justiça de seu país que lhes julga, ou, em muitos casos, os condenou por ligações com narcotráfico e grupos paramilitares de direita – esquadrões da morte como são conhecidos cá no Brasil. E, ao que tudo indica, o próprio Uribe possuí fortes laços com esses segmentos nada legais ou democráticos.
Também é bom lembrar que o Congresso estadunidense ainda não aprovou o TLC, acordo de livre comércio entre EEUU e Colômbia, porque, segundo os congressistas norte-americanos,o nível de violência contra integrantes de sindicatos na Colômbia tem aumentado a cada ano, e não se vê disposição do atual governo em reverter tal quadro. Aliás, a Colômbia detêm o recorde mundial de perseguição e assassinato à trabalhadores organizados.
Como fiquei sabendo sobre a tramitação do projeto de re-reeleição na Colômbia através da revista Fórum, tapei o nariz e fui dar uma vasculhada nos principais sites de notícias da mídia oligoplizada. Resultado, Globo, Folha, Estadão, Veja, Ricardo Barriga Noblat, Reinaldo Boca-de-Esgoto Azevedo, nenhum deles tocou no assunto, ainda que fosse superficialmente. Nada, nadica de nada (isto hoje à tarde).
Acho que é até desnecessário fazer qualquer comparação a forma como tratam Hugo Chávez – coronel, ditador, tirano... – com a complacência que têm por Uribe. Se isso não mostrar engajamento ideológico, então que raio é?
A matéria que segue foi pescada do site da Revista Fórum
[http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=6960]
Senado colombiano votará lei que permite reeleição de Álvaro Uribe
O projeto de lei que poderá permitir a segunda reeleição do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, será discutido em plenária pelo Senado amanhã, 14, com grandes chances de ser aprovado rapidamente.
Caso a medida seja ratificada, as autoridades deverão convocar um referendo sobre o tema. Como o Senado é amplamente dominado por setores alinhados ao presidente, espera-se que o aval seja dado em pouco tempo, talvez amanhã mesmo.
O debate sobre um possível terceiro mandato de Uribe, que chegou ao governo em 2002, teve início no ano passado, quando grupos simpáticos a ele começaram a recolher assinaturas para impulsionar uma nova mudança na Constituição. De lá para cá, mais de cinco milhões de firmas foram reunidas.
Para que pudesse concorrer ao segundo mandato, Uribe já fora beneficiado, em 2004, por uma outra emenda constitucional.
Desta vez, com as assinaturas em mãos, os promotores da campanha pela nova reeleição levaram, no dia 11 de setembro de 2008, um projeto de lei ao Legislativo. Em dezembro, o dispositivo foi aprovado pela Câmara dos Deputados, onde também a maioria é governista.
Após retornar do período de recessão, em 16 de março, o Congresso voltou a discutir o assunto, que agora chega ao Senado. Depois, bastará uma reunião final entre as duas casas parlamentares e o último aval da Corte Constitucional.
Sempre quando é questionado sobre a possibilidade de permanecer no poder, Uribe adota um tom evasivo. Diz que o mais importante é insistir no processo de pacificação do país iniciado por seu governo.
A oposição, porém, chama a atenção para as denúncias de violações dos direitos humanos, que teriam se intensificado durante os anos da gestão Uribe, quando as Forças Armadas ampliaram suas ações para combater grupos armados e narcotraficantes, muitas vezes afetando a população civil.
Cientes de que o projeto de lei deve passar com facilidade pelo Senado, os setores críticos ao governo já preparam uma campanha para um eventual referendo. A ideia é esvaziar a votação.
De acordo com uma pesquisa da consultoria Invamer Gallup divulgada no dia 8 de maio, 59% dos consultados disseram estar dispostos a participar do referendo e, desta porcentagem, 84% votarão a favor de Uribe.
O presidente possui um alto índice de popularidade, que beira os 70%, número expressivo para um governante que chega ao fim do segundo mandato.
Para participar das eleições, marcadas para maio de 2010, os partidos devem apresentar com até seis meses de antecedência seus candidatos.
Isto quer dizer que, caso Uribe pretenda mesmo concorrer, é preciso que a emenda constitucional seja sancionada até o fim do ano.
domingo, 10 de maio de 2009
Por Uma Verdadeira Reforma Política – Parte I
Temo que por detrás da onda de denuncismo que acomete o Congresso Nacional – trazendo umas denúncias justas, outras nem tanto – esteja à tentativa nada disfarçada de desmoralizar a atividade política dando margem a idéias como a redução do número de parlamentares, insinuando a inutilidade das agremiações consideradas pequenas, minando qualquer discussão sobre financiamento público, e desqualificando a participação de movimentos sociais, ONGs e organizações populares no processo eleitoral – muito embora esses atores sociais não possam disputar diretamente eleições, sempre se posicionaram a favor ou contra determinados partidos, candidatos ou projetos, propondo e auxiliando de forma democrática inúmeros deputados e governos.
O papel da mídia tem sido o de trabalhar incessantemente através de seus “analistas” a fim de encontrar soluções fáceis e práticas para tirar o Congresso Nacional do lodaçal em que se encontra. Mais, para os “formadores de opinião” da midiazona o Congresso Nacional se constitui em obstáculo para avanços de que o Brasil necessita. Para dar razão as suas pretensões – da midiazona, porta voz dos interesses burgueses – num primeiro momento cria-se uma sensação de unanimidade, na qual a sociedade não aceita mais ser representada pelo atual parlamento, porque esse contem vícios irrecuperáveis. Num segundo momento a estratégia é justamente disseminar tal visão pela opinião pública, fazendo a nação crer que é preferível o modelo vendido pelos “formadores de opinião”.
Nessa nova investida da midiazona sobre o Congresso, não há debate real sobre transparência ou mudança do status-quo vigente, há apenas a tentativa torpe de desqualificar o mandato parlamentar por si só. Obviamente há inúmeros equívocos, irregularidades, atitudes pouco, ou nada, éticas, e imorais sendo cometidas por muitos de nossos parlamentares, contudo, a pretexto de denunciar e investigar tais vícios, o que a mídia oligoploizada deseja é diminuir o grau de representatividade do nosso parlamento, extirpando dele aqueles que não se colocam a soldo do capital. Ao defender a redução do número de deputados e o financiamento privado (puro) tornam-se despudoradamente adeptos do elitismo e da segregação social.
Um das soluções que têm sido levantadas para resgatar a imagem do Congresso e dar-lhe mais agilidade – segundo alguns formadores de opinião empregados na midiazona – é a redução pela metade do número de deputados federais – me parece que há um projeto nesse sentido transitando pela Câmara. Ora, me pergunto, por que afinal de contas reduzir pela metade? Por que não reduzir os atuais 514 deputados para apenas 100, 50 ou então meia dúzia? De onde surgiu o fantástico número de 257deputados? Quem nos garantirá que com essa redução os males brasileiros serão erradicados?
De fato, o que ocorre, é que o grau de representatividade no Brasil já é bastante acanhado se comparado ao de outras democracias liberais.
Em termos de grau de representatividade, ou seja, a proporção entre número de habitantes e o número de cadeiras no parlamento nacional, o Brasil conta hoje com 1 representante para cada grupo de 368.896,52 habitantes. Na Suécia essa proporção é de 1 para 26.312,11, na Finlândia 1 para 26.457,58, na Áustria 1 para 44.812,19.
Alguém poderá dizer que esses são Estados-Nação com população muito pequena, e, portanto, a proporção tende a ser melhor que a nossa. Então darei outros exemplos. Na vizinha Argentina essa proporção é de 1 para 154.652,19; lá são257 deputados para uma população de 39.745.613 habitantes.Na Itália, que conta com uma população de 58.863.156 habitantes, são 619 cadeiras no parlamento e a proporção é de 1 para 95.093,95. Já a Alemanha, a maior população da Europa Ocidental, 83.438.000 habitantes, a proporção é de 1 para 124.163,69, com 672 cadeiras no atual Reichstag.
E por que afinal de contas é importante termos um parlamento com um número maior de cadeiras do que as atuais 514? Ora, porque, é exatamente através de um grau de representatividade mais justo que se garantirá a pluralidade, o choque dos contraditórios, um melhor reflexo da sociedade representada, além de resguardar o próprio parlamento de pressões corporativistas e de interesses específicos de grandes grupos econômicos. Ademais, num país de dimensões continentais, com uma população na casa dos 190 milhões de habitantes, com enormes diferenças culturais ao longo do seu território, além de nossa reconhecida desigualdade social ¬– tanto entre classes, quanto entre as diversas regiões – o grau de representatividade em nosso parlamento é insatisfatório.
Outrem poderá contestar minhas afirmações contra-argumentando que nos EEUU a proporção entre representante e habitantes é de 1 para 704.078,16. E que, trata-se os EEU, também, de um país de dimensão continental e com uma população de 306.274.000 (quase 60% maior que a brasileira), conquanto a House of Representatives tem apenas 435 cadeiras (cerca de 18,5% menor que Câmara dos Deputados do Brasil).
Para esse outrem, é preciso salientar que nos EEUU, tanto estados membros da União, quanto suas divisões administrativas (condados, municípios, cities, town...) tem certo grau de autonomia, bem diferente da realidade brasileira. A Constituição norte-americana dá a cada estado autonomia para legislar em questões determinadas como a tipificação de infrações, delitos, contravenções, crimes e legislação eleitoral. Ou quanto ao aborto, descriminalização de drogas, união civil estável entre pares do mesmo sexo. Cada estado é livre para legislar sobre o sistema educacional, previdenciário ou sobre transportes. Cada estado possuí sua própria justiça e sua própria Suprema Corte. E ainda, é impossível desconsiderar as tradicionais consultas populares (plebiscitos, referendos, recall, etc) sobre temas locais, onde a população tem o poder de definir políticas públicas e alterações no código penal ou na Constituição estadual.
Por isso tudo, inclusive, faz certo sentido o sistema de voto distrital adotado naquele país e a eleição via colégio eleitoral do presidente da República, assim como a baixa representatividade nacional na Casa dos Representantes (House of Representatives).
Dessa forma, deveríamos analisar a proporção entre representantes e representados dentro dos estados, nas respectivas casas legislativas. Em New Hampshire, por exemplo, temos uma população não superior a 1.316.000, enquanto o seu parlamento possuí 400 cadeiras. A proporção ali é de 1 para 3.289,52.
Em outros estados a proporção fica assim:
Califórnia, 80 representantes para 36.756.666 habitantes ; ou 1 representante para cada grupo de 459.458,32 habitantes
Texas, 150 representantes para 24.326.974 habitantes ou 1 representante para cada grupo de 162.179,82 habitantes
Pensilvânia, 203 representantes para 12.448.279 habitantes ou 1 representante para cada grupo de 61.321,71 habitantes
Flórida, 120 representantes para 18.328.340 habitantes ou 1 representante para cada grupo de 152.736,16 habitantes
Ohio, 99 representantes para 11.485.910 habitantes ou 1 para cada grupo de 116.019,99 habitantes
Massachussets, 160 representantes para 6.497.967 habitantes ou 1 para cada grupo de 40.612,29 habitantes.
Não tenho a pretensão de ditar aos meus patrícios o número apropriado de representantes que um país com as singularidades brasileiras deveria ter. Todavia, penso que uma Câmara dos Deputados com cerca de 750 deputados, cuja proporção seria em torno de 252.817, estaria próximo do razoável. Mesmo assim esse grau ainda estaria abaixo de qualquer outro país supracitado, a exceção, claro, dos EEUU.
Já quanto ao Senado Federal brasileiro, esse sim, deveria ter sua necessidade discutida seriamente. O Senado Federal, antro de conspurcação do conservadorismo nacional e representante-mor das oligarquias brasileiras, tem na sua gênese o intuito de barrar os movimentos mais bruscos da sociedade civil organizada. Nele está presente todos os genes do reacionarismo e elitismo. Faz-se importante salientar que no Brasil nunca houve de fato uma tradição federalista e que o Senado existente durante o Império não passava de peça alegórica onde desfilavam a fidalguia e a nobreza de então, pois constitucionalmente, o Brasil Império tratava-se dum estado “uno”.
É com o advento da República e de um federalismo imposto a fim de conciliar (acomodar) as oligarquias regionais que surgiu a idéia do senado representando os entes federados. No mais, no caso brasileiro, há uma nítida sobreposição de funções entre Senado e Câmara dos Deputados, enquanto, há também, uma centralização cada vez maior em termos de legislação, arrecadação e políticas públicas pela União. Numa conjuntura assim, fica difícil defender a necessidade-validade duma Câmara Alta.
No parte II de Por uma verdadeira reforma política discutiremos o financiamento público (puro) de campanha, o voto em lista e outras idéias
O papel da mídia tem sido o de trabalhar incessantemente através de seus “analistas” a fim de encontrar soluções fáceis e práticas para tirar o Congresso Nacional do lodaçal em que se encontra. Mais, para os “formadores de opinião” da midiazona o Congresso Nacional se constitui em obstáculo para avanços de que o Brasil necessita. Para dar razão as suas pretensões – da midiazona, porta voz dos interesses burgueses – num primeiro momento cria-se uma sensação de unanimidade, na qual a sociedade não aceita mais ser representada pelo atual parlamento, porque esse contem vícios irrecuperáveis. Num segundo momento a estratégia é justamente disseminar tal visão pela opinião pública, fazendo a nação crer que é preferível o modelo vendido pelos “formadores de opinião”.
Nessa nova investida da midiazona sobre o Congresso, não há debate real sobre transparência ou mudança do status-quo vigente, há apenas a tentativa torpe de desqualificar o mandato parlamentar por si só. Obviamente há inúmeros equívocos, irregularidades, atitudes pouco, ou nada, éticas, e imorais sendo cometidas por muitos de nossos parlamentares, contudo, a pretexto de denunciar e investigar tais vícios, o que a mídia oligoploizada deseja é diminuir o grau de representatividade do nosso parlamento, extirpando dele aqueles que não se colocam a soldo do capital. Ao defender a redução do número de deputados e o financiamento privado (puro) tornam-se despudoradamente adeptos do elitismo e da segregação social.
Um das soluções que têm sido levantadas para resgatar a imagem do Congresso e dar-lhe mais agilidade – segundo alguns formadores de opinião empregados na midiazona – é a redução pela metade do número de deputados federais – me parece que há um projeto nesse sentido transitando pela Câmara. Ora, me pergunto, por que afinal de contas reduzir pela metade? Por que não reduzir os atuais 514 deputados para apenas 100, 50 ou então meia dúzia? De onde surgiu o fantástico número de 257deputados? Quem nos garantirá que com essa redução os males brasileiros serão erradicados?
De fato, o que ocorre, é que o grau de representatividade no Brasil já é bastante acanhado se comparado ao de outras democracias liberais.
Em termos de grau de representatividade, ou seja, a proporção entre número de habitantes e o número de cadeiras no parlamento nacional, o Brasil conta hoje com 1 representante para cada grupo de 368.896,52 habitantes. Na Suécia essa proporção é de 1 para 26.312,11, na Finlândia 1 para 26.457,58, na Áustria 1 para 44.812,19.
Alguém poderá dizer que esses são Estados-Nação com população muito pequena, e, portanto, a proporção tende a ser melhor que a nossa. Então darei outros exemplos. Na vizinha Argentina essa proporção é de 1 para 154.652,19; lá são257 deputados para uma população de 39.745.613 habitantes.Na Itália, que conta com uma população de 58.863.156 habitantes, são 619 cadeiras no parlamento e a proporção é de 1 para 95.093,95. Já a Alemanha, a maior população da Europa Ocidental, 83.438.000 habitantes, a proporção é de 1 para 124.163,69, com 672 cadeiras no atual Reichstag.
E por que afinal de contas é importante termos um parlamento com um número maior de cadeiras do que as atuais 514? Ora, porque, é exatamente através de um grau de representatividade mais justo que se garantirá a pluralidade, o choque dos contraditórios, um melhor reflexo da sociedade representada, além de resguardar o próprio parlamento de pressões corporativistas e de interesses específicos de grandes grupos econômicos. Ademais, num país de dimensões continentais, com uma população na casa dos 190 milhões de habitantes, com enormes diferenças culturais ao longo do seu território, além de nossa reconhecida desigualdade social ¬– tanto entre classes, quanto entre as diversas regiões – o grau de representatividade em nosso parlamento é insatisfatório.
Outrem poderá contestar minhas afirmações contra-argumentando que nos EEUU a proporção entre representante e habitantes é de 1 para 704.078,16. E que, trata-se os EEU, também, de um país de dimensão continental e com uma população de 306.274.000 (quase 60% maior que a brasileira), conquanto a House of Representatives tem apenas 435 cadeiras (cerca de 18,5% menor que Câmara dos Deputados do Brasil).
Para esse outrem, é preciso salientar que nos EEUU, tanto estados membros da União, quanto suas divisões administrativas (condados, municípios, cities, town...) tem certo grau de autonomia, bem diferente da realidade brasileira. A Constituição norte-americana dá a cada estado autonomia para legislar em questões determinadas como a tipificação de infrações, delitos, contravenções, crimes e legislação eleitoral. Ou quanto ao aborto, descriminalização de drogas, união civil estável entre pares do mesmo sexo. Cada estado é livre para legislar sobre o sistema educacional, previdenciário ou sobre transportes. Cada estado possuí sua própria justiça e sua própria Suprema Corte. E ainda, é impossível desconsiderar as tradicionais consultas populares (plebiscitos, referendos, recall, etc) sobre temas locais, onde a população tem o poder de definir políticas públicas e alterações no código penal ou na Constituição estadual.
Por isso tudo, inclusive, faz certo sentido o sistema de voto distrital adotado naquele país e a eleição via colégio eleitoral do presidente da República, assim como a baixa representatividade nacional na Casa dos Representantes (House of Representatives).
Dessa forma, deveríamos analisar a proporção entre representantes e representados dentro dos estados, nas respectivas casas legislativas. Em New Hampshire, por exemplo, temos uma população não superior a 1.316.000, enquanto o seu parlamento possuí 400 cadeiras. A proporção ali é de 1 para 3.289,52.
Em outros estados a proporção fica assim:
Califórnia, 80 representantes para 36.756.666 habitantes ; ou 1 representante para cada grupo de 459.458,32 habitantes
Texas, 150 representantes para 24.326.974 habitantes ou 1 representante para cada grupo de 162.179,82 habitantes
Pensilvânia, 203 representantes para 12.448.279 habitantes ou 1 representante para cada grupo de 61.321,71 habitantes
Flórida, 120 representantes para 18.328.340 habitantes ou 1 representante para cada grupo de 152.736,16 habitantes
Ohio, 99 representantes para 11.485.910 habitantes ou 1 para cada grupo de 116.019,99 habitantes
Massachussets, 160 representantes para 6.497.967 habitantes ou 1 para cada grupo de 40.612,29 habitantes.
Não tenho a pretensão de ditar aos meus patrícios o número apropriado de representantes que um país com as singularidades brasileiras deveria ter. Todavia, penso que uma Câmara dos Deputados com cerca de 750 deputados, cuja proporção seria em torno de 252.817, estaria próximo do razoável. Mesmo assim esse grau ainda estaria abaixo de qualquer outro país supracitado, a exceção, claro, dos EEUU.
Já quanto ao Senado Federal brasileiro, esse sim, deveria ter sua necessidade discutida seriamente. O Senado Federal, antro de conspurcação do conservadorismo nacional e representante-mor das oligarquias brasileiras, tem na sua gênese o intuito de barrar os movimentos mais bruscos da sociedade civil organizada. Nele está presente todos os genes do reacionarismo e elitismo. Faz-se importante salientar que no Brasil nunca houve de fato uma tradição federalista e que o Senado existente durante o Império não passava de peça alegórica onde desfilavam a fidalguia e a nobreza de então, pois constitucionalmente, o Brasil Império tratava-se dum estado “uno”.
É com o advento da República e de um federalismo imposto a fim de conciliar (acomodar) as oligarquias regionais que surgiu a idéia do senado representando os entes federados. No mais, no caso brasileiro, há uma nítida sobreposição de funções entre Senado e Câmara dos Deputados, enquanto, há também, uma centralização cada vez maior em termos de legislação, arrecadação e políticas públicas pela União. Numa conjuntura assim, fica difícil defender a necessidade-validade duma Câmara Alta.
No parte II de Por uma verdadeira reforma política discutiremos o financiamento público (puro) de campanha, o voto em lista e outras idéias
quarta-feira, 6 de maio de 2009
O Discurso de Mahmoud Ahmadinejad
O amigo Nizar El Khatib, companheiro de lutas populares aqui em Poços de Caldas, me enviou por email o tão famoso discurso do presidente Mahmoud Ahmadinejad durante a conferência antirracismo da ONU (Durban II) em Genebra. Ao ler o discurso fica nítido a hipocrisia da direita mundial, da mídia oligopolizada e daqueles que recebem soldo do lobby sionista.
Ahmadinejad cancelou na última segunda-feira uma visita que faria ao Brasil e a outros países da América Latina após protestos realizados contra sua vinda ao Brasil. É claro que todo e qualquer segmento da sociedade tem o direito de se manifestar publicamente contra ou a favor de uma causa, ideologia ou interesse. O problema nesse caso específico é o discurso deliberadamente equivocado que alguns grupos organizados teimam em fazer ao acusar o presidente iraniano de fascista, ao passo que se omitem diante dos crimes de guerra perpetrados por Israel na Faixa de Gaza, pra não dizer em todo o Oriente Médio.
Se há um estado hoje que conjuga belicismo e terrorismo, além de ser fonte de desestabilização naquela região do planeta, esse estado é Israel, fruto direto de ações terroristas.
No mais, afirmar que o sionismo é sinônimo de racismo, não é inventar, distorcer, sofismar ou simplesmente mentir. É ter coragem de dizer a verdade com todas as letras.
Obrigado Nizar por compartilhar conosco um discurso tão belo e humanista.
Discurso do Presidente Ahmadinejad na Conferência Antirracinsmo – Durban II
Tradução: Caia Fittipaldi
Ilustre presidente da Conferência, ilustre secretário-geral da ONU, ilustre Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos. Senhoras e senhores.
Estamos reunidos para dar prosseguimento à Conferência de Durban contra o racismo e a discriminaçao racial, para definir mecanismos que permitam pôr em ação nossas campanhas humanitárias e religiosas.
Ao longo dos últimos séculos, a humanidade tem passado por grandes sofrimentos e dores terríveis. Na Idade Média, condenavam-se à morte pensadores e cientistas. Depois se seguiu um período em que se praticaram a escravidão e o comércio de seres humanos. Inocentes eram capturados aos milhões, separados de suas famílias e entes queridos, para serem levados à Europa e à América, sob as piores condições. Período de trevas, em que a humanidade também conheceu a ocupação, a pilhagem e os massacres de inocentes.
Muitos anos passaram-se antes de que as nações erguessem-se e lutassem pela liberdade, pela qual sempre pagaram preço muito alto. Perderam-se milhões de vida na luta para expulsar os ocupantes e estabelecer governos nacionais independentes. Mas não demorou para que saqueadores do poder político impusessem duas guerras à Europa, que também varreram como praga parte da Ásia e África. Essas guerras terríveis custaram a vida de 100 milhões de pessoas e provocaram devastação massiva em todo o mundo. Se a humanidade tivesse aprendido o que havia a aprender daquelas ocupações, dos horrores e crimes daquelas guerras, já haveria um raio de esperança para o futuro.
Os poderes então vitoriosos autodesignaram-se conquistadores do mundo, ignorando ou subvalorizando direitos de outras nações e impondo leis de opressão e de arranjos internacionais.
Senhoras e senhores, consideremos por um momento o Conselho de Segurança da ONU, que é uma das heranças deixadas pelas duas guerras mundiais.
Que lógica há em o Conselho de Segurança assegurar apenas a alguns o direito de veto? Como essa lógica se harmonizaria com valores humanitários ou espirituais? Não seria lógica sempre discrepante dos princípios de justiça, de igualdade de todos ante a lei, do amor e da dignidade humana? O direito de veto não lhes parece sempre discriminatório e injusto, não implica sempre violação de direitos humanos e humilhação da maioria das nações e países?
O Conselho é o mais alto corpo político de decisões do planeta, para salvaguardar a paz e a segurança mundiais. Mas como se pode esperar que realize a justiça e a paz, se a discriminação está ali convertida em lei e a própria a lei é constituída mediante coerção e arbítrio, não pela justiça e respeito aos direitos de todos?
A coerção e a arrogância estão na origem da opressão e das guerras. Embora hoje muitos racistas condenem em seus discursos e slogans a discriminação racial, alguns países muito poderosos tem sido autorizados a decidir sobre suas políticas, baseados apenas em seus interesses e no próprio juízo. Assim têm podido facilmente violar todas as leis e todos os valores humanitários.
Logo depois da II Guerra Mundial, alguns daqueles países recorreram à agressão militar para arrancar de suas casas toda a população de uma nação inteira, sob o pretexto de que os judeus sofriam horrivelmente; aquelas nações enviaram migrantes refugiados para toda a Europa, para os EUA e para outras partes do mundo, e estabeleceram um governo totalmente racista na Palestina ocupada [2]. De fato, em compensação pelas terríveis consequências do racismo na Europa, ajudaram a implantar no poder, na Palestina, o mais cruel e repressivo regime racista.
O Conselho de Segurança ajudou a estabilizar o regime ocupante e apoiou-o durante os últimos 60 anos, dando-lhe pleno direito de cometer todos os tipos de atrocidades. É lamentável sob todos os aspectos, que alguns governos ocidentais e o governo dos EUA tenham-se comprometido na defesa desses racistas genocidas, enquanto a consciência dos homens e mulheres livres em todo o mundo condenavam a agressão, as brutalidades e o bombardeio contra civis em Gaza, Palestina. Os apoiadores de Israel têm defendido esses crimes e têm silenciado contra esses crimes.
Amigos, ilustres delegados, senhoras e senhores. Onde estão as causas radicais dos ataques dos EUA contra o Iraque ou da invasão do Afeganistão?
Não é outro o motivo que levou à invasão do Iraque, se não a arrogância do então governo dos EUA e a pressão crescente dos mais ricos e poderosos que visam sempre a expandir sua esfera de influência. Aí estão os interesses da poderosa indústria de armamento, destruindo uma cultura de mil anos, nobre em todos os sentidos, de longuíssima história. Tentam eliminar a potência e a ameaça direta que os países muçulmanos impõem hoje ao regime sionista, ao mesmo tempo em que defendem o regime sionista e querem assenhorear-se das fontes de energia do povo iraquiano?
Por quê, afinal, quase um milhão de seres humanos foram mortos ou feridos e mais outros milhões foram convertidos em exilados e refugiados? Por que, agora, o povo iraquiano sofre perdas que já alcançam as centenas de bilhões de dólares? E por que o povo dos EUA teve de ver consumirem-se bilhões de seus dólares, como custo dessas ações militares? A ação militar contra o Iraque não terá sido planejada pelos sionistas e seus aliados no governo dos EUA, cúmplices todos dos países fabricantes de armas e dos senhores da riqueza do mundo? A invasão do Afeganistão terá, por acaso, restaurado a paz, a segurança e o bem-estar econômico naquele país?
Os EUA e seus aliados fracassaram na missão de conter a produção de drogas no Afeganistão. O cultivo de narcóticos multiplicou-se, depois da invasão. A pergunta necessária é "quem responderá pelo que fizeram o então governo nos EUA e seus aliados, naquela parte do mundo?"
Representavam ali os países do mundo? Receberam de alguém algum mandato? Foram autorizados pelos povos do mundo a interferir em todos os lugares do globo – e sempre mais frequentemente na nossa região? Não são a invasão e a ocupação exemplos claros de autocentrismo, racismo, discriminação e violência contra a dignidade e a independência de tantas nações?
Senhoras e senhores, quem é responsável pela crise econômica pela qual passa o mundo? Onde começou a crise? Na África? Na Ásia? Ou começou nos EUA, contaminando em seguida toda a Europa e os aliados dos EUA?
Por longo tempo, usaram seu poder político para impor regulações econômicas desiguais na economia internacional. Impuseram um sistema financeiro e monetário sem adequado mecanismo de supervisão internacional sobre nações e governos que nada podiam, no sentido de conter tendências ou políticas. Sequer permitiram que outros povos supervisionassem ou monitorassem suas próprias políticas financeiras. Introduziram leis e regulações que agrediam todos os valores morais, exclusivamente para proteger interesses dos senhores da riqueza e do poder.
Mais ainda, apresentaram uma definição de economia de mercado e competição que nega muitas das oportunidades econômicas que poderiam ser acessíveis para outros países do mundo. Também transferiram seus problemas a outros, enquanto ondas de crises repercutiam sobre a própria economia, gerando milhares de bilhões de déficit no orçamento. E hoje, estão injetando centenas de bilhões de dólares tirados de seu próprio povo e de outras nações, para ajudar bancos, companhias e instituições financeiras falidas, o que torna a situação cada vez mais complicada para sua própria economia e para seu próprio povo. Estão pensando simplesmente em manter o poder e a riqueza. Não dão nenhuma atenção aos povos do mundo, sequer ao próprio povo.
Senhor presidente, senhoras e senhores.
O racismo nasce da falta de conhecimento sobre as raízes da existência do homem como criaturas escolhidas por Deus. Também é produto de desvio do verdadeiro caminho da vida humana e das obrigações da humanidade na criação do mundo, que leva a falhar nos deveres de conscientemente servir a Deus; nasce tambem de não saber pensar sobre a filosofia da vida ou o caminho da perfeição que são os principais ingredientes dos valores divinos e humanitários. Assim, essas ignorâncias restringiram o horizonte do olhar humano, tornando-o superficial, e tomando, como instrumento de sua ação, só os interesses mais limitados. É por isso que o poder do mal ganhou forma e expandiu seu domínio, ao mesmo tempo em que privou outros de todas as oportunidades justas e igualitárias de desenvolvimento.
O resultado foi o surgimento de um racismo sem limites que é hoje a mais grave ameaça que pesa sobre a paz internacional e tem comprometido todos os esforços para construir a coexistência pacífica em todo o mundo. Sem dúvida, o racismo é o principal símbolo da ignorância; tem raízes históricas e, de fato, é signo de que o desenvolvimento de uma sociedade humana foi frustrado.
É, portanto, crucialmente importante denunciar as manifestações de racismo em todas as ocasiões e em todas as sociedades nas quais prevaleçam a ignorância e pouca sabedoria. A consciência e a compreensão geral da filosofia da existência humana é o principal objetivo e princípio da luta contra manifestações de racismo. E revela a verdade: os seres humanos são o centro da criação do universo. A chave para resolver o problema do racismo é o retorno aos valores espirituais e morais e, afinal, implica voltar a servir a Deus Todo-Poderoso.
A comunidade internacional têm de iniciar movimentos que visem a ampliar a consciência coletiva, sobretudo nas sociedades em que o racismo e a ignorância prevaleçam; só assim pôr-se-á fim ao avanço dos danos causados pelo racismo, que é perverso.
Caros amigos. Hoje, a comunidade humana enfrenta um tipo de racismo que macula a imagem de toda a humanidade, no início do terceiro milênio.
O sionismo mundial personifica o racismo que é falsamente atribuído a religiões mas, de fato, abusa dos sentimentos religiosos para esconder sua horrenda face de ódio. Contudo, é importante que não percamos de vista os objetivos políticos de alguns dos poderes mundiais, dos que controlam os imensos recursos econômicos e os lucros, no mundo. Mobilizam todos os recursos, inclusive a influência econômica e política – e a mídia em todo o mundo –, para tentar ganhar apoio para o regime sionista e para ocultar a indignidade e a desgraça daquele regime.
Não se trata aqui de simples questão de ignorância. Ninguém pode pôr termo a esses horrores mediante campanhas consulares e diplomáticas. É preciso trabalhar com muito empenho para deter os abusos praticados pelos sionistas e seus apoiadores políticos e internacionais, e para fazer respeitar o desejo e as aspirações dos povos. Os governos antissionistas devem ser encorajados e apoiados com vistas a erradicar esse racismo bárbaro e para que se reformem os mecanismos internacionais hoje existentes.
Não há qualquer dúvida de que todos os senhores aqui presentes têm perfeito conhecimento da conspiração movida por alguns governos e pelos círculos sionistas contra as metas e os objetivos dessa conferência.
Infelizmente, houve declarações e declarações de apoio aos sionistas e seus crimes. É dever e responsabilidade dos respeitáveis representantes de todas as nações desmascarar essa campanha que corre na direção oposta a todos os valores e princípios humanitários.
Deve-se reconhecer e declarar que boicotar uma reunião como essa, e tentar degradar a excepcional capacidade política internacional que aqui se acumula, é perfeita manifestação de apoio aos racistas e é escandaloso exemplo de racismo. Para defender direitos humanos, é fundamentalmente importante, em primeiro lugar, defender os direitos de todas as nações do mundo, de participar em condições de igualdade no processos de tomar toda e qualquer decisão, sem qualquer tipo de pressão que venha de apenas alguns poderes mundiais.
Em segundo lugar, é necessário reestruturar as organizações internacionais existentes e suas respectivas constituições e acordos. Essa conferência, portanto, é como um campo de testes. A opinião pública, hoje e no futuro, julgará nossas ações e nossas decisões.
Senhor presidente, senhoras e senhores. O mundo está passando por mudanças profundas e muito rápidas. Relações de poder consideradas estáveis já se mostram frágeis, muito fracas. Ouve-se o "crack" dos pilares dos sistemas mundiais. As principais estruturas políticas e econômicas estão em ponto de colapso. No horizonte, já aparecem crises políticas e de segurança. O agravamento da crise da economia mundial, para a qual não se vê futuro melhor, demonstra que estamos sob a força de uma maré de mudanças globais. Tenho repetido e enfatizado que é necessário que o mundo abandone a rota errada em que caminhou por tanto tempo, e na qual ainda insiste.
Também tenho alertado repetidas vezes contra as terríveis consequências de qualquer desatenção a essa responsabilidade crucial.
Aqui, nessa importante conferência, entendo que já possa declarar a todos os líderes do mundo, aos pensadores e a todos os povos de todas as nações do planeta aqui representados, e que anseiam por paz e bem-estar econômico, que aquela ordem injusta que comandou o mundo já chega, hoje, ao fim de sua caminhada. É fatal que aconteça, porque a lógica desse poder imposto sempre foi a lógica da opressão.
A lógica do governo compartilhado e dos negócios planetários deve-se basear nos mais nobres anseios que há em todos os seres humanos e na supremacia de Deus Todo-Poderoso. Portanto, operará tão mais eficientemente quanto mais se façam ouvir todas as vozes de todas as nações. A vitória do bem sobre o mal e a construção de um sistema mundial justo é promessa que Deus e seus mensageiros fizeram à humanidade. Esse sistema mundial justo tem sido objetivo partilhado de todos os seres humanos e de todas as sociedades ao longo da história. Realizar esse futuro depende de conhecer o espírito da criação e a força da fé dos crentes.
Construir uma sociedade global é, afinal, alcançar o alto objetivo de estabelecer um sistema global comum do qual participem todas as nações do mundo, ouvidos todos em todos os processos de decisão, com vistas a esse mesmo objetivo.
Capacidades científicas e técnicas e tecnologias de comunicações criaram novas vias de entendimento para a sociedade mundial, entendimento partilhado e disseminado; essa é a base essencial para um sistema comum. Cabe, doravante, aos intelectuais, pensadores e construtores de políticas, em todo o mundo, assumir a responsabilidade de cumprir esse seu papel histórico, com firme crença de que esse é o caminho a seguir.
Quero também destacar o fato de que o liberalismo e o capitalismo ocidentais não se mostraram suficientemente potentes para perceber a verdade do mundo e dos homens como são. Sempre tentaram impor objetivos e rumos que eram só deles, a todos. Sem qualquer atenção a valores humanos e divinos de justiça, liberdade, amor e fraternidade; sempre viveram em intensa competição, pensando mais, sempre, em interesses materiais, individuais e corporativos.
É tempo de aprender com a experiência e iniciar esforços coletivos para enfrentar os desafios que aí estão. Nessa mesma linha de argumento, quero chamar-lhes a atenção ainda para duas questões importantes.
Primeiro, que é absolutamente possível melhorar a situação em que o mundo vive hoje. Mas deve-se observar que, para tanto, é indispensável que todos os povos e países cooperem, com vistas a construir mundo melhor para todos, fazendo render o máximo possível, para todos, todas as capacidades e os recursos com que o mundo conta hoje.
Participo hoje, presente nessa conferência, porque tenho a firme convicção de que as questões que aqui se discutem são importantes. E porque é dever de todos, e é responsabilidade comum de todos, defender os direitos de todas as nações contra o racismo sinistro, aqui, e solidários aos melhores pensadores do mundo.
Em segundo lugar, considerada a ineficácia do sistema político, econômico e de segurança hoje vigentes, é indispensável voltar a considerar os valores humanos e divinos, a verdadeira definição do homem e da humanidade, baseada na justiça e no respeito aos valores de todos os povos, em todo o mundo. Para isso, é necessário denunciar os erros e vícios dos sistemas que até hoje governaram o mundo; e é necessário que tomemos medidas coletivas para reformar as estruturas existentes.
Para tanto, é crucialmente importante reformar imediatamente a estrutura do Conselho de Segurança, com imediata eliminação do discriminatório direito de veto; e é preciso mudar os sistemas financeiro e monetário mundiais. Claro que, quanto menos se compreenda a urgente necessidade de mudar, mais nos custarão os adiamentos e atrasos.
Caros amigos. Andar na direção da justiça e da dignidade humana é como seguir o fluxo rápido das águas de um rio. Tenhamos sempre em mente a potência do amor e do afeto. O futuro prometido para todos os seres humanos é patrimônio valiosíssimo. Temos de nos manter unidos para construir outro mundo possível.
Para que o mundo seja melhor lugar, cheio de amor e bênçãos, mundo onde não haja nem ódio nem pobreza, mundo abençoado por Deus Todo-Poderoso, que levará à realização de todas as perfeições dos seres humanos, temos de nos dar as mãos em amizade e solidariedade, e trabalhar para realizar esse mundo melhor.
Agradeço ao presidente da Conferência, ao secretário-geral e a todos os ilustres participantes, a paciência com que me ouviram. Muito obrigado.
NOTAS DE TRADUÇÃO
* 21-24/4/2009. É "conferência de revisão", prosseguimento da "World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance" que foi iniciada em Durban, África do Sul, em 2001, chamadas respectivamente "Durban I" e, agora, "Durban II". A conferência de revisão foi organizada para estimular a ativação do que ficou definido como objetivos, na "Durban Declaration and Programme of Action"; visa a estimular o prosseguimento de ações, iniciativas e soluções práticas. Sobre a Conferência de Revisão, ver http://www.un.org/durbanreview2009/. Em http://www.un.org/durbanreview2009/pdf/Draft_outcome_document_Rev.2.pdf pode-se ler a versão de documento a ser discutido nessa conferência de revisão.
Interessante observar que, entre 2001 e 2009, o mundo mudou muito dramaticamente. Em 2001, ainda não havia no mundo a clara consciência de que Israel opera como Estado racista, no coração do Oriente Médio. Hoje, o assunto já está em discussão, de fato, em todo o planeta – sobretudo depois do massacre de Gaza pelos israelenses e da ascensão ao governo de Israel, em eleições recentes, de partidos e políticos que manifestam clara ideologia racista. Nesse contexto é que se deve entender o 'boicote' à conferência de revisão. Os EUA de Obama e vários aliados europeus dos EUA 'boicotaram' a reunião. O presidente do Irã atacou diretamente o racismo sionista. Todas essas circunstâncias fazem desse discurso documento histórico importante.
[2] Hoje, a FSP publica versão diferente desse trecho: "Após a Segunda Guerra, eles recorreram à agressão militar para deixar uma nação inteira sem lar, sob o pretexto dos sofrimentos judeus e da ambígua e dúbia questão do Holocausto". Essa versão está publicada em FSP, 21/4/2009, "Ahmadinejad tumultua conferência da ONU", matéria assinada por Marcelo Ninio, de Genebra, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2104200901.htm [só para assinantes]).
Também na nota publicada hoje em O Globo (em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/04/21/governo-brasileiro-externara-reprovacao-ao-discurso-de-ahmadinejad-contra-israel-755364490.asp), e que, segundo o jornal, teria sido divulgada pelo Itamaraty, há referência a comentário sobre o Holocausto, que haveria nesse discurso. Na versão publicada pela PressTV (BBC no Irã), em inglês, aqui traduzida, não há qualquer referência ao Holocausto.
Ahmadinejad cancelou na última segunda-feira uma visita que faria ao Brasil e a outros países da América Latina após protestos realizados contra sua vinda ao Brasil. É claro que todo e qualquer segmento da sociedade tem o direito de se manifestar publicamente contra ou a favor de uma causa, ideologia ou interesse. O problema nesse caso específico é o discurso deliberadamente equivocado que alguns grupos organizados teimam em fazer ao acusar o presidente iraniano de fascista, ao passo que se omitem diante dos crimes de guerra perpetrados por Israel na Faixa de Gaza, pra não dizer em todo o Oriente Médio.
Se há um estado hoje que conjuga belicismo e terrorismo, além de ser fonte de desestabilização naquela região do planeta, esse estado é Israel, fruto direto de ações terroristas.
No mais, afirmar que o sionismo é sinônimo de racismo, não é inventar, distorcer, sofismar ou simplesmente mentir. É ter coragem de dizer a verdade com todas as letras.
Obrigado Nizar por compartilhar conosco um discurso tão belo e humanista.
Discurso do Presidente Ahmadinejad na Conferência Antirracinsmo – Durban II
Tradução: Caia Fittipaldi
Ilustre presidente da Conferência, ilustre secretário-geral da ONU, ilustre Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos. Senhoras e senhores.
Estamos reunidos para dar prosseguimento à Conferência de Durban contra o racismo e a discriminaçao racial, para definir mecanismos que permitam pôr em ação nossas campanhas humanitárias e religiosas.
Ao longo dos últimos séculos, a humanidade tem passado por grandes sofrimentos e dores terríveis. Na Idade Média, condenavam-se à morte pensadores e cientistas. Depois se seguiu um período em que se praticaram a escravidão e o comércio de seres humanos. Inocentes eram capturados aos milhões, separados de suas famílias e entes queridos, para serem levados à Europa e à América, sob as piores condições. Período de trevas, em que a humanidade também conheceu a ocupação, a pilhagem e os massacres de inocentes.
Muitos anos passaram-se antes de que as nações erguessem-se e lutassem pela liberdade, pela qual sempre pagaram preço muito alto. Perderam-se milhões de vida na luta para expulsar os ocupantes e estabelecer governos nacionais independentes. Mas não demorou para que saqueadores do poder político impusessem duas guerras à Europa, que também varreram como praga parte da Ásia e África. Essas guerras terríveis custaram a vida de 100 milhões de pessoas e provocaram devastação massiva em todo o mundo. Se a humanidade tivesse aprendido o que havia a aprender daquelas ocupações, dos horrores e crimes daquelas guerras, já haveria um raio de esperança para o futuro.
Os poderes então vitoriosos autodesignaram-se conquistadores do mundo, ignorando ou subvalorizando direitos de outras nações e impondo leis de opressão e de arranjos internacionais.
Senhoras e senhores, consideremos por um momento o Conselho de Segurança da ONU, que é uma das heranças deixadas pelas duas guerras mundiais.
Que lógica há em o Conselho de Segurança assegurar apenas a alguns o direito de veto? Como essa lógica se harmonizaria com valores humanitários ou espirituais? Não seria lógica sempre discrepante dos princípios de justiça, de igualdade de todos ante a lei, do amor e da dignidade humana? O direito de veto não lhes parece sempre discriminatório e injusto, não implica sempre violação de direitos humanos e humilhação da maioria das nações e países?
O Conselho é o mais alto corpo político de decisões do planeta, para salvaguardar a paz e a segurança mundiais. Mas como se pode esperar que realize a justiça e a paz, se a discriminação está ali convertida em lei e a própria a lei é constituída mediante coerção e arbítrio, não pela justiça e respeito aos direitos de todos?
A coerção e a arrogância estão na origem da opressão e das guerras. Embora hoje muitos racistas condenem em seus discursos e slogans a discriminação racial, alguns países muito poderosos tem sido autorizados a decidir sobre suas políticas, baseados apenas em seus interesses e no próprio juízo. Assim têm podido facilmente violar todas as leis e todos os valores humanitários.
Logo depois da II Guerra Mundial, alguns daqueles países recorreram à agressão militar para arrancar de suas casas toda a população de uma nação inteira, sob o pretexto de que os judeus sofriam horrivelmente; aquelas nações enviaram migrantes refugiados para toda a Europa, para os EUA e para outras partes do mundo, e estabeleceram um governo totalmente racista na Palestina ocupada [2]. De fato, em compensação pelas terríveis consequências do racismo na Europa, ajudaram a implantar no poder, na Palestina, o mais cruel e repressivo regime racista.
O Conselho de Segurança ajudou a estabilizar o regime ocupante e apoiou-o durante os últimos 60 anos, dando-lhe pleno direito de cometer todos os tipos de atrocidades. É lamentável sob todos os aspectos, que alguns governos ocidentais e o governo dos EUA tenham-se comprometido na defesa desses racistas genocidas, enquanto a consciência dos homens e mulheres livres em todo o mundo condenavam a agressão, as brutalidades e o bombardeio contra civis em Gaza, Palestina. Os apoiadores de Israel têm defendido esses crimes e têm silenciado contra esses crimes.
Amigos, ilustres delegados, senhoras e senhores. Onde estão as causas radicais dos ataques dos EUA contra o Iraque ou da invasão do Afeganistão?
Não é outro o motivo que levou à invasão do Iraque, se não a arrogância do então governo dos EUA e a pressão crescente dos mais ricos e poderosos que visam sempre a expandir sua esfera de influência. Aí estão os interesses da poderosa indústria de armamento, destruindo uma cultura de mil anos, nobre em todos os sentidos, de longuíssima história. Tentam eliminar a potência e a ameaça direta que os países muçulmanos impõem hoje ao regime sionista, ao mesmo tempo em que defendem o regime sionista e querem assenhorear-se das fontes de energia do povo iraquiano?
Por quê, afinal, quase um milhão de seres humanos foram mortos ou feridos e mais outros milhões foram convertidos em exilados e refugiados? Por que, agora, o povo iraquiano sofre perdas que já alcançam as centenas de bilhões de dólares? E por que o povo dos EUA teve de ver consumirem-se bilhões de seus dólares, como custo dessas ações militares? A ação militar contra o Iraque não terá sido planejada pelos sionistas e seus aliados no governo dos EUA, cúmplices todos dos países fabricantes de armas e dos senhores da riqueza do mundo? A invasão do Afeganistão terá, por acaso, restaurado a paz, a segurança e o bem-estar econômico naquele país?
Os EUA e seus aliados fracassaram na missão de conter a produção de drogas no Afeganistão. O cultivo de narcóticos multiplicou-se, depois da invasão. A pergunta necessária é "quem responderá pelo que fizeram o então governo nos EUA e seus aliados, naquela parte do mundo?"
Representavam ali os países do mundo? Receberam de alguém algum mandato? Foram autorizados pelos povos do mundo a interferir em todos os lugares do globo – e sempre mais frequentemente na nossa região? Não são a invasão e a ocupação exemplos claros de autocentrismo, racismo, discriminação e violência contra a dignidade e a independência de tantas nações?
Senhoras e senhores, quem é responsável pela crise econômica pela qual passa o mundo? Onde começou a crise? Na África? Na Ásia? Ou começou nos EUA, contaminando em seguida toda a Europa e os aliados dos EUA?
Por longo tempo, usaram seu poder político para impor regulações econômicas desiguais na economia internacional. Impuseram um sistema financeiro e monetário sem adequado mecanismo de supervisão internacional sobre nações e governos que nada podiam, no sentido de conter tendências ou políticas. Sequer permitiram que outros povos supervisionassem ou monitorassem suas próprias políticas financeiras. Introduziram leis e regulações que agrediam todos os valores morais, exclusivamente para proteger interesses dos senhores da riqueza e do poder.
Mais ainda, apresentaram uma definição de economia de mercado e competição que nega muitas das oportunidades econômicas que poderiam ser acessíveis para outros países do mundo. Também transferiram seus problemas a outros, enquanto ondas de crises repercutiam sobre a própria economia, gerando milhares de bilhões de déficit no orçamento. E hoje, estão injetando centenas de bilhões de dólares tirados de seu próprio povo e de outras nações, para ajudar bancos, companhias e instituições financeiras falidas, o que torna a situação cada vez mais complicada para sua própria economia e para seu próprio povo. Estão pensando simplesmente em manter o poder e a riqueza. Não dão nenhuma atenção aos povos do mundo, sequer ao próprio povo.
Senhor presidente, senhoras e senhores.
O racismo nasce da falta de conhecimento sobre as raízes da existência do homem como criaturas escolhidas por Deus. Também é produto de desvio do verdadeiro caminho da vida humana e das obrigações da humanidade na criação do mundo, que leva a falhar nos deveres de conscientemente servir a Deus; nasce tambem de não saber pensar sobre a filosofia da vida ou o caminho da perfeição que são os principais ingredientes dos valores divinos e humanitários. Assim, essas ignorâncias restringiram o horizonte do olhar humano, tornando-o superficial, e tomando, como instrumento de sua ação, só os interesses mais limitados. É por isso que o poder do mal ganhou forma e expandiu seu domínio, ao mesmo tempo em que privou outros de todas as oportunidades justas e igualitárias de desenvolvimento.
O resultado foi o surgimento de um racismo sem limites que é hoje a mais grave ameaça que pesa sobre a paz internacional e tem comprometido todos os esforços para construir a coexistência pacífica em todo o mundo. Sem dúvida, o racismo é o principal símbolo da ignorância; tem raízes históricas e, de fato, é signo de que o desenvolvimento de uma sociedade humana foi frustrado.
É, portanto, crucialmente importante denunciar as manifestações de racismo em todas as ocasiões e em todas as sociedades nas quais prevaleçam a ignorância e pouca sabedoria. A consciência e a compreensão geral da filosofia da existência humana é o principal objetivo e princípio da luta contra manifestações de racismo. E revela a verdade: os seres humanos são o centro da criação do universo. A chave para resolver o problema do racismo é o retorno aos valores espirituais e morais e, afinal, implica voltar a servir a Deus Todo-Poderoso.
A comunidade internacional têm de iniciar movimentos que visem a ampliar a consciência coletiva, sobretudo nas sociedades em que o racismo e a ignorância prevaleçam; só assim pôr-se-á fim ao avanço dos danos causados pelo racismo, que é perverso.
Caros amigos. Hoje, a comunidade humana enfrenta um tipo de racismo que macula a imagem de toda a humanidade, no início do terceiro milênio.
O sionismo mundial personifica o racismo que é falsamente atribuído a religiões mas, de fato, abusa dos sentimentos religiosos para esconder sua horrenda face de ódio. Contudo, é importante que não percamos de vista os objetivos políticos de alguns dos poderes mundiais, dos que controlam os imensos recursos econômicos e os lucros, no mundo. Mobilizam todos os recursos, inclusive a influência econômica e política – e a mídia em todo o mundo –, para tentar ganhar apoio para o regime sionista e para ocultar a indignidade e a desgraça daquele regime.
Não se trata aqui de simples questão de ignorância. Ninguém pode pôr termo a esses horrores mediante campanhas consulares e diplomáticas. É preciso trabalhar com muito empenho para deter os abusos praticados pelos sionistas e seus apoiadores políticos e internacionais, e para fazer respeitar o desejo e as aspirações dos povos. Os governos antissionistas devem ser encorajados e apoiados com vistas a erradicar esse racismo bárbaro e para que se reformem os mecanismos internacionais hoje existentes.
Não há qualquer dúvida de que todos os senhores aqui presentes têm perfeito conhecimento da conspiração movida por alguns governos e pelos círculos sionistas contra as metas e os objetivos dessa conferência.
Infelizmente, houve declarações e declarações de apoio aos sionistas e seus crimes. É dever e responsabilidade dos respeitáveis representantes de todas as nações desmascarar essa campanha que corre na direção oposta a todos os valores e princípios humanitários.
Deve-se reconhecer e declarar que boicotar uma reunião como essa, e tentar degradar a excepcional capacidade política internacional que aqui se acumula, é perfeita manifestação de apoio aos racistas e é escandaloso exemplo de racismo. Para defender direitos humanos, é fundamentalmente importante, em primeiro lugar, defender os direitos de todas as nações do mundo, de participar em condições de igualdade no processos de tomar toda e qualquer decisão, sem qualquer tipo de pressão que venha de apenas alguns poderes mundiais.
Em segundo lugar, é necessário reestruturar as organizações internacionais existentes e suas respectivas constituições e acordos. Essa conferência, portanto, é como um campo de testes. A opinião pública, hoje e no futuro, julgará nossas ações e nossas decisões.
Senhor presidente, senhoras e senhores. O mundo está passando por mudanças profundas e muito rápidas. Relações de poder consideradas estáveis já se mostram frágeis, muito fracas. Ouve-se o "crack" dos pilares dos sistemas mundiais. As principais estruturas políticas e econômicas estão em ponto de colapso. No horizonte, já aparecem crises políticas e de segurança. O agravamento da crise da economia mundial, para a qual não se vê futuro melhor, demonstra que estamos sob a força de uma maré de mudanças globais. Tenho repetido e enfatizado que é necessário que o mundo abandone a rota errada em que caminhou por tanto tempo, e na qual ainda insiste.
Também tenho alertado repetidas vezes contra as terríveis consequências de qualquer desatenção a essa responsabilidade crucial.
Aqui, nessa importante conferência, entendo que já possa declarar a todos os líderes do mundo, aos pensadores e a todos os povos de todas as nações do planeta aqui representados, e que anseiam por paz e bem-estar econômico, que aquela ordem injusta que comandou o mundo já chega, hoje, ao fim de sua caminhada. É fatal que aconteça, porque a lógica desse poder imposto sempre foi a lógica da opressão.
A lógica do governo compartilhado e dos negócios planetários deve-se basear nos mais nobres anseios que há em todos os seres humanos e na supremacia de Deus Todo-Poderoso. Portanto, operará tão mais eficientemente quanto mais se façam ouvir todas as vozes de todas as nações. A vitória do bem sobre o mal e a construção de um sistema mundial justo é promessa que Deus e seus mensageiros fizeram à humanidade. Esse sistema mundial justo tem sido objetivo partilhado de todos os seres humanos e de todas as sociedades ao longo da história. Realizar esse futuro depende de conhecer o espírito da criação e a força da fé dos crentes.
Construir uma sociedade global é, afinal, alcançar o alto objetivo de estabelecer um sistema global comum do qual participem todas as nações do mundo, ouvidos todos em todos os processos de decisão, com vistas a esse mesmo objetivo.
Capacidades científicas e técnicas e tecnologias de comunicações criaram novas vias de entendimento para a sociedade mundial, entendimento partilhado e disseminado; essa é a base essencial para um sistema comum. Cabe, doravante, aos intelectuais, pensadores e construtores de políticas, em todo o mundo, assumir a responsabilidade de cumprir esse seu papel histórico, com firme crença de que esse é o caminho a seguir.
Quero também destacar o fato de que o liberalismo e o capitalismo ocidentais não se mostraram suficientemente potentes para perceber a verdade do mundo e dos homens como são. Sempre tentaram impor objetivos e rumos que eram só deles, a todos. Sem qualquer atenção a valores humanos e divinos de justiça, liberdade, amor e fraternidade; sempre viveram em intensa competição, pensando mais, sempre, em interesses materiais, individuais e corporativos.
É tempo de aprender com a experiência e iniciar esforços coletivos para enfrentar os desafios que aí estão. Nessa mesma linha de argumento, quero chamar-lhes a atenção ainda para duas questões importantes.
Primeiro, que é absolutamente possível melhorar a situação em que o mundo vive hoje. Mas deve-se observar que, para tanto, é indispensável que todos os povos e países cooperem, com vistas a construir mundo melhor para todos, fazendo render o máximo possível, para todos, todas as capacidades e os recursos com que o mundo conta hoje.
Participo hoje, presente nessa conferência, porque tenho a firme convicção de que as questões que aqui se discutem são importantes. E porque é dever de todos, e é responsabilidade comum de todos, defender os direitos de todas as nações contra o racismo sinistro, aqui, e solidários aos melhores pensadores do mundo.
Em segundo lugar, considerada a ineficácia do sistema político, econômico e de segurança hoje vigentes, é indispensável voltar a considerar os valores humanos e divinos, a verdadeira definição do homem e da humanidade, baseada na justiça e no respeito aos valores de todos os povos, em todo o mundo. Para isso, é necessário denunciar os erros e vícios dos sistemas que até hoje governaram o mundo; e é necessário que tomemos medidas coletivas para reformar as estruturas existentes.
Para tanto, é crucialmente importante reformar imediatamente a estrutura do Conselho de Segurança, com imediata eliminação do discriminatório direito de veto; e é preciso mudar os sistemas financeiro e monetário mundiais. Claro que, quanto menos se compreenda a urgente necessidade de mudar, mais nos custarão os adiamentos e atrasos.
Caros amigos. Andar na direção da justiça e da dignidade humana é como seguir o fluxo rápido das águas de um rio. Tenhamos sempre em mente a potência do amor e do afeto. O futuro prometido para todos os seres humanos é patrimônio valiosíssimo. Temos de nos manter unidos para construir outro mundo possível.
Para que o mundo seja melhor lugar, cheio de amor e bênçãos, mundo onde não haja nem ódio nem pobreza, mundo abençoado por Deus Todo-Poderoso, que levará à realização de todas as perfeições dos seres humanos, temos de nos dar as mãos em amizade e solidariedade, e trabalhar para realizar esse mundo melhor.
Agradeço ao presidente da Conferência, ao secretário-geral e a todos os ilustres participantes, a paciência com que me ouviram. Muito obrigado.
NOTAS DE TRADUÇÃO
* 21-24/4/2009. É "conferência de revisão", prosseguimento da "World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance" que foi iniciada em Durban, África do Sul, em 2001, chamadas respectivamente "Durban I" e, agora, "Durban II". A conferência de revisão foi organizada para estimular a ativação do que ficou definido como objetivos, na "Durban Declaration and Programme of Action"; visa a estimular o prosseguimento de ações, iniciativas e soluções práticas. Sobre a Conferência de Revisão, ver http://www.un.org/durbanreview2009/. Em http://www.un.org/durbanreview2009/pdf/Draft_outcome_document_Rev.2.pdf pode-se ler a versão de documento a ser discutido nessa conferência de revisão.
Interessante observar que, entre 2001 e 2009, o mundo mudou muito dramaticamente. Em 2001, ainda não havia no mundo a clara consciência de que Israel opera como Estado racista, no coração do Oriente Médio. Hoje, o assunto já está em discussão, de fato, em todo o planeta – sobretudo depois do massacre de Gaza pelos israelenses e da ascensão ao governo de Israel, em eleições recentes, de partidos e políticos que manifestam clara ideologia racista. Nesse contexto é que se deve entender o 'boicote' à conferência de revisão. Os EUA de Obama e vários aliados europeus dos EUA 'boicotaram' a reunião. O presidente do Irã atacou diretamente o racismo sionista. Todas essas circunstâncias fazem desse discurso documento histórico importante.
[2] Hoje, a FSP publica versão diferente desse trecho: "Após a Segunda Guerra, eles recorreram à agressão militar para deixar uma nação inteira sem lar, sob o pretexto dos sofrimentos judeus e da ambígua e dúbia questão do Holocausto". Essa versão está publicada em FSP, 21/4/2009, "Ahmadinejad tumultua conferência da ONU", matéria assinada por Marcelo Ninio, de Genebra, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2104200901.htm [só para assinantes]).
Também na nota publicada hoje em O Globo (em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/04/21/governo-brasileiro-externara-reprovacao-ao-discurso-de-ahmadinejad-contra-israel-755364490.asp), e que, segundo o jornal, teria sido divulgada pelo Itamaraty, há referência a comentário sobre o Holocausto, que haveria nesse discurso. Na versão publicada pela PressTV (BBC no Irã), em inglês, aqui traduzida, não há qualquer referência ao Holocausto.
sábado, 2 de maio de 2009
Pralamas e Legião Juntos
Essa semana a Globo Marcas, através da EMI, colocou no mercado a edição de um especial televisivo unindo duas das maiores bandas do movimento que se convencionou chamar genericamente por “Rock Brasil”. O especial em questão, realizado em setembro de 1988 no Teatro Fênix, colocou lado a lado no mesmo palco Legião Urbana (Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Negrete e Marcelo Bonfá) e Pralamas do Sucesso (Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone), ambas oriundas de Brasília.
O DVD ainda traz como bônus, participações das duas bandas no programa "Globo de Ouro", também gravadas nos anos 80. Tirando alguns cortes desnecessários como as duas bandas juntas tocando “The Song Remais The Same“, do Led Zeppelin (só essa já valeria o preço), “Purple Haze”, de Jimi Hendrix e “Get Back“, dos Beatles e a edição pífia, segundo Marcelo Costa do Scream & Yell [http://www.screamyell.com.br/], o que sobra é nostalgia pura pra quem viveu àquela época e o sentimento gostoso de curtir músicas como Será, Nada por Mim, Alagados, Tempo Perdido, Eu Sei... além, claro, de ver as duas bandas juntas.
Particularmente, acho Legião a maior banda de Rock, ou MPB, que tivemos e Renato Russo um de nossos maiores letristas e vocalistas. Assim como também penso não ter muito sentido a crítica destrutiva que alguns especialistas no assunto e/ou fãs fazem relacionando os liderados por Russo a uma cópia dos Smiths. Admiro, e muito, os Smiths, agora teimar em afirmar que a Legião não passava de plágio dos ingleses é forçar a barra. O que houve, creio, porém não sou crítico musical, foi uma influência, algo natural em qualquer atividade humana. É inegável, por exemplo, que os próprios Smiths sofreram muita influência do Joy Division, do Velvet Underground, do Television e outras bandas, para posteriormente influenciaram o Radiohead.
A discografia da Legião mostra um amadurecimento muito rápido dum álbum para outro. Se o primeiro era uma sucessão de hits fáceis, sempre na base voz-guitarra-baixo-bateria, no “Dois” as letras se tornam mais fortes, mais engajadas, mais políticas, além de adicionar novos instrumentos. No “Quatro Estações” a Legião chega ao ápice com letras ainda mais profundas. O “V” retrata uma fase difícil para os integrantes e em especial para Renato Russo, o resultado é uma obra densa e pesada. O “Descobrimento do Brasil” é o mais otimista dos discos da banda com uma suavidade contrastante com o anterior. Enquanto “A Tempestade” trata-se duma despedida explicita.
Já os Paralamas foram mais “conjunto”, quase um “power trio”. Bi Ribeiro e João Barone sempre dominaram, respectivamente, baixo e bateria como poucos na Terra Brasilis. Gosto muito de Selvagens, O Passo do Lui e do álbum homônimo de estréia deles. A mistura reggae, ska, e alguns ritmos regionais brasileiros lhe deram uma identidade, até aquele momento, bem própria (o mesmo que escrevi acima sobre Legião/Smiths vale para a relação Paralamas/ The Police).
Parece incoerente eu dizer que os Parlamas eram mais banda ao passo que já afirmei ser a Legião a maior banda brasileira? Não, não é. A força da Legião sempre esteve na intensidade das letras e interpretações de Russo, na facilidade como expressava sentimentos, angústias, desejos de toda a geração, sintetizando isso em mensagens simples, nem sempre simplórias, à juventude de seu tempo e o inegável culto que se formou em torno dele. Muitas de suas músicas não foram apenas hits, mas hinos para aquela geração (eu tenho 34 anos e sei bem disso). No mais, Dado e Bonfá eram bons coadjuvantes. E foi a soma de tudo isso que a tornou “maior” que as bandas de seu tempo, de antes e depois.
Conteúdo do DVD:
1. Abertura - Os Paralamas Do Sucesso/Legião Urbana
2. Será - Legião Urbana
3. Meu Erro - Os Paralamas Do Sucesso
4. Tédio (Com T Bem Grande Pra Você) - Legião Urbana
5. Depois Que O Ilê Passar - Os Paralamas Do Sucesso
6. Tempo Perdido - Legião Urbana
7. Alagados - Os Paralamas Do Sucesso
8. O Beco - Os Paralamas Do Sucesso
9. Que Pais É Este - Legião Urbana
10. Nada Por Mim - Os Paralamas Do Sucesso/Legião Urbana
11. Dois Elefantes - Os Paralamas Do Sucesso
12. Eu Sei - Legião Urbana
13. Ainda É Cedo / Jumpin' Jack Fash - Legião Urbana/Os Paralamas Do Sucesso
Extras
1. Melô Do Marinheiro (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
2. Tempo Perdido (Globo De Ouro) - Legião Urbana
3. Alagados (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
4. Soldados (Globo De Ouro) - Legião Urbana
5. SKA (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
6. Será (Globo De Ouro) - Legião Urbana
7. Óculos (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
8. Que País É Este (Videoclipe - Fantástico) - Legião Urbana
Conteúdo do CD:
1. Será - Legião Urbana
2. Meu Erro - Os Paralamas Do Sucesso
3. Tédio (Com T Bem Grande Pra Você) - Legião Urbana
4. Depois Que O Ilê Passar - Os Paralamas Do Sucesso
5. Tempo Perdido - Legião Urbana
6. Alagados - Os Paralamas Do Sucesso
7. O Beco - Os Paralamas Do Sucesso
8. Que Pais É Este - Legião Urbana
9. Nada Por Mim - Os Paralamas Do Sucesso/Legião Urbana
10. Dois Elefantes - Os Paralamas Do Sucesso
11. Eu Sei - Legião Urbana
12. Ainda É Cedo / Jumpin' Jack Fash - Legião Urbana/Os Paralamas Do Sucesso
O DVD ainda traz como bônus, participações das duas bandas no programa "Globo de Ouro", também gravadas nos anos 80. Tirando alguns cortes desnecessários como as duas bandas juntas tocando “The Song Remais The Same“, do Led Zeppelin (só essa já valeria o preço), “Purple Haze”, de Jimi Hendrix e “Get Back“, dos Beatles e a edição pífia, segundo Marcelo Costa do Scream & Yell [http://www.screamyell.com.br/], o que sobra é nostalgia pura pra quem viveu àquela época e o sentimento gostoso de curtir músicas como Será, Nada por Mim, Alagados, Tempo Perdido, Eu Sei... além, claro, de ver as duas bandas juntas.
Particularmente, acho Legião a maior banda de Rock, ou MPB, que tivemos e Renato Russo um de nossos maiores letristas e vocalistas. Assim como também penso não ter muito sentido a crítica destrutiva que alguns especialistas no assunto e/ou fãs fazem relacionando os liderados por Russo a uma cópia dos Smiths. Admiro, e muito, os Smiths, agora teimar em afirmar que a Legião não passava de plágio dos ingleses é forçar a barra. O que houve, creio, porém não sou crítico musical, foi uma influência, algo natural em qualquer atividade humana. É inegável, por exemplo, que os próprios Smiths sofreram muita influência do Joy Division, do Velvet Underground, do Television e outras bandas, para posteriormente influenciaram o Radiohead.
A discografia da Legião mostra um amadurecimento muito rápido dum álbum para outro. Se o primeiro era uma sucessão de hits fáceis, sempre na base voz-guitarra-baixo-bateria, no “Dois” as letras se tornam mais fortes, mais engajadas, mais políticas, além de adicionar novos instrumentos. No “Quatro Estações” a Legião chega ao ápice com letras ainda mais profundas. O “V” retrata uma fase difícil para os integrantes e em especial para Renato Russo, o resultado é uma obra densa e pesada. O “Descobrimento do Brasil” é o mais otimista dos discos da banda com uma suavidade contrastante com o anterior. Enquanto “A Tempestade” trata-se duma despedida explicita.
Já os Paralamas foram mais “conjunto”, quase um “power trio”. Bi Ribeiro e João Barone sempre dominaram, respectivamente, baixo e bateria como poucos na Terra Brasilis. Gosto muito de Selvagens, O Passo do Lui e do álbum homônimo de estréia deles. A mistura reggae, ska, e alguns ritmos regionais brasileiros lhe deram uma identidade, até aquele momento, bem própria (o mesmo que escrevi acima sobre Legião/Smiths vale para a relação Paralamas/ The Police).
Parece incoerente eu dizer que os Parlamas eram mais banda ao passo que já afirmei ser a Legião a maior banda brasileira? Não, não é. A força da Legião sempre esteve na intensidade das letras e interpretações de Russo, na facilidade como expressava sentimentos, angústias, desejos de toda a geração, sintetizando isso em mensagens simples, nem sempre simplórias, à juventude de seu tempo e o inegável culto que se formou em torno dele. Muitas de suas músicas não foram apenas hits, mas hinos para aquela geração (eu tenho 34 anos e sei bem disso). No mais, Dado e Bonfá eram bons coadjuvantes. E foi a soma de tudo isso que a tornou “maior” que as bandas de seu tempo, de antes e depois.
Conteúdo do DVD:
1. Abertura - Os Paralamas Do Sucesso/Legião Urbana
2. Será - Legião Urbana
3. Meu Erro - Os Paralamas Do Sucesso
4. Tédio (Com T Bem Grande Pra Você) - Legião Urbana
5. Depois Que O Ilê Passar - Os Paralamas Do Sucesso
6. Tempo Perdido - Legião Urbana
7. Alagados - Os Paralamas Do Sucesso
8. O Beco - Os Paralamas Do Sucesso
9. Que Pais É Este - Legião Urbana
10. Nada Por Mim - Os Paralamas Do Sucesso/Legião Urbana
11. Dois Elefantes - Os Paralamas Do Sucesso
12. Eu Sei - Legião Urbana
13. Ainda É Cedo / Jumpin' Jack Fash - Legião Urbana/Os Paralamas Do Sucesso
Extras
1. Melô Do Marinheiro (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
2. Tempo Perdido (Globo De Ouro) - Legião Urbana
3. Alagados (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
4. Soldados (Globo De Ouro) - Legião Urbana
5. SKA (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
6. Será (Globo De Ouro) - Legião Urbana
7. Óculos (Globo De Ouro) - Os Paralamas Do Sucesso
8. Que País É Este (Videoclipe - Fantástico) - Legião Urbana
Conteúdo do CD:
1. Será - Legião Urbana
2. Meu Erro - Os Paralamas Do Sucesso
3. Tédio (Com T Bem Grande Pra Você) - Legião Urbana
4. Depois Que O Ilê Passar - Os Paralamas Do Sucesso
5. Tempo Perdido - Legião Urbana
6. Alagados - Os Paralamas Do Sucesso
7. O Beco - Os Paralamas Do Sucesso
8. Que Pais É Este - Legião Urbana
9. Nada Por Mim - Os Paralamas Do Sucesso/Legião Urbana
10. Dois Elefantes - Os Paralamas Do Sucesso
11. Eu Sei - Legião Urbana
12. Ainda É Cedo / Jumpin' Jack Fash - Legião Urbana/Os Paralamas Do Sucesso
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Os movimentos sociais na grande rede
Hoje, 1º de Maio, é como todos sabem “Dia Internacional do Trabalhador” e eu gostaria de escrever algo sobre o tema. No entanto, encontrei esse ótimo artigo no Diplo Brasil e o postarei aqui para meus parcos leitores. Realmente nessa última década a internet demonstrou ser uma preciosa ferramenta – mesmo sem dominarmos todo o seu potencial – contra a mídia oligopolizada e como difusora de discursos alternativos à “ditadura do pensamento único”. Vale ressaltar que a internet é a responsável pela popularização, e a conseqüente proliferação, do debate sobre um novo modelo político-social-econômico, antes restrito, em certo grau, a Academia e/ou movimentos organizados. Daí a envergadura do papel da internet num mundo onde impera o neoliberalismo que criminaliza, sabota e intimida qualquer organização social que não se curve perante o deus Mercado. Essa rede de informação e interação, um fenômeno típico da globalização e do início do século XXI, com certeza ganhará cada vez mais importância, o que por seu turno, gerará ainda uma quantidade magnífica de estudos sobre tal.
Movimentos sociais conectados: o MST e o Exército Zapatista
Neblina Orrico
No Diplo Brasil [http://diplo.uol.com.br/]
O protagonismo social e político dos movimentos sociais na América Latina ganhou uma nova forma de expressão com a utilização da Internet como aliada e ferramenta de luta. Dois movimentos sociais fazem uso da rede mundial de computadores como arma estratégica: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), no México [1].
Por meio do uso da Internet, esses dois protagonistas disponibilizam informações divulgando a “sua versão” dos fatos e dos objetivos da sua luta, na tentativa de construir novos canais para uma nova sociabilidade [2].
Na construção do discurso dos sites “oficiais” dos dois movimentos foram desenvolvidas e utilizadas uma nova visão e uma nova representação das maneiras dos integrantes desses movimentos sociais lutarem por seus objetivos. Muitas vezes, esses sites – e todo o seu conteúdo – funcionam como principal instrumento de comunicação e como arma estratégica na elaboração das agendas dos movimentos sociais da atualidade. Funcionam ainda como contraponto ao discurso construído pelos meios de comunicação acerca das suas identidades. A construção de novos discursos que geram impactos na sociedade e se transformam em notícia é uma preocupação permanente da maioria dos movimentos sociais da atualidade, pois essa é uma maneira de legitimar suas ações e construir suas identidades.
Além disso, esses dois movimentos passaram a atuar em rede entre si e com outros atores sociais e construíram uma forma de luta, coordenando e conduzindo suas ações com o uso da Internet. Foram capazes de criar novas oportunidades de se apresentar ao mundo, de legitimar as ações, de divulgar as demandas pelas quais lutam, de pressionar os meios de comunicação tradicionais a noticiarem com menos parcialidade fatos ligados a eles e de eles próprios noticiarem fatos ligados às suas lutas.
Uma das características mais fortes do EZLN é a importância que seus membros dão para a opinião pública. Sabendo que as informações transmitidas na rede mundial de computadores podem chegar sem nenhum “tratamento” ao computador do público, os zapatistas têm o cuidado de utilizar uma comunicação estrategicamente transparente, uma linguagem simples e capaz de comunicar quem são e o que querem. Ela traz detalhes do dia-a-dia das comunidades zapatistas para o cotidiano das pessoas, ganhando a confiança de quem busca informações sobre eles de uma forma nunca antes feita por outros movimentos sociais latino-americanos.
Ao iniciar a utilização da internet como estratégia de luta, há mais ou menos seis anos, o MST também deu início a um “burilamento” de seu discurso, abandonando a sua velha tática discursiva para usar uma nova maneira de divulgar informações sobre o movimento para o resto da sociedade. Isso é consequência do processo de aquisição de identidade e consciência próprias pelo qual os trabalhadores e trabalhadores rurais sem-terra se afirmam como sujeitos sociais atuantes. Concomitantemente com o início da informatização do MST, foi iniciada a etapa de mostrar ao mundo que o movimento é integrado por pessoas altamente comprometidas com a luta pela democratização da terra no Brasil e não por arruaceiros, como tenta mostrar a mídia tradicional. Além disso, é preciso destacar a iniciativa do movimento de investir em um ambicioso projeto de inclusão digital dos trabalhadores rurais que já estão assentados. Para o MST, é importante que os camponeses e seus filhos tenham acesso às novas tecnologias como tentativa de incentivá-los a permanecer no campo, sem deixar de estarem informados sobre o que se passa no mundo.
O cotejo entre o discurso do MST e do EZLN mostrou que os dois movimentos sociais utilizam maneiras diferentes para atingir a sociedade por meio da rede mundial de computadores. O discurso emancipatório dos movimentos sociais, agora veiculado também pela internet, representa uma nova maneira de lutar pela mudança social. Enquanto os zapatistas preferem uma linguagem muito mais poética e metafórica, que resgata elementos da linguagem indígena dos Chiapas, mas que, mesmo assim, é simples e transparente, o MST investe na objetividade e em textos jornalísticos para alcançar o internauta. Numa época em que a linguagem adquiriu evidência e centralidade na constituição, manutenção e desenvolvimento das nossas sociedades, os sites dos movimentos se tornaram verdadeiros cartões de visita, apresentando e divulgado a bandeira de luta do movimento, seja pela realização da reforma agrária, seja por justiça social e por democracia. Graças à Internet, eles obtêm visibilidade pública e angariam simpatizantes que se tornam adeptos das suas bandeiras de luta e apoiam suas causas.
As análises sobre os movimentos sociais constituídos no fim do século passado ou mesmo no início deste século devem necessariamente levar em consideração que esses novos movimentos sociais do século 21 aprenderam a utilizar a internet como ferramenta para criar novas conexões que buscam diminuir as fronteiras entre eles e a sociedade, vinculando a sua luta particular a uma luta maior contra as velhas e as novas formas de dominação. Atualmente, os movimentos sociais tentam mudar a realidade social, contribuindo com a (re)construção de uma simetria das relações de poder por meio do discurso divulgado em suas páginas de internet.
[1] As constatações deste artigo são resultado de uma pesquisa qualitativa, feita em 2005, que analisou textos virtuais e entrevistas com representantes dos dois movimentos em questão para a realização da dissertação de mestrado Movimentos sociais e a internet da mesma autora.
[2] Lévy (1999, p. 256)
Movimentos sociais conectados: o MST e o Exército Zapatista
Neblina Orrico
No Diplo Brasil [http://diplo.uol.com.br/]
O protagonismo social e político dos movimentos sociais na América Latina ganhou uma nova forma de expressão com a utilização da Internet como aliada e ferramenta de luta. Dois movimentos sociais fazem uso da rede mundial de computadores como arma estratégica: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), no México [1].
Por meio do uso da Internet, esses dois protagonistas disponibilizam informações divulgando a “sua versão” dos fatos e dos objetivos da sua luta, na tentativa de construir novos canais para uma nova sociabilidade [2].
Na construção do discurso dos sites “oficiais” dos dois movimentos foram desenvolvidas e utilizadas uma nova visão e uma nova representação das maneiras dos integrantes desses movimentos sociais lutarem por seus objetivos. Muitas vezes, esses sites – e todo o seu conteúdo – funcionam como principal instrumento de comunicação e como arma estratégica na elaboração das agendas dos movimentos sociais da atualidade. Funcionam ainda como contraponto ao discurso construído pelos meios de comunicação acerca das suas identidades. A construção de novos discursos que geram impactos na sociedade e se transformam em notícia é uma preocupação permanente da maioria dos movimentos sociais da atualidade, pois essa é uma maneira de legitimar suas ações e construir suas identidades.
Além disso, esses dois movimentos passaram a atuar em rede entre si e com outros atores sociais e construíram uma forma de luta, coordenando e conduzindo suas ações com o uso da Internet. Foram capazes de criar novas oportunidades de se apresentar ao mundo, de legitimar as ações, de divulgar as demandas pelas quais lutam, de pressionar os meios de comunicação tradicionais a noticiarem com menos parcialidade fatos ligados a eles e de eles próprios noticiarem fatos ligados às suas lutas.
Uma das características mais fortes do EZLN é a importância que seus membros dão para a opinião pública. Sabendo que as informações transmitidas na rede mundial de computadores podem chegar sem nenhum “tratamento” ao computador do público, os zapatistas têm o cuidado de utilizar uma comunicação estrategicamente transparente, uma linguagem simples e capaz de comunicar quem são e o que querem. Ela traz detalhes do dia-a-dia das comunidades zapatistas para o cotidiano das pessoas, ganhando a confiança de quem busca informações sobre eles de uma forma nunca antes feita por outros movimentos sociais latino-americanos.
Ao iniciar a utilização da internet como estratégia de luta, há mais ou menos seis anos, o MST também deu início a um “burilamento” de seu discurso, abandonando a sua velha tática discursiva para usar uma nova maneira de divulgar informações sobre o movimento para o resto da sociedade. Isso é consequência do processo de aquisição de identidade e consciência próprias pelo qual os trabalhadores e trabalhadores rurais sem-terra se afirmam como sujeitos sociais atuantes. Concomitantemente com o início da informatização do MST, foi iniciada a etapa de mostrar ao mundo que o movimento é integrado por pessoas altamente comprometidas com a luta pela democratização da terra no Brasil e não por arruaceiros, como tenta mostrar a mídia tradicional. Além disso, é preciso destacar a iniciativa do movimento de investir em um ambicioso projeto de inclusão digital dos trabalhadores rurais que já estão assentados. Para o MST, é importante que os camponeses e seus filhos tenham acesso às novas tecnologias como tentativa de incentivá-los a permanecer no campo, sem deixar de estarem informados sobre o que se passa no mundo.
O cotejo entre o discurso do MST e do EZLN mostrou que os dois movimentos sociais utilizam maneiras diferentes para atingir a sociedade por meio da rede mundial de computadores. O discurso emancipatório dos movimentos sociais, agora veiculado também pela internet, representa uma nova maneira de lutar pela mudança social. Enquanto os zapatistas preferem uma linguagem muito mais poética e metafórica, que resgata elementos da linguagem indígena dos Chiapas, mas que, mesmo assim, é simples e transparente, o MST investe na objetividade e em textos jornalísticos para alcançar o internauta. Numa época em que a linguagem adquiriu evidência e centralidade na constituição, manutenção e desenvolvimento das nossas sociedades, os sites dos movimentos se tornaram verdadeiros cartões de visita, apresentando e divulgado a bandeira de luta do movimento, seja pela realização da reforma agrária, seja por justiça social e por democracia. Graças à Internet, eles obtêm visibilidade pública e angariam simpatizantes que se tornam adeptos das suas bandeiras de luta e apoiam suas causas.
As análises sobre os movimentos sociais constituídos no fim do século passado ou mesmo no início deste século devem necessariamente levar em consideração que esses novos movimentos sociais do século 21 aprenderam a utilizar a internet como ferramenta para criar novas conexões que buscam diminuir as fronteiras entre eles e a sociedade, vinculando a sua luta particular a uma luta maior contra as velhas e as novas formas de dominação. Atualmente, os movimentos sociais tentam mudar a realidade social, contribuindo com a (re)construção de uma simetria das relações de poder por meio do discurso divulgado em suas páginas de internet.
[1] As constatações deste artigo são resultado de uma pesquisa qualitativa, feita em 2005, que analisou textos virtuais e entrevistas com representantes dos dois movimentos em questão para a realização da dissertação de mestrado Movimentos sociais e a internet da mesma autora.
[2] Lévy (1999, p. 256)
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