Hoje, 1º de Maio, é como todos sabem “Dia Internacional do Trabalhador” e eu gostaria de escrever algo sobre o tema. No entanto, encontrei esse ótimo artigo no Diplo Brasil e o postarei aqui para meus parcos leitores. Realmente nessa última década a internet demonstrou ser uma preciosa ferramenta – mesmo sem dominarmos todo o seu potencial – contra a mídia oligopolizada e como difusora de discursos alternativos à “ditadura do pensamento único”. Vale ressaltar que a internet é a responsável pela popularização, e a conseqüente proliferação, do debate sobre um novo modelo político-social-econômico, antes restrito, em certo grau, a Academia e/ou movimentos organizados. Daí a envergadura do papel da internet num mundo onde impera o neoliberalismo que criminaliza, sabota e intimida qualquer organização social que não se curve perante o deus Mercado. Essa rede de informação e interação, um fenômeno típico da globalização e do início do século XXI, com certeza ganhará cada vez mais importância, o que por seu turno, gerará ainda uma quantidade magnífica de estudos sobre tal.
Movimentos sociais conectados: o MST e o Exército Zapatista
Neblina Orrico
No Diplo Brasil [http://diplo.uol.com.br/]
O protagonismo social e político dos movimentos sociais na América Latina ganhou uma nova forma de expressão com a utilização da Internet como aliada e ferramenta de luta. Dois movimentos sociais fazem uso da rede mundial de computadores como arma estratégica: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), no México [1].
Por meio do uso da Internet, esses dois protagonistas disponibilizam informações divulgando a “sua versão” dos fatos e dos objetivos da sua luta, na tentativa de construir novos canais para uma nova sociabilidade [2].
Na construção do discurso dos sites “oficiais” dos dois movimentos foram desenvolvidas e utilizadas uma nova visão e uma nova representação das maneiras dos integrantes desses movimentos sociais lutarem por seus objetivos. Muitas vezes, esses sites – e todo o seu conteúdo – funcionam como principal instrumento de comunicação e como arma estratégica na elaboração das agendas dos movimentos sociais da atualidade. Funcionam ainda como contraponto ao discurso construído pelos meios de comunicação acerca das suas identidades. A construção de novos discursos que geram impactos na sociedade e se transformam em notícia é uma preocupação permanente da maioria dos movimentos sociais da atualidade, pois essa é uma maneira de legitimar suas ações e construir suas identidades.
Além disso, esses dois movimentos passaram a atuar em rede entre si e com outros atores sociais e construíram uma forma de luta, coordenando e conduzindo suas ações com o uso da Internet. Foram capazes de criar novas oportunidades de se apresentar ao mundo, de legitimar as ações, de divulgar as demandas pelas quais lutam, de pressionar os meios de comunicação tradicionais a noticiarem com menos parcialidade fatos ligados a eles e de eles próprios noticiarem fatos ligados às suas lutas.
Uma das características mais fortes do EZLN é a importância que seus membros dão para a opinião pública. Sabendo que as informações transmitidas na rede mundial de computadores podem chegar sem nenhum “tratamento” ao computador do público, os zapatistas têm o cuidado de utilizar uma comunicação estrategicamente transparente, uma linguagem simples e capaz de comunicar quem são e o que querem. Ela traz detalhes do dia-a-dia das comunidades zapatistas para o cotidiano das pessoas, ganhando a confiança de quem busca informações sobre eles de uma forma nunca antes feita por outros movimentos sociais latino-americanos.
Ao iniciar a utilização da internet como estratégia de luta, há mais ou menos seis anos, o MST também deu início a um “burilamento” de seu discurso, abandonando a sua velha tática discursiva para usar uma nova maneira de divulgar informações sobre o movimento para o resto da sociedade. Isso é consequência do processo de aquisição de identidade e consciência próprias pelo qual os trabalhadores e trabalhadores rurais sem-terra se afirmam como sujeitos sociais atuantes. Concomitantemente com o início da informatização do MST, foi iniciada a etapa de mostrar ao mundo que o movimento é integrado por pessoas altamente comprometidas com a luta pela democratização da terra no Brasil e não por arruaceiros, como tenta mostrar a mídia tradicional. Além disso, é preciso destacar a iniciativa do movimento de investir em um ambicioso projeto de inclusão digital dos trabalhadores rurais que já estão assentados. Para o MST, é importante que os camponeses e seus filhos tenham acesso às novas tecnologias como tentativa de incentivá-los a permanecer no campo, sem deixar de estarem informados sobre o que se passa no mundo.
O cotejo entre o discurso do MST e do EZLN mostrou que os dois movimentos sociais utilizam maneiras diferentes para atingir a sociedade por meio da rede mundial de computadores. O discurso emancipatório dos movimentos sociais, agora veiculado também pela internet, representa uma nova maneira de lutar pela mudança social. Enquanto os zapatistas preferem uma linguagem muito mais poética e metafórica, que resgata elementos da linguagem indígena dos Chiapas, mas que, mesmo assim, é simples e transparente, o MST investe na objetividade e em textos jornalísticos para alcançar o internauta. Numa época em que a linguagem adquiriu evidência e centralidade na constituição, manutenção e desenvolvimento das nossas sociedades, os sites dos movimentos se tornaram verdadeiros cartões de visita, apresentando e divulgado a bandeira de luta do movimento, seja pela realização da reforma agrária, seja por justiça social e por democracia. Graças à Internet, eles obtêm visibilidade pública e angariam simpatizantes que se tornam adeptos das suas bandeiras de luta e apoiam suas causas.
As análises sobre os movimentos sociais constituídos no fim do século passado ou mesmo no início deste século devem necessariamente levar em consideração que esses novos movimentos sociais do século 21 aprenderam a utilizar a internet como ferramenta para criar novas conexões que buscam diminuir as fronteiras entre eles e a sociedade, vinculando a sua luta particular a uma luta maior contra as velhas e as novas formas de dominação. Atualmente, os movimentos sociais tentam mudar a realidade social, contribuindo com a (re)construção de uma simetria das relações de poder por meio do discurso divulgado em suas páginas de internet.
[1] As constatações deste artigo são resultado de uma pesquisa qualitativa, feita em 2005, que analisou textos virtuais e entrevistas com representantes dos dois movimentos em questão para a realização da dissertação de mestrado Movimentos sociais e a internet da mesma autora.
[2] Lévy (1999, p. 256)
Um comentário:
02/05/09
Eis aí a informação que esclarece, de forma bastante clara, o uso da Internet como canal informativo dos movimentos sociais no campo. Os jovens do mundo inteiro se acham ligados pelas páginas próprias às comunicações de seus anseios nos MSNs - a forma mais rápida de se comunicarem entre si -, e nos ORKUTs.
O lamentável é que só os usem para trivialidades - que não são as características preponderantes a toda uma juventude adolescente. Nas escolas, onde existem laboratórios de comunicação, via Internet, deveria ser regra geral a orientação para que esses jovens buscassem acessar, a par a outras páginas, as que trazem importantes e elucidativos informes sobre os movimentos sociais como os do MST no Brasil e seus correlatos, em países com idênticos perfís de problemas anciãos e ainda sem soluções definitivas. Esses movimentos, gerados e geridos nos campos de muitos países da América Latina, onde campeiam as desigualdades sobejamente conhecidas, exercem e exercerão, cada vez mais, fortes influências no meio social onde frutifiquem, daí a necessidade de serem acompanhados com insenção das críticas da midia elitista e das próprias elites emergentes que infestam nações como a nossa. Diz um velho adágio: "É DE PEQUENINO QUE SE TORCE O PEPINO".
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