terça-feira, 6 de outubro de 2009

MST ocupa fazenda grilada pela Cutrale

Do Centro Acadêmico de Comunicação “Florestan Fernandes”

http://cacoffunesp.blogspot.com/


A grande imprensa no último dia 05 de outubro alardeou a “invasão” de terra provocada por integrantes do MST. Em voos razantes a PM captou imagens de um trator cortanto pés de laranja. Como é de costume, a mídia apresenta os fatos sem uma necessária contextualização do problema com o intuito claro de colocar a opinião pública contra os movimentos sociais. Esses movimentos lutam pelo real desenvolvimento social do país frente ao grande crescimento econômico que aquece a conta corrente daqueles que estão no topo da escala social.

A região mostrada na imprensa, Aras, Agudos, Borebi, no centro-oeste do Estado de São Paulo, onde hoje a empresa Cutrale tem imensas plantações de laranja, tem sua história abafada pelos interesses dos grandes latifundiários brasileiros. Vamos a ela então.

No início do século XX o Governo Federal destinou naquela região mais de 50 mil hectares para a colonização italiana. No entanto, isso não foi possível pois os fazendeiros do café entendiam que essas terras para colonização italiana diminuiriam a oferta de trabalho barato nas plantações de café, e como é de costume, impediram que essas terras fossem destinadas para o fim proposto.

Com o passar do tempo esses 50 mil hectares foram sendo grilados por grandes empresas, principalmente madeireiras. Um pouco mais recente é a entrada da Cutrale nessa região através de terras griladas. Hoje a Cutrale mantém ali uma plantação de cerca de 4 mil hectares apenas de laranja. Só a título de exemplo, com esse número mais de 130 famílias poderiam estar assentadas e plantando alimentos necessários para a alimentação da população, já que não só de laranja vive o homem.

Essas terras da região centro-oeste são uma reinvidicação de mais de 15 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para que ela seja destinada a reforma agrária e contribua para a melhora do quadro social do país. Segundo o INCRA, orgão governamental que regula a reforma agrária, a invasão da Cutrale é ilegal e as terras deveriam ser devolvidas ao governo federal.

Mais de 350 famílias ocupam essa região como forma de pressão para que as terras do governo sejam destinadas à reforma agrária. Parece inconcebível que uma mega empresa, através de meios obscuros como é a grilagem, explore a terra apenas para lucro próprio sem ter pago nenhum centavo, enquanto milhares de famílias continuam na luta por um pedaço de terra agricultável.

Na região de Borebi alguns pés de laranja, entre os 4 mil hectares plantados, foram derrubados para que arroz, feijão, milho, batata pudessem ser plantados. Não nos esqueçamos nunca que a reforma agrária é imprescindível para a construção de um país realmente justo, democrático e menos desigual.

Enquanto o Brasil continuar com uma ditribuição fundiária quase feudal, os números midiáticos continuarão nos falando lindas mentiras e a realidade, duras verdades.

Lembrando de João Cabral de Melo Neto, pergunto: qual será a parte que cabe ao povo neste latifúndio chamado Brasil?

3 comentários:

Blog do Caco disse...

Mantemos contatos. Estamos ae para o que for necessário.

Abraço,

Marco
CACOFF

Blog do Morani disse...

Meu caro Hudson.

Já de longo tempo conheço a sua predisposição e luta por um Brasil mais igual; acho que todos queremos assim - um país cujas riquezas e meios de fazê-las estejam nas mãos dos que realmente sonham em impulsonar as reformas sociais verdadeiras a um patamar em que se vislumbre um horizonte claro, justo, perfeito ao trabalho do campo, onde braços e mãos rudes, merce a sacrifícios imensos, não só tiram seu sustento como produzem para o bom comum.
Aos 74 anos de idade, pelo menos uns 50 anos escuto, de todos os governos, a necessidade de se por emprática a Reforma Agrária. E do jeito que vai, tenho certeza que se passarão mais 50 anos sem que tal se realize. Este governo atual tinha tudo para iniciar a grande arrancada, mas se omitiu. Preferiu se envolver aos problemas externos, esquecendo aqueles que contribuem de maneira concreta e real aos problemas de alimentação no país. Não há dinheiro para muitas coisas, muitas realizações justas, e agora vem aí (não! Vão aí) 100 bi para as Olimpíadas 2016 no Rio. Sou contra, não vibrei nem bati palmas; não achei conquista alguma de vulto; a mim, conquista de vulto é aquela que venha beneficiar muitos por um prazo muito mais longo do que o que levará essa Olimpíada. Acabam os jogos. E depois? Os belos apartamentos irão parar às mãos da elite; as praças de esporte para segmentos especiais do mundo esportivo. O que ganhará o pobre? O que restará a ele? Somente olhar o complexo com os olhos compridos sem, contudo, calcular o que foi gasto por uma efeméride passageira. E a fome, o desemprego, os sonhos, as necessidades e as reformas necessárias? Continuarão passando ao alto, e as glórias dos atletas, efêmeras, serão olvidadas face à realidade da época pós-Olmpíadas.
Está tudo errado neste nosso país, meu caro irmão socialista! Tudo! Somos hodiernamente enganados por estatísticas - conheço-as bem - e por propagandas facciosas. Lula perdeu o grande Trem das verdadeiras realizações.Poderia ser o aglutinador dessas mudanças, para já! Já esperamos demais! Só eu, pelo menos, 50 anos!

Anônimo disse...

Ótimo artigo. Foi imprimi-lo e distribuir para mostrar a alguns a verdadeira face fundiária de nosso país...
ass: Prof. Yuri Almeida