quarta-feira, 29 de junho de 2011

Olívio Dutra na Carta Capital

Felizmente existe no Brasil uma série de mulheres e homens públicos, ainda vivos, que de forma ou outra me dão orgulho de militar na esquerda. Nomes como Olívio Dutra, Tarso Genro, Paulo Paim, Maria do Rosário, Patrus Ananias, Rogério Correia, Padre João, Chico Alencar, Marcelo Freixo, Luiza Erundina, Plínio de Arruda de Sampaio, Ivan Valente, João Capiberibe, Jaques Wagner dentre tantos outros mais que teimam em remar contra o senso comum e mostram que seriedade, honestidade, integridade e ética podem sim conviver com a prática política-partidária-eleitoral institucionalizada.

A entrevista de Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro das Cidades, concedida a Carta Capital vem provar que não estou enganado em ter orgulho dos nomes acima citados.

Vale a pena conferir a entrevista.


Olívio Dutra, o anti-Palocci

Lucas Azevedo29 de junho de 2011 às 10:36h


Carta Capital


Em um velho prédio numa barulhenta avenida de Porto Alegre, em companhia da mulher, vive há quatro décadas o ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra. Em três ocasiões, Dutra abandonou seu apartamento: nas duas vezes em que morou em Brasília, uma como deputado federal e outra como ministro, e nos anos em que ocupou o Palácio do Piratini, sede do governo gaúcho. Apesar dos diversos cargos (também foi prefeito de Porto Alegre), o sindicalista de Bossoroca, nos grotões do Rio Grande, leva uma vida simples, incomum para os padrões atuais da porção petista que se refestela no poder.

No momento em que o PT passa por mais uma crise ética, dessa vez causada pela multiplicação extraordinária dos bens do ex-ministro Antonio Palocci, Dutra completou 70 anos. Diante de mais uma denúncia que mina o resto da credibilidade da legenda, ele faz uma reflexão: “Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade”.

De chinelos, o ex-governador me recebe em seu apartamento na manhã da terça-feira 14. Sugeriu que eu me “aprochegasse”. Seu apartamento, que ele diz ter comprado por meio do extinto BNH e levado 20 anos para quitar, tem 64 metros quadrados, provavelmente menor do que a varanda do apê comprado por Palocci em São Paulo por módicos 6,6 milhões de reais-. Além dele, o ex-governador possui a quinta parte de um terreno herdado dos pais em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, e o apartamento térreo que está comprando no mesmo prédio em que vive. “A Judite (sua mulher) não pode mais subir esses três lances de escada. Antes eu subia de dois em dois degraus. Hoje, vou de um em um.” E por que nunca mudou de edifício ou de bairro? “A vida foi me fixando aqui. E fui aceitando e gostando.”

Sobre a mesa, o jornal do dia dividia espaço com vários documentos, uma bergamota (tangerina), e um CD de lições de latim. Depois de exercer um papel de destaque na campanha vitoriosa de Tarso Genro ao governo estadual, atualmente ele se dedica, como presidente de honra do PT gaúcho, à agenda do partido pelos diretórios municipais e às aulas de língua latina no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “O latim é belíssimo, porque não tem nenhuma palavra na sentença latina que seja gratuita, sem finalidade. É como deveria ser feita a política”, inicia a conversa, enquanto descasca uma banana durante seu improvisado café da manhã.

Antes de se tornar sindicalista, Dutra graduou-se em Letras. A vontade de estudar sempre foi incentivada pela mãe, que aprendeu a ler com os filhos. E, claro, o nível superior e a fluência em uma língua estrangeira poderiam servir para alcançar um cargo maior no banco. Mas o interior gaúcho nunca o abandonou. Uma de suas características marcantes é o forte sotaque campeiro e suas frases encerradas com um “não é?” “Este é o meu tio Olívio, por isso tenho esse nome, não é? Ele saiu cedo lá daquele fundão de campo por conta do autoritarismo de fazendeiro e capataz que ele não quis se submeter, não é?”, relembra, ao exibir outra velha foto emoldurada na parede, em que posam seus tios e o avô materno com indumentárias gaudérias. “É o gaúcho a pé. Aquele que não está montado no cavalo, o empobrecido, que foi preciso ir pra cidade e deixar a vida campeira.”

Na sala, com exceção da tevê de tela plana, todos os móveis são antigos. O sofá, por exemplo, “tem uns 20 anos”. Pelo apartamento de dois quartos acomodam-se livros e CDs, além de souvenires diversos, presentes de amigos ou lembrança dos tempos em que viajava como ministro das Cidades no primeiro mandato de Lula.

Dutra aposentou-se no Banrisul, o banco estadual, com salário de 3.020 reais-. Somado ao vencimento mensal de 18.127 reais de ex-governador, ele leva uma vida tranquila. “Mas não mudei de padrão por causa desses 18 mil. Além do mais, um porcentual sempre vai para o partido. Nunca deixei de contribuir.”

Foi como presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em 1975, que iniciou sua trajetória política. Em 1980, participou da fundação do PT e presidiu o partido no Rio Grande do Sul até 1986, quando foi eleito deputado federal constituinte. Em 1987, elegeu-se presidente nacional da sigla, época em que dividiu apartamento em Brasília com Lula e o atual senador Paulo Paim, também do Rio Grande do Sul. “Só a sala daquele já era maior do que todo esse meu apartamento.”

Foi nessa época que Dutra comprou um carro, logo ele que não sabe e nem quer aprender a dirigir. “Meu cunhado, que também era o encarregado da nossa boia, ficava com o carro para me carregar.” Mas ele prefere mesmo é o ônibus. “Essa coisa de cada um ter um automóvel é um despropósito, uma impostura da indústria automobilística, do consumismo.” Por isso, ou anda de carona ou de coletivo, que usa para ir à faculdade duas vezes por semana.

“Só para ir para a universidade, gasto 10,80 reais por dia. Como mais de 16 milhões de brasileiros sobrevivem com 2,30 reais de renda diária? Este país está cheio de desigualdades enraizadas”, avalia, e aproveita a deixa para criticar a administração Lula. “O governo não ajudou a ir fundo nas reformas necessárias. As prioridades não podem ser definidas pela vaidade do governante, pelos interesses de seus amigos e financiadores de campanha. Mas, sim, pelos interesses e necessidades da maioria da população.”

O ex-governador lamenta os deslizes do PT e reconhece que sempre haverá questões delicadas a serem resolvidas. Mas cabe à própria sigla fazer as correções. “Não somos um convento de freiras nem um grupo de varões de Plutarco, mas o partido tem de ter na sua estrutura processos democráticos para evitar que a política seja também um jogo de esperteza.”

Aproveitei a deixa: e o Palocci? “Acho que o Palocci fez tudo dentro da legitimidade e legalidade do status quo. Mas o PT não veio para legitimar esse status quo, em que o sujeito, pelas regras que estão aí e utilizando de espertezas e habilidades, enriquece.”
E o senhor, com toda a sua experiência política, ainda não foi convidado para prestar consultoria? Dutra sorri e, com seu gestual característico, abrindo os braços e gesticulando bastante, responde: “Tem muita gente com menos experiência que ganha muito dinheiro fazendo as tais assessorias. Mas não quero saber disso”.

Mas o senhor nunca recebeu por uma palestra? “Certa vez, palestrei numa empresa, onde me pagaram a condução, o hotel e, depois, perguntaram quanto eu iria cobrar. Eu disse que não cobro por isso. Então me deram de presente uma caneta. E nem era uma caneta fina”, resumiu, antes de soltar uma boa risada.

domingo, 26 de junho de 2011

Música de Domingo – Pearl Jam

Formado por Eddie Vedder no vocal e guitarra, Jeff Ament no baixo, Matt Cameron na bateria, Mike McCready na guitarra solo e Stone Gossard na guitarra base, o Pearl Jam é considerado um dos grupos grunge mais populares e influentes da década de 90.

Junto com Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains e Mother Love Bone, os caras ajudaram a popularizar o movimento grunge, gênero musical com raízes na música independente (indie), sendo uma ramificação de hardcore/punk, thrash metal, hard rock e rock alternativo.

Em 1990, surgiu o Mookie Blaylock que em novembro do mesmo ano se tornou Pearl Jam, sugerido pelo vocalista Vedder. O músico afirmou que o nome era uma homenagem à uma geléia com poderes alucinógenos que sua avó (chamada Pearl) fazia.











quinta-feira, 23 de junho de 2011

Anedota em dia de Corpus Christi – Arthur Virgílio: Para a “história FFHH se agiganta e Lula se apequena”

A comemoração dos oitenta anos de FFHH deu a oportunidade para que os cabos eleitorais do atraso, transformados em respeitáveis colunistas do Partido do Capital – a mídia oligopolizada - saíssem do armário defendendo o “legado” democrático, econômico e administrativo do octogenário ex-presidente.

Mas de todas as análises tendenciosas, medíocres, cheias de oba-oba, bobagens e descalabros escritos nos últimos dias a fim de se criar um sofisma, uma em especial merece destaque.

Arthur Virgílio sempre foi dentre todos os tucanos um dos que mais defendeu, de forma acrítica, diga-se de passagem, o governo FFHH. Não à toa ocupou os postos de líder do governo na Câmara dos Deputados e de Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência durante os anos FFHH. Posteriormente, já senador, foi líder da oposição ao governo Lula, a quem, inclusive, chamou de vagabundo e ameaçou dar uma surra – jactou essas aberrações do plenário do Senado.

No entanto nada disto o impediu em 2010, na iminência de perder a cadeira no Senado, de elogiar Lula e tomar um discurso patético pedindo votos para “azuis e vermelhos” no estado do Amazonas, sua base eleitoral.

Agora, sem mandato, sem espaço no meio político graças ao temperamento nada sutil, no ocaso de uma vida pública, Arthur Virgílio tenta ganhar a vida como anedotista.

Na visão de Virgílio, que, a bem da verdade é também a de muitos colunistas da mídia oligopolizada, o tempo e a História têm sido generosos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, enquanto ao mesmo passo têm se mostrado crudelíssimos com ex-presidente Lula!

Leiam a anedota escrita por Virgílio no blog de Ricardo “Barriga” Noblat.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A queda de Aécio e a imprensa em Minas

Por Luana Diana dos Santos, para o Viomundo

No último domingo acordei ao som das gargalhadas do meu irmão. Ao perguntá-lo o motivo de tanta alegria às 7 da manhã, fui informada que Aécio Neves havia caído do cavalo. A princípio, pensei que fosse piada. Após uma olhada rápida no twitter, descobri que não havia nenhuma figura de linguagem na queda do senador tucano. O acidente lhe custou cinco costelas e a clavícula direita quebradas.

Na padaria não havia outro assunto. Enquanto tomava meu cafezinho acompanhado por um pão com manteiga, observava um grupo de senhores de meia idade organizarem um ‘bolão’ dos motivos do tombo do ex-governador. Sei que é pecado rir da desgraça alheia, mas foi difícil me conter diante das apostas: “O cavalo deve ter sido presente do Serra”…”A eguinha ‘pocoPó’ se rebelou contra a tucanada”…risos….

Saciada a minha fome, dei uma folheada no Estado de Minas, o maior jornal das Gerais. Buscava uma foto, alguma notícia em relação ao quadro de saúde de Aécio. Não encontrei absolutamente nada. É aí que a queda do tucano perde a graça.

A falta de notícias quanto ao que realmente aconteceu com o neto de Tancredo na tarde de sábado é apenas mais um capítulo do clima de cerceamento que vive a imprensa mineira. No episódio que ficou conhecido como #Aéciodevassa ocorreu a mesma coisa. Nem uma mísera linha sobre o assunto no jornal. Por aqui, qualquer fato que desagrade Aecim ou o Governo, hoje liderado pelo também tucano, Antonio Anastasia, fica de fora dos veículos impressos e televisivos. Quando divulgados, são feitos de maneira deturpada e tendenciosa.

Desde o dia 8 de junho, quando nós professores da Rede Estadual de Ensino entramos em greve reivindicando a implementação do piso salarial nacional (recebemos um piso de R$ 550,00!), tenho comprado o Estado de Minas diariamente a fim de acompanhar as notícias sobre o movimento. Até o momento foram divulgadas não mais que meia dúzia de parágrafos sobre a paralisação dos profissionais da educação, e mesmo assim com o intuito de desmoralizar ainda mais a nossa classe. Infelizmente, a pouca visibilidade dada pelo periódico à nossa luta é motivo de comemoração pelo Sindicato dos Professores. No ano passado, foram necessários exatos 60 dias para que uma nota saísse no jornal.

A censura exercida pelos tucanos sobre a imprensa mineira causaria inveja até na turma do DOPS. Na quarta-feira passada, 15, cerca de 700 professores se reuniram em frente à Cidade Administrativa, fechando a Linha Verde, via de acesso ao Aeroporto de Confins. Na voz do Diretor de Segurança da sede do Governo, veio o recado de Anastasia: “Liberem a Linha Verde e o Governador deixará a imprensa noticiar a manifestação de vocês!” [grifo meu]. No dia seguinte haviam 3 linhas (3!) sobre a ato no Estado de Minas e uma matéria de 30 segundos no noticiário local.

As restrições à liberdade de expressão em Minas é tão pesada que virou documentário. Alunos do curso de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais realizaram um vídeo onde profissionais de rádio e televisão denunciam as dificuldades encontradas para a veiculação de matérias contrárias aos interesses de Aécio e cia. Alguns jornalistas que ousaram romper com a tirania psdbista foram demitidos. Á época da realização da pesquisa, Aécio Neves era o governador do Estado. Dias depois do documentário ganhar a internet, começou a circular uma nova produção – “Olha só como se constrói uma mentira e a distorção do fatos. Jornalistas negam censura”. Essa era a chamada do vídeo. Aecim é realmente muito danado!

Conversando com uma grande amiga que trabalhou durante 25 anos no Estado de Minas, soube que 50% dos recursos do jornal são provenientes de contratos publicitários com o Governo Estadual, num momento em que a tiragem e o número de assinantes decresce vertiginosamente. O Deputado Carlin Moura, do PCdoB, já havia feito a mesma denúncia no ano passado. Encaminhada ao Ministério Público Estadual, se juntou aos milhares de processos que encontram-se engavetados.

Dedilhando este texto lembrei-me de Lima Barreto, um dos meus escritores preferidos. Barreto costumava dizer que no Brasil muitos jornais não passavam de meros diários oficiais à serviço dos interesses do governo. Em Minas, o pensamento barretiano permanece atualíssimo.

Como boa mineira, não perco a fé. Não há motivos para perdermos as esperanças de que em breve teremos uma imprensa livre e democrática, que atenda de fato aos interesses dos cidadãos. A liberdade é o lema da nossa bandeira. O sucesso do II Encontro de Blogueiros Progressistas sinaliza que novos tempos estão por vir.

Luana Diana dos Santos é cronista, historiadora e professora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais.

domingo, 19 de junho de 2011

Música de Domingo – Maria Bethânia

Ela se chama Maria Bethânia porque seu irmão, Caetano Veloso, gostava muito de uma canção do mesmo nome, interpretada por Nelson Gonçalves: “...tu és para mim a senhora do engenho e em sonhos te vejo, Maria Bethânia és tudo o que tenho...”.

Quando criança, queria ser atriz.

Mas, porque Nara Leão ficou gripada, ela teve seu primeiro sucesso, como cantora, nos palcos do antológico show “Opinião”, substituindo Nara, em 13 de fevereiro de 1965.

De lá para cá, foi apenas sucesso. É a cantora da música brasileira com mais discos vendidos: 26 milhões.

Maria Bethânia Viana Teles Veloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, no dia 18 de junho de 1946. É a sexta filha do funcionário público dos Correios, José Teles Veloso e de Claudionor Viana, a dona Canô.

No começo da carreira participou de shows amadores com Tom Zé, Gal Costa, Caetano e Gil, que estavam todos tentando se profissionalizar.

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Marcha da Maconha: vitória da liberdade de expressão

A decisão, de forma unânime, do Supremo Tribunal Federal em liberar a realização da “Marcha pela Maconha”, apenas vem ao encontro do direito à liberdade de expressão. Direito esse já garantido na Constituição de 1988.

A Marcha da Maconha (Global Marijuana March), manifestação anual pela legalização da erva, teve início em 1999 nos EUA, encabeçada pelo ativista Dana Beal. Desde então, diversas cidades do mundo passaram a realizar o evento preferencialmente no dia 7 de maio, data mundial estabelecida para luta e manifestações favoráveis a mudanças nas leis relacionadas à produção, consumo e distribuição da erva. Hoje, a Marcha da Maconha (com variações de nome) acontece em mais de 300 cidades, em 63 países. No Brasil, esse ano, ela foi organizada em 20 cidades.

Os militantes do chamado movimento antiproibicionista têm o intuito de fomentar na sociedade um debate a respeito dos perversos efeitos da proibição de algumas drogas como a criminalização da pobreza, o encarceramento em massa, a corrupção em torno de um mercado que tem altíssima demanda, os interesses econômicos e políticos que determinaram a ilicitude de certas drogas. Apesar disso, no Brasil ainda se enfrenta resquícios da ditadura militar: a briga em muitas cidades vinha saindo do foco de legalização das drogas para legalização da liberdade de expressão.

Durante a discussão e seguinte votação hoje, o ministro Celso de Mello, relator da questão, defendeu que o Estado ou a polícia não podem interferir nas manifestações pacíficas, que são instrumento para que os cidadãos exerçam o direito à liberdade de expressão, “ainda que se trate de opiniões desagradáveis, atrevidas, chocantes audaciosas ou até mesmo de opiniões impopulares”.

“O Estado não pode se cercear nem limitar o exercício do direito de reunião. O Estado não tem esse direito. (...) O regime democrático não tolera a repressão da minoria por regimes majoritários. (...) Nada se revela mais nocivo e perigoso que a pretensão do Estado de proibir a livre manifestação. O pensamento deve ser livre, sempre livre, permanentemente livre”, disse o ministro-relator.

No entanto, mesmo com o acerto do Supremo nessa questão especifica, assim como fora recentemente na questão Cesare Battisti, pois ambas eram questões “técnicas” e pertinentes às funções do Poder Judiciário, não deixa de ser paradoxalmente empobrecedor para a democracia o status midiático que o Supremo tem ganhado nos últimos tempos ao tomar papel que caberia ao Legislativo, como, por exemplo, o reconhecimento da união civil estável entre casais do mesmo sexo.

Enquanto o Legislativo numa democracia representativa tem a função de ouvir a sociedade, ser interlocutor da sociedade a qual representa e legislar para essa mesma sociedade se furtam dessa função, o Supremo aos poucos, e perigosamente, assume o papel de legislador, sem, contudo, poder sentir-se nem interlocutor e menos ainda representante eleito da sociedade.

Greve geral contra austeridade paralisa a Grécia

Via Carta Capital

Os maiores sindicatos gregos iniciaram uma greve geral de 24 horas contra a austeridade, a terceira deste ano, enquanto o Governo se prepara para uma batalha legislativa para avançar com um novo plano de cortes, no valor de 28 bilhões de euros, e privatizações exigidos pela troika, em troca de mais “ajuda” externa, um pacote de empréstimo de 110 bilhões de euros.

Além da circulação de comboios e barcos, a greve também paralisou a imprensa (na rádio e na televisão há programas que não foram para o ar), os bancos, escolas, creches e as empresas estatais em vias de privatização.

Os hospitais públicos apenas atendem casos urgentes e o comércio em Atenas estará fechado durante três horas, até ao meio-dia. As exceções são as companhias aéreas e os aeroportos, que vão funcionar normalmente, uma vez que o sindicato dos controladores de tráfego aéreo cancelaram a sua participação na greve.

"Eles continuam a pedir-nos para darmos mais", disse Ilias Iliopoulos, o secretário-geral da ADEDY, sindicato dos funcionários públicos. "Agora eles vão, novamente, cortar os nossos salários a partir do pouco que nos resta."

Milhares tomam as ruas de Atenas em protesto
Milhares de gregos invadiram as ruas de Atenas, numa manifestação gigante que tenta impedir a aprovação de um novo plano de austeridade pelo Parlamento e que já provocou alguns feridos em confrontos com a polícia.

Durante a manhã, 150 mil “indignados” gregos reuniram-se na praça Syntagma, em Atenas, à frente do Parlamento. Acampados na praça há três semanas, os manifestantes tentaram formar uma cadeia humana e cercar o parlamento. Mas a polícia colocou 1500 agentes na rua e uma barreira de dezenas de veículos estacionados à frente da entrada do parlamento, erguendo barricadas de 2 metros para permitir o acesso aos deputados e impedir a multidão de se aproximar. Várias ruas em torno do parlamento foram fechadas à circulação e aos pedestres.

Vários manifestantes tentaram romper a barreira policial que circunda o Parlamento mas foram repelidos com gás lacrimogêneo pelos agentes das forças de segurança. Nos confrontos desta manhã, pelo menos 40 pessoas foram detidas.

Um balanço das autoridades de saúde aponta para três feridos ao início da tarde, mas os serviços de ambulância contabilizaram pelo menos sete. Este é um balanço bastante deficitário uma vez que os confrontos com a polícia mantém-se e mais pessoas vão chegando à Praça Syntagma, em Atenas.

Eurogrupo num impasse em relação à ajuda à Grécia
Os ministros das Finanças da Zona Euro reúnem-se domingo, no Luxemburgo, para avançar na definição de um segundo plano financeiro de ajuda à Grécia, na sequência da falta de acordo durante o encontro extraordinário que decorreu esta terça-feira, em Bruxelas.

"Vamos continuar a trabalhar sobre a Grécia numa reunião do Eurogrupo no Luxemburgo, no domingo", anunciou o ministro belga das Finanças, Didier Reynders, à saída da reunião extraordinária, citado pela Efe.

domingo, 12 de junho de 2011

Música de Domingo – Especial “Dia dos Namorados”, Cat Stevens

Seu nome hoje é "Yusuf Islam", cidadão islâmico, nascido em Londres, em 21 de julho de 1947 e que um dia foi Steven Demetre Georgiou, mais conhecido pelo apelido de "Cat (olhos de gato) Stevens", que desde pequeno elegeu a música e o violão como sua grande paixão. Aprendeu a tocar sozinho e começou a compor, com a maior facilidade.

Muito fácil seria resumir sua biografia, relacionar sua discografia completa (que não foi pequena), relatar fatos, datas, etc.. mas, acredito ser muito mais prazeroso simplesmente "ouvir Cat Stevens"!!!

Para conhecê-lo não é preciso muito... basta prestar atenção às letras de suas músicas, pois elas, de uma forma ou de outra, retratam as fases de sua vida. Cada momento alegre ou triste porque passava, acabava virando acordes e, por conseqüência, em uma bela canção!
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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os favores de Sarney e ACM a Aecinco

Via Minas Sem Censura

Parece que não é de hoje que Aécio Neves enxerga o Estado como extensão da vida privada (o dele mesmo) e goza das benesses do poder.

Sarney e ACM deram-lhe pequenos mimos, concessões de rádio, para que o então constituinte se mantivesse do lado certo naquela ocasião, o famigerado centrão.

Aécio, em forma de agradecimento pelos mimos, também votou a favor dos cinco anos de mandato para Sarney, na época Aécio ficou conhecido entre seus pares no Congresso Nacional pela singela alcunha de "Aecinco"!

Arco Íris e Aécio, um relacionamento com mais de duas décadas


    quarta-feira, 8 de junho de 2011

    Convite: Palestra Dra. Ana Mércia Roberts


    Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania


    11 de Junho – Sábado, 16h

    Oficina Cultural: Formas e expressões da Arte e Cultura Urbana.
    Dra. Ana Mércia Roberts
    University of Sheffield of London, Professora do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB
    Local: Instituto Cultural Companhia Bella de Artes

    O Projeto Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania visa incentivar agentes culturais, educadores, estudantes secundaristas e universitários, jovens e adultos ligados à produção cultural a refletir sobre a cultura, a cidadania e o conhecimento científico e popular dentro de uma proposta de ensino-aprendizagem dialógica.

    Dra. Ana Mércia Robertz possui graduação em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (1968), especialização em Orientação Educacional pela Universidade de São Paulo (1970), especialização em Planejamento Social em Países em Desenvolvimento pela The London School of Economics and Political Science (1979), mestrado em Sociologia da Educação pela University of London Institute of Education (1981), mestrado em Estudos de Informação (Ciências Sociais) pela University of Sheffield - Department of Information Studies (1986) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é professora universitária em duas instituições de ensino no interior paulista.

    Com início às 16h, no Teatro Nicionelly Carvalho, localizado à rua Prefeito Chagas, 305, andar PL (Instituto Cultural Companhia Bella de Artes), Dra. Ana Mércia deve trabalhar junto ao público uma reflexão sobre a construção social e cultural realizada no espaço urbano. Sua tese de Doutorado, defendida na UNICAMP, em 2001 transcorre sobre esse “espaço urbano complexo gerador de identidades complexas”. Toda a experiência internacional da oficineira deverá contribuir para que a oficina seja uma das mais profundas e proveitosas do Ciclo.

    Além da oficina do dia 11 de junho, Dra. Ana Mércia irá ministrar mais outras duas em escolas públicas, sendo Colégio Municipal Dr. José Vargas de Souza, dia 22 de junho, às 19:30h e Escola Estadual Professor Arlindo Pereira (Polivalente), dia 21 de junho, ambas destinadas exclusivamente a estudantes secundaristas do terceiro ano.

    Maiores informações com a Coordenação do projeto: 35 – 9976 1513 Diney Lenon, com a Assessoria Pedagógica, 35 – 9854 9008 Greice Keli,

    Os dilemas de Ollanta

    Por Atilio Borón, via Correio da Cidadania

    No momento em que escrevia estas linhas, as "contagens rápidas" de todas as pesquisas davam como ganhador, por uma estreita margem, Ollanta Humala. Se confirmadas estas antecipações, o clima de renovação política e social instalado na América Latina desde finais do século passado se verá consideravelmente fortalecido. Um Peru que presumidamente abandonaria, com o novo governo, sua postura de incondicional peão do império – lamentável situação a que chegou não pelas mãos do conservador Alejandro Toledo, mas pelas do ex-líder aprista Alan García – seria um sopro de ar fresco para os governos de esquerda e progressistas de nossa América.

    Não é um mistério para ninguém que Washington tenha empregado todo seu arsenal financeiro, político e propagandístico para impedir o triunfo de Humala. O nervosismo evidenciado pela "comunidade de negócios" do Peru, que bem como seus homólogos de outras partes do mundo tem acesso à informação que os demais não têm, refletia a preocupação que causava em suas fileiras a eventual derrota do fujimorismo: em função disto, a bolsa de Lima registrou uma baixa de 6%.

    O establishment peruano, personificado desde o século XIX por seu intelectual orgânico, o diário El Comercio, assumiu com tal descaramento seu papel de organizador do anti-humalismo que o mesmíssimo Mario Vargas Llosa renunciou a seguir escrevendo em suas páginas. A CNNnão ficava atrás: na última sexta-feira, sua principal apresentadora, Patrícia Janiot, submeteu o candidato da coligação Gana Peru a um interrogatório que, por sua forma e seu conteúdo, a desqualificam, pela enésima vez, como jornalista e a confirma, por outro lado, como operadora política a serviço da Casa Branca. O governo de Alan García, obviamente, não ficou para trás nesta cruzada direitista. Mas seu desprestígio é tão grande que seu partido, o APRA, nem sequer pôde apresentar um candidato nestas eleições presidenciais.

    Não deixa de ser significativo que, apesar do "êxito" evidenciado por seus indicadores macroeconômicos, o Peru não tenha conseguido reduzir a pobreza e a desigualdade econômica e social. Uma vez mais se comprova que, na ausência de uma forte vocação reformista, a lógica da acumulação capitalista concentra a riqueza e polariza a sociedade. O "efeito derrame" é uma superstição astutamente fabricada pelos propagandistas do império.

    E, tal qual outros casos na região, seria conveniente perguntar-se o que é que se quer dizer quando se fala em "êxito". Se por tal coisa se entende o aumento do lucro dos capitalistas, o neoliberalismo certamente teve êxito; mas se "êxito" quer dizer, como deveria, maior bem-estar e melhor qualidade de vida para as grandes maiorias nacionais, autodeterminação nacional, soberania econômica, ou o "bem viver" de nossos povos originários, o experimento neoliberal foi um completo fracasso. Se não bastasse, corroeu gravemente a legitimidade dos regimes democráticos, tanto na América Latina como na Europa. Quando os "indignados" da Espanha exigem uma democracia verdadeira, estão reagindo diante da degradação política causada pelas políticas de ajuste e estabilização do FMI e do Banco Mundial.

    Retomando o fio da meada de nossa argumentação, ao tentar espiar o que poderia reservar o futuro para o Peru, seria conveniente descartar hipóteses maximalistas: este país firmou um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos – posto em marcha em 1º de fevereiro de 2009 – e as condições que o império introduziu neste acordo não deveriam ser subestimadas. Por outro lado, a coalizão eleitoral forjada por Humala será outro elemento restritivo caso se desperte no novo presidente a vocação "bolivariana" que muitos lhe atribuem, mas que se cuidou para não agitar durante o curso de sua campanha.

    E seus inimigos, a oligarquia e as transnacionais, ambas sustentadas por Washington, são demasiado poderosas para serem desafiadas sem se preparar cuidadosamente para a batalha. Mas se trata de um homem que denunciou como poucos as injustiças que desde tempos imemoriais se perpetram no Peru, e há  razões para supor que será fiel a tão nobres sentimentos.

    Além disso, as lições que deixaram as recentes eleições – Chile em 2010, Espanha há duas semanas e Portugal há um par de dias – são uma sóbria lembrança de que, diante da gravidade da crise capitalista e da acentuação da congênita incapacidade deste sistema para repartir com um mínimo de igualdade os frutos do crescimento econômico (mais que evidente no "milagre peruano"), a adoção de uma política resignada e "possibilista", que continue pelo caminho não precisamente iluminado por seus antecessores, é o seguro trajeto para uma retumbante derrota em alguns poucos anos.

    Há um velho ditado da teoria política que diz que os povos preferem o original à cópia: isso foi sofrido em carne e osso pela própria Concertação no Chile, o PSOE na Espanha, e o (mal chamado) Partido Socialista em Portugal. Mas, além destas notas chamando à cautela, é de se celebrar que, em um momento no qual o imperialismo na América Latina está passando à contra-ofensiva, com inusitada agressividade, cercando a região com bases militares, o triunfo de Ollanta Humala modifica sensivelmente o tabuleiro geopolítico regional num sentido contrário aos interesses imperiais.

    Sua vitória bem poderia ser o marco que anuncia a reversão desta nefasta tendência. Por enquanto, a liga reacionária do Pacífico, pacientemente construída por Washington para neutralizar a Unasul e a Alba, e que teria como suportes o México, a Colômbia, o Peru e o Chile, perdeu uma de suas duas peças vitais para o controle da Amazônia, nada menos. Não é pouca coisa, brindemos com um bom pisco!

    Atilio Borón é doutor em Ciência Política pela Harvard University, professor titular de Filosofia Política da Universidade de Buenos Aires e ex-secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).

    domingo, 5 de junho de 2011

    Greve dos bombeiros no Rio: Autoritarismo cabralino

    Se alguém ainda tinha dúvida sobre o perfil político de Sérgio Cabral Filho, essa dúvida se desfez na manhã do último sábado quando o governador fluminense ordenou que o BOPE – o mesmo grupo especial da polícia que leva a presença do Estado em forma de terror às favelas cariocas e cujo carro blindado tem a alcunha de “Caveirão” – invadisse o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, no centro do Rio, onde ao menos 500 bombeiros realizavam um protesto por melhores condições de trabalho e aumento salarial.

    Na autoritária e fascista visão cabralina, os bombeiros em greve praticaram ato de vandalismo ao ocuparem o quartel da corporação, então, fez-se desnecessário o uso do diálogo uma vez que a força é mais persuasiva nessas condições.

    "Esses 440 irresponsáveis vão responder a processos administrativa e criminalmente. A abertura do processo disciplinar já foi determinada, a criminal cabe ao Ministério Público", jactou em tom de histeria o glorioso Cabral Filho. Antes o governador fez chacota das reivindicações dos bombeiros fluminenses dizendo que o salário de R$950,00 (!!!) não é tão baixo.

    Não bastasse o apartheid social idealizado e levado a cabo por sua gestão quando sitia comunidades inteiras debaixo do argumento da crise de segurança pública (que deveria, em última instância, ser garantida pela próprio Estado, oras!); a recusa em receber representantes da ONU vindos ao Brasil a fim de averiguar denúncias de arbitrariedades praticadas pelo Estado do Rio de Janeiro contra os direitos humanos; ser complacente – complacente aqui é eufemismo – com a polícia fluminense quando essa ceifa vidas e veste do preto de luto famílias esquecidas para além do limite entre pobreza e miséria, agora vemos o glorioso, probo, generoso e homem de bem Sérgio Cabral fazer chacota, criminalizar, perseguir, agredir e mandar prender funcionários públicos em greve.

    Leiam o que a deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ), que estava presente durante a invasão do BOPE, declarou na tarde de sábado:

    “Foi terrível o que aconteceu lá dentro. O Bope [Batalhão de Operações Especiais] invadiu por trás, jogando bombas de gás e disparando balas de verdade. Tem carros dos bombeiros lá dentro arrebentados a bala. Se os bombeiros não estivessem em movimento pacífico e ordeiro poderia ter ocorrido uma tragédia”, afirmou a deputada, exibindo cápsulas deflagradas de fuzil e pedaços de bomba de efeito moral.

    “Essas pessoas que estão sendo penalizadas são as mesmas que salvam vidas em incêndios e nas praias do Rio. Ganham o pior salário da categoria no Brasil. Quero saber se o governador (Sérgio) Cabral, responsável por essa operação, consegue se alimentar em Paris com os R$ 950 que são pagos a esses homens e mulheres.”

    Música de Domingo – Queen

    O Queen começou em 1968, quando Brian May e Tim Staffel resolveram montar a banda Smile. Através de um anúncio no mural da faculdade, conheceram o baterista Roger Taylor. O grupo chegou a gravar uma demo que não foi muito bem sucedida, mas chamou a atenção de Faroukh Bulsara, que mais tarde adotaria o nome Freddie Mercury.
    Em 1970, já com o nome Queen e Freddie no lugar de Tim, encontraram o baixita John Deacon, que também passou a fazer parte do grupo.

    O primeiro álbum da banda, "Queen", saiu em 1973, seguido de "Queen II" e de "Sheer Heart Attack". Porém foi o quarto disco, "A Night At The Opera", que lançou a banda ao estrelato. Hits como "I'm Love with My Car", "Love of My Life", "The Prophet's Song" e principalmente "Bohemian Rhapsody", levaram o Queen ao primeiro lugar das paradas.

    A mistura de rock n'roll com corais e os shows espetaculares não demoraram para impressionar os críticos e conquistar milhões de fãs.

    Em 1976, "A Day at the Races" trouxe músicas mais pesadas, como "Tie Your Mother Down" e "White Man". No ano seguinte "News of The World" emplacou os sucessos "We Will Rock You" e "We Are the Champions". Na década de 80 a banda começou a inserir algumas mudanças na sua música. "The Game", de 1980, mostrava o interesse do Queen pela música eletrônica. Apesar disso, o álbum fez sucesso com "Another One Bites in The Dust" e "Crazy Little Thing Called Love".

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    sábado, 4 de junho de 2011

    Palocci e a terra lavada em sangue no Pará

    O desconforto, pra dizer o mínimo, em que a mídia oligopolizada colocou o governo Dilma com a descoberta da multiplicação da fortuna (no sentido material, não no sentido maquiavélico) de Antonio Palocci, o mais tucano dos petistas, está tirando o foco de fatos tão ou mais importantes que o enriquecimento do ministro da Casa Civil.

    Enquanto jornais, revistas, emissoras de tv e rádio, e internet discutem dia e noite até quando a Presidenta Dilma conseguirá manter um ministro zumbi, no Pará vários ambientalistas estão sendo assassinados debaixo da omissão leniente do Estado e da certeza, por parte dos mandantes, de que esses crimes serão impunes.

    A prevaricação de Palocci e seu inconseqüente vislumbre e apego ao poder, sem querer adentar no terreno pantanoso e fétido da moral farisaica adotada pela oposição de direita, vem denotar um perfil megalomaníaco e egocêntrico. Palocci além de não ter condições éticas para ser mantido num dos cargos mais importantes da República (res publica, “coisa do povo”), não pode ser o interlocutor de um governo que tem por meta avançar nas conquistas sociais obtidas nos últimos oito anos.

    Aliás, essas conquistas sociais só tomaram impulso a partir do momento em que Palocci foi defenestrado do governo Lula pela opinião publica. Não é difícil imaginar as dificuldades contra as quais Fernando Haddad e Patrus Ananias, para ficar apenas nesses dois exemplos, respectivamente ministros da Educação e do Desenvolvimento Social, enfrentariam caso o desenvolvimentista Guido Mantega não tivesse ocupado o Ministério da Fazenda, antes ocupado pelo ortodoxismo monetarista de Antonio Palocci.

    Durante o segundo turno da eleição presidencial escrevi que considero a arrogância irmã da ingenuidade, e foi justamente uma ou outra a responsável pela opção por colocar Erenice Guerra no posto de ministra da Casa Civil. A mesma conclusão tirei quando a Presidenta Dilma nomeou Palocci para o mesmo cargo, afinal a carga explosiva presa ao corpo do ex-prefeito de Ribeirão Preto possui detonador fácil de ser manipulado e a oposição farisaica esperou apenas o momento em que precisasse usá-lo. Ademais, desde que Palocci deixou transparecer em atos e palavras sua idolatria pelo deus Mercado, que perdeu boa parte – ou toda – do respaldo que guardava dentro do próprio Partido dos Trabalhadores, que por sua vez sempre entendeu serem coisas distintas pragmatismo/governabilidade de mudança programática/ortodoxia econômica.

    Contudo, a necessidade de detonar a bomba presa a Palocci veio quando o ministro surgia como o negociador privilegiado contra a aberração representada no retrocesso em si que é o novo (sic) Código Florestal.

    E é na esteira da aprovação do novo Código Florestal que o sangue daqueles que ousam não se calar está sendo vertido no Pará, exatamente onde uma elite local insatisfeita com a impossibilidade de obter o poder sobre o Estado, move-se para criar a sua própria unidade (Carajás).

    A truculência da direita, incapaz de ganhar a opinião pública na base das idéias e da mobilização de militância, encontraram na megalomania e no egocentrismo de Palocci, o “homem do mercado”, a oportunidade de tirar o foco pela disputa de terras na região norte, o que de fato está por trás do novo Código Florestal e é responsável direta pelos assassinatos anunciados ocorridos no Pará.

    quinta-feira, 2 de junho de 2011

    Muito além dos muros da escola – Parte 2

    O artigo produzido pelos professores Tiago Barbosa Mafra e Ana Paula Ferreira traz uma análise mais refletida e honesta sobre a Educação no Brasil. Uma análise bem distinta daquela visão distorcida sobre a Educação vendida pela mídia oligopolizada e comprada pelo senso-comum que grassa sobre o tema, com muitos “especialistas” apontando soluções simplórias. Muito além dos muros da escola e muito além dos interesses nem sempre escusos da mídia oligopolizada, a escola no Brasil – e pelo o que tenho acompanhado em boa parte do mundo também – passa por uma profunda crise de identidade muito maior que o senso comum imagina e mais complexa que qualquer solução simplória possa resolver.

    Vamos lembrar que o acesso à educação ou a educação de massa é algo relativamente novo, só implantado após as Revoluções Burguesas e a conseqüente Revolução Industrial, sempre atendendo a reprodução do sistema. Num mundo altamente informatizado e interligado, com avanços tecnológicos que atropelam o dia-a-dia e antecipam transformações dentro da sociedade, modificando as formas de relação existentes, a negação da tradição surge da forte sensação de mal-estar em tudo aquilo que de algum modo se refere à sociedade imediatamente anterior, já tida como arcaica.

    Está aí um dos motivos – obviamente não o único – dessa inegável crise de identidade vivenciada dentro das escolas.

    Todavia, como ficou bem ressaltado no artigo Muito Além dos Muros da Escola, jogar toda a responsabilidade pela baixa qualidade da educação na gestão escolar e no corpo docente, atende ao apelo que o deus Mercado faz diuturnamente para que a Educação seja tratada como apêndice do próprio mercado. Não considerar todas as variáveis embutidas numa educação – de qualidade ou não – só pode fazer sentido se tiver por trás, justamente, o objetivo mercadológico.

    Desconsiderar o ambiente social e as transformações ocorridas tanto no núcleo familiar quanto na sociedade como um todo nas últimas décadas, além de não parecer inteligente, denota o viés autoritário do sistema capitalista.

    Como não considerar o ambiente social quando numa madrugada uma educanda de 12 anos de idade se vê obrigada, no desespero, a ajudar a mãe na hora do parto do quarto irmão materno e depois que uma ambulância chega à residência e leva à mãe, essa educanda ainda fica encarregada de retirar todo o sangue vertido no banheiro durante o parto? Ou então quando um educando, esse um pouco mais velho, 13 anos de idade, perde o pai, moto- taxista, num acidente de trânsito? Primeiro detalhe: o pai morreu porque simplesmente cochilou na direção da moto numa madrugada, após trabalhar várias noites seguidas e dobrar o turno realizando outros trabalhos durante o dia. Segundo detalhe: esse educando tem outros três irmãos, sendo o caçula recém-nascido e o mais velho portador de necessidades especiais.

    Caso a solução encontrada pelos sabujos admiradores do deus Mercado para melhorar a qualidade da Educação seja a imposição de se retirar da gestão escolar e do corpo docente a capacidade de enxergar os educandos como seres individuais, coibindo os responsáveis pela educação formal de interpretar as individualidades existentes em cada educando (ser humano), transformando a escola num ente desconectado da comunidade onde está inserida, então talvez tenhamos uma resposta simplória para a sua crise de identidade. Porém incorreremos no erro de o remédio ser pior que a doença e por fim matar o enfermo. Entenda-se por enfermo não apenas a Escola, mas a Sociedade inteira.

    P.S. Os casos citados sobre a educanda de 12 e o educando de 13 anos são verídicos e narrados a mim pelas próprias personagens envolvidas.