domingo, 30 de setembro de 2012
Madri: manifestantes mobilizam-se para “resgatar a democracia”
A iniciativa “Cercar o Congresso” mobilizou milhares de pessoas que se insurgiram contra as medidas de austeridade e exigiram a demissão do governo de Rajoy
Por Esquerda.net
Os manifestantes concentraram-se, na sua maioria, na Praça Neptuno, nos arredores da Câmara dos Deputados, durante o plenário que desta terça-feira. Para o local, foi mobilizado um significativo contingente policial, composto por 1.300 agentes da polícia de choque, oriundos de 30 dos 52 grupos operacionais das Unidades de Intervenção Policial de toda a Espanha. O local foi ainda patrulhado por polícias a cavalo e por policiais acompanhados de cães.
Alguns elementos teriam tentado transpor as barreiras policiais e arremessado alguns objetos contra a polícia de choque, ao que estes responderam com inúmeras investidas indiscriminadas contra os manifestantes, recorrendo a balas de borracha e a gás lacrimogéneo. Ainda assim, a polícia de choque não conseguiu dispersar todas as pessoas que se concentraram no local.
No início da noite, a imprensa espanhola dava conta da detenção de mais de duas dezenas de pessoas, sendo que o primeiro detido foi um manifestante que escalou a barreira de segurança para tentar hastear uma bandeira do Sindicato Andaluz de Trabalhadores. Os media contabilizavam também mais de 60 feridos. Uma das vítimas da repressão policial encontra-se em estado grave.
Durante o protesto, os deputados do Bloco Nacionalista Galego (BNG), da Compromís, de Valência, e da Izquierda Unida foram os únicos a se aproximar e conversar com os manifestantes.
“Resgatar a democracia”
Esta iniciativa, convocada pelos coletivos Plataforma ¡En Pie! e Coordinadora #25s, constituiu uma “resposta aos cortes do governo e ao sequestro da democracia” em favor dos grandes interesses financeiros.
No dia 25 de setembro, “rodeamos a Câmara dos Deputados para resgatá-la de um sequestro que converteu esta instituição num órgão supérfluo”, anunciaram os promotores da iniciativa, adiantando que este “sequestro da soberania popular é levado a cabo pela troika e pelos mercados financeiros e é executado com o consentimento e a colaboração da maioria dos partidos políticos”, que “traíram os seus programas eleitorais, os seus eleitores e a cidadania em geral, não cumprindo promessas e contribuindo para o empobrecimento progressivo da população”.
“Rodeamos o Congresso para dizer-lhes” que “não obedeceremos às suas imposições injustas, como a de pagar a sua dívida, e que defenderemos os direitos coletivos: a habitação, a educação, a saúde, o emprego, a participação democrática, o rendimento. Para iniciar um processo que permita que os responsáveis da crise deixem de ser impunes, para que os pirômanos que provocaram a nossa crise não sejam recompensados e comecem, em alternativa, a ser julgados”.
No manifesto de convocação do “Cerco ao Congresso”, é exigida a demissão do governo, assim como a dissolução do Parlamento e do Conselho de Estado, e a abertura de um “processo constituinte transparente e democrático”, a fim de redigir uma nova Constituição. São ainda reivindicadas medidas como: uma auditoria da dívida pública espanhola, a reforma da lei eleitoral, uma profunda reforma fiscal e a derrogação imediata dos cortes e de todas as reformas contra o estado de bem-estar, que “pressupõem restrições de direitos e liberdades da cidadania”.
Várias outras cidades espanholas foram também palco de concentrações. Em Barcelona, o coletivo “Acampada de Barcelona” – associado ao movimento 15 M – promoveu o protesto “cercar o parlamento” regional.
domingo, 23 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Perdemos Carlos Nelson Coutinho
Na madrugada de hoje morreu o escritor Carlos Nelson
Coutinho. Um câncer fulminante fez este homem parar de pensar. Sua atividade
foi impressionante. Foi ele quem introduziu no Brasil o pensamento de Lukacs e
de Gramsci. Traduziu inúmeros de seus livros, editou, e escreveu artigos e
livros sobre o pensamento destes autores, destes dois marxistas, tendo
inclusive trocado uma bela correspondência com o revolucionário húngaro. Sua
capacidade de trabalho era realmente incrível. Volta e meia eu estava lendo um livro
importante, em geral de filosofia, e quando olhava quem era o tradutor, lá
estava ele, Carlos Nelson. Carlos Nelson Coutinho foi um escritor e um pensador
da filosofia e da política. Entre seus inúmeros livros o que mais me chamou
atenção foi o último que li, sobre o estruturalismo. Nele Carlos Nelson mostra
sua enorme cultura. Foi escrito quando ele era ainda jovem.
Carlos Nelson Coutinho foi militante do PCB durante muitos
anos. Nos anos 80 se filiou no PT. E no dia que Luciana Genro, HH, Babá, e João
Fontes foram expulsos do PT, em dezembro de 2003, uma entrevista no JB
anunciava sua saída do PT. Ele, Milton Temer e Leandro Konder. O trio de
amigos, que juntos militaram no PCB, juntos foram para o PT, logo juntos
entrariam no PSOL, ou melhor, ajudariam a fundar o PSOL, dando ao novo partido
a honra de contar com esta tradição de comunistas e intelectuais de primeiro
nível. Por causa da luta política tive a sorte de conhecer Carlos Nelson
pessoalmente. Uma das conversas foi na casa de Temer, tomando um ótimo vinho,
com ele, Temer e Leandro Konder. Fizemos uma entrevista para um dos primeiros
jornais feitos para o PSOL. Quem nos apresentou foi seu amigo íntimo, o próprio
Milton Temer, a quem desejo muita força nesta hora pesada e triste. Conheço
Temer desde 1997, quando ambos estávamos na direção nacional do PT e desde a
fundação do PSOL viramos bons amigos. Temer sempre foi o mais militante do trio
e na brincadeira entre eles o líder político da tendência ( a tendência seria
conformada pelos três mesmo). Agora, infelizmente, esta maravilhosa tendência
política está dissolvida.
Temer me disse hoje pela manha que Carlos Nelson estava
escrevendo um livro sobre a história da filosofia. Espero que tenhamos chances
de ler algo do que já foi trabalhado. Espero que tenhamos a sorte de beber dos
últimos pensamentos sobre filosofia deste camarada que perdemos.
Foto: Texto do Presidente da Fundação Lauro Campos, Roberto
Robaina: Perdemos Carlos Nelson Coutinho Na madrugada de hoje morreu o escritor
Carlos Nelson Coutinho. Um câncer fulminante fez este homem parar de pensar.
Sua atividade foi impressionante. Foi ele quem introduziu no Brasil o
pensamento de Lukacs e de Gramsci. Traduziu inúmeros de seus livros, editou, e
escreveu artigos e livros sobre o pensamento destes autores, destes dois
marxistas, tendo inclusive trocado uma bela correspondência com o
revolucionário húngaro. Sua capacidade de trabalho era realmente incrível.
Volta e meia eu estava lendo um livro importante, em geral de filosofia, e
quando olhava quem era o tradutor, lá estava ele, Carlos Nelson. Carlos Nelson
Coutinho foi um escritor e um pensador da filosofia e da política. Entre seus
inúmeros livros o que mais me chamou atenção foi o ultimo que li, sobre o
estruturalismo. Nele Carlos Nelson mostra sua enorme cultura. Foi escrito
quando ele era ainda jovem. Carlos Nelson Coutinho foi militante do PCB durante
muitos anos. Nos anos 80 se filiou no PT. E no dia que Luciana Genro, HH, Babá,
e João Fontes foram expulsos do PT, em dezembro de 2003, uma entrevista no JB
anunciava sua saída do PT. Ele, Milton Temer e Leandro Konder. O trio de
amigos, que juntos militaram no PCB, juntos foram para o PT, logo juntos
entrariam no PSOL, ou melhor, ajudariam a fundar o PSOL, dando ao novo partido
a honra de contar com esta tradição de comunistas e intelectuais de primeiro
nível. Por causa da luta política tive a sorte de conhecer Carlos Nelson
pessoalmente. Uma das conversas foi na casa de Temer, tomando um ótimo vinho,
com ele, Temer e Leandro Konder. Fizemos uma entrevista para um dos primeiros
jornais feitos para o PSOL. Quem nos apresentou foi seu amigo íntimo, o próprio
Milton Temer, a quem desejo muita força nesta hora pesada e triste. Conheço
Temer desde 1997, quando ambos estávamos na direção nacional do PT e desde a
fundação do PSOL viramos bons amigos. Temer sempre foi o mais militante do trio
e na brincadeira entre eles o líder político da tendência ( a tendência seria
conformada pelos três mesmo). Agora, infelizmente, esta maravilhosa tendência
política está dissolvida. Temer me disse hoje pela manha que Carlos Nelson
estava escrevendo um livro sobre a história da filosofia. Espero que tenhamos
chances de ler algo do que já foi trabalhado. Espero que tenhamos a sorte de
beber dos últimos pensamentos sobre filosofia deste camarada que perdemos.
Roberto Robaina é presidente da Fundação Lauro Campos
domingo, 16 de setembro de 2012
Música de Domingo - Us and Them / Eclipse (Pink Floyd)
Uma obra humana, mas que poderia ser uma obra divina se tal tipo de obra existisse!
sábado, 15 de setembro de 2012
Renato Janine Ribeiro - A falta que as Humanas fazem
Tenho certeza de que, como diretor que fui de Avaliação da Capes no
período de 2004 a 2008 (verhttp://www.observatoriodauniversidade.blog.br/Blog/blog/2009/01/12/817c1...),
não privilegiei de forma alguma as áreas de Ciências Humanas, Sociais, Letras e
Artes, embora, por ser pesquisador de Filosofia, provenha deste campo. Sei que
alguns colegas de minha grande área até discordam da avaliação tal como ela é
praticada. Talvez eu até tenha tido maior apoio de outras áreas, como as
Engenharias, do que da minha, e não cansei de elogiar a posição dos
engenheiros, tanto por sua educação quanto por seus projetos e convicções.
Por isso mesmo, me sinto muito à vontade para defender as áreas de que
sou mais próximo quando considero justo fazê-lo. E, no caso, trata-se de uma
grande preocupação com a tendência de várias áreas a ignorar o que as Humanas –
no sentido mais amplo - lhes podem trazer de bom: pois não sabem a falta que
têm de um conhecimento científico sobre a sociedade e sobre o humano. Na
verdade, como todos nós somos cidadãos e portanto temos opiniões e posições
sobre a vida social (e pessoal), e isso é justo, quem não é de nossas áreas pode
confundir este mundo legítimo das opiniões e posições com o do conhecimento
rigoroso que as ciências humanas sociais geram a respeito.
Penso, sobretudo, nos projetos que dizem respeito a ganhos de
produtividade, mas num sentido mais amplo, também aos que se referem à
sustentabilidade, ao equilíbrio da natureza, aos avanços científicos em geral.
Tudo isso está sendo conduzido por nossos acadêmicos com grande qualidade.
Incentivos de várias ordens estão sendo destinados à biotecnologia, aos novos
materiais e às engenharias em geral. A Universidade Federal do ABC, por
exemplo, fruto de um projeto inteligente e inovador, está-se empenhando nas
engenharias do futuro. A Unifesp está pensando num curso de sustentabilidade
que será muito importante para juntar conhecimento e produção. Vários mestrados
e doutorados em ecologia nasceram estes últimos anos, inclusive nosso único
doutoramento no hemisfério norte (no Amapá) e um mestrado profissional numa ONG
sediada no interior de São Paulo.
Todos os elogios são insuficientes para trabalhos tão importantes para
nós. Os pesquisadores empenhados nesses projetos têm uma sensibilidade apurada
para as necessidades e anseios de nossa sociedade.
E no entanto... No entanto, falta a esses projetos, o mais das vezes,
uma presença das ciências humanas. Mais precisamente, quase tudo o que pode
repercutir no mundo da produção, seja barateando seus custos, seja reduzindo os
danos à natureza, seja de outras formas basicamente virtuosas, está sendo
conduzido sem uma reflexão científica sobre seu impacto na organização da
sociedade. Mais precisamente ainda: essas questões são discutidas como se esses
avanços fossem bons em si, independentemente de se saber como ganhos e avanços
serão apropriados socialmente.
Lembro uma ocasião em que, como presidente substituto da Capes,
coordenei uma reunião com representantes dos Ministérios da Educação, de
Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento, para debater incentivos a fim de que
pesquisadores fizessem maior interface com o "setor produtivo". Numa
certa altura, observei que o edital falava em ganhos sociais mas, quando se
chegava à hora de dar pontos aos projetos concorrentes, o item social sumia! Um
dos representantes do MCT então me disse, com ênfase: "Mas esses ganhos
sociais são apenas uma crença! Não há nada seguro quanto a eles. São apenas
questão de fé!"
Fiquei pasmo, porque eu tinha e tenho a mesma impressão, só que quanto
aos ganhos econômicos. Desde 1993, quando me tornei membro do Conselho
Deliberativo do CNPq, vejo os governos destinando dinheiro para ver se as
empresas investem em pesquisa. To no avail, ou traduzindo: sem resultado, ou
com frutos bem modestos. E como um governo, ainda mais do PT, deixa os ganhos
sociais ficarem só no enunciado e sumirem da pontuação, que é realmente o aspecto
decisivo na atribuição dos recursos?
Vejo isso de novo nos projetos, ainda que muito bons, que as IES
federais da Grande São Paulo desenvolvem. Sustentabilidade está sendo
considerada como questão que se refere somente à natureza. Mas quem ganha, quem
perde com isso? Engenharia é tratada como se a diferenciada apropriação dos
ganhos em produtividade fosse neutra.
Sinto uma certa decepção com isso. Faz tempo, escrevi que não se pode
confundir "sociedade" com "empresa" (em A universidade e a
vida atual, Ed. Elsevier/Campus). A relação da universidade se deve dar com as
duas. Nada contra a empresa, tudo com ela, sempre que possível, mas – sobretudo
– tudo pela sociedade, que é quem nos paga, quem nos criou, em suma, que é
nossa razão de ser. E no entanto ouço, até com freqüência, quando se fala em
aumentar a produção ou a produtividade, falar-se em "cidadãos" ou
"sociedade civil" quando o que se quer dizer é "capital" ou
"empresas".
Sei que as intenções são muito boas. Mas não é estranho que a UFABC
tenha sido criada numa região do País em que nasceram a indústria moderna, o
sindicalismo autônomo e um partido diferente dos outros – e que esses não sejam
temas de seus estudos? Estão surgindo novas relações de trabalho no ABC, que
nada têm a ver com a flexibilização prezada pela direita. São empresas falidas,
salvas por seus credores (os próprios trabalhadores) que criam cooperativas,
eficazes. Quem estuda isso?
Não é estranho que, quando se fala em tecnologia e mesmo em inovação (no
tripé Ciência, Tecnologia e Inovação), as ciências humanas não sejam chamadas a
opinar? Não é estranho que se acredite que, aumentando-se a riqueza,
automaticamente os resultados serão bons? Ora, qualquer historiador sabe que
não é assim, e que as expansões econômicas acarretam redistribuições, por vezes
enormes, dos recursos novos que surgem. Ou seja, nada que é social é
politicamente neutro.
Não creio que devamos desanimar. Aziz AbSaber, presidente de honra e
ex-presidente da SBPC, disse numa reunião anual em Salvador (e lembrem que ele
é geógrafo físico) que toda questão de tecnologia é assunto das ciências
humanas – porque diz respeito ao modo como o conhecimento científico repercute
na sociedade. Concordo com ele.
Por isso mesmo, é preciso cobrar essa atitude dos nossos amigos das
ciências biológicas e exatas, ou das engenharias. Se eles não se convenceram
ainda disso, obviamente não é por má vontade. Os que conheço acreditam num
Brasil mais justo, melhor, sem miséria, sustentável. O que precisam é saber que
as ciências humanas e sociais não são assunto de mera opinião. São ciências,
que trazem um conhecimento que as ciências deles não têm. Esse conhecimento diz
respeito à justiça, à justiça social, aos modos de promovê-las e de evitar que
a desigualdade destrua o tecido social. E, sem esse conhecimento, o que as
ciências nossas irmãs trarão de positivo ao Brasil ficará aquém, e por vezes
bastante aquém, do que poderiam trazer se procurassem quem pode andar junto com
elas nessa tarefa.
Renato Janine Ribeiro, professor
titular de Ética e Filosofia Política na USP, ex-secretário e ex-conselheiro da
SBPC, foi também diretor de Avaliação da Capes de 2004 a 2008
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Turquia coloca jornalismo livre no banco dos réus
A imprensa livre começou a ser julgada em Istambul pelo regime
turco na pessoa de 44 jornalistas de órgãos de comunicação social curdos
acusados de terem “laços com organização terrorista”. Os acusados começaram por
ser impedidos de se dirigir ao tribunal na sua língua materna.
“No ato de acusação é o jornalismo livre que está em
julgamento, porque não se percebe qualquer outro motivo para estas
perseguições”, declarou Kadri Gursel, editorialista do jornal turco de grande
circulação “Milliyet” e presidente da seção turca do Instituto Internacional de
Imprensa (IPI).
Os 44 jornalistas são, na sua maior parte, trabalhadores de
órgãos de comunicação social em língua curda como é o caso da agência de
imprensa “Dicle” e os jornais “Ozgur Gundem” e “Azadiya Welat”. As autoridades
judiciais turcas, tradicionalmente associadas ao poder militar e seguindo a
orientação do governo islamita, acusam os jornalistas de terem ligações com a
União das Comunidades Curdas, uma organização clandestina que o regime declarou
como ramo urbano do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Doze dos acusados incorrem em penas até 22 anos e meio de
prisão enquanto “dirigentes de uma organização terrorista”. Outros estão
ameaçados de penas até 15 anos de prisão por “pertencerem a uma organização
terrorista”. Entre os réus, 36 estão em prisão preventiva desde a sua detenção,
em dezembro do ano passado, permanecendo longos meses sem culpa formada,
violando os preceitos legais da própria Turquia.
O julgamento está sendo acompanhado por militantes pela
liberdade de imprensa na Turquia e também por deputados que denunciam este
processo como um atentado à liberdade de expressão.
Os presentes salientam ainda o fato de a liberdade de
imprensa estar sendo julgada por um regime que funciona como base estratégica
da intervenção dos Estados Unidos, de países da União Europeia e da Otan na
Síria apoiando grupos “rebeldes” afetos a organizações extremistas islâmicas
que, noutras circunstâncias, têm sido declaradas internacionalmente como
“terroristas”.
A primeira audiência, na segunda-feira, começou com três
horas de atraso porque o juiz fez evacuar a sala várias vezes antes mesmo do
início dos debates. Assistentes presentes na sala fizeram-se ouvir com mensagens
como “não temos medo de pressões” e “não vão conseguir silenciar a imprensa
livre”.
Quando os trabalhos se iniciaram registou-se um novo
incidente porque alguns dos acusados responderam à chamada em curdo,
comportamento que o sistema judicial turco não permite. O curdo é a língua
materna de uma minoria da população da Turquia superior a 15%. Os advogados de
defesa mantêm a sua posição de requerem ao tribunal as respostas dos acusados
em curdo para que possam dispor de todos os recursos para se defenderem
eficazmente.
Numerosos deputados nacionais turcos presentes no tribunal,
em Istambul, denunciaram todos estes fatos como visíveis atentados à liberdade
de expressão num país que é candidato à União Europeia.
domingo, 9 de setembro de 2012
Música de Domingo - In the mood (Glenn Miller)
Clássico da era das big bands composto por Glenn Miller e executado por sua orquestra.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Indignados da Espanha em assembleia permanente para “ocupar” o Congresso
Via Carta Maior
Madri - Dia 1º de setembro, sábado ensolarado e ameno em Madri. Cerca de 100 pessoas se reúnem em um círculo formado em um recanto do Parque do Retiro. Passam um megafone de mão em mão, debatem, anotam. A conversa tem início as 11h e só termina por volta das 20h. No domingo, o evento se repete, no mesmo local e horário.
O mês começou com reuniões diárias dos Indignados da Espanha. As assembleias prosseguirão até o dia 25, quando um coletivo de grupos da sociedade civil fará um grande ato chamado “Ocupa o Congresso”. A ideia é levar milhares para as ruas, rodear o Parlamento de gente em nome de um “resgate” do Legislativo e da cidadania. “Os mercados sequestraram o Congresso e a política foi roubada dos cidadãos”, argumentaram ativistas em um dos encontros no parque.
A expressão “resgate” faz referência indireta ao repasse de 100 bilhões de euros da União Europeia para salvar o sistema bancário espanhol. O recurso chegará à custa de muito sacrifício da população, afetada pelos cortes drásticos no orçamento - 65 bilhões de uma tacada -, que atingem os serviços de saúde e educação, além dos rendimentos de funcionários públicos, aposentados e desempregados (um quarto da população economicamente ativa).
O pacote anunciado pela gestão do Partido Popular de Mariano Rajoy para diminuir o endividamento do país ibérico inclui ainda uma subida da carga tributária. Primeiro foi o imposto de renda, no início do ano, e agora entrou em vigor o aumento do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que abrange quase todos os setores da economia, alterando desde o preço do metrô (que já havia sido reajustado em maio) até produtos de alimentação.
As medidas não estavam previstas no plano de governo do PP. O povo saiu às ruas ao longo de todo o primeiro semestre para protestar. Ninguém parece estar de acordo com o duro ajuste fiscal. O próprio Rajoy admite que é contrário a essas ações impopulares, mas justifica que não há outra saída nesse momento.
Ou seja, as decisões não são mais tomadas em Madri, mas em Bruxelas, onde fica a Comissão Europeia, e em Berlim, capital da Alemanha, principal economia do bloco. Para os Indignados, mais uma prova da falência do atual sistema democrático na Espanha - “Le llaman democracia esto no es!” é uma das palavras de ordem do grupo. Falta força ao governo para defender a soberania nacional e sobra contrariedade na população, que protesta contra suas medidas.
No Congresso, emblema do sistema democrático espanhol, houve poucos debates quando Rajoy anunciou os cortes - a maioria dos parlamentares é governista. Além disso, o local está patrulhado ostensivamente por policiais há quase dois meses. Nos dias mais tensos, furgões, grades e homens armados controlam duas quadras da rua Cedaceros, onde está o prédio em que os deputados federais dão expediente. Tudo para evitar protestos no local.
A norma deve ser desafiada no dia 25 de setembro, o 25-S, como dizem os espanhóis. Antes disso, no dia 15, os principais sindicatos do país pretendem fazer um megaprotesto contra os cortes, propondo um referendo popular para avaliar as medidas do governo. O outono será quente nas ruas de Madri.
Evolução no discurso e resultados concretos
Há um ano e meio, em 15 de maio de 2011, os olhos do mundo estavam voltados para a Puerta del Sol, no centro de Madri, onde um grupo de jovens saiu às ruas para protestar contra o sistema político do país. Conhecidos como Os Indignados, o coletivo pedia “democracia real já” e dizia que os políticos não os representavam. “Que no, que no, que nos representan!”
Apresentando-se como os 99% da população que estavam insatisfeitos com a política que beneficia o 1% que está ao lado do capital financeiro internacional, o 15-M (referência à data 15 de maio) sustentava que a crise financeira não deveria ser paga com sacrifícios do povo, mas sim pelos banqueiros. “Esa crise no la pagamos!”
A mobilização inicial durou três meses, em toda a Espanha, e, segundo pesquisas, cerca de 4 milhões de espanhóis participaram de algum ato do 15-M em todo o país. Contrários a todos os partidos e até mesmo aos sindicatos, o movimento recebeu algumas críticas pelo seu niilismo, que não viria acompanhado de propostas.
Entretanto, os Indignados fomentaram a criação de assembleias de bairros e apoiaram grupos que trabalham, por exemplo, a questão da moradia, uma tema que ganhou mais importância devido ao aumento exponencial de casos de despejo de pessoas que não conseguiram mais pagar sua hipoteca após a crise. E, em um ano, o 15-M catalogou 14.700 propostas para mudar o sistema.
Nessa linha evolutiva, do protesto às propostas, fica claro nas discussões das assembleias preparatórias ao Ocupa o Congresso a preocupação em não apenas criticar o sistema, mas dar um passo adiante, buscar soluções.
“De que adianta derrubar um governo que é ilegítimo se logo entra outro que fará a mesma coisa?Por isso é importante discutir o sistema, queremos mudar o modelo que está aí”, disse um dos ativistas durante a assembleia de sábado no Parque do Retiro. Seus companheiros levantaram os braços e chacoalharam as mãos, sinal utilizado pelos Indignados para dizer que estão de acordo. “Em diversas discussões, percebo que já não se fala mais dos problemas do PP ou do PSOE (principais partidos na Espanha). Muita gente já se deu conta de que é preciso mudar o regime, isso é que se está sendo discutido”, comemorava outro integrante dos Indignados.
O consenso nas reuniões é de que o ato de 25 de setembro não acabe na ação simbólica do dia, deve ser o marco para o início de um processo constituinte participativo e contínuo, uma transição democrática até se chegar a um novo modelo em que o cidadão seja mais ouvido.
A coordenação do 25-S já explicita a proposta em sua página na internet (http://coordinadora25s.wordpress.com), em que fala da “injusta situação atual de perda de direitos em saúde, educação, serviços sociais, emprego e moradia” e propõe o início de um processo que leve a Espanha “a um novo modelo social, baseado na soberania popular participativa”.
O ambiente é propício para isso. Diversos setores da sociedade, inclusive partidos políticos, defendem mudanças constitucionais, fala-se em uma nova lei eleitoral e, nas ruas, a crise e a ineficiência do atual sistema são temas recorrentes nas conversas do cidadãos, seja em paradas de ônibus, bares ou no metrô.
Para completar o quadro, segundo pesquisas divulgadas em agosto, os políticos estão entre as categorias com maior rejeição da opinião pública, rivalizando com os banqueiros na disputa pela última colocação das instituições-setores pior avaliadas pela sociedade espanhola.
Ativistas de Barcelona alertam para guerra midiática
No dia 3 de setembro, ativistas de Barcelona foram a Madri para expor aos organizadores do ato Ocupa o Congresso a experiência que tiveram em uma ação parecida no entorno do Parlamento da Catalunha, realizada em junho de 2011.
Na época, os Indignados catalães queriam evitar a votação de um orçamento para sua província com cortes que já haviam sido definidos pela União Europeia e que não estavam previstos nas plataformas eleitorais de nenhum partido.
Depois de uma vigília noturna em frente ao Legislativo na véspera da votação, os manifestantes passaram o dia seguinte no local, com propostas como a de um orçamento participativo. Milhares de pessoas ficaram lá de forma pacífica. Mas houve atos de hostilidade na chegada de alguns parlamentares e confrontos pontuais com a polícia.
Nos meios de comunicação, a única mensagem exposta foi a de que houve violência em Barcelona. “Por isso é muito importante estar preparado para a guerra midiática. Ainda mais aqui em Madri, onde já há ataques ao movimento antes de ele ocorrer”, observou um ativista de Barcelona, em referência às críticas de representantes do governo de Madri e de jornais como o conservador La Razón ao Ocupa o Congresso.
Um das principais preocupações da organização do 25-S é que não haja enfrentamento com a polícia. É consenso que será uma ato de não violência, mas o desafio é evitar distúrbios numa massa de dezenas de milhares de pessoas e num ambiente que será de tensão, tendo em vista que haverá sessão no Congresso e um grande contingente de policiais será mobilizado.
Também já foi definido que não se pretende evitar a passagem dos parlamentares e muito menos a sessão do dia. Nessas três semanas que antecedem o ato, os ativistas pretendem deixar muito claro nas redes sociais e nos meios de comunicação o caráter pacífico da ação.
O objetivo é garantir que o momento seja de difusão da mensagem de que o sistema político tem problemas e que a sociedade espanhola precisa discutir mudanças, sem perder espaço para ataques ou rótulos que já estão sendo ventilados, como o de “violência de grupos anti-sistema” ou “golpe de estado, num ataque ao Congresso”.
Madri - Dia 1º de setembro, sábado ensolarado e ameno em Madri. Cerca de 100 pessoas se reúnem em um círculo formado em um recanto do Parque do Retiro. Passam um megafone de mão em mão, debatem, anotam. A conversa tem início as 11h e só termina por volta das 20h. No domingo, o evento se repete, no mesmo local e horário.
O mês começou com reuniões diárias dos Indignados da Espanha. As assembleias prosseguirão até o dia 25, quando um coletivo de grupos da sociedade civil fará um grande ato chamado “Ocupa o Congresso”. A ideia é levar milhares para as ruas, rodear o Parlamento de gente em nome de um “resgate” do Legislativo e da cidadania. “Os mercados sequestraram o Congresso e a política foi roubada dos cidadãos”, argumentaram ativistas em um dos encontros no parque.
A expressão “resgate” faz referência indireta ao repasse de 100 bilhões de euros da União Europeia para salvar o sistema bancário espanhol. O recurso chegará à custa de muito sacrifício da população, afetada pelos cortes drásticos no orçamento - 65 bilhões de uma tacada -, que atingem os serviços de saúde e educação, além dos rendimentos de funcionários públicos, aposentados e desempregados (um quarto da população economicamente ativa).
O pacote anunciado pela gestão do Partido Popular de Mariano Rajoy para diminuir o endividamento do país ibérico inclui ainda uma subida da carga tributária. Primeiro foi o imposto de renda, no início do ano, e agora entrou em vigor o aumento do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que abrange quase todos os setores da economia, alterando desde o preço do metrô (que já havia sido reajustado em maio) até produtos de alimentação.
As medidas não estavam previstas no plano de governo do PP. O povo saiu às ruas ao longo de todo o primeiro semestre para protestar. Ninguém parece estar de acordo com o duro ajuste fiscal. O próprio Rajoy admite que é contrário a essas ações impopulares, mas justifica que não há outra saída nesse momento.
Ou seja, as decisões não são mais tomadas em Madri, mas em Bruxelas, onde fica a Comissão Europeia, e em Berlim, capital da Alemanha, principal economia do bloco. Para os Indignados, mais uma prova da falência do atual sistema democrático na Espanha - “Le llaman democracia esto no es!” é uma das palavras de ordem do grupo. Falta força ao governo para defender a soberania nacional e sobra contrariedade na população, que protesta contra suas medidas.
No Congresso, emblema do sistema democrático espanhol, houve poucos debates quando Rajoy anunciou os cortes - a maioria dos parlamentares é governista. Além disso, o local está patrulhado ostensivamente por policiais há quase dois meses. Nos dias mais tensos, furgões, grades e homens armados controlam duas quadras da rua Cedaceros, onde está o prédio em que os deputados federais dão expediente. Tudo para evitar protestos no local.
A norma deve ser desafiada no dia 25 de setembro, o 25-S, como dizem os espanhóis. Antes disso, no dia 15, os principais sindicatos do país pretendem fazer um megaprotesto contra os cortes, propondo um referendo popular para avaliar as medidas do governo. O outono será quente nas ruas de Madri.
Evolução no discurso e resultados concretos
Há um ano e meio, em 15 de maio de 2011, os olhos do mundo estavam voltados para a Puerta del Sol, no centro de Madri, onde um grupo de jovens saiu às ruas para protestar contra o sistema político do país. Conhecidos como Os Indignados, o coletivo pedia “democracia real já” e dizia que os políticos não os representavam. “Que no, que no, que nos representan!”
Apresentando-se como os 99% da população que estavam insatisfeitos com a política que beneficia o 1% que está ao lado do capital financeiro internacional, o 15-M (referência à data 15 de maio) sustentava que a crise financeira não deveria ser paga com sacrifícios do povo, mas sim pelos banqueiros. “Esa crise no la pagamos!”
A mobilização inicial durou três meses, em toda a Espanha, e, segundo pesquisas, cerca de 4 milhões de espanhóis participaram de algum ato do 15-M em todo o país. Contrários a todos os partidos e até mesmo aos sindicatos, o movimento recebeu algumas críticas pelo seu niilismo, que não viria acompanhado de propostas.
Entretanto, os Indignados fomentaram a criação de assembleias de bairros e apoiaram grupos que trabalham, por exemplo, a questão da moradia, uma tema que ganhou mais importância devido ao aumento exponencial de casos de despejo de pessoas que não conseguiram mais pagar sua hipoteca após a crise. E, em um ano, o 15-M catalogou 14.700 propostas para mudar o sistema.
Nessa linha evolutiva, do protesto às propostas, fica claro nas discussões das assembleias preparatórias ao Ocupa o Congresso a preocupação em não apenas criticar o sistema, mas dar um passo adiante, buscar soluções.
“De que adianta derrubar um governo que é ilegítimo se logo entra outro que fará a mesma coisa?Por isso é importante discutir o sistema, queremos mudar o modelo que está aí”, disse um dos ativistas durante a assembleia de sábado no Parque do Retiro. Seus companheiros levantaram os braços e chacoalharam as mãos, sinal utilizado pelos Indignados para dizer que estão de acordo. “Em diversas discussões, percebo que já não se fala mais dos problemas do PP ou do PSOE (principais partidos na Espanha). Muita gente já se deu conta de que é preciso mudar o regime, isso é que se está sendo discutido”, comemorava outro integrante dos Indignados.
O consenso nas reuniões é de que o ato de 25 de setembro não acabe na ação simbólica do dia, deve ser o marco para o início de um processo constituinte participativo e contínuo, uma transição democrática até se chegar a um novo modelo em que o cidadão seja mais ouvido.
A coordenação do 25-S já explicita a proposta em sua página na internet (http://coordinadora25s.wordpress.com), em que fala da “injusta situação atual de perda de direitos em saúde, educação, serviços sociais, emprego e moradia” e propõe o início de um processo que leve a Espanha “a um novo modelo social, baseado na soberania popular participativa”.
O ambiente é propício para isso. Diversos setores da sociedade, inclusive partidos políticos, defendem mudanças constitucionais, fala-se em uma nova lei eleitoral e, nas ruas, a crise e a ineficiência do atual sistema são temas recorrentes nas conversas do cidadãos, seja em paradas de ônibus, bares ou no metrô.
Para completar o quadro, segundo pesquisas divulgadas em agosto, os políticos estão entre as categorias com maior rejeição da opinião pública, rivalizando com os banqueiros na disputa pela última colocação das instituições-setores pior avaliadas pela sociedade espanhola.
Ativistas de Barcelona alertam para guerra midiática
No dia 3 de setembro, ativistas de Barcelona foram a Madri para expor aos organizadores do ato Ocupa o Congresso a experiência que tiveram em uma ação parecida no entorno do Parlamento da Catalunha, realizada em junho de 2011.
Na época, os Indignados catalães queriam evitar a votação de um orçamento para sua província com cortes que já haviam sido definidos pela União Europeia e que não estavam previstos nas plataformas eleitorais de nenhum partido.
Depois de uma vigília noturna em frente ao Legislativo na véspera da votação, os manifestantes passaram o dia seguinte no local, com propostas como a de um orçamento participativo. Milhares de pessoas ficaram lá de forma pacífica. Mas houve atos de hostilidade na chegada de alguns parlamentares e confrontos pontuais com a polícia.
Nos meios de comunicação, a única mensagem exposta foi a de que houve violência em Barcelona. “Por isso é muito importante estar preparado para a guerra midiática. Ainda mais aqui em Madri, onde já há ataques ao movimento antes de ele ocorrer”, observou um ativista de Barcelona, em referência às críticas de representantes do governo de Madri e de jornais como o conservador La Razón ao Ocupa o Congresso.
Um das principais preocupações da organização do 25-S é que não haja enfrentamento com a polícia. É consenso que será uma ato de não violência, mas o desafio é evitar distúrbios numa massa de dezenas de milhares de pessoas e num ambiente que será de tensão, tendo em vista que haverá sessão no Congresso e um grande contingente de policiais será mobilizado.
Também já foi definido que não se pretende evitar a passagem dos parlamentares e muito menos a sessão do dia. Nessas três semanas que antecedem o ato, os ativistas pretendem deixar muito claro nas redes sociais e nos meios de comunicação o caráter pacífico da ação.
O objetivo é garantir que o momento seja de difusão da mensagem de que o sistema político tem problemas e que a sociedade espanhola precisa discutir mudanças, sem perder espaço para ataques ou rótulos que já estão sendo ventilados, como o de “violência de grupos anti-sistema” ou “golpe de estado, num ataque ao Congresso”.
domingo, 2 de setembro de 2012
sábado, 1 de setembro de 2012
O capitalismo americano
Emergência histórica dos EUA enquanto grande potência foi muito menos original e criativa do que pensam alguns historiadores e economistas
Por José Luis Fiori*, para o Outras Palavras
“Years before the Declaration of Independence…
Benjamin Franklin, George Washington and Thomas Jefferson,
as well as a considerable ratio of New England´s most proeminent Congregationalist ministers
already talked of America reaching the Mississippi or even the Pacific
to become the next century great empire”
Benjamin Franklin, George Washington and Thomas Jefferson,
as well as a considerable ratio of New England´s most proeminent Congregationalist ministers
already talked of America reaching the Mississippi or even the Pacific
to become the next century great empire”
Kevin Phillips, “The Cousins´ Wars”
A publicação, em 1894, do livro do economista inglês John A. Hobson (1858-1940) — A Evolução do Capitalismo Moderno — transformou-se numa referência obrigatória para a interpretação do desenvolvimento econômico dos Estados Unidos. Depois de Hobson, vários historiadores e economistas retomaram sua tese sobre a originalidade radical do capitalismo americano, vis a vis o desenvolvimento europeu. Em particular, depois da Guerra de Secessão (1861-1865), com o surgimento das grandes corporações e do capital financeiro, que teriam revolucionado a organização microeconômica e mudado a face do capitalismo mundial. Do nosso ponto de vista, entretanto, estas transformações ajudam a entender o “milagre econômico” americano do início do século XX, mas não explicam as próprias transformações.
Estados Unidos foram o primeiro Estado nacional que nasceu fora da Europa, mas não nasceu fora do sistema geopolítico e econômico europeu. Pode-se dizer inclusive, que a “Guerra da Independência” americana foi, em grande parte, um capítulo da disputa entre a Inglaterra e a França pela supremacia mundial. E sua conquista definitiva ocorreu entre as duas grandes guerras (“Dos 7 Anos” e “Bonapartista”) que definiram a hierarquia de poder internacional e a supremacia inglesa, dentro e fora da Europa, a partir de 1815. Durante este período de guerras, os Estados Unidos sempre se sentiram “cercados” e ameaçados — simultânea ou sucessivamente — pela Inglaterra, França e Espanha, e tiveram que negociar seu reconhecimento e suas fronteiras com o “núcleo duro” das Grandes Potências europeias.
Assim mesmo, os EUA acabaram se transformando no único Estado nacional extra-europeu que nasceu de um império e de uma economia em plena expansão vitoriosa. Mais do que isto, durante a chamada “revolução industrial” que transformou os Estados Unidos – imediatamente — na primeira periferia “primário-exportadora” de sucesso da economia industrial inglesa. Situação econômica privilegiada, que se consolidou e expandiu durante todo o século XIX, antes e depois da Guerra de Secessão, enquanto a Inglaterra abria espaços de expansão comercial para sua ex-colônia e assumia a responsabilidade – em alguns momentos — por cerca de 60% do investimento direto dentro de todo o território norte-americano. Este passou a fazer parte de uma espécie de “zona de co-prosperidade” anglo-saxônica, ou mesmo num caso avant la lettre, de “desenvolvimento a convite” da Inglaterra.
Por outro lado, desde sua independência, os Estados Unidos foram governados por uma elite coesa e com um intense commitment imperial, e mantiveram um ritmo de expansão política e territorial contínua, através da guerra, da diplomacia e do comércio. Antes da Guerra Civil, foram 37 “guerras indígenas”, e mais as guerras do Texas e do México, em 1837 e 1846, responsáveis pela duplicação do território americano. Mais à frente, vieram a Guerra Civil, a Guerra Hispano-Americana, e uma sucessão de intervenções militares no Caribe, num movimento de expansão que se acelerou no século XX, alcançando Europa, Ásia, Oriente Médio e África. De forma que nos cerca de 250 anos de história independente, os EUA iniciaram, em média, uma guerra a cada três anos, exatamente tal como a Inglaterra. Contando com a vantagem de ser “membro por nascimento”, da pequena comunidade dos estados produtores da “ética internacional” que arbitram as “guerras justas” e o “livre comércio”.
A história segue e é extensa, mas já se pode dizer que ela fornece fortes indícios de que:
- o desenvolvimento econômico dos EUA não foi uma exceção, pelo contrário, foi uma parte essencial da expansão e das contradições do sistema inter-estatal e do capitalismo europeu;
- o sucesso do capitalismo americano não foi puramente endógeno, nem foi apenas uma obra das grandes corporações e do capital financeiro que nasceram à sombra da Guerra Civil;
- o “apoio externo” foi decisivo para o sucesso da economia americana, que foi sempre a principal “fronteira de expansão” do capital financeiro inglês;
- a “guerra contínua” teve um papel estratégico no desenho da política industrial e agrícola, e no desenvolvimento científico e tecnológico dos EUA;
- e por fim, a expansão política, territorial e bélica dos EUA deu-se na frente do processo de internacionalização das grandes corporações, do capital financeiro e da moeda norte-americana.
Uma história de desenvolvimento econômico como a das demais potências do sistema mundial, mas muito diferente da interpretação economicista de Hobson e seus discípulos.
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