Por Camila Souza Ramos, na Revista Fórum
Os governos federal e do estado de São Paulo foram convidados a participar do Tribunal Popular, iniciativa organizada por 60 movimentos sociais e entidades da sociedade civil em defesa dos direitos humanos. A convocação foi protocolada na manhã de quarta-feira, 26, no Palácio dos Bandeirantes e na representação da Presidência da República em São Paulo.
O Tribunal não tem relação com o poder Judiciário, mas a intenção é colocar, no banco dos réus, o Estado, tanto no nível federal como estadual. A acusação diz respeito a uma série de atentados aos direitos humanos praticados sob responsabilidade estatalcontra comunidades carentes da cidade e do campo, a população negra e indígena.
As cartas destinadas ao governador José Serra e ao presidente Luís Inácio Lula da Silva foram entregues por uma comitiva de participantes. O documento convida os poderes públicos a indicarem um representante para defender o Estado perante o julgamento do Tribunal, na Sessão de Instrução sobre Execuções Sumárias.
Para Waldemar Rossi, membro da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo, a participação do Estado é fundamental para legitimar o processo. “É bom que eles saibam, que estejam presentes e que possam, legítima e democraticamente, se defender”, afirma. Para garantir o direito de defesa, a comitiva se comprometeu a enviar um dossiê para os governos sobre todos os casos colocados em pauta.
A expectativa dos membros do Tribunal Popular é que o evento ganhe repercussão internacional. Para Rossi, terão de ser feitos grandes esforços de divulgação porque “a mídia vai fazer de tudo para esconder o acontecimento”. Isso porque, na visão dos ativistas, os veículos de comunicação divulgam esses fatos ou com “espalhafato, para criar condições emotivas”, ou para defender os crimes praticados pelos representantes do sistema político. O Tribunal serviria, assim, para ajudar os cidadãos a entender as “causas estruturais do problema”.
No palácio dos Bandeirantes, o grupo garantiu a entrega da carta a uma assessora do secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira Silva. No gabinete regional da Presidência da República, o grupo não conseguiu entregar pessoalmente a carta à assessora especial do gabinete, Rosemary Nóvoa de Noronha, e apenas protocolaram o documento. Eles esperam conseguir um encontro pessoal.
Estavam presentes na comitiva o membro da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo, Waldemar Rossi, Railda Alves da Associação Amparar de familiares de vítimas de violência do Estado, e Carlos Botazzo, do Coletivo Contra Tortura. Junto ao convite foi entregue também a programação do julgamento do Estado, que se estenderá de 4 de dezembro a 6 de dezembro.
Iniciativa
A iniciativa do Tribunal surgiu neste ano no debate entre movimentos brasileiros que lutam pela garantia dos direitos do cidadão frente à violência do Estado contra movimentos sociais, comunidades carentes, populações carcerárias, entre outros. A estratégia foi unir forças para montar um tribunal para julgar o Estado sobre essas ações.
O Tribunal julgará quatro casos de violência estatal: no sistema prisional, no caso do sistema carcerário da Bahia; contra as comunidades urbanas carentes, no caso do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro; contra a população jovem e negra, no caso das execuções sumárias em maio de 2006 em São Paulo; e contra os movimentos sociais, a luta sindical, pela terra e pelo meio ambiente.
Tribunal popular
Faculdade de Direito da USP
Largo São Francisco
Dia 5 de dezembro, às 10h.
Conheça a programação no www.tribunalpopular.org
domingo, 30 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
17 anos sem Freddie Mercury, 40 anos do White Album dos Beatles
Sábado último completou- se exatos 40 anos do lançamento do “White Album” pelos Beatles. E hoje, 24 de novembro de 2008, faz 17 anos que Freddie Mercury tombou vítima de AIDS.
E o mundo mudou bastante entre 1968 e 1991, e continuou mudando muito entre 1991 e os dias atuais. No entanto uma coisa parece ser imutável, o prazer em ouvir o “White Album” ou as canções de Mercury.
Acho desgastante essa celeuma entre fãs do Queen sobre o retorno deles, agora com Paul Rodgers, ex Free e, sobretudo Bad Company, como frontman. Não aceitar que outro músico de peso, ou não, ocupe o posto consagrado por Mercury é puro sectarismo e beira ao fundamentalismo. Freddie Mercury foi sem dúvida alguma um dos melhores vocalistas da história do rock and roll e da musica pop. Um frontman tão grande quanto Robert Plant, Roger Daltrey, Ozzy Osbourne, Jim Morrison, Bon Scott, Bryan Johnson ou Mick Jagger. Entretanto querer impor aos demais integrantes do Queen a aposentadoria por conta de Mercury não estar mais entre nós, ou taxá-los de oportunistas e indagar porque não deram outro nome à nova formação, é não respeitar o trabalho de músicos com tamanha genialidade.
Os músicos remanescentes Brian May/guitarras e Roger Taylor/percussão – em 1997 o baixista John Deacon após a gravação do videoclipe "No One But You", música em homenagem a Freddie Mercury, decidiu deixar a banda e se dedicar a família – estarão no Brasil essa semana, ao lado de Paul Rodgers, para shows em São Paulo, na quarta (26) e quinta (27), na Via Funchal, e no sábado (29) no HSBC Arena, no Rio de Janeiro para a parte sul-americana da turnê "Return of The Champions". Se eu estivesse em São Paulo ou no Rio de Janeiro nesses dias não perderia o espetáculo.
No mais, guardadas as devidas proporções, faço uma pequena analogia. Imaginem aqueles que amam o rock and roll se o AC/DC após a trágica morte de Bon Scott tivesse largado tudo. Talvez não conhecêssemos Bryan Johnson como conhecemos hoje. Ou então se a banda australiana, mergulhada no luto pela falta do antigo companheiro, não lançasse álbum algum no fatídico ano de 1980, estaríamos todos privados do Back in Black.
A conclusão é a seguinta, Freddie era um baita dum frontam, um puta dum músico e compositor, e algumas canções imortalizadas por ele – Bohemian Rhapsody, The Prophet´s Song, Love of My Life, Tie Your Mother, Somebody To Love, We Will Rock You, ufa,e muitas, mas muitas outras mesmo!!! – jamais sairão dos ouvidos de seus fãs. Mas o restante da banda está aí e como artistas criativos que são querem mostrar algo novo.
Já quanto ao White Album, ou The Beatles como também é chamado, até o Vaticano acaba de reconhecer e elogiar o valor dessa obra. De minha parte reconheço o valor e importância histórica para a música do Sargent Pepper´s, considerado quase por unanimidade o melhor álbum de rock de todos os tempos. E provavelmente o é mesmo. No entanto o meu favorito dos Beatles, aqui o que vale á a pura subjetividade interior presente em cada um, é o White Album. Talvez por sua postura descompromissada e eclética.
Os Beatles vinham de sucessivos recordes e triunfos. Haviam invadido os EEUU. Eram sumidades mundiais. Mas o peso do sucesso e os compromissos com gravadora, produtora, shows e o diabo a quatro, os esgotara de tal maneira após terem sido catapultados a fama, que, em pouco tempo, ressentiam-se do peso acarretado por tornarem-se produto da indústria cultural de massas e responsabilidade resultante disso.
Em 1967 após o enorme sucesso de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band resolvem embarcar noutro mega-projeto, esse para a televisão, Maggical Mystery Tour. Um retumbante fracasso tanto de vendas quanto de crítica. O primeiro grande revés sofrido pela banda. Ainda que a trilha sonora trouxesse pérolas, algumas inéditas, outras não, como Blue Jay Way, Strawberry Fields Forever ou All You Need Is Love.
O fim do quarteto já se prenunciava. Os egos estavam cada vez mais difíceis de ser contidos. No entanto entraram em estúdio para cumprirem mais uma parte do contrato assinado anos antes. Para o novo trabalho não estava previsto nenhum mega-projeto e o próprio nome sugerido, simplesmente “The Beatles”, e a capa inteira branca, se contrapunham a Sargent Pepper´s. Mas os fabfour sabiam como ninguém dar vida a genialidade latejante que pulsava em suas veias.
Composto basicamente durante o retiro dos Beatles na Índia, levou quase oito meses de trabalho em estúdio. Pelas palavras de John Lennon, 'Era John e a banda, Paul e a banda, George e a banda... '. A constante presença de Yoko e os primeiros problemas com a Apple fizeram deste um disco tenso, Ringo chegou a abandonar o grupo, mas retornou uma semana depois... obviamente arrependido.
São 30 músicas num disco duplo, uma coletânea de vários estilos musicais como Rock'n'Roll, Blues, Reggae, Soul, Country, Pop e mesmo uma colagem avant-garde. White Album ou The Beatles é também o adeus a fase psicodélica da banda e um prelúdio do que seria a música nos anos 70.
Quem não ouviu não sabe o que está perdendo. Quem já ouviu conhece a grandeza da obra, um álbum tal qual Rubber Soul, Revolver, Sgt Pepper´s ou Abbey Road, ou seja, antológico. Um clássico dos Beatles, o que equivale a dizer um dos melhores discos do rock britânico de todos os tempos, o que por sua vez é o mesmo que afirmar que se trata de um das maiores obras pop que o mundo já ouviu.
01. Back in the U.S.S.R.
02. Dear Prudence
03. Glass Onion
04. Ob-La-Di, Ob-La-Da
05. Wild Honey Pie
06. Continuing Story of Bungalow Bill
07. While My Guitar Gently Weeps
08. Happiness Is a Warm Gun
09. Martha My Dear
10. I'm So Tired
11. Blackbird
12. Piggies
13. Rocky Raccoon
14. Don't Pass Me By
15. Why Don't We Do It in the Road?
16. I Will
17. Julia
18. Birthday
19. Yer Blues
20. Mother Nature's Son
21. Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey
22. Sexy Sadie
23. Helter Skelter
24. Long, Long, Long
25. Revolution 1
26. Honey Pie
27. Savoy Truffle
28. Cry Baby Cry
29. Revolution 9
30. Good Night
E o mundo mudou bastante entre 1968 e 1991, e continuou mudando muito entre 1991 e os dias atuais. No entanto uma coisa parece ser imutável, o prazer em ouvir o “White Album” ou as canções de Mercury.
Acho desgastante essa celeuma entre fãs do Queen sobre o retorno deles, agora com Paul Rodgers, ex Free e, sobretudo Bad Company, como frontman. Não aceitar que outro músico de peso, ou não, ocupe o posto consagrado por Mercury é puro sectarismo e beira ao fundamentalismo. Freddie Mercury foi sem dúvida alguma um dos melhores vocalistas da história do rock and roll e da musica pop. Um frontman tão grande quanto Robert Plant, Roger Daltrey, Ozzy Osbourne, Jim Morrison, Bon Scott, Bryan Johnson ou Mick Jagger. Entretanto querer impor aos demais integrantes do Queen a aposentadoria por conta de Mercury não estar mais entre nós, ou taxá-los de oportunistas e indagar porque não deram outro nome à nova formação, é não respeitar o trabalho de músicos com tamanha genialidade.
Os músicos remanescentes Brian May/guitarras e Roger Taylor/percussão – em 1997 o baixista John Deacon após a gravação do videoclipe "No One But You", música em homenagem a Freddie Mercury, decidiu deixar a banda e se dedicar a família – estarão no Brasil essa semana, ao lado de Paul Rodgers, para shows em São Paulo, na quarta (26) e quinta (27), na Via Funchal, e no sábado (29) no HSBC Arena, no Rio de Janeiro para a parte sul-americana da turnê "Return of The Champions". Se eu estivesse em São Paulo ou no Rio de Janeiro nesses dias não perderia o espetáculo.
No mais, guardadas as devidas proporções, faço uma pequena analogia. Imaginem aqueles que amam o rock and roll se o AC/DC após a trágica morte de Bon Scott tivesse largado tudo. Talvez não conhecêssemos Bryan Johnson como conhecemos hoje. Ou então se a banda australiana, mergulhada no luto pela falta do antigo companheiro, não lançasse álbum algum no fatídico ano de 1980, estaríamos todos privados do Back in Black.
A conclusão é a seguinta, Freddie era um baita dum frontam, um puta dum músico e compositor, e algumas canções imortalizadas por ele – Bohemian Rhapsody, The Prophet´s Song, Love of My Life, Tie Your Mother, Somebody To Love, We Will Rock You, ufa,e muitas, mas muitas outras mesmo!!! – jamais sairão dos ouvidos de seus fãs. Mas o restante da banda está aí e como artistas criativos que são querem mostrar algo novo.
Já quanto ao White Album, ou The Beatles como também é chamado, até o Vaticano acaba de reconhecer e elogiar o valor dessa obra. De minha parte reconheço o valor e importância histórica para a música do Sargent Pepper´s, considerado quase por unanimidade o melhor álbum de rock de todos os tempos. E provavelmente o é mesmo. No entanto o meu favorito dos Beatles, aqui o que vale á a pura subjetividade interior presente em cada um, é o White Album. Talvez por sua postura descompromissada e eclética.
Os Beatles vinham de sucessivos recordes e triunfos. Haviam invadido os EEUU. Eram sumidades mundiais. Mas o peso do sucesso e os compromissos com gravadora, produtora, shows e o diabo a quatro, os esgotara de tal maneira após terem sido catapultados a fama, que, em pouco tempo, ressentiam-se do peso acarretado por tornarem-se produto da indústria cultural de massas e responsabilidade resultante disso.
Em 1967 após o enorme sucesso de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band resolvem embarcar noutro mega-projeto, esse para a televisão, Maggical Mystery Tour. Um retumbante fracasso tanto de vendas quanto de crítica. O primeiro grande revés sofrido pela banda. Ainda que a trilha sonora trouxesse pérolas, algumas inéditas, outras não, como Blue Jay Way, Strawberry Fields Forever ou All You Need Is Love.
O fim do quarteto já se prenunciava. Os egos estavam cada vez mais difíceis de ser contidos. No entanto entraram em estúdio para cumprirem mais uma parte do contrato assinado anos antes. Para o novo trabalho não estava previsto nenhum mega-projeto e o próprio nome sugerido, simplesmente “The Beatles”, e a capa inteira branca, se contrapunham a Sargent Pepper´s. Mas os fabfour sabiam como ninguém dar vida a genialidade latejante que pulsava em suas veias.
Composto basicamente durante o retiro dos Beatles na Índia, levou quase oito meses de trabalho em estúdio. Pelas palavras de John Lennon, 'Era John e a banda, Paul e a banda, George e a banda... '. A constante presença de Yoko e os primeiros problemas com a Apple fizeram deste um disco tenso, Ringo chegou a abandonar o grupo, mas retornou uma semana depois... obviamente arrependido.
São 30 músicas num disco duplo, uma coletânea de vários estilos musicais como Rock'n'Roll, Blues, Reggae, Soul, Country, Pop e mesmo uma colagem avant-garde. White Album ou The Beatles é também o adeus a fase psicodélica da banda e um prelúdio do que seria a música nos anos 70.
Quem não ouviu não sabe o que está perdendo. Quem já ouviu conhece a grandeza da obra, um álbum tal qual Rubber Soul, Revolver, Sgt Pepper´s ou Abbey Road, ou seja, antológico. Um clássico dos Beatles, o que equivale a dizer um dos melhores discos do rock britânico de todos os tempos, o que por sua vez é o mesmo que afirmar que se trata de um das maiores obras pop que o mundo já ouviu.
01. Back in the U.S.S.R.
02. Dear Prudence
03. Glass Onion
04. Ob-La-Di, Ob-La-Da
05. Wild Honey Pie
06. Continuing Story of Bungalow Bill
07. While My Guitar Gently Weeps
08. Happiness Is a Warm Gun
09. Martha My Dear
10. I'm So Tired
11. Blackbird
12. Piggies
13. Rocky Raccoon
14. Don't Pass Me By
15. Why Don't We Do It in the Road?
16. I Will
17. Julia
18. Birthday
19. Yer Blues
20. Mother Nature's Son
21. Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey
22. Sexy Sadie
23. Helter Skelter
24. Long, Long, Long
25. Revolution 1
26. Honey Pie
27. Savoy Truffle
28. Cry Baby Cry
29. Revolution 9
30. Good Night
sábado, 22 de novembro de 2008
Domingo na Venezuela
Algo em torno de 17 milhões de venezuelanos estão convocados para neste domingo, 23 de novembro, eleger 22 governadores, 328 prefeitos, 233 membros de conselhos legislativos, 13 vereadores ao Cabildo Metropolitano de Caracas e sete à Prefeitura Metropolitana de Alto Apure. Trata-se de mais um teste para o processo bolivariano e para o povo da Venezuela na sua empreitada rumo ao “Socialismo do Século XXI”.
Desta vez tanto oposição quanto governo parecem estar mais bem preparados sob o ponto de vista da estrutura partidária, se compararmos as ultimas eleições regionais em 2004. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), formado no ano passado por várias forças políticas que apóiam a revolução bolivariana, vem em bloco. Já doutro lado, os oposicionistas, após inúmeras derrotas acachapantes, agora mostram estar mais organizados e pelo menos por enquanto não têm dado tanta ênfase ao costumeiro discurso golpista.
Não há dúvidas sobre o quão importante é o atual processo eleitoral em curso na Venezuela para o “Socialismo do Século XXI”. Todavia uma provável vitória da oposição em mais de cinco estados não decretará de forma alguma o fim desse projeto. Basta supor que a oposição avance, atualmente conta com quatro dos vinte e três estados, e consiga oito estados, inclusos aí peças importantes como Zulia, já governada pela oposição, e Carabobo como apontam as mais recentes pesquisas – e as pesquisas na Venezuela tendem a errar, errar sempre a favor da oposição – ainda estará muito distante da força de Chávez que conta com uma popularidade de 77% e veria forças aliadas a frente de quinze estados. Além disso, a oposição boicotou boa parte das últimas eleições estaduais e municipais, portanto qualquer aumento que tiver agora apenas denotará que antes estava com uma força minimizada por seus próprios equívocos. Portanto, dificilmente a oposição sairá menor do que entrou nesse processo. Seria catastrófico para os governistas caso a oposição angaria-se a metade ou mais dos estados e da população, algo improvável.
Mas a oposição também está confiante por conta do resultado do último referendo constitucional, em dezembro do ano passado, quando a proposta do governo foi derrotada por menos de 1% dos votos. O erro crucial – de Chávez – naquele momento foi o de colocar temas tão abrangentes numa única consulta. Temas complexos como a criação de conselhos comunais e organizações de base com atribuição de gestão e prevendo uma efetiva participação popular com o surgimento resguardado por lei de células sociais de território formadas pelo conjunto da sociedade. O fim da autonomia do Banco Central. A redução da jornada de trabalho para seis horas diárias. Proibição de latifúndios e monopólios. Além, claro, da insistência de Chávez em acabar com o limite de reeleições para o executivo nacional. Houve assim uma desmobilização, bem orquestrada pelos grupos oposicionistas, que na prática gerou uma enorme abstenção. No entanto agora o PSUV, sobretudo através dos “patrulleros”, conta em reverter esse quadro. Os “patrulleros” têm sobre si a responsabilidade de ir de casa em casa nos bairros e comunidades explicar as propostas de candidatos governistas, mobilizar a população e levar eleitores aos recintos de votação. Uma provável vitória da oposição em certos estados e prefeituras importantes estará bem aquém do que ela própria imaginava há alguns dias e muito além do desejado por Hugo Chávez.
Contudo, por mais paradoxal que pareça, uma pequena derrota de Chávez terá frutos benéficos. Trará ao seu governo a necessidade de se reciclar e encontrar formas e meios de criar novas lideranças, mostrando assim que não se resume a uma pessoa ou entidade. É sempre bom lembrar que Chávez, no poder há exatos dez anos, passa pelo desgaste natural de qualquer governante a tanto tempo a frente de sua nação. No mais as dissidências são algo normal e as rupturas de antigos aliados, que agora postulam cargos eletivos pela oposição, não deixa de ser sinal que na Venezuela de fato, ao contrário do que propagandeia a grande imprensa internacional, se vive uma democracia plena.
Já o processo bolivariano carece dum recrudescimento, mas antes é preciso despersonificá-lo e revitalizá-lo. O melhor paradigma que a Venezuela pode buscar para revitalizar o seu processo revolucionário é justamente em Cuba, onde hoje, às vésperas de se completar o primeiro cinqüentenário da Revolução, há um intenso processo de debate, discussão, autocrítica, reavaliação e reconstrução do seu projeto socialista. Só assim o percurso da “revolução” não será apenas democrático e popular, mas também permanente e constante.
Talvez o momento na Venezuela seja dos mais propícios para essa revisão. Uma revisão sobre os rumos que a revolução bolivariana pode tomar. O momento parece propício graças à conjuntura internacional com os preços das commodities, e no caso venezuelano ainda mais do petróleo, despencando. Chávez terá a oportunidade de colocar em prática novos projetos para a economia local e uma profunda reforma no sistema de trabalho do seu povo. Cerceamento ao latifúndio, reforma agrária e coletivização de algumas terras, extermínio do monopólio, formação de gestões comunitárias e fim da soberania do Banco Central deverão voltar à tona e ser postos em pauta.
A eleição de Barack Obama não deixa de trazer certo alento e joga no ar alguma esperança que a animosidade entre os dois países não seja tão intensa quanto durante o bushismo . Ainda que Obama tenha um discurso sobre política externa, e mais precisamente sobre a America Latina, bastante obscura e, em certas horas, até mesmo dúbia e mesmo com a eventual presença de Hillary no Clinton no State Departmet, o arrefecimento nas relações entre Casa Branca e alguns governos populares no subcontinente sul-americano parece ser o caminho lógico, ao menos de início – ainda que a Quarta Frota continue a nos “vigiar”.
Ademais Chávez continua a contar com amplo apoio entre os trabalhadores e os estratos mais pobres da população. Para quem está acostumado a governar nas adversidades. A enfrentar uma oposição reacionária e cega, que já promoveu um lockout, que cuida cotidianamente duma campanha interna e externa de satanização e chacota do presidente da República, que já se absteve do processo eleitoral para depois acusar o governo de fraude. Uma oposição financiada pela CIA e pelas grandes corporações do capital. Para quem já passou incólume por um golpe de estado, por um recall e ainda conseguiu se reeleger, os desafios que pairam no horizonte (crise econômica, oposição fortalecida, ambigüidade do governo estadunidense, construção duma alternativa real ao neoliberalismo, revitalização do processo bolivariano ...), são pesados, mas não insuperáveis.
Desta vez tanto oposição quanto governo parecem estar mais bem preparados sob o ponto de vista da estrutura partidária, se compararmos as ultimas eleições regionais em 2004. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), formado no ano passado por várias forças políticas que apóiam a revolução bolivariana, vem em bloco. Já doutro lado, os oposicionistas, após inúmeras derrotas acachapantes, agora mostram estar mais organizados e pelo menos por enquanto não têm dado tanta ênfase ao costumeiro discurso golpista.
Não há dúvidas sobre o quão importante é o atual processo eleitoral em curso na Venezuela para o “Socialismo do Século XXI”. Todavia uma provável vitória da oposição em mais de cinco estados não decretará de forma alguma o fim desse projeto. Basta supor que a oposição avance, atualmente conta com quatro dos vinte e três estados, e consiga oito estados, inclusos aí peças importantes como Zulia, já governada pela oposição, e Carabobo como apontam as mais recentes pesquisas – e as pesquisas na Venezuela tendem a errar, errar sempre a favor da oposição – ainda estará muito distante da força de Chávez que conta com uma popularidade de 77% e veria forças aliadas a frente de quinze estados. Além disso, a oposição boicotou boa parte das últimas eleições estaduais e municipais, portanto qualquer aumento que tiver agora apenas denotará que antes estava com uma força minimizada por seus próprios equívocos. Portanto, dificilmente a oposição sairá menor do que entrou nesse processo. Seria catastrófico para os governistas caso a oposição angaria-se a metade ou mais dos estados e da população, algo improvável.
Mas a oposição também está confiante por conta do resultado do último referendo constitucional, em dezembro do ano passado, quando a proposta do governo foi derrotada por menos de 1% dos votos. O erro crucial – de Chávez – naquele momento foi o de colocar temas tão abrangentes numa única consulta. Temas complexos como a criação de conselhos comunais e organizações de base com atribuição de gestão e prevendo uma efetiva participação popular com o surgimento resguardado por lei de células sociais de território formadas pelo conjunto da sociedade. O fim da autonomia do Banco Central. A redução da jornada de trabalho para seis horas diárias. Proibição de latifúndios e monopólios. Além, claro, da insistência de Chávez em acabar com o limite de reeleições para o executivo nacional. Houve assim uma desmobilização, bem orquestrada pelos grupos oposicionistas, que na prática gerou uma enorme abstenção. No entanto agora o PSUV, sobretudo através dos “patrulleros”, conta em reverter esse quadro. Os “patrulleros” têm sobre si a responsabilidade de ir de casa em casa nos bairros e comunidades explicar as propostas de candidatos governistas, mobilizar a população e levar eleitores aos recintos de votação. Uma provável vitória da oposição em certos estados e prefeituras importantes estará bem aquém do que ela própria imaginava há alguns dias e muito além do desejado por Hugo Chávez.
Contudo, por mais paradoxal que pareça, uma pequena derrota de Chávez terá frutos benéficos. Trará ao seu governo a necessidade de se reciclar e encontrar formas e meios de criar novas lideranças, mostrando assim que não se resume a uma pessoa ou entidade. É sempre bom lembrar que Chávez, no poder há exatos dez anos, passa pelo desgaste natural de qualquer governante a tanto tempo a frente de sua nação. No mais as dissidências são algo normal e as rupturas de antigos aliados, que agora postulam cargos eletivos pela oposição, não deixa de ser sinal que na Venezuela de fato, ao contrário do que propagandeia a grande imprensa internacional, se vive uma democracia plena.
Já o processo bolivariano carece dum recrudescimento, mas antes é preciso despersonificá-lo e revitalizá-lo. O melhor paradigma que a Venezuela pode buscar para revitalizar o seu processo revolucionário é justamente em Cuba, onde hoje, às vésperas de se completar o primeiro cinqüentenário da Revolução, há um intenso processo de debate, discussão, autocrítica, reavaliação e reconstrução do seu projeto socialista. Só assim o percurso da “revolução” não será apenas democrático e popular, mas também permanente e constante.
Talvez o momento na Venezuela seja dos mais propícios para essa revisão. Uma revisão sobre os rumos que a revolução bolivariana pode tomar. O momento parece propício graças à conjuntura internacional com os preços das commodities, e no caso venezuelano ainda mais do petróleo, despencando. Chávez terá a oportunidade de colocar em prática novos projetos para a economia local e uma profunda reforma no sistema de trabalho do seu povo. Cerceamento ao latifúndio, reforma agrária e coletivização de algumas terras, extermínio do monopólio, formação de gestões comunitárias e fim da soberania do Banco Central deverão voltar à tona e ser postos em pauta.
A eleição de Barack Obama não deixa de trazer certo alento e joga no ar alguma esperança que a animosidade entre os dois países não seja tão intensa quanto durante o bushismo . Ainda que Obama tenha um discurso sobre política externa, e mais precisamente sobre a America Latina, bastante obscura e, em certas horas, até mesmo dúbia e mesmo com a eventual presença de Hillary no Clinton no State Departmet, o arrefecimento nas relações entre Casa Branca e alguns governos populares no subcontinente sul-americano parece ser o caminho lógico, ao menos de início – ainda que a Quarta Frota continue a nos “vigiar”.
Ademais Chávez continua a contar com amplo apoio entre os trabalhadores e os estratos mais pobres da população. Para quem está acostumado a governar nas adversidades. A enfrentar uma oposição reacionária e cega, que já promoveu um lockout, que cuida cotidianamente duma campanha interna e externa de satanização e chacota do presidente da República, que já se absteve do processo eleitoral para depois acusar o governo de fraude. Uma oposição financiada pela CIA e pelas grandes corporações do capital. Para quem já passou incólume por um golpe de estado, por um recall e ainda conseguiu se reeleger, os desafios que pairam no horizonte (crise econômica, oposição fortalecida, ambigüidade do governo estadunidense, construção duma alternativa real ao neoliberalismo, revitalização do processo bolivariano ...), são pesados, mas não insuperáveis.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Quinze minutos de fama no lugar de Keith Moon
Por Bento Araújo, no Whiplash! Rock e Heavy Metal
O “banquinho” da bateria do The Who é um dos lugares mais cobiçados do Rock. Depois da morte de Keith Moon em 1978, o Who teve vários bateristas que tentaram em vão ao menos fazer algo parecido com que Moon fazia. Kenny Jones tinha tocado no Small Faces (depois Faces) e era da turma de Pete Townshend. Tudo parecia “em casa”, mas Jones era um bocado “duro” para realizar as maluquices percussivas de Moon. Depois inventaram de chamar o experiente Simon Phillips, ótimo baterista, técnico e preciso, mas nada a ver com o Who. Phillips é ótimo tocando temas mais complexos, no Rock mais básico o cara se atrapalha (basta conferir sua performance tocando "Stairway To Heaven" ao lado de Jimmy Page no Arms Cooncert, aquele show para arrecadar fundos para o tratamento de Ronnie Lane).
Depois veio Zak Starkey, filho de Ringo Starr, que se não é perfeito, ao menos é o que mais se assemelha ao estilo original de Moon. O que pouca gente sabe é que o Who teve um outro baterista além de todos esses, um sujeito chamado Thomas Scot Halpin.
Uma tour que prometia
O The Who estava na América para dar início a tour do disco "Quadrophenia", seu mais audacioso projeto, que até hoje divide a opinião dos fãs no quesito ópera-rock definitiva (uns dizem que "Tommy" é a melhor ópera do Who, mas eu fico com "Quadrophenia" e não abro). Os quatro lados do vinil contavam uma excitante história de um rapaz louco para achar sua identidade, tudo bem no centro do movimento Mod inglês da metade dos anos 60. A data marcada para a estréia da tour era dia 20 de novembro de 1973, e o local o Cow Palace em São Francisco. Meses antes da apresentação, a expectativa tanto do público como da crítica era enorme. Todos queriam conferir como que o Who se sairia tocando aquelas audaciosas passagens do "Quadrophenia". Três semanas antes da estréia, os 13.500 lugares do Cow Palace foram vendidos em quatro horas.
Show inusitado
Naquela noite que entraria para a história, o Lynyrd Skynyrd fez o show de abertura. Não precisa nem lembrar que esses então garotos do Sul arrasaram. Estavam promovendo seu primeiro álbum ("Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd"), que acabara de ser lançado. Abrir para uma banda do porte do The Who era algo que precisava ser honrado e eles não deixaram por menos.
Com a casa lotada e repleta de uma moçada alegre, barulhenta e doidona (estamos em Frisco man’) o The Who já entrou detonando três clássicos de seu já vasto e imponente repertório: "I Can’t Explain", "Summertime Blues" e "My Generation". Passadas as três primeiras músicas, havia chegado a hora mais esperada do concerto, a execução das músicas do badalado "Quadrophenia". Seria um arraso conferir tudo aquilo ao vivo!
Depois da introdução de "I Am The Sea", o baixista John Entwistle chamava a bola da vez para si e mandava "The Real Me" (uma das mais impressionantes linhas de baixo do Rock!). A agressividade da canção já deixava todo mundo maluco. O Who ousava como sempre e ia apresentando seu denso e emocionante novo material na forma de "The Punk And The Godfather", "I'm One", "Helpless Dancer", "5.15" e "Sea And Sand".
Tudo ia perfeitamente bem até que na metade de "Drowned", Keith Moon começou a trazer o andamento para trás (como os músicos costumam chamar quando o andamento da música vai retardando). Moon estava com a aparência péssima, sendo que a “ainda” a metade do show se aproximava e parecia que ele tinha corrido uma maratona completa. O batera cantou "Bell Boy" com muito esforço, trazendo todas suas forças para gritar aquele famoso “get the fucking baggage out!”. Logo após ainda vieram "Doctor Jimmy" e "Love Reign O'er Me", todas do álbum "Quadrophenia".
Depois de apenas alguns minutos com o palco escuro, começa a rolar a introdução de "Won't Get Fooled Again", mas algo estava completamente errado: Keith Moon não havia executado suas partes de bateria, ele simplesmente não entrou na música. Pete Townshend, Roger Daltrey e John Entwistle viraram imediatamente para trás e viram Moon completamente inconsciente, desmaiado sobre as peças da bateria! Os roadies vieram e rapidamente levaram Moon para o backstage, colocando-o debaixo de uma ducha gelada, tentando a todo custo reanimar o baterista. A banda terminou a música sem baterista, logo se retirando do palco. Ninguém na platéia tinha a mínima idéia do que estava acontecendo. Moon parecia que tinha apagado mesmo e o primeiro integrante da banda pego de surpresa pelo desespero foi Pete Townshend, que voltou ao palco e abriu o jogo com a galera, dizendo que Moon estava mal, mas que eles estavam fazendo de tudo para trazê-lo de volta ao tablado. O guitarrista ainda ironizou: “O pior de tudo é que sem ele nós não somos um grupo!”.
Depois de meia hora de interrupção, Moon estava pelo menos com os olhos abertos (graças a uma poderosa injeção de cortisona) e o Who resolve voltar ao palco do Cow Palace, como sempre, ovacionados pelos presentes. Moon foi aparecendo timidamente no canto esquerdo do palco quando Pete o agarrou (nitidamente dando-lhe um belo tranco) e o trouxe bem para o meio do palco, dando a impressão que tudo estaria bem. Começaram até a trocar uns tapas, como sempre faziam nos shows, e Pete ergueu o punho de Moon como se este fosse o vencedor de alguma luta. Apesar das brincadeiras, estava na cara que Moon não estava nada bem.
Pete arrastou Moon até seu kit e a tensão começava a tomar conta do imenso Cow Palace. O baterista ficou lá sentado com cara de apavorado e Pete começou a afinar sua guitarra, tudo isso com a platéia fazendo aquele habitual barulho infernal. Daltrey, Townshend e Entwistle se olhavam entre si e encaravam Moon. “Magic Bus” seria a próxima música. Moon até que levou bem o início da canção, batendo seus bastões de madeira entre si, como sempre fazia em "Magic Bus". Na hora dele entrar com a bateria em si, aconteceu o que já era esperado; Moon despencou sobre o chimbau e ficou apoiado entre as caixas e os tons, completamente inconsciente. Os roadies carregaram o baterista para o backstage enquanto que os outros três membros do Who passaram a improvisar, tentando ao menos entreter a platéia. Towshend puxou um riff e Daltrey o acompanhou com a voz. Sem pausa já emendaram uma versão de "See Me Feel Me". Foram sem bateria até o final da canção, com Daltrey fazendo a marcação em um pandeiro.
Um membro da equipe avisou a banda que Moon estava totalmente sem condições, inclusive já a caminho do hospital. Townshend relembrou o episódio anos mais tarde, no documentário "Thirty Years of Maximum R&B": “Num certo ponto daquele show, Keith estava tocando muito mal. Ele caiu pra trás e ficou desacordado por uns instantes. A equipe o levou para os camarins e deram-lhe uma injeção, que o fez recuperar-se um pouco. Ele voltou, tocou mais meia música e desabou novamente...”.
Pete, sem sequer consultar Daltrey e Entwistle, foi falando no microfone: “Alguém aqui sabe tocar bateria?” Até aí todo mundo estava pensando que o guitarrista estava só brincando, mas de repente, ele solta com um tom de voz bem sério: “Eu preciso de um bom baterista!”.
Você deve estar se perguntando: “Que ousadia querer substituir Keith Moon!” Faltavam somente três músicas para o fim do show e confesso que também não sei o que se passou na cabeça de Pete Towshend, que na edição de janeiro de 1974 da revista Rolling Stone explicou melhor: “Quando Keith desmaiou naquela noite, o nosso show tinha se transformado numa imensa humilhação. Eu queria manter o show rolando, tudo que eu menos desejava era encerrar tudo naquela situação constrangedora e ver todo mundo ir pra casa resmungando depois de ter esperado oito horas na fila!” Ainda bem que eles resolveram continuar, pois é justamente nesse momento que entra na história o nosso herói dessa matéria...
Um caso para se contar aos bisnetos
Sabe aquele show histórico que você assistiu na sua juventude? Aquele que provavelmente você irá contar para as próximas gerações, atazanando o coitado do seu filho, neto e quem sabe, até bisneto?
Essa sua história sobre tal show não é nada, perto da história que um tal de Thomas Scot Halpin tem para contar para seus primogênitos. Halpin, com 19 anos de idade na época, era um simples fã da banda inglesa. O garoto de Muscatine, Iowa, assistiu aquele show do Cow Palace junto com um amigo também de Muscatine, Mike Danese. Ambos precisaram recorrer aos cambistas para conseguir um ingresso, já que o espetáculo estava completamente “sold out” três semanas antes.
Halpin e Danese gastaram uma bela grana mas conseguiram duas cadeiras laterais bem próximas ao palco, de onde curtiram bastante os praticamente 70 minutos de show com Keith Moon na bateria. Com o colapso do baterista e com um desesperado Townshend perguntando por um substituto, um mar de braços se ergueu no Cow Palace e rapidamente havia se formado uma fila de bateristas na entrada do palco.
Halpin estava a mais de um ano sem tocar o instrumento, fato esse ignorado pelo seu amigo Mike Danese, que sentiu a possibilidade de Halpin subir naquele palco e tocar com ninguém menos que o The Who. Danese passou a gritar e pular tão insanamente que acabou chamando a atenção do lendário empresário Bill Graham (padrinho e mentor das mais importantes casas de shows da América: os Fillmores, o Winterland Ballroom, e outras).
Graham chegou para a dupla e perguntou a Halpin se ele estaria confiante para sentar na bateria de Keith Moon, encarar aquelas 13.500 pessoas e tocar as três músicas que ainda faltavam ser executadas pela banda. Danese sem deixar Halpin abrir a boca, garantiu para Graham que seu amigo era o melhor baterista da platéia e que não se arrependeria da escolha. Em cerca de dois minutos, Halpin já entrava no palco e estava cumprimentando Townshend. Os roadies o levaram até a bateria e lhe mostraram todas as peças, dando-lhe um par de baquetas.
No final da década de noventa, Halpin chegou até a ser entrevistado por um jornal de São Francisco e relatou: “Eu caminhei para a bateria do meu maior ídolo no mundo da música e sentei no banco dele, que ainda estava quente... Pete falou no meu ouvido: 'Você tem que me seguir, olhe sempre pra mim e me acompanhe que tudo dará certo'...”
O jovem substituto de Moon, ficou no palco por cerca de 15 minutos e tocou com o Who: “Smokestack Lightning”, “Spoonful” e “Naked Eye” encerrando o fatídico concerto. “Eu toquei aquelas três músicas com eles e a platéia, ao contrário do que eu pensava, não arremessou nada no palco e nem me vaiou”, relembra Halpin. A revista Rolling Stone ainda elegeu Halpin, só de gozação, um dos músicos-revelação daquele ano de 1973. O figura ainda declarou para a revista: “Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo para pensar no que estava acontecendo! Não deu tempo nem de ficar nervoso!”.
Em “Smokestack Lightning” e “Spoonful”, o jovem baterista deu conta do recado, sem chegar a comprometer o resultado final. Agora botar o coitado para tocar “Naked Eye” foi loucura! O cara se perdeu completamente nas viradas alucinantes que só Moon sabia executar. Pete ainda tentou ensiná-lo dando alguns toques, o que não adiantou nada, pois “Naked Eye” foi um verdadeiro desastre. Estava acabado naquele instante o mais bizarro show da carreira do Who.
Festa no Backstage
O show já havia se encerrado, mas o sonho que Thomas Scot Halpin estava vivendo acordado estava longe de acabar. A convite de Roger Daltrey, Halpin e seu amigo Mike Danese foram gentilmente convidados para uma “festinha particular” com a banda e equipe no Backstage. Daltrey, que naquela altura bebia Jack Daniel’s direto no gargalo da garrafa, se mostrava muito gratificado com a participação de Halpin naquela ocasião. Ofertou uma jaqueta da Quadrophenia Tour para o jovem baterista e ainda lhe garantiu que mandaria entregar um cheque de U$ 1000 ao rapaz, como retribuição a “canja” daquela noite.
Halpin e Danese foram um dos últimos a sair do local. Ficaram impressionados com o tamanho da mesa de comida servida para a banda e equipe. Encheram a barriga e ainda levaram comida pra casa. Meses depois, Halpin recebeu uma carta escrita a mão por Pete Townshend, onde o músico agradecia aquela participação no Cow Palace. Mas nada do cheque prometido.
Graças a aqueles quinze minutos de fama, o cara ainda descolou uma audição para o cargo de baterista do Journey, mas é óbvio que não ficou com o cargo que foi assumido pelo “monstro” Aynsley Dunbar.
Depois daquela fatídica abertura de tour, o Who continuou na estrada promovendo o magnífico "Quadrophenia". O grupo partiu direto para Los Angeles, onde fariam algumas apresentações. Keith Moon chegou de cadeira de rodas e passou a maior parte do tempo dormindo no hotel. Dois dias depois o baterista estava recuperado e quebrou tudo (como sempre) nos shows do L.A. Fórum.
Em 1976, o The Who voltou para São Francisco e foi fazer um show no Winterland. Halpin foi lá conferir seus ídolos novamente e encarou uma espera de quatro horas em frente a entrada das limosines da banda para tentar conseguir um ingresso. Sem sucesso e esbanjando frustração, o cara conseguiu achar Bill Graham, que o reconheceu e fez questão de levá-lo para finalmente conhecer seu ídolo Keith Moon.
Hoje, aos 50 anos de idade, Thomas Scot Halpin é um pintor não tão bem sucedido. Largou a música e fica todo assanhado quando o assunto é aquele show de 1973. Confessou que adoraria rever o vídeo do show, gravado de forma amadora em 2 câmeras P&B e propriedade exclusiva dos arquivos de Bill Graham (morto num acidente aéreo em 1991). Mas pode ter certeza que o que Halpin mais adoraria ver, é o cheque de U$1.000 prometido por Roger Daltrey, que até agora não chegou e nem adianta mais chegar, já que Halpin faleceu recentemente, aos 54 anos de idade, de causa ainda não esclarecida.
Set List apresentado pelo Who no show do Cow Palace:
I Can't Explain
Summertime Blues
My Generation
I Am The Sea
The Real Me
The Punk And The Godfather
I'm One
Helpless Dancer
5.15
Sea And Sand
Drowned
Bell Boy
Doctor Jimmy
Love Reign O'er Me
Won't Get Fooled Again
Magic Bus
See Me Feel Me
Smokestack Lightning
Spoonful
Naked Eye
O “banquinho” da bateria do The Who é um dos lugares mais cobiçados do Rock. Depois da morte de Keith Moon em 1978, o Who teve vários bateristas que tentaram em vão ao menos fazer algo parecido com que Moon fazia. Kenny Jones tinha tocado no Small Faces (depois Faces) e era da turma de Pete Townshend. Tudo parecia “em casa”, mas Jones era um bocado “duro” para realizar as maluquices percussivas de Moon. Depois inventaram de chamar o experiente Simon Phillips, ótimo baterista, técnico e preciso, mas nada a ver com o Who. Phillips é ótimo tocando temas mais complexos, no Rock mais básico o cara se atrapalha (basta conferir sua performance tocando "Stairway To Heaven" ao lado de Jimmy Page no Arms Cooncert, aquele show para arrecadar fundos para o tratamento de Ronnie Lane).
Depois veio Zak Starkey, filho de Ringo Starr, que se não é perfeito, ao menos é o que mais se assemelha ao estilo original de Moon. O que pouca gente sabe é que o Who teve um outro baterista além de todos esses, um sujeito chamado Thomas Scot Halpin.
Uma tour que prometia
O The Who estava na América para dar início a tour do disco "Quadrophenia", seu mais audacioso projeto, que até hoje divide a opinião dos fãs no quesito ópera-rock definitiva (uns dizem que "Tommy" é a melhor ópera do Who, mas eu fico com "Quadrophenia" e não abro). Os quatro lados do vinil contavam uma excitante história de um rapaz louco para achar sua identidade, tudo bem no centro do movimento Mod inglês da metade dos anos 60. A data marcada para a estréia da tour era dia 20 de novembro de 1973, e o local o Cow Palace em São Francisco. Meses antes da apresentação, a expectativa tanto do público como da crítica era enorme. Todos queriam conferir como que o Who se sairia tocando aquelas audaciosas passagens do "Quadrophenia". Três semanas antes da estréia, os 13.500 lugares do Cow Palace foram vendidos em quatro horas.
Show inusitado
Naquela noite que entraria para a história, o Lynyrd Skynyrd fez o show de abertura. Não precisa nem lembrar que esses então garotos do Sul arrasaram. Estavam promovendo seu primeiro álbum ("Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd"), que acabara de ser lançado. Abrir para uma banda do porte do The Who era algo que precisava ser honrado e eles não deixaram por menos.
Com a casa lotada e repleta de uma moçada alegre, barulhenta e doidona (estamos em Frisco man’) o The Who já entrou detonando três clássicos de seu já vasto e imponente repertório: "I Can’t Explain", "Summertime Blues" e "My Generation". Passadas as três primeiras músicas, havia chegado a hora mais esperada do concerto, a execução das músicas do badalado "Quadrophenia". Seria um arraso conferir tudo aquilo ao vivo!
Depois da introdução de "I Am The Sea", o baixista John Entwistle chamava a bola da vez para si e mandava "The Real Me" (uma das mais impressionantes linhas de baixo do Rock!). A agressividade da canção já deixava todo mundo maluco. O Who ousava como sempre e ia apresentando seu denso e emocionante novo material na forma de "The Punk And The Godfather", "I'm One", "Helpless Dancer", "5.15" e "Sea And Sand".
Tudo ia perfeitamente bem até que na metade de "Drowned", Keith Moon começou a trazer o andamento para trás (como os músicos costumam chamar quando o andamento da música vai retardando). Moon estava com a aparência péssima, sendo que a “ainda” a metade do show se aproximava e parecia que ele tinha corrido uma maratona completa. O batera cantou "Bell Boy" com muito esforço, trazendo todas suas forças para gritar aquele famoso “get the fucking baggage out!”. Logo após ainda vieram "Doctor Jimmy" e "Love Reign O'er Me", todas do álbum "Quadrophenia".
Depois de apenas alguns minutos com o palco escuro, começa a rolar a introdução de "Won't Get Fooled Again", mas algo estava completamente errado: Keith Moon não havia executado suas partes de bateria, ele simplesmente não entrou na música. Pete Townshend, Roger Daltrey e John Entwistle viraram imediatamente para trás e viram Moon completamente inconsciente, desmaiado sobre as peças da bateria! Os roadies vieram e rapidamente levaram Moon para o backstage, colocando-o debaixo de uma ducha gelada, tentando a todo custo reanimar o baterista. A banda terminou a música sem baterista, logo se retirando do palco. Ninguém na platéia tinha a mínima idéia do que estava acontecendo. Moon parecia que tinha apagado mesmo e o primeiro integrante da banda pego de surpresa pelo desespero foi Pete Townshend, que voltou ao palco e abriu o jogo com a galera, dizendo que Moon estava mal, mas que eles estavam fazendo de tudo para trazê-lo de volta ao tablado. O guitarrista ainda ironizou: “O pior de tudo é que sem ele nós não somos um grupo!”.
Depois de meia hora de interrupção, Moon estava pelo menos com os olhos abertos (graças a uma poderosa injeção de cortisona) e o Who resolve voltar ao palco do Cow Palace, como sempre, ovacionados pelos presentes. Moon foi aparecendo timidamente no canto esquerdo do palco quando Pete o agarrou (nitidamente dando-lhe um belo tranco) e o trouxe bem para o meio do palco, dando a impressão que tudo estaria bem. Começaram até a trocar uns tapas, como sempre faziam nos shows, e Pete ergueu o punho de Moon como se este fosse o vencedor de alguma luta. Apesar das brincadeiras, estava na cara que Moon não estava nada bem.
Pete arrastou Moon até seu kit e a tensão começava a tomar conta do imenso Cow Palace. O baterista ficou lá sentado com cara de apavorado e Pete começou a afinar sua guitarra, tudo isso com a platéia fazendo aquele habitual barulho infernal. Daltrey, Townshend e Entwistle se olhavam entre si e encaravam Moon. “Magic Bus” seria a próxima música. Moon até que levou bem o início da canção, batendo seus bastões de madeira entre si, como sempre fazia em "Magic Bus". Na hora dele entrar com a bateria em si, aconteceu o que já era esperado; Moon despencou sobre o chimbau e ficou apoiado entre as caixas e os tons, completamente inconsciente. Os roadies carregaram o baterista para o backstage enquanto que os outros três membros do Who passaram a improvisar, tentando ao menos entreter a platéia. Towshend puxou um riff e Daltrey o acompanhou com a voz. Sem pausa já emendaram uma versão de "See Me Feel Me". Foram sem bateria até o final da canção, com Daltrey fazendo a marcação em um pandeiro.
Um membro da equipe avisou a banda que Moon estava totalmente sem condições, inclusive já a caminho do hospital. Townshend relembrou o episódio anos mais tarde, no documentário "Thirty Years of Maximum R&B": “Num certo ponto daquele show, Keith estava tocando muito mal. Ele caiu pra trás e ficou desacordado por uns instantes. A equipe o levou para os camarins e deram-lhe uma injeção, que o fez recuperar-se um pouco. Ele voltou, tocou mais meia música e desabou novamente...”.
Pete, sem sequer consultar Daltrey e Entwistle, foi falando no microfone: “Alguém aqui sabe tocar bateria?” Até aí todo mundo estava pensando que o guitarrista estava só brincando, mas de repente, ele solta com um tom de voz bem sério: “Eu preciso de um bom baterista!”.
Você deve estar se perguntando: “Que ousadia querer substituir Keith Moon!” Faltavam somente três músicas para o fim do show e confesso que também não sei o que se passou na cabeça de Pete Towshend, que na edição de janeiro de 1974 da revista Rolling Stone explicou melhor: “Quando Keith desmaiou naquela noite, o nosso show tinha se transformado numa imensa humilhação. Eu queria manter o show rolando, tudo que eu menos desejava era encerrar tudo naquela situação constrangedora e ver todo mundo ir pra casa resmungando depois de ter esperado oito horas na fila!” Ainda bem que eles resolveram continuar, pois é justamente nesse momento que entra na história o nosso herói dessa matéria...
Um caso para se contar aos bisnetos
Sabe aquele show histórico que você assistiu na sua juventude? Aquele que provavelmente você irá contar para as próximas gerações, atazanando o coitado do seu filho, neto e quem sabe, até bisneto?
Essa sua história sobre tal show não é nada, perto da história que um tal de Thomas Scot Halpin tem para contar para seus primogênitos. Halpin, com 19 anos de idade na época, era um simples fã da banda inglesa. O garoto de Muscatine, Iowa, assistiu aquele show do Cow Palace junto com um amigo também de Muscatine, Mike Danese. Ambos precisaram recorrer aos cambistas para conseguir um ingresso, já que o espetáculo estava completamente “sold out” três semanas antes.
Halpin e Danese gastaram uma bela grana mas conseguiram duas cadeiras laterais bem próximas ao palco, de onde curtiram bastante os praticamente 70 minutos de show com Keith Moon na bateria. Com o colapso do baterista e com um desesperado Townshend perguntando por um substituto, um mar de braços se ergueu no Cow Palace e rapidamente havia se formado uma fila de bateristas na entrada do palco.
Halpin estava a mais de um ano sem tocar o instrumento, fato esse ignorado pelo seu amigo Mike Danese, que sentiu a possibilidade de Halpin subir naquele palco e tocar com ninguém menos que o The Who. Danese passou a gritar e pular tão insanamente que acabou chamando a atenção do lendário empresário Bill Graham (padrinho e mentor das mais importantes casas de shows da América: os Fillmores, o Winterland Ballroom, e outras).
Graham chegou para a dupla e perguntou a Halpin se ele estaria confiante para sentar na bateria de Keith Moon, encarar aquelas 13.500 pessoas e tocar as três músicas que ainda faltavam ser executadas pela banda. Danese sem deixar Halpin abrir a boca, garantiu para Graham que seu amigo era o melhor baterista da platéia e que não se arrependeria da escolha. Em cerca de dois minutos, Halpin já entrava no palco e estava cumprimentando Townshend. Os roadies o levaram até a bateria e lhe mostraram todas as peças, dando-lhe um par de baquetas.
No final da década de noventa, Halpin chegou até a ser entrevistado por um jornal de São Francisco e relatou: “Eu caminhei para a bateria do meu maior ídolo no mundo da música e sentei no banco dele, que ainda estava quente... Pete falou no meu ouvido: 'Você tem que me seguir, olhe sempre pra mim e me acompanhe que tudo dará certo'...”
O jovem substituto de Moon, ficou no palco por cerca de 15 minutos e tocou com o Who: “Smokestack Lightning”, “Spoonful” e “Naked Eye” encerrando o fatídico concerto. “Eu toquei aquelas três músicas com eles e a platéia, ao contrário do que eu pensava, não arremessou nada no palco e nem me vaiou”, relembra Halpin. A revista Rolling Stone ainda elegeu Halpin, só de gozação, um dos músicos-revelação daquele ano de 1973. O figura ainda declarou para a revista: “Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo para pensar no que estava acontecendo! Não deu tempo nem de ficar nervoso!”.
Em “Smokestack Lightning” e “Spoonful”, o jovem baterista deu conta do recado, sem chegar a comprometer o resultado final. Agora botar o coitado para tocar “Naked Eye” foi loucura! O cara se perdeu completamente nas viradas alucinantes que só Moon sabia executar. Pete ainda tentou ensiná-lo dando alguns toques, o que não adiantou nada, pois “Naked Eye” foi um verdadeiro desastre. Estava acabado naquele instante o mais bizarro show da carreira do Who.
Festa no Backstage
O show já havia se encerrado, mas o sonho que Thomas Scot Halpin estava vivendo acordado estava longe de acabar. A convite de Roger Daltrey, Halpin e seu amigo Mike Danese foram gentilmente convidados para uma “festinha particular” com a banda e equipe no Backstage. Daltrey, que naquela altura bebia Jack Daniel’s direto no gargalo da garrafa, se mostrava muito gratificado com a participação de Halpin naquela ocasião. Ofertou uma jaqueta da Quadrophenia Tour para o jovem baterista e ainda lhe garantiu que mandaria entregar um cheque de U$ 1000 ao rapaz, como retribuição a “canja” daquela noite.
Halpin e Danese foram um dos últimos a sair do local. Ficaram impressionados com o tamanho da mesa de comida servida para a banda e equipe. Encheram a barriga e ainda levaram comida pra casa. Meses depois, Halpin recebeu uma carta escrita a mão por Pete Townshend, onde o músico agradecia aquela participação no Cow Palace. Mas nada do cheque prometido.
Graças a aqueles quinze minutos de fama, o cara ainda descolou uma audição para o cargo de baterista do Journey, mas é óbvio que não ficou com o cargo que foi assumido pelo “monstro” Aynsley Dunbar.
Depois daquela fatídica abertura de tour, o Who continuou na estrada promovendo o magnífico "Quadrophenia". O grupo partiu direto para Los Angeles, onde fariam algumas apresentações. Keith Moon chegou de cadeira de rodas e passou a maior parte do tempo dormindo no hotel. Dois dias depois o baterista estava recuperado e quebrou tudo (como sempre) nos shows do L.A. Fórum.
Em 1976, o The Who voltou para São Francisco e foi fazer um show no Winterland. Halpin foi lá conferir seus ídolos novamente e encarou uma espera de quatro horas em frente a entrada das limosines da banda para tentar conseguir um ingresso. Sem sucesso e esbanjando frustração, o cara conseguiu achar Bill Graham, que o reconheceu e fez questão de levá-lo para finalmente conhecer seu ídolo Keith Moon.
Hoje, aos 50 anos de idade, Thomas Scot Halpin é um pintor não tão bem sucedido. Largou a música e fica todo assanhado quando o assunto é aquele show de 1973. Confessou que adoraria rever o vídeo do show, gravado de forma amadora em 2 câmeras P&B e propriedade exclusiva dos arquivos de Bill Graham (morto num acidente aéreo em 1991). Mas pode ter certeza que o que Halpin mais adoraria ver, é o cheque de U$1.000 prometido por Roger Daltrey, que até agora não chegou e nem adianta mais chegar, já que Halpin faleceu recentemente, aos 54 anos de idade, de causa ainda não esclarecida.
Set List apresentado pelo Who no show do Cow Palace:
I Can't Explain
Summertime Blues
My Generation
I Am The Sea
The Real Me
The Punk And The Godfather
I'm One
Helpless Dancer
5.15
Sea And Sand
Drowned
Bell Boy
Doctor Jimmy
Love Reign O'er Me
Won't Get Fooled Again
Magic Bus
See Me Feel Me
Smokestack Lightning
Spoonful
Naked Eye
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Meia-entrada: discussão inconstitucional
Por Renan Bastos Nunes
Está se discutindo no Congresso Nacional o direito de meia-entrada dos estudantes. Uma discussão inconstitucional, por sinal.
Inicialmente, é de se reconhecer a intenção lucrativa de todos os empresários. Mas, questiono essa intenção lucrativa, o que farei no final.
A questão sendo bem discutida no meio eletrônico e blogueiro. No final do texto, há vários links com a discussão.
O início da discussão foi a apresentação do projeto de lei, pelos senadores Flávio Arns (PT-PR) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que regula em nível federal a meia-entrada. Hoje, as leis que regulam a meia-entrada são estaduais e municipais.
O resumo da discussão se dá basicamente em torno da lucratividade. O empresário que quer lucrar, já prevendo a meia-entrada, dobra os preços. Por exemplo, um show de Marisa Monte, que sairia R$50,00 para todo mundo, e com lucro, se não existisse meia-entrada. Como existe a meia-entrada, se o preço de R$50,00 a inteira fosse mantido, haveria prejuízo. Como o empresário QUER lucro, ele dobra os preços, ou seja, a meia passa para R$50,00, e a inteira passa para R$100,00. O empresariado diz que, mesmo com esse preço, ainda há um grande número de meia-entrada.
Pois bem... e o que a lei original queria fazer? Queria: 1) limitar a emissão de carteiras de estudantes a uma fonte única, definida pelo Ministério da Educação [ironia ligada] (claro que não seria a UNE) [ironia desligada]; e, 2) estipular uma cota de até 30% para a meia-entrada. Quando souberam da lei, UNE, produtores culturais e exibidores voaram para Brasília para começarem as negociações.
Chegou-se a um consenso: substituiu-se a cota de 30% por uma alternância nos dias em que se pode usar a carteira: shows e teatro concederiam o benefício de domingo a quarta; e o cinema, de segunda a sexta, menos feriados. Da forma como foi assinado, a UNE não concordou, e colocou um adendo embaixo do nome do representante que assinou o acordo, afirmando que o projeto também deveria contemplar os finais de semana. Adendo esse que não foi respeitado. A Senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), relatora do projeto de lei, quer pô-lo em votação próxima semana. Mas, ainda existe o impasse.
Aqui começa a opinião, sem entrar ainda na questão jurídica. Lançaram, recentemente, o mês do cinema brasileiro, com filmes brasileiros a R$4,00, de segunda a quinta (ou sexta, não estou bem lembrado). Ora, quem tem o costume de sair nos dias de semana? Ninguém, né?! É a mesma situação: se houver limitação do uso da carteira estudantil aos dias de semana, haverá somente uma parcela ínfima da população que utilizará efetivamente. E é isso que o empresariado quer, e é exatamente isso o que o movimento estudantil não quer.
Botando um pé na questão jurídica... a meia-entrada para estudantes é uma das poucas coisas que a Constituição não fala (ou se fala, não achei). Mas fala sobre a Cultura, assim: "Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais." Nos dispositivos seguintes, especifica mais ainda. Ainda no artigo 215, fala-se em democratização do acesso aos bens de cultura. Ora, essa limitação do uso da carteira estudantil vai de encontro ao disposto no artigo 215, seja pela própria limitação do uso da carteira estudantil, seja pela via indireta da falta de estímulo à produção, valorização e difusão das manifestações culturais nacionais por parte do empresariado (vide o cinema, que é formado em 80% de filmes estrangeiros).
Aliás, os empresários ainda argumentam que se os estudantes trabalhassem, não precisava de meia-entrada. Ora, milhões de estatísticas já disseram e ainda dizem que o empresariado não oferece emprego para os jovens por falta de experiência destes. É muita hiprocrisia!
Por fim, com os dois pés na questão jurídica... Não há qualquer referência a meia-entrada na Constituição nem em qualquer lei federal atualmente. Somente em leis estaduais e municipais há a disciplina da meia-entrada. Mas, de acordo com a Constituição, se uma lei federal posterior vier regular matéria já regulada em lei estadual, ficará suspensa a matéria contida nesta que for contrária à matéria contida naquela.
A minha interpretação é de que há direito adquirido dos estudantes em razão da regulamentação contida na lei estadual. Mas, com certeza, se bater no Supremo, os Ministros alegarão que não há direito adquirido em lei estadual em razão de lei federal, em obediência ao princípio do pacto federativo.
Somente espero que os estudantes continem lutando pelo o que realmente é direito deles. A meia-entrada só existe no Brasil, um país que, ao contrário do que dizem, reconhece o valor da Educação e de seus Estudantes.
Notícias e discussões sobre o tema:
http://acertodecontas.blog.br/artigos/meio-salrio/
http://oglobo.globo.com/blogs/jamari/post.asp?cod_post=10094
http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2008/11/seu-ladr%C3%A3ozinho-barato.html
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2008/11/06/congresso_mercado_estudantes_discutem_primeira_lei_federal_sobre_meia-entrada-586284927.asp
Renan Bastos Nunes é estudante de Direito em Recife, PE.
Está se discutindo no Congresso Nacional o direito de meia-entrada dos estudantes. Uma discussão inconstitucional, por sinal.
Inicialmente, é de se reconhecer a intenção lucrativa de todos os empresários. Mas, questiono essa intenção lucrativa, o que farei no final.
A questão sendo bem discutida no meio eletrônico e blogueiro. No final do texto, há vários links com a discussão.
O início da discussão foi a apresentação do projeto de lei, pelos senadores Flávio Arns (PT-PR) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que regula em nível federal a meia-entrada. Hoje, as leis que regulam a meia-entrada são estaduais e municipais.
O resumo da discussão se dá basicamente em torno da lucratividade. O empresário que quer lucrar, já prevendo a meia-entrada, dobra os preços. Por exemplo, um show de Marisa Monte, que sairia R$50,00 para todo mundo, e com lucro, se não existisse meia-entrada. Como existe a meia-entrada, se o preço de R$50,00 a inteira fosse mantido, haveria prejuízo. Como o empresário QUER lucro, ele dobra os preços, ou seja, a meia passa para R$50,00, e a inteira passa para R$100,00. O empresariado diz que, mesmo com esse preço, ainda há um grande número de meia-entrada.
Pois bem... e o que a lei original queria fazer? Queria: 1) limitar a emissão de carteiras de estudantes a uma fonte única, definida pelo Ministério da Educação [ironia ligada] (claro que não seria a UNE) [ironia desligada]; e, 2) estipular uma cota de até 30% para a meia-entrada. Quando souberam da lei, UNE, produtores culturais e exibidores voaram para Brasília para começarem as negociações.
Chegou-se a um consenso: substituiu-se a cota de 30% por uma alternância nos dias em que se pode usar a carteira: shows e teatro concederiam o benefício de domingo a quarta; e o cinema, de segunda a sexta, menos feriados. Da forma como foi assinado, a UNE não concordou, e colocou um adendo embaixo do nome do representante que assinou o acordo, afirmando que o projeto também deveria contemplar os finais de semana. Adendo esse que não foi respeitado. A Senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), relatora do projeto de lei, quer pô-lo em votação próxima semana. Mas, ainda existe o impasse.
Aqui começa a opinião, sem entrar ainda na questão jurídica. Lançaram, recentemente, o mês do cinema brasileiro, com filmes brasileiros a R$4,00, de segunda a quinta (ou sexta, não estou bem lembrado). Ora, quem tem o costume de sair nos dias de semana? Ninguém, né?! É a mesma situação: se houver limitação do uso da carteira estudantil aos dias de semana, haverá somente uma parcela ínfima da população que utilizará efetivamente. E é isso que o empresariado quer, e é exatamente isso o que o movimento estudantil não quer.
Botando um pé na questão jurídica... a meia-entrada para estudantes é uma das poucas coisas que a Constituição não fala (ou se fala, não achei). Mas fala sobre a Cultura, assim: "Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais." Nos dispositivos seguintes, especifica mais ainda. Ainda no artigo 215, fala-se em democratização do acesso aos bens de cultura. Ora, essa limitação do uso da carteira estudantil vai de encontro ao disposto no artigo 215, seja pela própria limitação do uso da carteira estudantil, seja pela via indireta da falta de estímulo à produção, valorização e difusão das manifestações culturais nacionais por parte do empresariado (vide o cinema, que é formado em 80% de filmes estrangeiros).
Aliás, os empresários ainda argumentam que se os estudantes trabalhassem, não precisava de meia-entrada. Ora, milhões de estatísticas já disseram e ainda dizem que o empresariado não oferece emprego para os jovens por falta de experiência destes. É muita hiprocrisia!
Por fim, com os dois pés na questão jurídica... Não há qualquer referência a meia-entrada na Constituição nem em qualquer lei federal atualmente. Somente em leis estaduais e municipais há a disciplina da meia-entrada. Mas, de acordo com a Constituição, se uma lei federal posterior vier regular matéria já regulada em lei estadual, ficará suspensa a matéria contida nesta que for contrária à matéria contida naquela.
A minha interpretação é de que há direito adquirido dos estudantes em razão da regulamentação contida na lei estadual. Mas, com certeza, se bater no Supremo, os Ministros alegarão que não há direito adquirido em lei estadual em razão de lei federal, em obediência ao princípio do pacto federativo.
Somente espero que os estudantes continem lutando pelo o que realmente é direito deles. A meia-entrada só existe no Brasil, um país que, ao contrário do que dizem, reconhece o valor da Educação e de seus Estudantes.
Notícias e discussões sobre o tema:
http://acertodecontas.blog.br/artigos/meio-salrio/
http://oglobo.globo.com/blogs/jamari/post.asp?cod_post=10094
http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2008/11/seu-ladr%C3%A3ozinho-barato.html
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2008/11/06/congresso_mercado_estudantes_discutem_primeira_lei_federal_sobre_meia-entrada-586284927.asp
Renan Bastos Nunes é estudante de Direito em Recife, PE.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Generosidade às montadoras
Por Paulinho Passarinho, no Correio da Cidadania
No último final de semana, o chamado G-20 financeiro (que não deve ser confundido com o G-20 das rodadas de negociação da OMC) realizou reunião em São Paulo, com a participação de ministros de Estado e presidentes de bancos centrais dos países que compõem esse fórum. Foi uma reunião preparatória do encontro a ser realizado no dia 15 de novembro, em Washington, que reunirá os presidentes e chefes de governo deste grupo de países, composto pelas nações mais ricas do mundo – o G-7 –, acrescido pelos países considerados em desenvolvimento, dentre os quais se inclui o Brasil.
O tema em discussão é a crise financeira e econômica global, que cada vez mais se manifesta não apenas nos circuitos financeiros, atingindo também de forma grave a economia produtiva, com reais perspectivas de redução do ritmo de atividade econômica, concordatas e falências de empresas e desemprego em massa. O FMI já prevê que em 2009 iremos experimentar a primeira recessão global desde o fim da segunda guerra mundial.
Além de generalidades que me parecem inócuas, como o clamor por reformas urgentes no FMI, no Banco Mundial e nas bases do sistema financeiro mundial – que são defendidas pela maior parte dos países, mas que não sensibilizam aos Estados Unidos, o principal beneficiário do status quo –, a principal sinalização desse encontro foi a sugestão apontada para os países reduzirem as suas taxas de juros e aumentarem os seus gastos públicos.
O ministro da Fazenda do Brasil, que inclusive presidia o encontro, logo esclareceu que "por enquanto (aqui no nosso país) nada muda em relação à questão fiscal. Mas, se necessário, se houver motivo, nós podemos usar mais o fiscal, fazendo mais investimentos no setor público". Por sua vez, o verdadeiro ministro da economia, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, destacou posteriormente que essa conclusão sobre o encontro era equivocada. Respaldado por uma reunião promovida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), um dia após o enceramento da reunião do G-20, Meireles lembrou a importância de "políticas monetárias saudáveis" – um eufemismo para as políticas de arrocho – e voltou a acenar com o fantasma da inflação, citando que nas economias que enfrentam depreciação de suas moedas, como é o caso do Brasil, as pressões inflacionárias podem ser mais persistentes. O presidente do Banco Central, assim, vocalizou o que já havia sido divulgado pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, quando a taxa básica de juros foi mantida em estratosféricos 13,75% ao ano, no mesmo dia em que o banco central americano reduzia a sua taxa de 1,5% para 1% ao ano.
O que constatamos é que, apesar da reconhecida sorte do presidente Lula, parece que agora ele está menosprezando os caprichos da história que, na prática, estão lhe concedendo uma nova oportunidade. A partir do compromisso assumido por Lula em 2002, com a Carta aos Brasileiros, ele, o PT e os demais partidos de esquerda - que até então sustentavam as principais bandeiras de luta contra a ditadura dos bancos e transnacionais sobre a condução da economia no país - mudaram totalmente de posição e passaram a defender o que antes combatiam.
Lula procurou construir, desse modo, um tipo de governabilidade que aliou a manutenção dos privilégios dos setores dominantes com políticas de redistribuição de rendas para os mais pobres, para aqueles que ganham até três salários-mínimos. A exuberante conjuntura internacional garantiu o sucesso da sua opção, especialmente em termos eleitorais.
O custo desta opção foi por demais caro ao país. Congelamos as promessas de uma reforma agrária; elevamos o agronegócio como o principal modelo de ocupação do campo brasileiro; mantivemos o processo de desnacionalização do parque produtivo do país; demos seqüência aos leilões de petróleo; acomodamos os interesses privados, e caríssimos, no setor elétrico; não somente não realizamos uma revisão das criminosas privatizações de FHC, como demos continuidade às mesmas, inclusive em áreas vitais de serviços públicos, como é o caso das estradas de rodagem. Acima de tudo, não aproveitamos a conjuntura política que na América Latina se abriu, com a emergência de países em francos processos de transformação social, impulsionados pelas derrotas dos projetos neoliberais até então em curso.
Agora, a crise internacional daria a Lula a oportunidade de um reencontro com suas antigas posições. O país encontra-se vulnerável aos especuladores e empresas estrangeiras. As remessas de lucros nesse ano, até o mês de setembro, atingiram a cifra de US$ 27,5 bilhões, representando um acréscimo de 84% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar da propalada "blindagem" de mais de US$ 200 bilhões das reservas externas, sabe-se que em decorrência do elevado passivo externo de curto-prazo esse montante de recursos será insuficiente para segurar a fuga de capitais, já em curso. O generoso cheque especial do FED norte-americano, de US$ 30 bilhões, apenas sinaliza que é chegada a hora de se encerrar a temporada de jogatinas arriscadas, mas rentáveis até agora. Os dados referentes aos resultados das transações correntes do país mostram que o país volta a depender de recursos especulativos, ou mais desnacionalizações, para continuarmos a respirar.
A rigor, os compromissos de Lula, a partir da Carta aos Brasileiros, parecem irreversíveis. O presidente, depois de procurar garantir liquidez ao sistema financeiro e ao agronegócio, no momento mais agudo da crise se volta a seu berço operário, procurando garantir crédito às montadoras de automóveis. Depois de ter concedido uma linha de crédito especial de R$ 4 bilhões para o setor, através do Banco do Brasil, agora assiste ao governador de São Paulo "cooperar com o governo federal" – as palavras foram de José Serra – e, com a presença de Guido Mantega, vê-lo anunciar a liberação de nova linha de crédito para o setor, no valor também de R$ 4 bilhões, com recursos da Nossa Caixa.
Trata-se de uma generosidade do governador de São Paulo que possivelmente acabará sob responsabilidade do governo federal, pois se encontram em andamento as negociações para a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. Não restam dúvidas que uma crise de desemprego neste setor agravaria a dimensão social dos problemas que certamente enfrentaremos. Entretanto, a preocupação maior do governo parece ser a manutenção de condições para as montadoras continuarem a enviar recursos às suas matrizes, como forma de compensação dos prejuízos que essas empresas sofrem em seus países de origem.
Não é possível desconhecer que este setor automobilístico é o que mais envia remessas de lucros para o exterior, seguido pelos setores metalúrgico e financeiro. Somente de janeiro a setembro deste ano, foram remetidos para as matrizes das filiais aqui instaladas US$ 4,8 bilhões, representando um aumento de 180% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para uma ajuda desta natureza, o mínimo que deveria ser exigido é que essas remessas de lucros para o exterior viessem a ser interrompidas. Para falar o mínimo, pois a própria natureza predominante da produção das montadoras, carros de passeio, é hoje um fator de grave desequilíbrio das condições de vida de nossas grandes cidades, inundadas por veículos particulares, em meio à crise estrutural dos transportes públicos.
Com medidas desse tipo, mantemos a vulnerabilidade de nossa economia e ampliamos a possibilidade de erosão de nossas reservas internacionais, variável que deveria ser protegida ao máximo, como fator essencial para a adoção de mudanças macroeconômicas que nos coloque em um outro rumo.
Paulo Passarinho é economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro.
No último final de semana, o chamado G-20 financeiro (que não deve ser confundido com o G-20 das rodadas de negociação da OMC) realizou reunião em São Paulo, com a participação de ministros de Estado e presidentes de bancos centrais dos países que compõem esse fórum. Foi uma reunião preparatória do encontro a ser realizado no dia 15 de novembro, em Washington, que reunirá os presidentes e chefes de governo deste grupo de países, composto pelas nações mais ricas do mundo – o G-7 –, acrescido pelos países considerados em desenvolvimento, dentre os quais se inclui o Brasil.
O tema em discussão é a crise financeira e econômica global, que cada vez mais se manifesta não apenas nos circuitos financeiros, atingindo também de forma grave a economia produtiva, com reais perspectivas de redução do ritmo de atividade econômica, concordatas e falências de empresas e desemprego em massa. O FMI já prevê que em 2009 iremos experimentar a primeira recessão global desde o fim da segunda guerra mundial.
Além de generalidades que me parecem inócuas, como o clamor por reformas urgentes no FMI, no Banco Mundial e nas bases do sistema financeiro mundial – que são defendidas pela maior parte dos países, mas que não sensibilizam aos Estados Unidos, o principal beneficiário do status quo –, a principal sinalização desse encontro foi a sugestão apontada para os países reduzirem as suas taxas de juros e aumentarem os seus gastos públicos.
O ministro da Fazenda do Brasil, que inclusive presidia o encontro, logo esclareceu que "por enquanto (aqui no nosso país) nada muda em relação à questão fiscal. Mas, se necessário, se houver motivo, nós podemos usar mais o fiscal, fazendo mais investimentos no setor público". Por sua vez, o verdadeiro ministro da economia, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, destacou posteriormente que essa conclusão sobre o encontro era equivocada. Respaldado por uma reunião promovida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), um dia após o enceramento da reunião do G-20, Meireles lembrou a importância de "políticas monetárias saudáveis" – um eufemismo para as políticas de arrocho – e voltou a acenar com o fantasma da inflação, citando que nas economias que enfrentam depreciação de suas moedas, como é o caso do Brasil, as pressões inflacionárias podem ser mais persistentes. O presidente do Banco Central, assim, vocalizou o que já havia sido divulgado pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, quando a taxa básica de juros foi mantida em estratosféricos 13,75% ao ano, no mesmo dia em que o banco central americano reduzia a sua taxa de 1,5% para 1% ao ano.
O que constatamos é que, apesar da reconhecida sorte do presidente Lula, parece que agora ele está menosprezando os caprichos da história que, na prática, estão lhe concedendo uma nova oportunidade. A partir do compromisso assumido por Lula em 2002, com a Carta aos Brasileiros, ele, o PT e os demais partidos de esquerda - que até então sustentavam as principais bandeiras de luta contra a ditadura dos bancos e transnacionais sobre a condução da economia no país - mudaram totalmente de posição e passaram a defender o que antes combatiam.
Lula procurou construir, desse modo, um tipo de governabilidade que aliou a manutenção dos privilégios dos setores dominantes com políticas de redistribuição de rendas para os mais pobres, para aqueles que ganham até três salários-mínimos. A exuberante conjuntura internacional garantiu o sucesso da sua opção, especialmente em termos eleitorais.
O custo desta opção foi por demais caro ao país. Congelamos as promessas de uma reforma agrária; elevamos o agronegócio como o principal modelo de ocupação do campo brasileiro; mantivemos o processo de desnacionalização do parque produtivo do país; demos seqüência aos leilões de petróleo; acomodamos os interesses privados, e caríssimos, no setor elétrico; não somente não realizamos uma revisão das criminosas privatizações de FHC, como demos continuidade às mesmas, inclusive em áreas vitais de serviços públicos, como é o caso das estradas de rodagem. Acima de tudo, não aproveitamos a conjuntura política que na América Latina se abriu, com a emergência de países em francos processos de transformação social, impulsionados pelas derrotas dos projetos neoliberais até então em curso.
Agora, a crise internacional daria a Lula a oportunidade de um reencontro com suas antigas posições. O país encontra-se vulnerável aos especuladores e empresas estrangeiras. As remessas de lucros nesse ano, até o mês de setembro, atingiram a cifra de US$ 27,5 bilhões, representando um acréscimo de 84% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar da propalada "blindagem" de mais de US$ 200 bilhões das reservas externas, sabe-se que em decorrência do elevado passivo externo de curto-prazo esse montante de recursos será insuficiente para segurar a fuga de capitais, já em curso. O generoso cheque especial do FED norte-americano, de US$ 30 bilhões, apenas sinaliza que é chegada a hora de se encerrar a temporada de jogatinas arriscadas, mas rentáveis até agora. Os dados referentes aos resultados das transações correntes do país mostram que o país volta a depender de recursos especulativos, ou mais desnacionalizações, para continuarmos a respirar.
A rigor, os compromissos de Lula, a partir da Carta aos Brasileiros, parecem irreversíveis. O presidente, depois de procurar garantir liquidez ao sistema financeiro e ao agronegócio, no momento mais agudo da crise se volta a seu berço operário, procurando garantir crédito às montadoras de automóveis. Depois de ter concedido uma linha de crédito especial de R$ 4 bilhões para o setor, através do Banco do Brasil, agora assiste ao governador de São Paulo "cooperar com o governo federal" – as palavras foram de José Serra – e, com a presença de Guido Mantega, vê-lo anunciar a liberação de nova linha de crédito para o setor, no valor também de R$ 4 bilhões, com recursos da Nossa Caixa.
Trata-se de uma generosidade do governador de São Paulo que possivelmente acabará sob responsabilidade do governo federal, pois se encontram em andamento as negociações para a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. Não restam dúvidas que uma crise de desemprego neste setor agravaria a dimensão social dos problemas que certamente enfrentaremos. Entretanto, a preocupação maior do governo parece ser a manutenção de condições para as montadoras continuarem a enviar recursos às suas matrizes, como forma de compensação dos prejuízos que essas empresas sofrem em seus países de origem.
Não é possível desconhecer que este setor automobilístico é o que mais envia remessas de lucros para o exterior, seguido pelos setores metalúrgico e financeiro. Somente de janeiro a setembro deste ano, foram remetidos para as matrizes das filiais aqui instaladas US$ 4,8 bilhões, representando um aumento de 180% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para uma ajuda desta natureza, o mínimo que deveria ser exigido é que essas remessas de lucros para o exterior viessem a ser interrompidas. Para falar o mínimo, pois a própria natureza predominante da produção das montadoras, carros de passeio, é hoje um fator de grave desequilíbrio das condições de vida de nossas grandes cidades, inundadas por veículos particulares, em meio à crise estrutural dos transportes públicos.
Com medidas desse tipo, mantemos a vulnerabilidade de nossa economia e ampliamos a possibilidade de erosão de nossas reservas internacionais, variável que deveria ser protegida ao máximo, como fator essencial para a adoção de mudanças macroeconômicas que nos coloque em um outro rumo.
Paulo Passarinho é economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Debate na blogsfera
Um debate foi fortemente suscitado na blogsfera nos últimos dias. Um blog de esquerda deve atacar o governo Lula quando acha que esse está se entregando de corpo e alma as inclinações nada democráticas do PIG e dos setores mais reacionários de nossa sociedade? Ou deve simplesmente ser democrático, mostrar o contraditório do sistema, ir além da grande mídia, e mesmo assim por dor no coração e puro sentimentalismo, defender com unhas e dentes todas as atitudes tomadas por esse governo? Um governo de um partido, a princípio, forjado nas lutas populares e nos movimentos sociais, mas que governa com o apoio da direitona.
Quem se alinha com a segunda opção, não raro repete a frase proferida no Chiledos idos iniciais dos anos 70 “... Es un gobierno de mierda, pero es nuestro gobierno...” Classifico isso como fuga da realidade. Sartre dizia que a realidade humana se realiza sob a forma “emoção”. Sendo assim a emoção é uma desordem psicofisiológica. Nesse momento, alguns grupos vivem sua desordem psicofisiológica e teimam em negar a realidade.
Ataco sim o governo Lula e o PT quando acho necessário. Não sou e nem estou obrigado a concordar com tudo o que ele faz ou deixa de fazer. Mesmo assim tenho convicção que esse governo já fez mais pelo Brasil que muitos outros juntos. Cito como exemplo a política de ganho real do salário mínimo – o melhor caminho para atacar a péssima distribuição de renda, como provou o professor Márcio Pochman –, a política de valorização dos funcionários públicos – vale ressaltar que muitas categorias do funcionalismo passaram os oito sombrios anos de FFHH sem receber um centavo de reajuste –, a implantação dum programa de renda mínima – é disso que se trata o Bolsa Família –, a política externa mais independente em relação aos EEUU – não quer dizer que no plano do comércio internacional não estejamos ainda tão desalinhados dos interesse imperialistas, mas conseguimos alguns avanços. Outro ponto no qual o governo Lula tem avançado é na reparação às vítimas da Ditadura Militar, mesmo não sendo na velocidade e da forma como eu gostaria. Friso também a postura correta, e de estadista, tida por Lula para com a Bolívia, tanto quando do golpe popular contra Sánchez de Lozada, como quando da nacionalização das refinarias da Petrobras por Evo Morales – a direitona tupiniquim queria a invasão do país vizinho.
Quando da não prorrogação da CPMF, um dos poucos impostos que incidiam diretamente sobre o consumo e renda, portanto quem ganhava e consumia mais, pagava mais, apoiei o governo, e com as armas que a internet me dispõe lutei contra a oposição farisaica. Existem vários outros pontos de convergências, mas esses são os mais significativos.
Digo mais, votei em Lula nos dois turnos de 2002 e nos outros dois de 2006. Na verdade repeti o ato que já vinha fazendo desde 1994, a primeira vez que votei pra presidente. Num eventual segundo turno em 2010 entre um candidato petista e outro pela sacrossanta aliança PSDB/DEM/PPS, minha tendência é votar no petista. Ainda prefiro isto a anular meu voto.
No entanto a diferença substancial entre a oposição farisaica composta por demos-tucanos-liqüidacionistas e a oposição de esquerda – o PSOL pode se incluir aí, mesmo que em determinados momentos tenha tropeçado nos próprios pés – está no fato de a segunda, na impossibilidade conjuntural duma revolução, lutar pela reforma do Estado, enquanto os fariseus da direita lutam pela manutenção do status quo.
Nunca escrevi uma linha sobre a corrupção no governo Lula, e não que ela não exista, mas porque existem outros temas de relevância para serem discutidos e, na medida em que vierem à tona, a própria corrupção aparecerá como efeito do sistema. Trata-se de discutir a causa e não o efeito. Isso é impensável num governo tucano, demo ou noutro qualquer tipicamente de direita, por esse governo fazer parte intrínseca do próprio sistema. Nesses governos somos obrigados a combater primeiramente o efeito, uma vez que a causa jamais será atacada por ele. Portanto era de se esperar dum governo com base social, ataque aos problemas estruturais na sua raiz, e nunca a omissão diante de temas complexos.
Os críticos daqueles espaços de esquerda na internet que têm sistematicamente atacado o governo nos últimos dias, muito por conta do desenrolar da Operação Satiagraha, chegam a dizer que estamos fazendo o trabalho para a direita. Esquecem-se que é o próprio Palácio do Planalto quem faz o melhor trabalho para a direita. Ou quem nomeou Carlos Alberto Direito para o Supremo Tribunal Federal e Nelson Jobim para o ministério da Defesa? O Ministro Direito tem claras ligações com segmentos reacionários da sociedade e uma doutrina religiosa arcaica. Quanto a Jobim, não passa dum tucano num pseudo-governo petista. Outra figura querida na Esplanada dos Ministérios é o presidente do Banco Central. Esse foi eleito deputado federal em 2002 por Goiás. Sabem por qual partido? Não outro senão o PSDB!!! Antes, fora chairman mundial daquela organização combatente da desigualdade e da pobreza no planeta, o “Banco de Boston”.
Falta mais. O governo escolheu para formar sua base no Congresso o PTB, ainda controlado por Roberto Jefferson, o PP de Paulo Maluf e o PRB, a legenda político-partidária da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma das figuras proeminentes da base do governo na Câmara dos Deputados é Paulo Pereira da Silva, aquele mesmo líder do sindicalismo pelego e antigo aliado de FFHH. E quanto à aliança com o PMDB dos Sarney, Barbalho e Calheiros? Francamente.
E o que dizer então sobre certas declarações de Lula como: os usineiros são heróis para o Brasil? Ou então quando insinuou que chegar aos cinqüenta anos sendo de esquerda era coisa senil?
Com esse tipo de declarações, com as alianças e escolhas que tem feito, não precisaria dos blogueiros que ainda possuem uma identidade de esquerda e revolucionária, fazerem qualquer trabalho para a direita.
Foi a direita quem pôs o governo está na berlinda. No entanto ele mesmo se acua cada vez mais.
Bom, como o caro leitor percebe, não precisei sequer citar alguns dos vários pontos neoliberais do governo Lula. Todavia quem quiser saber de alguns, recomendo a leitura da Tréplica sobre “a esquerda em 2008”, aqui mesmo no Dissolvendo No Ar. Mesmo porque os fatos supramencionados já são, em minha opinião, o bastante para configurar motivos de independência frente ao governo Lula e para mostrar que não vivo no Mundo da Lua e nem que me mudei para Pasargáda.
Quem se alinha com a segunda opção, não raro repete a frase proferida no Chiledos idos iniciais dos anos 70 “... Es un gobierno de mierda, pero es nuestro gobierno...” Classifico isso como fuga da realidade. Sartre dizia que a realidade humana se realiza sob a forma “emoção”. Sendo assim a emoção é uma desordem psicofisiológica. Nesse momento, alguns grupos vivem sua desordem psicofisiológica e teimam em negar a realidade.
Ataco sim o governo Lula e o PT quando acho necessário. Não sou e nem estou obrigado a concordar com tudo o que ele faz ou deixa de fazer. Mesmo assim tenho convicção que esse governo já fez mais pelo Brasil que muitos outros juntos. Cito como exemplo a política de ganho real do salário mínimo – o melhor caminho para atacar a péssima distribuição de renda, como provou o professor Márcio Pochman –, a política de valorização dos funcionários públicos – vale ressaltar que muitas categorias do funcionalismo passaram os oito sombrios anos de FFHH sem receber um centavo de reajuste –, a implantação dum programa de renda mínima – é disso que se trata o Bolsa Família –, a política externa mais independente em relação aos EEUU – não quer dizer que no plano do comércio internacional não estejamos ainda tão desalinhados dos interesse imperialistas, mas conseguimos alguns avanços. Outro ponto no qual o governo Lula tem avançado é na reparação às vítimas da Ditadura Militar, mesmo não sendo na velocidade e da forma como eu gostaria. Friso também a postura correta, e de estadista, tida por Lula para com a Bolívia, tanto quando do golpe popular contra Sánchez de Lozada, como quando da nacionalização das refinarias da Petrobras por Evo Morales – a direitona tupiniquim queria a invasão do país vizinho.
Quando da não prorrogação da CPMF, um dos poucos impostos que incidiam diretamente sobre o consumo e renda, portanto quem ganhava e consumia mais, pagava mais, apoiei o governo, e com as armas que a internet me dispõe lutei contra a oposição farisaica. Existem vários outros pontos de convergências, mas esses são os mais significativos.
Digo mais, votei em Lula nos dois turnos de 2002 e nos outros dois de 2006. Na verdade repeti o ato que já vinha fazendo desde 1994, a primeira vez que votei pra presidente. Num eventual segundo turno em 2010 entre um candidato petista e outro pela sacrossanta aliança PSDB/DEM/PPS, minha tendência é votar no petista. Ainda prefiro isto a anular meu voto.
No entanto a diferença substancial entre a oposição farisaica composta por demos-tucanos-liqüidacionistas e a oposição de esquerda – o PSOL pode se incluir aí, mesmo que em determinados momentos tenha tropeçado nos próprios pés – está no fato de a segunda, na impossibilidade conjuntural duma revolução, lutar pela reforma do Estado, enquanto os fariseus da direita lutam pela manutenção do status quo.
Nunca escrevi uma linha sobre a corrupção no governo Lula, e não que ela não exista, mas porque existem outros temas de relevância para serem discutidos e, na medida em que vierem à tona, a própria corrupção aparecerá como efeito do sistema. Trata-se de discutir a causa e não o efeito. Isso é impensável num governo tucano, demo ou noutro qualquer tipicamente de direita, por esse governo fazer parte intrínseca do próprio sistema. Nesses governos somos obrigados a combater primeiramente o efeito, uma vez que a causa jamais será atacada por ele. Portanto era de se esperar dum governo com base social, ataque aos problemas estruturais na sua raiz, e nunca a omissão diante de temas complexos.
Os críticos daqueles espaços de esquerda na internet que têm sistematicamente atacado o governo nos últimos dias, muito por conta do desenrolar da Operação Satiagraha, chegam a dizer que estamos fazendo o trabalho para a direita. Esquecem-se que é o próprio Palácio do Planalto quem faz o melhor trabalho para a direita. Ou quem nomeou Carlos Alberto Direito para o Supremo Tribunal Federal e Nelson Jobim para o ministério da Defesa? O Ministro Direito tem claras ligações com segmentos reacionários da sociedade e uma doutrina religiosa arcaica. Quanto a Jobim, não passa dum tucano num pseudo-governo petista. Outra figura querida na Esplanada dos Ministérios é o presidente do Banco Central. Esse foi eleito deputado federal em 2002 por Goiás. Sabem por qual partido? Não outro senão o PSDB!!! Antes, fora chairman mundial daquela organização combatente da desigualdade e da pobreza no planeta, o “Banco de Boston”.
Falta mais. O governo escolheu para formar sua base no Congresso o PTB, ainda controlado por Roberto Jefferson, o PP de Paulo Maluf e o PRB, a legenda político-partidária da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma das figuras proeminentes da base do governo na Câmara dos Deputados é Paulo Pereira da Silva, aquele mesmo líder do sindicalismo pelego e antigo aliado de FFHH. E quanto à aliança com o PMDB dos Sarney, Barbalho e Calheiros? Francamente.
E o que dizer então sobre certas declarações de Lula como: os usineiros são heróis para o Brasil? Ou então quando insinuou que chegar aos cinqüenta anos sendo de esquerda era coisa senil?
Com esse tipo de declarações, com as alianças e escolhas que tem feito, não precisaria dos blogueiros que ainda possuem uma identidade de esquerda e revolucionária, fazerem qualquer trabalho para a direita.
Foi a direita quem pôs o governo está na berlinda. No entanto ele mesmo se acua cada vez mais.
Bom, como o caro leitor percebe, não precisei sequer citar alguns dos vários pontos neoliberais do governo Lula. Todavia quem quiser saber de alguns, recomendo a leitura da Tréplica sobre “a esquerda em 2008”, aqui mesmo no Dissolvendo No Ar. Mesmo porque os fatos supramencionados já são, em minha opinião, o bastante para configurar motivos de independência frente ao governo Lula e para mostrar que não vivo no Mundo da Lua e nem que me mudei para Pasargáda.
sábado, 8 de novembro de 2008
Dog Eat Dog
É lamentável, além de se configurar numa verdadeira afronta a democracia, o que tanto governo quanto oposição farisaica vêm fazendo ao delegado Protógenes Queiroz. Uma verdadeira pá de cal ao pouco de dignidade restante ao governo Lula. A inversão de valores é despudoradamente tão grande, que não me admira mais o estapafúrdio, como o do assaltante que entrou na justiça contra a vítima alegando ter sido maltratado pela mesma durante o ato empreendido pelo meliante. Isso ocorreu essa semana em BH.
Tão estapafúrdio quanto, é o fato dum delegado da Polícia Federal ser investigado por essa mesma instituição por ter levado adiante uma operação contra um banqueiro – diga-se de passagem, um banqueiro que responde a processos na Itália e nos EEUU. E que, é do conhecimento de todos, espionou o próprio governo brasileiro.
Estamos hoje diante da mais verdadeira e calamitosa consumação da plutocracia tupiniquim. O sistema judiciário foi feito pelas elites, para as elites e não aceita que esse status-quo seja alterado.
Enquanto lia no Vi o Mundo um texto do Azenha, –“Todo mundo é esperto. Só você leitor, é idiota” [http://www.viomundo.com.br/opiniao/todo-mundo-e-esperto-so-voce-leitor-e-idiota] – curiosamente ouvia “Dog Eat Dog” de uma das melhores bandas de rock pauleira de todos os tempos, os australianos do AC/DC :
“Well it's a dog eat dog, eat cat too
The French eat frog, and I eat you
Business man when you make a deal
Do you know who you can trust
Do you sign your life away
Do you write your name in dust”
Então comecei a traçar um paralelo entre a citada canção e o Presidente Lula. Lula está disposto a vender a alma para eleger seu sucessor, ou quem sabe voltar em 2014, ou 2015, dependendo da regra a vigorar até lá. Para tanto não poupa esforços nesse sentido.
Já escrevi que não estamos longe de Lula nomear Daniel Dantas primeiro-ministro. Na verdade hoje tenho convicção que Dantas tem muito mais poder no Planalto do que muito ministro de Estado.
De Gilmar Mendes, da turma da sacrossanta aliança de oposição farisaica, demos-tucanos-liqüidacionistas – Arthur Virgílio, Heráclito Fortes e Raul Jungmann à frente – não poderia esperar menos. Entretanto sem querer parecer piegas, é triste ver um presidente que chegou onde chegou graças aos movimentos populares rebaixar-se tanto. Não esperava de Lula uma revolução, no entanto o grau de promiscuidade entre o atual governo e o grande capital, além de ser nojento, odioso, repudiável, obsceno e pernicioso, é de uma lesa democracia – a pouca que temos – tanto quanto foi o nefasto governo FFHH.
Tambem não sei se Lula é tão ingênuo como muitos de seus detratores e até mesmo antigos aliados, e parte da imprensa alternativa pensam. Todavia é verídico o risco que corre, ao deixar o governo, de tornar-se pó. Como diz a letra do AC/DC:
Bem um cão devora outro cão, e também devora um gato...
Homem de negócios, quando você faz um acordo
Você sabe em quem você pode confiar?
Você assina e põe sua vida em perigo?
Você escreve seu nome no pó?
Tão estapafúrdio quanto, é o fato dum delegado da Polícia Federal ser investigado por essa mesma instituição por ter levado adiante uma operação contra um banqueiro – diga-se de passagem, um banqueiro que responde a processos na Itália e nos EEUU. E que, é do conhecimento de todos, espionou o próprio governo brasileiro.
Estamos hoje diante da mais verdadeira e calamitosa consumação da plutocracia tupiniquim. O sistema judiciário foi feito pelas elites, para as elites e não aceita que esse status-quo seja alterado.
Enquanto lia no Vi o Mundo um texto do Azenha, –“Todo mundo é esperto. Só você leitor, é idiota” [http://www.viomundo.com.br/opiniao/todo-mundo-e-esperto-so-voce-leitor-e-idiota] – curiosamente ouvia “Dog Eat Dog” de uma das melhores bandas de rock pauleira de todos os tempos, os australianos do AC/DC :
“Well it's a dog eat dog, eat cat too
The French eat frog, and I eat you
Business man when you make a deal
Do you know who you can trust
Do you sign your life away
Do you write your name in dust”
Então comecei a traçar um paralelo entre a citada canção e o Presidente Lula. Lula está disposto a vender a alma para eleger seu sucessor, ou quem sabe voltar em 2014, ou 2015, dependendo da regra a vigorar até lá. Para tanto não poupa esforços nesse sentido.
Já escrevi que não estamos longe de Lula nomear Daniel Dantas primeiro-ministro. Na verdade hoje tenho convicção que Dantas tem muito mais poder no Planalto do que muito ministro de Estado.
De Gilmar Mendes, da turma da sacrossanta aliança de oposição farisaica, demos-tucanos-liqüidacionistas – Arthur Virgílio, Heráclito Fortes e Raul Jungmann à frente – não poderia esperar menos. Entretanto sem querer parecer piegas, é triste ver um presidente que chegou onde chegou graças aos movimentos populares rebaixar-se tanto. Não esperava de Lula uma revolução, no entanto o grau de promiscuidade entre o atual governo e o grande capital, além de ser nojento, odioso, repudiável, obsceno e pernicioso, é de uma lesa democracia – a pouca que temos – tanto quanto foi o nefasto governo FFHH.
Tambem não sei se Lula é tão ingênuo como muitos de seus detratores e até mesmo antigos aliados, e parte da imprensa alternativa pensam. Todavia é verídico o risco que corre, ao deixar o governo, de tornar-se pó. Como diz a letra do AC/DC:
Bem um cão devora outro cão, e também devora um gato...
Homem de negócios, quando você faz um acordo
Você sabe em quem você pode confiar?
Você assina e põe sua vida em perigo?
Você escreve seu nome no pó?
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Barack Obama: mais do mesmo?
Por Michelle Amaral
Contribuição: Elaine Tavares
Extraído da Agencia Brasil de Fato
Tenho acompanhado as declarações de várias lideranças latino-americanas sobre o novo presidente dos Estados Unidos e só posso concluir que estejam sendo extremamente diplomáticas e educadas. Penso que numa situação como esta, quando um novo presidente assume o cargo, deve ser de bom tom dar as boas vindas e fazer prognósticos de mudanças, de bom governo e de bons auspícios. Mas, cá com meus botões, creio que esta gente que hoje dirige países importantes como a Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai - que estão virando o leme e dando passos na direção de uma outra forma de organizar a vida - deveria colocar as barbas de molho.
É fato que a eleição de um homem negro para a presidência dos Estados Unidos é um acontecimento histórico. Quem conhece as práticas da Ku Klux Kan e a faceta racista do país do norte que inclusive o levou a uma sangrenta guerra civil entre 1861 e 1865, causadora de quase um milhão de mortes - sabe da importância disso. Mas, de que vale ser negro e quebrar um paradigma se não se quebrar a política deste que é um dos partidos mais antigos do mundo, nascido de uma dissidência do que era o Partido Democrata-Republicano, fundado por Thomas Jefferson em 1793? É o que pretendemos questionar!
História de conservadorismo
As eleições nos Estados Unidos foram mostradas de forma exaustiva na televisão. No geral, os editores dos jornais mais importantes da noite esbanjaram a visão de suas mentes colonizadas. Sequer falaram dos demais candidatos, como se só os partidos Republicano e Democrata estivessem participando do pleito. Pois havia mais gente no páreo. Disputaram ainda dois candidatos independentes (lá é possível ser candidato sem partido), um do Partido da Constituição, um do Partido da Liberdade, um do Partido Socialista e uma candidata do Partido Verde. E o mais grave é que na reportagem da Rede Globo, William Bonner divide o Congresso estadunidense entre a bancada democrata, a bancada republicana e uma pequena parte sem posição. Ora, os 4% não são sem posição, eles tem posições muito claras, diferentes dos partidos dominantes. Já no dia da eleição alguns jornalistas chegaram a momentos apoteóticos, vibrando de prazer com o que chamavam do regime mais democrático do mundo. Até aí tudo bem, são propagandistas a soldo. Cumprem seu papel. Por isso cabe a imprensa alternativa estabelecer um olhar crítico.
A história do povo dos Estados Unidos contempla um passado glorioso. O país foi a primeira colônia neste continente a se libertar e criar uma nação, e tudo isso fruto de movimentos e revoltas populares, como bem conta o historiador Howard Zinn, no seu livro A Outra História dos Estados Unidos. Mas, o que ficou nos registros e na memória das gentes foi o conto da bravura e do heroísmo dos Pais da Pátria, como George Washington, Benjamin Franklin, Abraham Lincoln e Thomas Jefferson. O resultado deste momento fundador da democracia foi a destruição bárbara dos povos originários e o enriquecimento destas lideranças. A Constituição do país, datada de 1787, que ainda hoje faz aflorar lágrimas aos olhos dos defensores da liberdade, foi, no entender do historiador Charles Beard, citado por Zinn, um documento que serviu para atender aos interesses bem demarcados de determinados grupos dominantes e que deixou de fora os anseios de praticamente metade da população.
Pois foram estes interesses que levaram à fundação do Partido Democrata-Republicano em 1793, aglutinando a classe dominante até 1836, quando houve um racha a partir das posições de Andrew Jackson que, então presidente, decidiu acabar com o Colégio Eleitoral e não acatar as decisões do Congresso, além de permitir a invasão, por brancos, de milhares de hectares de terras indígenas, expulsando-os para longe de seus lugares originários. Foi no seu governo que houve a diáspora da brava nação Cherokee. Com a criação do Partido Democrata, Jackson passou à história como primeiro presidente deste partido. A gênese da divisão não teve nada a ver, portanto, com divergências ideológicas de fundo, embora alguns analistas avaliem que o partido saiu da órbita conservadora, passando a liberal no início do século XX. Mas, os fatos mostram que não é bem assim.
As políticas dos democratas
O segundo presidente democrata que tem especial participação na vida dos povos da América Latina. Foi Thomas Woodrow Wilson, que governou os Estados Unidos de 1912 a 1921, atravessando a Primeira Guerra Mundial. Ele jurou manter o país fora do conflito mas acabou justificando a entrada na guerra com o mesmo velho mantra defendido por quase todos os presidentes intervencionistas: é para garantir a democracia no mundo. Sempre foi chamado de idealista lá no seu país e até ganhou o Nobel da Paz por sua atuação no fim da primeira guerra. Foi durante seus mandatos (cumpriu dois), que disseminou a doutrina da livre determinação dos povos, um belo discurso que ele mesmo não cumpriu na prática. Wilson comandou várias intervenções militares na América Latina, invadindo o México durante o processo da gesta histórica de sua revolução popular em 1914, e depois a Nicarágua, o Panamá, a República Dominicana e o Haiti. Os motivos: garantir a democracia. Pois sim!
Depois dele, outro presidente democrata assumiu importante papel na vida das gentes. Foi Franklin Delano Roosevelt, que acabou enfrentando a grande crise de 29 empregando o que ficou conhecido como New Deal, uma espécie de novo pacto com reformas que, de alguma maneira, estabilizaram o sistema para a proteção do mesmo. Seu programa protegia os grandes donos de terra e o empresariado, mas também oferecia suficiente ajuda aos empobrecidos, evitando com isso uma explosão social. Foi no seu mandato também que os Estados Unidos viveram a Segunda Grande Guerra, considerada uma das mais populares naquele país, uma vez que mais de 18 milhões de soldados foram mobilizados e grande parte da população contribuiu com a compra de bônus. A economia reaqueceu e a crise foi superada. Foi Roosevelt que, junto com Churchil e Stalin, assinou o tratado de Ialta, que na prática dividiu o mundo entre socialista e capitalista, estabelecendo zonas intocáveis de influência, a famosa Guerra Fria. Foi durante seu governo que assinou uma espécie de decreto (Ordem Executiva) que outorgava ao exército estadunidnese prender sem ordem judicial ou acusação formal todo e qualquer japonês que vivesse na costa oeste do país. No total foram confinados em campos de concentração, dentro dos Estados Unidos, mais de cem mil homens, mulheres e crianças, sendo que três quartos desta gente era nascida no país.
Roosevelt morre em 1945 e assume no seu lugar o também democrata Harry Truman, este responsável pelo maior crime de guerra já perpetrado: a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, que matou mais de 200 mil civis, num momento em que o Japão já estava praticamente rendido. Foi ainda no seu governo que foi criada CIA, agência de inteligência responsável por praticamente todos os golpes contra a democracia nos países da América Latina. É deste democrata a também famosa doutrina Truman, que na prática significava a auto-outorgação do direito de intervir em qualquer país que ousasse enveredar pela via socialista. Por conta disso Os EUA invadiram a Coréia, o Irã, Vietnã e Guatemala e meteram sua colher em outros tantos países de nuestra América, financiando grupos anti-comunistas. Criou ainda o Plano Marshall, que visava enviar dinheiro para os países, comprando a consciência dos governantes para que não aderissem ao socialismo. Foi o início do processo de atuação dos malfadados assassinos econômicos, denunciados por John Perkins, que assim agiu durante parte de sua vida. Naquele período os Estados Unidos invadiram a Iugoslávia e a Grécia, em nome da democracia.
Outro momento crucial da vida estadunidense foi vivido neste governo democrata. A Instituição do Comitê de Investigações das Atividades Anti-Americanas, comandado pelo Senador Joseph MacCarthy, uma espécie de caça às bruxas que prendia e destruía qualquer um que fosse acusado de ter idéias comunistas. Foram os anos dourados do Império, mas à custa de muita dor, tanto de sua gente como de populações de vários países do mundo.
Outro presidente democrata com uma ficha nada limpa é John Fitzgerald Kennedy, que apesar de até hoje ser considerado o queridinho da América, foi quem teve de arcar com as conseqüências da frustrada tentativa de invasão à Cuba organizada pela CIA bem no comecinho de seu governo. É ele também quem aquece o conflito no Vietnã, o que mais tarde vai explodir numa guerra de 10 anos, e invade o Laos. Na América Latina cria a Aliança para o Progresso, que nada mais é do que a seqüência do Plano Marshall. Dinheiro à rodo para comprar a fidelidade das elites governantes dos países que os Estados Unidos considera seu quintal.
Ainda nos anos 60 vamos encontrar mais um democrata no poder, Lyndon Baines Johnson, que assume depois da morte de Kennedy. Com ele os Estados Unidos assumem de vez o confronto no Vietnã, com o mesmo velho papo de garantir a democracia. Também invadem o Panamá, a República Dominicana e o Camboja em nome da liberdade.
Jimmy Carter é mais um democrata no poder e foi um dos poucos que tentou a paz. Por conta disso é considerado por alguns analistas como o mais fraco presidente da América. Tentou mediar acordos com Israel e Palestina e conseguiu a paz entre Egito e Israel. Foi ele também que assinou, com Omar Torrijos, um tratado que devolvia o canal do Panamá ao povo daquele país, e buscou uma política de distensão com os países comunistas. Assinou tratados com a China, buscou reduzir as armas nucleares e tentou aproximações com Fidel Castro. Ainda assim, enfrentou grande tensão com o seqüestro de estadunidenses no Irã e foi no seu governo que conseguiu grandes volumes de recursos para o orçamento militar. Foi com Carter que iniciou na América Latina o processo de abertura, uma vez que quase todos os países viviam ditaduras duramente impostas pelos Estados Unidos. De qualquer forma Carter não é visto como um bom exemplo lá dentro e, segundo seus adversários, foi muito mole durante a revolução iraniana além de permitir, sem criar uma guerra, a ocupação do Afeganistão pela União Soviética.
O mais recente democrata no poder foi William "Bill" Jefferson Clinton, que governou por dois mandatos, entre 1993 e 2001. Visto como simpático galã, charmoso e carismático ele governou agressivamente no que diz respeito a política externa. Invadiu o Iraque, o Haiti, o Zaire, a Libéria, a Albânia, a Colômbia e o Afeganistão. Um currículo e tanto para um cara bonzinho.
E então, que será de Obama?
Este é um brevíssimo resumo da história dos democratas - que praticamente em nada se diferem dos republicanos - que governam o país na mesma lógica do destino manifesto, ou seja, de que há uma missão divina dada aos Estados Unidos de ser o guardião da democracia mundial e que, por conta disso, o país pode intervir quando bem entender. É claro que se precisa perceber a palavra democracia aí significando toda e qualquer ameaça aos interesses das grandes corporações, já que o que está em jogo raramente é o interesse das gentes, mas sim das empresas.
Assim, as esperanças que se colocam sobre o histórico presidente negro do país que é polícia do mundo devem ser relativizadas. A experiência do democrata Jimmy Carter, ridicularizado até hoje por não ter empreendido nenhuma guerra, não é um exemplo que os estadunidense gostariam de ver seguido. Também é bom pensar que lá está estabelecida uma crise financeira sem precedentes e que é comum ao Império safar-se das crises com uma boa guerra. Como bem dizia Roosevelt, o Theodore, em 1897, numa carta a um amigo: em estrita confidência, eu quase que agradeceria qualquer guerra, pois creio que esse país necessita de uma. É preciso estar muito cegado pela ideologia disseminada pelos meios de comunicação para crer que Obama, apenas por ser negro e vir das classes mais empobrecidas, possa deixar de seguir a natureza do seu partido. Basta esperar e já vamos ver suas posições sobre o Iraque, Palestina, Venezuela, Cuba, só para citar alguns. O tempo dirá.
Contribuição: Elaine Tavares
Extraído da Agencia Brasil de Fato
Tenho acompanhado as declarações de várias lideranças latino-americanas sobre o novo presidente dos Estados Unidos e só posso concluir que estejam sendo extremamente diplomáticas e educadas. Penso que numa situação como esta, quando um novo presidente assume o cargo, deve ser de bom tom dar as boas vindas e fazer prognósticos de mudanças, de bom governo e de bons auspícios. Mas, cá com meus botões, creio que esta gente que hoje dirige países importantes como a Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai - que estão virando o leme e dando passos na direção de uma outra forma de organizar a vida - deveria colocar as barbas de molho.
É fato que a eleição de um homem negro para a presidência dos Estados Unidos é um acontecimento histórico. Quem conhece as práticas da Ku Klux Kan e a faceta racista do país do norte que inclusive o levou a uma sangrenta guerra civil entre 1861 e 1865, causadora de quase um milhão de mortes - sabe da importância disso. Mas, de que vale ser negro e quebrar um paradigma se não se quebrar a política deste que é um dos partidos mais antigos do mundo, nascido de uma dissidência do que era o Partido Democrata-Republicano, fundado por Thomas Jefferson em 1793? É o que pretendemos questionar!
História de conservadorismo
As eleições nos Estados Unidos foram mostradas de forma exaustiva na televisão. No geral, os editores dos jornais mais importantes da noite esbanjaram a visão de suas mentes colonizadas. Sequer falaram dos demais candidatos, como se só os partidos Republicano e Democrata estivessem participando do pleito. Pois havia mais gente no páreo. Disputaram ainda dois candidatos independentes (lá é possível ser candidato sem partido), um do Partido da Constituição, um do Partido da Liberdade, um do Partido Socialista e uma candidata do Partido Verde. E o mais grave é que na reportagem da Rede Globo, William Bonner divide o Congresso estadunidense entre a bancada democrata, a bancada republicana e uma pequena parte sem posição. Ora, os 4% não são sem posição, eles tem posições muito claras, diferentes dos partidos dominantes. Já no dia da eleição alguns jornalistas chegaram a momentos apoteóticos, vibrando de prazer com o que chamavam do regime mais democrático do mundo. Até aí tudo bem, são propagandistas a soldo. Cumprem seu papel. Por isso cabe a imprensa alternativa estabelecer um olhar crítico.
A história do povo dos Estados Unidos contempla um passado glorioso. O país foi a primeira colônia neste continente a se libertar e criar uma nação, e tudo isso fruto de movimentos e revoltas populares, como bem conta o historiador Howard Zinn, no seu livro A Outra História dos Estados Unidos. Mas, o que ficou nos registros e na memória das gentes foi o conto da bravura e do heroísmo dos Pais da Pátria, como George Washington, Benjamin Franklin, Abraham Lincoln e Thomas Jefferson. O resultado deste momento fundador da democracia foi a destruição bárbara dos povos originários e o enriquecimento destas lideranças. A Constituição do país, datada de 1787, que ainda hoje faz aflorar lágrimas aos olhos dos defensores da liberdade, foi, no entender do historiador Charles Beard, citado por Zinn, um documento que serviu para atender aos interesses bem demarcados de determinados grupos dominantes e que deixou de fora os anseios de praticamente metade da população.
Pois foram estes interesses que levaram à fundação do Partido Democrata-Republicano em 1793, aglutinando a classe dominante até 1836, quando houve um racha a partir das posições de Andrew Jackson que, então presidente, decidiu acabar com o Colégio Eleitoral e não acatar as decisões do Congresso, além de permitir a invasão, por brancos, de milhares de hectares de terras indígenas, expulsando-os para longe de seus lugares originários. Foi no seu governo que houve a diáspora da brava nação Cherokee. Com a criação do Partido Democrata, Jackson passou à história como primeiro presidente deste partido. A gênese da divisão não teve nada a ver, portanto, com divergências ideológicas de fundo, embora alguns analistas avaliem que o partido saiu da órbita conservadora, passando a liberal no início do século XX. Mas, os fatos mostram que não é bem assim.
As políticas dos democratas
O segundo presidente democrata que tem especial participação na vida dos povos da América Latina. Foi Thomas Woodrow Wilson, que governou os Estados Unidos de 1912 a 1921, atravessando a Primeira Guerra Mundial. Ele jurou manter o país fora do conflito mas acabou justificando a entrada na guerra com o mesmo velho mantra defendido por quase todos os presidentes intervencionistas: é para garantir a democracia no mundo. Sempre foi chamado de idealista lá no seu país e até ganhou o Nobel da Paz por sua atuação no fim da primeira guerra. Foi durante seus mandatos (cumpriu dois), que disseminou a doutrina da livre determinação dos povos, um belo discurso que ele mesmo não cumpriu na prática. Wilson comandou várias intervenções militares na América Latina, invadindo o México durante o processo da gesta histórica de sua revolução popular em 1914, e depois a Nicarágua, o Panamá, a República Dominicana e o Haiti. Os motivos: garantir a democracia. Pois sim!
Depois dele, outro presidente democrata assumiu importante papel na vida das gentes. Foi Franklin Delano Roosevelt, que acabou enfrentando a grande crise de 29 empregando o que ficou conhecido como New Deal, uma espécie de novo pacto com reformas que, de alguma maneira, estabilizaram o sistema para a proteção do mesmo. Seu programa protegia os grandes donos de terra e o empresariado, mas também oferecia suficiente ajuda aos empobrecidos, evitando com isso uma explosão social. Foi no seu mandato também que os Estados Unidos viveram a Segunda Grande Guerra, considerada uma das mais populares naquele país, uma vez que mais de 18 milhões de soldados foram mobilizados e grande parte da população contribuiu com a compra de bônus. A economia reaqueceu e a crise foi superada. Foi Roosevelt que, junto com Churchil e Stalin, assinou o tratado de Ialta, que na prática dividiu o mundo entre socialista e capitalista, estabelecendo zonas intocáveis de influência, a famosa Guerra Fria. Foi durante seu governo que assinou uma espécie de decreto (Ordem Executiva) que outorgava ao exército estadunidnese prender sem ordem judicial ou acusação formal todo e qualquer japonês que vivesse na costa oeste do país. No total foram confinados em campos de concentração, dentro dos Estados Unidos, mais de cem mil homens, mulheres e crianças, sendo que três quartos desta gente era nascida no país.
Roosevelt morre em 1945 e assume no seu lugar o também democrata Harry Truman, este responsável pelo maior crime de guerra já perpetrado: a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, que matou mais de 200 mil civis, num momento em que o Japão já estava praticamente rendido. Foi ainda no seu governo que foi criada CIA, agência de inteligência responsável por praticamente todos os golpes contra a democracia nos países da América Latina. É deste democrata a também famosa doutrina Truman, que na prática significava a auto-outorgação do direito de intervir em qualquer país que ousasse enveredar pela via socialista. Por conta disso Os EUA invadiram a Coréia, o Irã, Vietnã e Guatemala e meteram sua colher em outros tantos países de nuestra América, financiando grupos anti-comunistas. Criou ainda o Plano Marshall, que visava enviar dinheiro para os países, comprando a consciência dos governantes para que não aderissem ao socialismo. Foi o início do processo de atuação dos malfadados assassinos econômicos, denunciados por John Perkins, que assim agiu durante parte de sua vida. Naquele período os Estados Unidos invadiram a Iugoslávia e a Grécia, em nome da democracia.
Outro momento crucial da vida estadunidense foi vivido neste governo democrata. A Instituição do Comitê de Investigações das Atividades Anti-Americanas, comandado pelo Senador Joseph MacCarthy, uma espécie de caça às bruxas que prendia e destruía qualquer um que fosse acusado de ter idéias comunistas. Foram os anos dourados do Império, mas à custa de muita dor, tanto de sua gente como de populações de vários países do mundo.
Outro presidente democrata com uma ficha nada limpa é John Fitzgerald Kennedy, que apesar de até hoje ser considerado o queridinho da América, foi quem teve de arcar com as conseqüências da frustrada tentativa de invasão à Cuba organizada pela CIA bem no comecinho de seu governo. É ele também quem aquece o conflito no Vietnã, o que mais tarde vai explodir numa guerra de 10 anos, e invade o Laos. Na América Latina cria a Aliança para o Progresso, que nada mais é do que a seqüência do Plano Marshall. Dinheiro à rodo para comprar a fidelidade das elites governantes dos países que os Estados Unidos considera seu quintal.
Ainda nos anos 60 vamos encontrar mais um democrata no poder, Lyndon Baines Johnson, que assume depois da morte de Kennedy. Com ele os Estados Unidos assumem de vez o confronto no Vietnã, com o mesmo velho papo de garantir a democracia. Também invadem o Panamá, a República Dominicana e o Camboja em nome da liberdade.
Jimmy Carter é mais um democrata no poder e foi um dos poucos que tentou a paz. Por conta disso é considerado por alguns analistas como o mais fraco presidente da América. Tentou mediar acordos com Israel e Palestina e conseguiu a paz entre Egito e Israel. Foi ele também que assinou, com Omar Torrijos, um tratado que devolvia o canal do Panamá ao povo daquele país, e buscou uma política de distensão com os países comunistas. Assinou tratados com a China, buscou reduzir as armas nucleares e tentou aproximações com Fidel Castro. Ainda assim, enfrentou grande tensão com o seqüestro de estadunidenses no Irã e foi no seu governo que conseguiu grandes volumes de recursos para o orçamento militar. Foi com Carter que iniciou na América Latina o processo de abertura, uma vez que quase todos os países viviam ditaduras duramente impostas pelos Estados Unidos. De qualquer forma Carter não é visto como um bom exemplo lá dentro e, segundo seus adversários, foi muito mole durante a revolução iraniana além de permitir, sem criar uma guerra, a ocupação do Afeganistão pela União Soviética.
O mais recente democrata no poder foi William "Bill" Jefferson Clinton, que governou por dois mandatos, entre 1993 e 2001. Visto como simpático galã, charmoso e carismático ele governou agressivamente no que diz respeito a política externa. Invadiu o Iraque, o Haiti, o Zaire, a Libéria, a Albânia, a Colômbia e o Afeganistão. Um currículo e tanto para um cara bonzinho.
E então, que será de Obama?
Este é um brevíssimo resumo da história dos democratas - que praticamente em nada se diferem dos republicanos - que governam o país na mesma lógica do destino manifesto, ou seja, de que há uma missão divina dada aos Estados Unidos de ser o guardião da democracia mundial e que, por conta disso, o país pode intervir quando bem entender. É claro que se precisa perceber a palavra democracia aí significando toda e qualquer ameaça aos interesses das grandes corporações, já que o que está em jogo raramente é o interesse das gentes, mas sim das empresas.
Assim, as esperanças que se colocam sobre o histórico presidente negro do país que é polícia do mundo devem ser relativizadas. A experiência do democrata Jimmy Carter, ridicularizado até hoje por não ter empreendido nenhuma guerra, não é um exemplo que os estadunidense gostariam de ver seguido. Também é bom pensar que lá está estabelecida uma crise financeira sem precedentes e que é comum ao Império safar-se das crises com uma boa guerra. Como bem dizia Roosevelt, o Theodore, em 1897, numa carta a um amigo: em estrita confidência, eu quase que agradeceria qualquer guerra, pois creio que esse país necessita de uma. É preciso estar muito cegado pela ideologia disseminada pelos meios de comunicação para crer que Obama, apenas por ser negro e vir das classes mais empobrecidas, possa deixar de seguir a natureza do seu partido. Basta esperar e já vamos ver suas posições sobre o Iraque, Palestina, Venezuela, Cuba, só para citar alguns. O tempo dirá.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
O circo de horrores do "cowboy" Bush
Em 2000 a cama estava pronta para que o futuro presidente estadunidense se tornasse, de fato, o homem mais poderoso do mundo. Vários fatores levaram a conjuntura propícia interna e, principalmente externamente, para que o presidente a ser eleito em novembro daquele ano continuasse a política de Pax Americana sob a insígnia da policia mundial.
Sucessivas administrações estadunidenses minaram o poder da Europa Ocidental, Japão e Leste Europeu. O perigo vermelho estava derrotado, a Rússia passava por grave crise financeira em pleno processo de reformulação da sua economia, estava a pouco mais de uma década do colapso da URSS e ainda enfrentava os separatistas chechenos. Países satélites da antiga URSS já haviam sido cooptados. E, no quintal do Uncle Sam, a America Latina, os movimentos revolucionários eram página virada. A delicada questão do Oriente Médio estava entregue a Israel – a nova Intifada, iniciada em 2000 – era a desculpa perfeita para o recrudescimento do uso da força pelo Estado judeu e uma nova onda de disseminação do preconceito contra o Islã.
O consenso de Washington dava a garantia de que os rumos da economia seguiriam o neoliberalismo por alguns anos. O poder econômico do Japão já não se configurava em ameaça e União Européia titubeava – como hoje titubeia ainda – em todas as questões que a põe contra os interesses norte-americanos. No plano interno a economia norte-americana passava por um dos ciclos mais vigorosos da história. O número de milionários se multiplicara de maneira jamais vista e o crédito fácil e farto fazia a alegria do mercado. Um dos maiores problemas talvez fosse a emergência da China para o plano das grandes potências, mas os chineses levariam anos ainda para se firmarem como ameaça de fato, e os interesses comerciais mútuos, a princípio, seriam suficientes para domesticar o dragão chinês.
Para reafirmar a supremacia ianque o governo Clinton havia arrombado a porta das convenções internacionais e estabelecido a unilateralidade ao usar a OTAN para bombardear os Bálcãs, desrespeitando decisões tomadas no seio do Conselho de Segurança da ONU.
Tudo estava perfeito para que o novo presidente voasse em céu de brigadeiro e impusesse ao mundo a política de dominação total do planeta gestada desde o governo Truman. Pois não havia mais adversários de peso. Os bons resultados da economia lhe dariam o necessitado cacife interno.
Mas a história tem lá das suas e as coisas não são tão fáceis quanto parecem.
Na eleição mais tumultuada da história estadunidense George W. Bush não venceu, mas levou. Perdeu para All Gore no voto popular e só ganhou no Colégio Eleitoral por três votos de diferença. Ainda assim esses três votos são contestados com justeza. Bush garantiu os delegados da Florida graças a uma decisão judicial e após contagem, recontagem e várias outras recontagens. Trama também para a tese de ilegitimidade do resultado, o fato de a justiça daquele estado do sul estadunidense estar sob o controle do governador Jeb Bush, por uma dessas coincidências, irmão de George W. Bush.
O cowboy e ex-governador do Texas toma posse com o país em crise de legitimidade. Sua boçalidade e estupidez faz com que nos primeiros nove meses de governo se torne um dos presidentes mais impopulares dos EEUU. Mas como a história, já disse antes, tem lá das suas, eis que literalmente cai do céu a solução para seus problemas.
Caso a humanidade sobreviva até daqui uns dois, três ou quatro séculos, a leitura que os historiadores, sociólogos, cientistas políticos, filósofos, antropólogos, enfim o conhecimento humano, fará do 11 de setembro de 2001 será o de uma das datas mais negras presenciadas pelo homem desde que desceu das árvores e passou andar sobre duas pernas. E não em razão das vitimas do ataque ao World Trade Center, mas sim porque, ali, deu-se início de fato a um dos governos mais sangrentos da humanidade e sua violenta política externa. Império, e imperialismo, cada vez mais virulento, impositivo, repressivo e com um sem numero de assassinatos nas costas. Uma data que desencadeou o terror de estado contra a população civil de maneira impensada pelos bárbaros do passado. Uma data que serviu de pretexto para as grandes corporações se lançarem numa guerra contra o terror em escala global, mesmo sem ter um inimigo definido, mas com objetivos claros, garantir lucros para a indústria bélica, fomentar a economia de guerra, isolar adversários em potencial e controlar reservas energéticas em todo o planeta.
O governo Bush, entra para a História, marcado pela luta desenfreada para impor Hobbes e a tese do Estado detentor do monopólio da violência. O circo de horrores de Bush possuiu entre outros espetáculos da vergonha e miséria humana, o sórdido apoio a política de extermínio de palestinos por Israel. O campo de concentração e tortura de Guantánamo. As invasões do Afeganistão e do Iraque, não sem antes usar a população civil como cobaia para experimentos militares. O desaparecimento do mapa de cidades milenares nesses dois países. O bombardeio incessante sobre Fallujah. A plantação de calúnias, mentiras e difamação nos meios de comunicação – grandes redes da mídia empresarial promíscuos com a permissividade do governo. A suspensão de diretos individuais e liberdades civis, crimes de guerra, crime de lesa-pátria, abandono dos flagelados do Katrina e das milhares famílias que perdem a casa todo o dia por conta da crise dos subprimes, etc, etc, etc...
Isso foi o governo do Cowboy Bush. Mas mesmo estando nos seus estertores é melhor ninguém duvidar que ainda possa nos proporcionar mais espetáculos no seu circo de horrores.
Sucessivas administrações estadunidenses minaram o poder da Europa Ocidental, Japão e Leste Europeu. O perigo vermelho estava derrotado, a Rússia passava por grave crise financeira em pleno processo de reformulação da sua economia, estava a pouco mais de uma década do colapso da URSS e ainda enfrentava os separatistas chechenos. Países satélites da antiga URSS já haviam sido cooptados. E, no quintal do Uncle Sam, a America Latina, os movimentos revolucionários eram página virada. A delicada questão do Oriente Médio estava entregue a Israel – a nova Intifada, iniciada em 2000 – era a desculpa perfeita para o recrudescimento do uso da força pelo Estado judeu e uma nova onda de disseminação do preconceito contra o Islã.
O consenso de Washington dava a garantia de que os rumos da economia seguiriam o neoliberalismo por alguns anos. O poder econômico do Japão já não se configurava em ameaça e União Européia titubeava – como hoje titubeia ainda – em todas as questões que a põe contra os interesses norte-americanos. No plano interno a economia norte-americana passava por um dos ciclos mais vigorosos da história. O número de milionários se multiplicara de maneira jamais vista e o crédito fácil e farto fazia a alegria do mercado. Um dos maiores problemas talvez fosse a emergência da China para o plano das grandes potências, mas os chineses levariam anos ainda para se firmarem como ameaça de fato, e os interesses comerciais mútuos, a princípio, seriam suficientes para domesticar o dragão chinês.
Para reafirmar a supremacia ianque o governo Clinton havia arrombado a porta das convenções internacionais e estabelecido a unilateralidade ao usar a OTAN para bombardear os Bálcãs, desrespeitando decisões tomadas no seio do Conselho de Segurança da ONU.
Tudo estava perfeito para que o novo presidente voasse em céu de brigadeiro e impusesse ao mundo a política de dominação total do planeta gestada desde o governo Truman. Pois não havia mais adversários de peso. Os bons resultados da economia lhe dariam o necessitado cacife interno.
Mas a história tem lá das suas e as coisas não são tão fáceis quanto parecem.
Na eleição mais tumultuada da história estadunidense George W. Bush não venceu, mas levou. Perdeu para All Gore no voto popular e só ganhou no Colégio Eleitoral por três votos de diferença. Ainda assim esses três votos são contestados com justeza. Bush garantiu os delegados da Florida graças a uma decisão judicial e após contagem, recontagem e várias outras recontagens. Trama também para a tese de ilegitimidade do resultado, o fato de a justiça daquele estado do sul estadunidense estar sob o controle do governador Jeb Bush, por uma dessas coincidências, irmão de George W. Bush.
O cowboy e ex-governador do Texas toma posse com o país em crise de legitimidade. Sua boçalidade e estupidez faz com que nos primeiros nove meses de governo se torne um dos presidentes mais impopulares dos EEUU. Mas como a história, já disse antes, tem lá das suas, eis que literalmente cai do céu a solução para seus problemas.
Caso a humanidade sobreviva até daqui uns dois, três ou quatro séculos, a leitura que os historiadores, sociólogos, cientistas políticos, filósofos, antropólogos, enfim o conhecimento humano, fará do 11 de setembro de 2001 será o de uma das datas mais negras presenciadas pelo homem desde que desceu das árvores e passou andar sobre duas pernas. E não em razão das vitimas do ataque ao World Trade Center, mas sim porque, ali, deu-se início de fato a um dos governos mais sangrentos da humanidade e sua violenta política externa. Império, e imperialismo, cada vez mais virulento, impositivo, repressivo e com um sem numero de assassinatos nas costas. Uma data que desencadeou o terror de estado contra a população civil de maneira impensada pelos bárbaros do passado. Uma data que serviu de pretexto para as grandes corporações se lançarem numa guerra contra o terror em escala global, mesmo sem ter um inimigo definido, mas com objetivos claros, garantir lucros para a indústria bélica, fomentar a economia de guerra, isolar adversários em potencial e controlar reservas energéticas em todo o planeta.
O governo Bush, entra para a História, marcado pela luta desenfreada para impor Hobbes e a tese do Estado detentor do monopólio da violência. O circo de horrores de Bush possuiu entre outros espetáculos da vergonha e miséria humana, o sórdido apoio a política de extermínio de palestinos por Israel. O campo de concentração e tortura de Guantánamo. As invasões do Afeganistão e do Iraque, não sem antes usar a população civil como cobaia para experimentos militares. O desaparecimento do mapa de cidades milenares nesses dois países. O bombardeio incessante sobre Fallujah. A plantação de calúnias, mentiras e difamação nos meios de comunicação – grandes redes da mídia empresarial promíscuos com a permissividade do governo. A suspensão de diretos individuais e liberdades civis, crimes de guerra, crime de lesa-pátria, abandono dos flagelados do Katrina e das milhares famílias que perdem a casa todo o dia por conta da crise dos subprimes, etc, etc, etc...
Isso foi o governo do Cowboy Bush. Mas mesmo estando nos seus estertores é melhor ninguém duvidar que ainda possa nos proporcionar mais espetáculos no seu circo de horrores.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
AS ELEIÇÕES DE 2008 E AS ALTERNATIVAS DA ESQUERDA SOCIALISTA NO BRASIL
Por Ivan Pinheiro*
As eleições municipais deste ano, apesar de absolutamente despolitizadas, acabaram por armar o cenário em que se dará a batalha eleitoral de 2010. Se a esquerda socialista não aprender com os resultados de 2008, vai continuar assistindo o jogo institucional de fora do campo, pela televisão, uma briga de cachorro grande entre dois projetos, cada vez mais parecidos, ambos se apresentando como a melhor alternativa para destravar e alavancar o capitalismo: o campo majoritário do PT e o PSDB. O centro do debate serão números macro-econômicos, ou seja, a comparação entre os governos FHC e Lula do ponto de vista do "risco Brasil", do preço do dólar, da balança comercial, das reservas internacionais, de quem criou mais (e piores) empregos e captou mais investimentos estrangeiros. Para usar uma expressão dos comentaristas econômicos burgueses, "quem fez melhor o dever de casa", leia-se, quem mais favoreceu o capital, que continua, no governo Lula, a aumentar sua participação na riqueza nacional, em detrimento do trabalho.
E o pior é que, se a esquerda socialista e os movimentos populares não criarem uma alternativa, quem vai decidir o jogo será o PMDB, o partido que sai mais fortalecido dessas eleições e que já começa a falar grosso, querendo as Presidências do Senado e da Câmara, ameaçando candidatura própria em 2010, para negociar mais espaço de poder, além dos seis ministérios que já ocupa. E é bom lembrar que o PMDB só tem compromisso com Lula até 2010 e assim mesmo se o partido continuar confortável em seu governo.
Aliás, esse jogo pode ser resolvido antes de começar o primeiro tempo. Alguns fatores podem levar a um consenso burguês que imponha, em 2010, uma solução de "união nacional", em torno de alguém como Aécio Neves, que se apresenta "acima das classes e dos partidos", reencarnando seu avô, Tancredo Neves, a julgar pela experiência piloto vitoriosa em Belo Horizonte, onde haverá um governo de "coabitação" PT/PSDB, na barriga de aluguel da legenda do PSB. Se este governo for um sucesso, a burguesia pode forçar a edição nacional dessa experiência. Afinal, os dois partidos fizeram aliança em mais de 1.000 municípios nestas eleições.
O fator com mais potencial para pressionar uma solução desse tipo é a imprevisível crise mundial do capitalismo, que já "atravessou o Atlântico" e começa a trazer turbulências para a economia brasileira. O agravamento da crise e o risco de Lula ficar refém do PMDB podem levar o governo federal para posições mais conservadoras.
Até porque a força do PMDB fica maior ainda, quando se verifica que a disputa pelo segundo lugar, nestas eleições, entre PTxPSDB, não teve vencedor. Não havendo uma segunda força incontestável, a primeira paira acima das duas. Ambos saem destas eleições mais ou menos do mesmo tamanho, em número de prefeitos e vereadores. Serra teve uma vitória em São Paulo, mas com um candidato "terceirizado", filiado ao DEM, partido derrotado nacionalmente, condenado a sublegenda do PSDB, que consolidou sua hegemonia na oposição de direita, que inclui (quem diria!) o PPS.
O PT ficou do mesmo tamanho, mas perdeu qualidade, saindo das capitais mais importantes para a periferia. Perdeu três segundos turnos em capitais para o PMDB. Não se pode dizer que Lula foi derrotado nestas eleições, mas saiu com menos peso político. A falácia da transferência de votos se esfarelou, praticamente tirando do páreo a candidata a "poste", Dilma Russef, gerente principal do "choque de capitalismo". Outro potencial candidato da base do governo, o indefectível Cyro Gomes, pilotou um terceiro lugar na campanha em Fortaleza, que considerava seu quintal. E como deu trabalho para Lula eleger Luiz Marinho, em São Bernardo, onde o Presidente mora, vota e tem seu berço político: foram necessários dois turnos e a campanha mais cara de todo o país, na relação custo/eleitor! A situação do PT em 2010 pode não ser confortável. Pela primeira vez, Lula não será candidato a Presidente e até agora não apareceu o "candidato natural" do Partido.
Diante deste quadro, deve saltar aos olhos de quem se considera de esquerda a necessidade de se tentar criar uma alternativa à bipolaridade conservadora ou ao consenso burguês. A primeira coisa é abandonar a ilusão de uma candidatura "de esquerda" do PT à sucessão de Lula (que nem é "de esquerda"), até porque qualquer candidatura do PT só terá alguma possibilidade se aprovada pelo PMDB. Aliás, pode acontecer de o PMDB oferecer a Vice ao PT em 2010, pois, com a crise econômica, a tendência é que Lula, na ocasião, já não desfrute mais do atual índice de popularidade.
A segunda questão é reconhecer que a frente de esquerda formada em 2006 é absolutamente insuficiente para se auto-proclamar alternativa de poder. Não se trata aqui de analisar a questão somente pelo resultado eleitoral dos três partidos que a compuseram (PCB, PSOL e PSTU), que foi abaixo da expectativa, sobretudo no caso do PSOL, partido-frente, herdeiro de uma tradição eleitoral da antiga esquerda do PT, portador de quatro mandatos no Congresso Nacional. Os resultados matemáticos desses partidos foram fracos, principalmente pela desigualdade de condições frente aos partidos burgueses e reformistas, que dispõem de recursos fabulosos dos setores do capital que os financiam. Mas o fato é que esses três partidos, mesmo juntos, não se tem apresentado como uma real alternativa de poder.
Tanto é que a frente de esquerda não se reproduziu nacionalmente nestas eleições exatamente porque em 2006 não passou de uma coligação eleitoral, sem sequer um programa, sem continuidade, sem se transformar numa FRENTE POLÍTICA real, permanente. Uma frente de esquerda tem que apresentar um projeto político alternativo, para além das eleições, e não ser um mero expediente para eleger parlamentares e dar musculatura a máquinas partidárias.
A criação de uma alternativa real de poder em 2010 não pode ser apenas um ato de vontade da esquerda. Se o movimento de massas não se reanimar, a reedição de uma frente de partidos com registro em 2010 (PCB, PSOL e PSTU) será apenas um gesto burocrático, mais uma coligação eleitoral, fadada novamente à derrota. O que precisamos, além de apostar no movimento de massas, é constituir uma FRENTE POLÍTICA, baseada num programa comum e na unidade de ação, uma frente muito mais ampla do que esses três partidos citados e que incorpore outras organizações populares, movimentos sociais, personalidades e correntes de esquerda não registradas no TSE, até para enfrentar as conseqüências da crise do capitalismo, que certamente recairão nas costas dos trabalhadores e do povo em geral.
Mas não pode ser uma frente política apenas para disputar eleições, mas para unir, organizar e mobilizar os setores populares num bloco histórico para lutar por uma alternativa de esquerda para o país, capaz de galvanizar os trabalhadores pelas transformações econômicas, sociais e políticas, na construção de uma sociedade fraterna e solidária. As experiências recentes na América Latina mostram que a esquerda socialista só tem possibilidade de se tornar alternativa de poder e de realizar mudanças a partir de eleições, se a vitória eleitoral for produto do avanço do movimento de massas e se vier a enfrentar os inimigos de classe e romper os limites da legalidade burguesa.
(*) Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro)
P.S. O signatário deste blog concorda com o artigo acima, não apenas por pertencer, e com orgulho, ao PCB, mas por suas conclusões sobre o último processo eleitoral irem de encontro à incisiva, categórica e sucinta análise do Secretário Geral.
Conheça o site do Partidão:
http://www.pcb.org.br
As eleições municipais deste ano, apesar de absolutamente despolitizadas, acabaram por armar o cenário em que se dará a batalha eleitoral de 2010. Se a esquerda socialista não aprender com os resultados de 2008, vai continuar assistindo o jogo institucional de fora do campo, pela televisão, uma briga de cachorro grande entre dois projetos, cada vez mais parecidos, ambos se apresentando como a melhor alternativa para destravar e alavancar o capitalismo: o campo majoritário do PT e o PSDB. O centro do debate serão números macro-econômicos, ou seja, a comparação entre os governos FHC e Lula do ponto de vista do "risco Brasil", do preço do dólar, da balança comercial, das reservas internacionais, de quem criou mais (e piores) empregos e captou mais investimentos estrangeiros. Para usar uma expressão dos comentaristas econômicos burgueses, "quem fez melhor o dever de casa", leia-se, quem mais favoreceu o capital, que continua, no governo Lula, a aumentar sua participação na riqueza nacional, em detrimento do trabalho.
E o pior é que, se a esquerda socialista e os movimentos populares não criarem uma alternativa, quem vai decidir o jogo será o PMDB, o partido que sai mais fortalecido dessas eleições e que já começa a falar grosso, querendo as Presidências do Senado e da Câmara, ameaçando candidatura própria em 2010, para negociar mais espaço de poder, além dos seis ministérios que já ocupa. E é bom lembrar que o PMDB só tem compromisso com Lula até 2010 e assim mesmo se o partido continuar confortável em seu governo.
Aliás, esse jogo pode ser resolvido antes de começar o primeiro tempo. Alguns fatores podem levar a um consenso burguês que imponha, em 2010, uma solução de "união nacional", em torno de alguém como Aécio Neves, que se apresenta "acima das classes e dos partidos", reencarnando seu avô, Tancredo Neves, a julgar pela experiência piloto vitoriosa em Belo Horizonte, onde haverá um governo de "coabitação" PT/PSDB, na barriga de aluguel da legenda do PSB. Se este governo for um sucesso, a burguesia pode forçar a edição nacional dessa experiência. Afinal, os dois partidos fizeram aliança em mais de 1.000 municípios nestas eleições.
O fator com mais potencial para pressionar uma solução desse tipo é a imprevisível crise mundial do capitalismo, que já "atravessou o Atlântico" e começa a trazer turbulências para a economia brasileira. O agravamento da crise e o risco de Lula ficar refém do PMDB podem levar o governo federal para posições mais conservadoras.
Até porque a força do PMDB fica maior ainda, quando se verifica que a disputa pelo segundo lugar, nestas eleições, entre PTxPSDB, não teve vencedor. Não havendo uma segunda força incontestável, a primeira paira acima das duas. Ambos saem destas eleições mais ou menos do mesmo tamanho, em número de prefeitos e vereadores. Serra teve uma vitória em São Paulo, mas com um candidato "terceirizado", filiado ao DEM, partido derrotado nacionalmente, condenado a sublegenda do PSDB, que consolidou sua hegemonia na oposição de direita, que inclui (quem diria!) o PPS.
O PT ficou do mesmo tamanho, mas perdeu qualidade, saindo das capitais mais importantes para a periferia. Perdeu três segundos turnos em capitais para o PMDB. Não se pode dizer que Lula foi derrotado nestas eleições, mas saiu com menos peso político. A falácia da transferência de votos se esfarelou, praticamente tirando do páreo a candidata a "poste", Dilma Russef, gerente principal do "choque de capitalismo". Outro potencial candidato da base do governo, o indefectível Cyro Gomes, pilotou um terceiro lugar na campanha em Fortaleza, que considerava seu quintal. E como deu trabalho para Lula eleger Luiz Marinho, em São Bernardo, onde o Presidente mora, vota e tem seu berço político: foram necessários dois turnos e a campanha mais cara de todo o país, na relação custo/eleitor! A situação do PT em 2010 pode não ser confortável. Pela primeira vez, Lula não será candidato a Presidente e até agora não apareceu o "candidato natural" do Partido.
Diante deste quadro, deve saltar aos olhos de quem se considera de esquerda a necessidade de se tentar criar uma alternativa à bipolaridade conservadora ou ao consenso burguês. A primeira coisa é abandonar a ilusão de uma candidatura "de esquerda" do PT à sucessão de Lula (que nem é "de esquerda"), até porque qualquer candidatura do PT só terá alguma possibilidade se aprovada pelo PMDB. Aliás, pode acontecer de o PMDB oferecer a Vice ao PT em 2010, pois, com a crise econômica, a tendência é que Lula, na ocasião, já não desfrute mais do atual índice de popularidade.
A segunda questão é reconhecer que a frente de esquerda formada em 2006 é absolutamente insuficiente para se auto-proclamar alternativa de poder. Não se trata aqui de analisar a questão somente pelo resultado eleitoral dos três partidos que a compuseram (PCB, PSOL e PSTU), que foi abaixo da expectativa, sobretudo no caso do PSOL, partido-frente, herdeiro de uma tradição eleitoral da antiga esquerda do PT, portador de quatro mandatos no Congresso Nacional. Os resultados matemáticos desses partidos foram fracos, principalmente pela desigualdade de condições frente aos partidos burgueses e reformistas, que dispõem de recursos fabulosos dos setores do capital que os financiam. Mas o fato é que esses três partidos, mesmo juntos, não se tem apresentado como uma real alternativa de poder.
Tanto é que a frente de esquerda não se reproduziu nacionalmente nestas eleições exatamente porque em 2006 não passou de uma coligação eleitoral, sem sequer um programa, sem continuidade, sem se transformar numa FRENTE POLÍTICA real, permanente. Uma frente de esquerda tem que apresentar um projeto político alternativo, para além das eleições, e não ser um mero expediente para eleger parlamentares e dar musculatura a máquinas partidárias.
A criação de uma alternativa real de poder em 2010 não pode ser apenas um ato de vontade da esquerda. Se o movimento de massas não se reanimar, a reedição de uma frente de partidos com registro em 2010 (PCB, PSOL e PSTU) será apenas um gesto burocrático, mais uma coligação eleitoral, fadada novamente à derrota. O que precisamos, além de apostar no movimento de massas, é constituir uma FRENTE POLÍTICA, baseada num programa comum e na unidade de ação, uma frente muito mais ampla do que esses três partidos citados e que incorpore outras organizações populares, movimentos sociais, personalidades e correntes de esquerda não registradas no TSE, até para enfrentar as conseqüências da crise do capitalismo, que certamente recairão nas costas dos trabalhadores e do povo em geral.
Mas não pode ser uma frente política apenas para disputar eleições, mas para unir, organizar e mobilizar os setores populares num bloco histórico para lutar por uma alternativa de esquerda para o país, capaz de galvanizar os trabalhadores pelas transformações econômicas, sociais e políticas, na construção de uma sociedade fraterna e solidária. As experiências recentes na América Latina mostram que a esquerda socialista só tem possibilidade de se tornar alternativa de poder e de realizar mudanças a partir de eleições, se a vitória eleitoral for produto do avanço do movimento de massas e se vier a enfrentar os inimigos de classe e romper os limites da legalidade burguesa.
(*) Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro)
P.S. O signatário deste blog concorda com o artigo acima, não apenas por pertencer, e com orgulho, ao PCB, mas por suas conclusões sobre o último processo eleitoral irem de encontro à incisiva, categórica e sucinta análise do Secretário Geral.
Conheça o site do Partidão:
http://www.pcb.org.br
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