Em 2000 a cama estava pronta para que o futuro presidente estadunidense se tornasse, de fato, o homem mais poderoso do mundo. Vários fatores levaram a conjuntura propícia interna e, principalmente externamente, para que o presidente a ser eleito em novembro daquele ano continuasse a política de Pax Americana sob a insígnia da policia mundial.
Sucessivas administrações estadunidenses minaram o poder da Europa Ocidental, Japão e Leste Europeu. O perigo vermelho estava derrotado, a Rússia passava por grave crise financeira em pleno processo de reformulação da sua economia, estava a pouco mais de uma década do colapso da URSS e ainda enfrentava os separatistas chechenos. Países satélites da antiga URSS já haviam sido cooptados. E, no quintal do Uncle Sam, a America Latina, os movimentos revolucionários eram página virada. A delicada questão do Oriente Médio estava entregue a Israel – a nova Intifada, iniciada em 2000 – era a desculpa perfeita para o recrudescimento do uso da força pelo Estado judeu e uma nova onda de disseminação do preconceito contra o Islã.
O consenso de Washington dava a garantia de que os rumos da economia seguiriam o neoliberalismo por alguns anos. O poder econômico do Japão já não se configurava em ameaça e União Européia titubeava – como hoje titubeia ainda – em todas as questões que a põe contra os interesses norte-americanos. No plano interno a economia norte-americana passava por um dos ciclos mais vigorosos da história. O número de milionários se multiplicara de maneira jamais vista e o crédito fácil e farto fazia a alegria do mercado. Um dos maiores problemas talvez fosse a emergência da China para o plano das grandes potências, mas os chineses levariam anos ainda para se firmarem como ameaça de fato, e os interesses comerciais mútuos, a princípio, seriam suficientes para domesticar o dragão chinês.
Para reafirmar a supremacia ianque o governo Clinton havia arrombado a porta das convenções internacionais e estabelecido a unilateralidade ao usar a OTAN para bombardear os Bálcãs, desrespeitando decisões tomadas no seio do Conselho de Segurança da ONU.
Tudo estava perfeito para que o novo presidente voasse em céu de brigadeiro e impusesse ao mundo a política de dominação total do planeta gestada desde o governo Truman. Pois não havia mais adversários de peso. Os bons resultados da economia lhe dariam o necessitado cacife interno.
Mas a história tem lá das suas e as coisas não são tão fáceis quanto parecem.
Na eleição mais tumultuada da história estadunidense George W. Bush não venceu, mas levou. Perdeu para All Gore no voto popular e só ganhou no Colégio Eleitoral por três votos de diferença. Ainda assim esses três votos são contestados com justeza. Bush garantiu os delegados da Florida graças a uma decisão judicial e após contagem, recontagem e várias outras recontagens. Trama também para a tese de ilegitimidade do resultado, o fato de a justiça daquele estado do sul estadunidense estar sob o controle do governador Jeb Bush, por uma dessas coincidências, irmão de George W. Bush.
O cowboy e ex-governador do Texas toma posse com o país em crise de legitimidade. Sua boçalidade e estupidez faz com que nos primeiros nove meses de governo se torne um dos presidentes mais impopulares dos EEUU. Mas como a história, já disse antes, tem lá das suas, eis que literalmente cai do céu a solução para seus problemas.
Caso a humanidade sobreviva até daqui uns dois, três ou quatro séculos, a leitura que os historiadores, sociólogos, cientistas políticos, filósofos, antropólogos, enfim o conhecimento humano, fará do 11 de setembro de 2001 será o de uma das datas mais negras presenciadas pelo homem desde que desceu das árvores e passou andar sobre duas pernas. E não em razão das vitimas do ataque ao World Trade Center, mas sim porque, ali, deu-se início de fato a um dos governos mais sangrentos da humanidade e sua violenta política externa. Império, e imperialismo, cada vez mais virulento, impositivo, repressivo e com um sem numero de assassinatos nas costas. Uma data que desencadeou o terror de estado contra a população civil de maneira impensada pelos bárbaros do passado. Uma data que serviu de pretexto para as grandes corporações se lançarem numa guerra contra o terror em escala global, mesmo sem ter um inimigo definido, mas com objetivos claros, garantir lucros para a indústria bélica, fomentar a economia de guerra, isolar adversários em potencial e controlar reservas energéticas em todo o planeta.
O governo Bush, entra para a História, marcado pela luta desenfreada para impor Hobbes e a tese do Estado detentor do monopólio da violência. O circo de horrores de Bush possuiu entre outros espetáculos da vergonha e miséria humana, o sórdido apoio a política de extermínio de palestinos por Israel. O campo de concentração e tortura de Guantánamo. As invasões do Afeganistão e do Iraque, não sem antes usar a população civil como cobaia para experimentos militares. O desaparecimento do mapa de cidades milenares nesses dois países. O bombardeio incessante sobre Fallujah. A plantação de calúnias, mentiras e difamação nos meios de comunicação – grandes redes da mídia empresarial promíscuos com a permissividade do governo. A suspensão de diretos individuais e liberdades civis, crimes de guerra, crime de lesa-pátria, abandono dos flagelados do Katrina e das milhares famílias que perdem a casa todo o dia por conta da crise dos subprimes, etc, etc, etc...
Isso foi o governo do Cowboy Bush. Mas mesmo estando nos seus estertores é melhor ninguém duvidar que ainda possa nos proporcionar mais espetáculos no seu circo de horrores.
3 comentários:
Realmente, isso foi o governo Bush, nem tem o que acrescentar. Belíssimo texto, parabéns.
Quarta-Feira, 05/11/08
ABORDANDO UM COMENTÁRIO
Recepcionei mais um excelente comentário do Blog Dissolvendo-No-Ar, cuja leitura obrigou-me de imediato concluí-la. Como sempre tem sido os comentários do titular do referido Blog, este não teve um só desvio na perfeita abordagem ao assunto crítico “O CIRCO DE HORRORES DO ‘COWBOY’ BUSH”.
Em pouco mais de uma folha “A4” o sociólogo Hudson estripou, aos quantos se derem ao prazer à leitura, toda a maldita herança deixada em seu rastro político o agora deletado presidente Bush – de triste memória a todos os habitantes do planeta – e seu “staff”.
Todo o comentário teve a saudável oportunidade de satisfazer o meu “ego”, porém os três últimos parágrafos foram de uma felicidade sem par! É isto o que se espera de um cidadão integrado totalmente à atuante vida de um estudioso da matéria de foro internacional. Parabéns! Não tenho muito mais a dizer, a não ser que muito tenho aprendido com o amigo de Poços de Caldas, MG.
Morani
Muito bom seu blog e a maneira que escreve também é otima, muito bem fundamentada suas opiniões.
Vou adicionar o blog entre os que acompanho.
Parabéns.
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