sábado, 28 de março de 2009

Filhos e filhas

No final do ano passado veio à baila a notícia dando conta que o nome de Siméa Antum, ex-amante de Luis Eduardo Magalhães, constava na folha de pagamentos do Congresso Nacional como assessora parlamentar. Na verdade, a notícia não seria algo relevante, não mereceria mais que meia dúzia de linhas nas colunas de fofoca, não fosse o fato de essa mulher, ao menos desde a morte de Luis Eduardo, nunca mais ter aparecido no Congresso, ter se transformado em funcionária fantasma. Após a morte do ex-presidente da Câmara, em abril de 1998, teria passado para a conta dos assessores de ACM. Com a morte do patriarca, ACM Júnior herdou do pai a cadeira e a situação de Siméa. Mais interessante ainda é que Siméa tem um filho de 14 anos fruto do relacionamento com LEM e, no entanto, apenas em setembro último, mais de 12 anos da morte do amante, passou a reclamar os direitos de seu filho as heranças de LEM e ACM – só a fortuna do antigo dono da Bahia é estimada em cerca de 345 milhões. Não é necessária muita sagacidade e argúcia para deduzir o porquê dela nunca ter requerido oficialmente a pensão do filho e demais direitos. Somos nós, o povo brasileiro, que, extra-oficialmente, pagamos por anos a fio essa pensão.

Já ontem, a Folhona trouxe na coluna da jornalista Mônica Bergamo uma entrevista com Luciana Cardoso, filha de FFHH e assessora do senador Heráclito Fortes. Em princípio não vejo nada de antiético no fato duma filha qualquer dum ex-presidente qualquer da república trabalhar num órgão público qualquer, seja concursada, contratada, ou mesmo ocupando cargo de confiança. Assim como acho nonsense a discussão sobre nepotismo no Brasil. Da forma radical como é posto aqui se trata mais de sentença punitiva aos parentes de alguém que se dispõe a participar da vida político-partidária eleitoral do que qualquer outra coisa.

Porém, e sempre existe o porém, isso não me impede de fazer algumas observações. Como a curiosa ligação no fato da filha de FFHH trabalhar para o senador Heráclito Fortes que, como muita gente sabe, é um dos líderes no Congresso Nacional da bancada de Daniel Dantas. Inclusive o nobre senador piauiense anda pra baixo e pra cima num dos jatinhos de DD. O mesmo DD que FFHH recentemente chamou de “brilhante”.

A filha de FFHH trabalha para um cacique do DEMO, todavia, o pai é a principal figura do PSDB, tanto por seu poder intelectual, quanto por ter ocupado a presidência da República por oito anos. Por que afinal de contas a moça não trabalha para Arthur Virgílio – pra quem o nome da capital brasileira deveria passar a ser “Fernandópolis” – ou Tasso Jereissati, ou Flexa Ribeiro, ou Neudo do Couto, todos do PSDB. Alguém poderá até aludir sobre o fato do DEMO ter uma aliança – que parece sólida – com os tucanos, entretanto, e justamente, na recente disputa pela presidência do Senado houve um conflito de interesses onde ambos estiveram em lados opostos. O PSDB apoiou o candidato petista Tião Viana, enquanto os herdeiros do PFL preferiram – como sempre – o atraso, naquele momento atendendo pelo nome nada auspicioso de José Sarney. Aliás, Heráclito Fortes se saiu bem com a recondução do “Senhor do Maranhão e do Amapá”, visto que no momento ocupa o cargo de 1º Secretário. Ou então não seria mais fácil colocá-la dentro do PSDB com alguma função especifica. Ah, claro!!! No senado quem paga seus vencimentos somos nós, os contribuintes.

Outra questão, essa pra mim muito delicada, pra dizer o mínimo. Luciana Cardoso afirma que parte do seu trabalho é cuidar de coisas pessoais do senador e coisas de campanha. Sinceramente, não sei se há algo de ilegal em uma funcionaria pública tomar conta de assuntos pessoais de sua chefia imediata. No entanto, não podemos nos esquecer que enquanto funcionária pública ela é paga com recursos do Erário. Portanto, aí sim, existe algo extremamente antiético. Ademais, fica evidenciado o desvio de funções. Ou será correto o povo brasileiro pagar para que o senador Heráclito Fortes tenha uma secretária cuidando de suas coisas “pessoais” e de suas “campanhas”. Eu, na condição de contribuinte, caso consultado, me recusaria a pagar por tanto, seja para Fortes e para qualquer outro membro dos Poderes Legislativo, Executivo e/ou Judiciário.

Outra questão, ou melhor, duas. Luciana Cardoso disse que trabalha a maior parte do tempo em casa. É de indagar se esse tipo de expediente é usual no Senado ou se apenas a filha do ex-presidente usufrui tal beneficio. E ainda, é difícil engolir que Luciana não sabe se recebeu ou não horas extras em janeiro. Ficaria mais bonito pra moça dizer que recebeu e pronto. Caiu-lhe muito mal dizer que não sabe. Ou será que ela tem mais coisas a esconder do que apenas as horas extras de janeiro?

Quando a grande imprensa e a oposição farisaica, irmãs xifópagas, descobriram que um dos filhos de Lula estava progredindo no ramo de comunicações, se não me engano¬, não tiveram dúvidas e imediatamente fizeram elucubrações sobre uso da máquina pública e trafico de influências. E agora, que uma filha de FFHH é descoberta tendo uma “boquinha” no senado, o “pecado” passará batido? Não pedirão uma CPI que tanto adoram.

Ao menos a Folhona da Ditabranda nos revelou mais este pequeno escândalo. Mas é sempre bom ficar esperto, pois com a midiazona é assim, quando muito, uma no cravo e duas na ferradura.


LUCIANA CARDOSO

"O Senado é uma bagunça"

Folha de São Paulo, 27 de março de 2009.



Funcionária do Senado para cuidar "dos arquivos" do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), Luciana Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, diz que prefere trabalhar em casa já que o Senado "é uma bagunça". A coluna telefonou por três dias para o gabinete, mas não a encontrou. Na última tentativa, anteontem, a ligação foi transferida para a casa de Luciana, que ocupa o cargo de secretária parlamentar. Abaixo, um resumo da conversa:

FOLHA - Quais são suas atribuições no Senado?

LUCIANA CARDOSO - Eu cuido de umas coisas pessoais do senador. Coisas de campanha, organizar tudo para ele.

FOLHA - Em 2006, você estava organizando os arquivos dele.

LUCIANA - É, então, faz parte dessas coisas. Esse projeto não termina nunca. Enquanto uma pessoa dessa é política, é política. O arquivo é inacabável. É um serviço que eternamente continuará, a não ser que eu saia de lá.

FOLHA - Recebeu horas extras em janeiro, durante o recesso?

LUCIANA - Não sei te dizer se eu recebi em janeiro, se não recebi em janeiro. Normalmente, quando o gabinete recebe, eu recebo. Acho que o gabinete recebeu. Se o senador mandar, devolvo [o dinheiro]. Quem manda pra mim é o senador.

FOLHA - E qual é o seu salário?

LUCIANA - Salário de secretária parlamentar, amor! Descobre aí. Sou uma pessoa como todo mundo. Por acaso, sou filha do meu pai, não é? Talvez só tenha o sobrenome errado.

FOLHA - Cumpre horário?

LUCIANA - Trabalho mais em casa, na casa do senador. Como faço coisas particulares e aquele Senado é uma bagunça e o gabinete é mínimo, eu vou lá de vez em quando. Você já entrou no gabinete do senador? Cabe não, meu filho! É um trem mínimo e a bagunça, eterna. Trabalham lá milhões de pessoas. Mas se o senador ligar agora e falar "vem aqui", eu vou lá.

FOLHA - E o que ele te pediu nesta semana?

LUCIANA - "Cê" não acha que eu vou te contar o que eu tô fazendo pro senador! Pensa bem, que eu não nasci ontem! Preste bem atenção: se eu estou te dizendo que são coisas particulares, que eu nem faço lá porque não é pra ficar na boca de todo mundo, eu vou te contar?

3 comentários:

Lingua de Trapo disse...

Bem analisado Hudson, mas eu não me incomodaria se o funcionário do Senador prestasse serviço ´no Senado, na base do Senador ou em qualquer outro lugar, acho isso irrelevante. O indecente é essa gente entrar para o serviço público e usufruir das melhores vantagens e remunerações sem sequer prestar concurso, isso sim é revoltante, afinal, só no Senado estima-se que são mais de 3000, até aonde se sabe.

Blog do Morani disse...

29/03/09

Vamos fechar o mes com o conhecimento de mais uma pouca vergonha no Congresso; aliás, isto já caiu, há muito, no poço das coisas "normais" e aceitáveis". Parece, a mim, que em não havendo imoralidades aí,sim,os fatos se tornam imorais. Tem que haver imoralidade; nepotismo cruzado e cinismo da parte do apaniguado de um dos caciques do Senado.
Sim, há um filho de Lula - Lulinha - que era funcionario do zoológico de São Paulo com salário de R$ 1500 por mês. Não sei de seu poder em realizar "milagres",mas o salariozinho do filhote pariu mais reais (como parem as ratazanas seus filhotes)dando-lhe condições de se associar a uma empresa de comunicação, comprar fazendas, de porteiras fechadas, ter o seu rebanho aceite no mercado comum europeu como bom, sem problemas de saúde, e etc., etc.e etc.. Agora, surge no palco "mal iluminado" do Congresso a secretária "particular" de um senador, porém paga ao sabor do erário publico - o nosso dinheiro - como se o senador em questão não tivesse condições de tirar ao próprio bolso o valor do salário de sua "secretária particular"!.
Não sei até quando irão surgir escândalos como esse que toma "ares" de coisa normal. Ora, trata-se da filha do ex-presidente FHC. Quer dizer: filho de Lula e filha de FHC estão voando por cima da carniça com sorrisos de hiena a gozarem de todos e a cuspirem em nossas caras.
Ao comentarista Língua de Trapo:

O amigo acredita mesmo nesses resultados de concursos públicos? Tanto faz tê-los como não, os patifes são "recolhidos" ao seio dos bons empregos com salários de marajás (nem todos, só os escolhidos pela súcia dos imorais. E vem a moça, filha do FHC, cinicamente declarar que não lembra se recebeu ou não "horas extras" em janeiro. Eta Brasilzinho de fuminho bom, sô!

Jorge disse...

Ué, mas o fhc (MINÚSCULO MESMO...) não tem um cartão corporativo??
Alguém poderia me mandar a declaração de IR do filho do Presidente Lula para vermos DE FATO o que ele tem, pois de achismo, eu já estou cheio. Será que o blogueiro (do Morani) sabe o que a expressão "de porteira fechada" significa: Acho que não.