Por Tiago Barbosa Mafra
O planeta Terra apresenta algumas condições essenciais para a sobrevivência do ser humano, sendo a água um dos recursos naturais indispensáveis que garantem a perpetuação da vida.
Devido à sua importância na formação e desenvolvimento das sociedades humanas, desde os grupos tribais até os dias atuais, a própria Organização das Nações Unidas incluiu nas Metas do Milênio a necessidades do uso racional dos recursos hídricos como forma de contribuir para a redução da pobreza extrema. Na reunião Rio+10, realizada em 2002 em Johanesburgo, na África do Sul, ficou clara a obrigação de um crescimento econômico que não desconsidere os fatores ambientais.
Mesmo o ciclo hidrológico sendo um renovador constante da água, a atuação humana desregrada, apesar dos alertas dos organismos internacionais e de estudiosos dos mais variados institutos de pesquisa do mundo, vem causando a destruição, impossibilidade de recuperação e consequentemente a escassez e problemas de acesso à água potável.
Despejo de dejetos, avanço das manchas urbanas sem planejamento, impermeabilização do solo, desrespeito às leis ambientais, tudo isso e muito mais têm contribuído para o agravamento da situação.
Infelizmente, o discurso do desenvolvimento sustentável não passa de discurso, haja visto por exemplo, a insistência do poder público municipal de Poços de Caldas-MG em dar um “passo” maior do que as condições locais podem suportar. Aliás, os grupos políticos locais mais poderosos têm mesmo a mania de dar o “passo” primeiro e questioner a população depois, isso quando questionam.
O que é certo é que as decisões políticas que envolvem problemáticas ambientais precisam de uma percepção do conjunto, dos impactos a longo prazo e das heranças históricas e espaciais que pretendemos legar às gerações futuras. Cabe a população o acompanhamento e a fiscalizaçãoda da situação para impedir irregularidades e irresponsabilidades.
Fica a dúvida de que talvez alguns gestores tenham interpretado mal o trecho da música de Paulo Tatit e Arnaldo Antunes: “Toda a água é mesmo água e só”.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
10 + - 3ª Posição: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club (Beatles, 1967)
Por Marcos A. M. Cruz | Em 29/04/00
http://whiplash.net/materias/cds/003210-beatles.html
Normalmente na vida passa-se por três estágios bem definidos: infância, quando a grosso modo somos inocentes, ingênuos, sem nenhuma preocupação maior a não ser satisfazer nossos instintos primários; idade adulta, quando ampliamos de forma descomunal nosso campo de percepção, nos deparando com inúmeras coisas que sequer sonhávamos existir; em contrapartida, os problemas e preocupações atingem níveis muito mais profundos (juntamente com nossa capacidade de entender e solucioná-los); e por último a velhice, que de modo geral além de contar com todas características da idade adulta ainda vêm acompanhada do temor da morte, problemas físicos etc (estes infelizmente até hoje sem solução).
Quando se passa de uma fase à seguinte, há períodos de transição, no qual ainda não somos nem uma coisa nem outra. No caso específico da infância e idade adulta, há entre elas a adolescência, fase no qual mantemos características de ambas simultaneamente; nesta época geralmente nos tornamos rebeldes e contestadores, ao mesmo tempo em que vamos absorvendo tudo que acontece ao nosso redor.
Pois bem, se considerarmos o Rock como algo de certa forma “orgânico” (face tratar-se de uma manifestação artística, e como tal refletir nossas sensações) podemos estabelecer uma analogia com uma existência humana, inclusive de forma cronológica! Afinal, nascido no início da década de 50, nos primeiros anos vamos encontrar apenas características, digamos, “infantis” em sua expressão, pois inicialmente seu objetivo único era a diversão pura e simples, tal qual uma criança que literalmente “vive para brincar”.
Porém com o passar do tempo, da mesma forma que uma pessoa vai crescendo e tomando contato com experiências diferentes e se vê despertando para o mundo que a cerca, o Rock foi aos poucos incorporando elementos “sérios” em sua arte, além de absorver cada vez mais as vibrações correntes no mundo.
Aliado à isto há o fato da década de 60 ter sido especial, pois naqueles anos ocorreram profundas mudanças, principalmente comportamentais, que “mexeram” com praticamente toda população ocidental do planeta, notadamente os jovens, pois naturalmente estão mais “abertos” à mudanças. E o Rock, à época praticado de e para a juventude, consequentemente foi uma das manifestações artísticas que mais refletiram este estado de espírito, onde todo e qualquer experimentalismo era válido em busca de uma alternativa ao que era considerado “tradicional”.
Até meados da década (quando o Rock teria algo em torno de 13, 14 anos de idade) de modo geral não havia uma preocupação maior com a “arte” em si, pois seu objetivo era apenas o entretenimento; as letras raramente iam além do “rapaz ama garota” e suas variações, e a parte instrumental, com raras exceções, serviam apenas como mero acompanhamento para alguém que estivesse cantando. Eis que por volta de 1965/1966 começaram a surgir alguns artistas que ansiavam romper esta barreira, ora discursando sobre temas mais “profundos”, ora imprimindo um pouco mais de “virtuosismo” ou mesclando diversos elementos na parte musical.
Embora as mudanças de uma fase à outra não ocorram de forma brusca, geralmente há algum fato ou acontecimento que marca esta transição, pois o ser humano têm necessidade de estabelecer determinadas datas ou acontecimentos para melhor situá-los; sendo assim, sempre há algo que fica marcado em nossas vidas como um “marco” da transição para a fase adulta: pode ser o primeiro beijo ou ato sexual, o primeiro “porre”, ou algo totalmente insignificante visto sob o prisma de quem está do lado de fora, mas que marca profundamente quem o vivenciou. Tanto que em algumas culturas existem certos “ritos de passagem” para a idade adulta; entre nós há o “baile de debutantes” para as meninas e o “serviço militar” para os meninos.
E o Rock naturalmente também têm os seus “marcos”.
Um dos maiores deles, que selou definitivamente esta passagem da “infância” para a fase “adulta”, foi o lançamento, nos primeiros dias do mês de junho de 1967, do “Sgt.Peppers Lonely Hearts Club Band” dos Beatles.
A própria banda já vinha ensaiando uma ruptura com o padrão “yeah yeah yeah” desde o “Rubber Soul” de 1966; contudo foi nesse trabalho que expandiram até o limite do imaginável o caráter experimentalista e ousado que marcou a produção artística desta época, graças a uma série de fatores: em primeiro lugar, na época eles já eram “The Beatles”, portanto qualquer coisa que fizessem teria venda certa e garantida; em segundo, dinheiro era o que não faltava, portanto qualquer “loucura” podia ser levada a termo, além de que isto possibilitava acesso a todos recursos técnicos disponíveis, e por outro lado possibilitava o acesso às drogas, principalmente alucinógenas, que embora obviamente tenham como efeito colateral após algum tempo a total inapetência do usuário para qualquer tipo de atividade, no início ajudam à expandir a mente e “desbloqueá-la” de todos e quaisquer conceitos preestabelecidos; por fim, impossível negar a grande capacidade dos “cabeludos de Liverpool” de misturar tudo isto, reciclar e nos devolver em forma de música!
No início daquele mesmo ano os Beatles haviam lançado um compacto com “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever”, que em suas tinturas psicodélicas antecipavam um pouco do conteúdo do que estava por vir, pois foram gravadas nas mesmas sessões do “Sgt.Pepper’s...”, sessões estas que se iniciaram em dezembro de 1966 e terminaram em abril de 1967, totalizando mais de 700 horas de estúdio!
Já foram escritos vários livros sobre o álbum, portanto será impossível descrever em detalhes neste curto texto os meandros técnicos que o tornaram revolucionário; mas vamos a alguns fatos: foi um dos primeiros trabalhos “conceituais’ da história do Rock, ou seja, as canções se interligam e formam um único tema; a arte gráfica é um caso à parte: concebida por Peter Blake à partir de colagens sugeridas pelos Fab Four, a capa reúne cerca de 50 personalidades diversas, além dos próprios Beatles em duas versões – numa em sua fase “bons moços de terninhos” representados por bonecos de cera oriundos do museu de Madame Trussaud e noutra os quatro em pessoa metamorfoseados em membros da “Banda do Sargento Pimenta”; além disso foi o primeiro LP à vir com as letras impressas na contracapa, e no encarte vinham alguns “souvenirs” como uma insígnia e bigodes para que o ouvinte interagisse com a obra, se transformando também em mais um membro da fictícia banda...
O disco abre com “Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, que serve como uma introdução à Banda do Sargento Pimenta; ao final, há a apresentação de um tal de “Billy Shears”, representado por Ringo, que entra cantando “A Little Help From My Friends”, faixa que acabou sendo banida das rádios inglesas à época pelo verso “I get high with a little help from my friends”, pois muitos viam nestes versos uma alusão à drogas (“ficar alto com uma mãozinha de meus amigos...”). Depois temos a polêmica “Lucy In The Sky With Diamonds”, que de acordo com Paul foi inspirada por alguns desenhos feitos por Julian, filho de John. Polêmicas à parte, o fato é que além de suas iniciais formarem o termo L.S.D., esta faixa se tornou um clássico do psicodelismo pela sua letra e arranjos “surreais”. Prossegue com “Getting Better”, canção com clima e letra bastante otimistas. Depois vêm “Fixing A Hole” no qual Paul faz uma analogia com “o buraco na sua estrutura que impede sua mente de seguir em frente” e segue com “She’s Leaving Home”, que relata de forma triste o conflito de gerações, pois conta a história de uma jovem que abandona a casa dos pais por sentir falta de atenção e carinho, ao que estes ficam perplexos pois “ nós lhe demos tudo que o dinheiro pode comprar”. Para encerrar o lado A temos “Being For The Benefit Of Mr.Kite!”, canção que serve de contraponto à melancolia da anterior, devido à atmosfera meio “circense” recriada pela banda.
O Lado B começa com “Within You, Without You”, composição de Harrison que segue a linha de seus trabalhos da época com influências indianas. Depois temos quatro faixas bem divertidas e descompromissadas: a primeira é “When I’m Sixty-Four”, no qual Paul canta as alegrias de ter 64 anos(!) de idade – de acordo com ele, esta canção foi feita em homenagem ao seu pai; a segunda é “Lovely Rita Meter Maid”, dedicada às moças que cuidavam do parquímetro (aparelho utilizado para controlar o tempo em que um carro permanecia estacionado nos EUA e Inglaterra naquela época – processo similar ao que no Brasil chamamos de “Zona Azul”). Após o canto de um galo temos a terceira faixa – “Good Morning, Good Morning”, canção animadíssima que serve de prenúncio à despedida da Banda do Sargento Pimenta em “Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band (reprise)”. Mas enquanto a banda vai se despedindo começam os primeiros acordes de “A Day In The Life”, intrigante canção que forma um verdadeiro painel sonoro ao mesmo tempo em que trata de problemas existenciais de uma forma totalmente inédita até então! Ao final dela temos um longo acorde (cerca de 40 segundos) produzido por três pianos, e em seguida um som emitido em 20 mil hertz – audível somente para cães(!).
Nas edições em vinil o sulco central do disco traz uma série de ruídos desconexos, gravados durante uma festa após as gravações de “A Day In The Life”, no qual havia uma orquestra contratada por George Martin, que ao invés de tocar algo mais “ortodoxo” se limitou à tocar uma série de notas graves e agudas conforme instruções de Martin. Muitas pessoas se debruçaram sobre estes ruídos, tocando-os em diferentes rotações e de trás para frente, com o objetivo de descobrir algum significado oculto neles... obviamente vários foram encontrados, desde alguém sussurrando “Paul is dead”, o que corroboraria a hipótese de sua morte, até “we’ll fuck you like Superman” e muitas outras coisas...
Descrito assim através de palavras é impossível se ter uma idéia da riqueza dos arranjos e da variedade de nuances obtidas em grande parte graças ao primoroso trabalho de produção de George Martin, aliado à dedicação de Geoff Emerick e Richard Lusch, engenheiros de gravação que conseguiram a proeza de registrar em parcos quatro canais vocais, instrumentos “normais” (baixo, guitarra, bateria, piano, órgão), outros atípicos para uma banda de Rock (harpa, cravo, acordeão, cítara), ruídos de todas espécies (galos cantando, despertador) além de uma orquestra de 30 músicos!
Embora tenham lançado outros grandes trabalhos após o “Sgt.Peppers...” este foi o último que manteve uma certa unidade entre os músicos – notadamente John e Paul, pois logo após seus interesses começaram à tomar rumos bem distintos e os atritos atingiriam proporções imensas, culminando na separação da banda em 1970.
É difícil dissociar os Beatles de todas as revoluções ocorridas àquela época, pois sua influência não se resumiu apenas à música, mas também à atitudes e comportamentos, mesmo se não houvessem lançado este álbum ou encerrado as atividades em 1966...
...com este álbum então, a coisa se torna covardia... pois com ele o Rock foi elevado à categoria de “Arte”... e o mundo nunca mais foi o mesmo...
Músicas:
Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band
With A Little Help From My Friends
Lucy In The Sky With Diamonds
Getting Better
Fixing A Hole
She’s Leaving Home
Being Fot The Benefit Of Mr.Kite
Within You Without You
When I’m Sixty Four
Lovely Rita
Good Morning, Good Morning
Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
A Day In The Life
Beatles:
Paul McCartney (Baixo/Vocal)
George Harrison (Guitarras/Vocal)
John Lennon (Guitarras/Vocal)
Ringo Star (Bateria)
Produção: Beatles e George Martin
Por Marcos A. M. Cruz | Em 29/04/00
http://whiplash.net/materias/cds/003210-beatles.html
Normalmente na vida passa-se por três estágios bem definidos: infância, quando a grosso modo somos inocentes, ingênuos, sem nenhuma preocupação maior a não ser satisfazer nossos instintos primários; idade adulta, quando ampliamos de forma descomunal nosso campo de percepção, nos deparando com inúmeras coisas que sequer sonhávamos existir; em contrapartida, os problemas e preocupações atingem níveis muito mais profundos (juntamente com nossa capacidade de entender e solucioná-los); e por último a velhice, que de modo geral além de contar com todas características da idade adulta ainda vêm acompanhada do temor da morte, problemas físicos etc (estes infelizmente até hoje sem solução).
Quando se passa de uma fase à seguinte, há períodos de transição, no qual ainda não somos nem uma coisa nem outra. No caso específico da infância e idade adulta, há entre elas a adolescência, fase no qual mantemos características de ambas simultaneamente; nesta época geralmente nos tornamos rebeldes e contestadores, ao mesmo tempo em que vamos absorvendo tudo que acontece ao nosso redor.
Pois bem, se considerarmos o Rock como algo de certa forma “orgânico” (face tratar-se de uma manifestação artística, e como tal refletir nossas sensações) podemos estabelecer uma analogia com uma existência humana, inclusive de forma cronológica! Afinal, nascido no início da década de 50, nos primeiros anos vamos encontrar apenas características, digamos, “infantis” em sua expressão, pois inicialmente seu objetivo único era a diversão pura e simples, tal qual uma criança que literalmente “vive para brincar”.
Porém com o passar do tempo, da mesma forma que uma pessoa vai crescendo e tomando contato com experiências diferentes e se vê despertando para o mundo que a cerca, o Rock foi aos poucos incorporando elementos “sérios” em sua arte, além de absorver cada vez mais as vibrações correntes no mundo.
Aliado à isto há o fato da década de 60 ter sido especial, pois naqueles anos ocorreram profundas mudanças, principalmente comportamentais, que “mexeram” com praticamente toda população ocidental do planeta, notadamente os jovens, pois naturalmente estão mais “abertos” à mudanças. E o Rock, à época praticado de e para a juventude, consequentemente foi uma das manifestações artísticas que mais refletiram este estado de espírito, onde todo e qualquer experimentalismo era válido em busca de uma alternativa ao que era considerado “tradicional”.
Até meados da década (quando o Rock teria algo em torno de 13, 14 anos de idade) de modo geral não havia uma preocupação maior com a “arte” em si, pois seu objetivo era apenas o entretenimento; as letras raramente iam além do “rapaz ama garota” e suas variações, e a parte instrumental, com raras exceções, serviam apenas como mero acompanhamento para alguém que estivesse cantando. Eis que por volta de 1965/1966 começaram a surgir alguns artistas que ansiavam romper esta barreira, ora discursando sobre temas mais “profundos”, ora imprimindo um pouco mais de “virtuosismo” ou mesclando diversos elementos na parte musical.
Embora as mudanças de uma fase à outra não ocorram de forma brusca, geralmente há algum fato ou acontecimento que marca esta transição, pois o ser humano têm necessidade de estabelecer determinadas datas ou acontecimentos para melhor situá-los; sendo assim, sempre há algo que fica marcado em nossas vidas como um “marco” da transição para a fase adulta: pode ser o primeiro beijo ou ato sexual, o primeiro “porre”, ou algo totalmente insignificante visto sob o prisma de quem está do lado de fora, mas que marca profundamente quem o vivenciou. Tanto que em algumas culturas existem certos “ritos de passagem” para a idade adulta; entre nós há o “baile de debutantes” para as meninas e o “serviço militar” para os meninos.
E o Rock naturalmente também têm os seus “marcos”.
Um dos maiores deles, que selou definitivamente esta passagem da “infância” para a fase “adulta”, foi o lançamento, nos primeiros dias do mês de junho de 1967, do “Sgt.Peppers Lonely Hearts Club Band” dos Beatles.
A própria banda já vinha ensaiando uma ruptura com o padrão “yeah yeah yeah” desde o “Rubber Soul” de 1966; contudo foi nesse trabalho que expandiram até o limite do imaginável o caráter experimentalista e ousado que marcou a produção artística desta época, graças a uma série de fatores: em primeiro lugar, na época eles já eram “The Beatles”, portanto qualquer coisa que fizessem teria venda certa e garantida; em segundo, dinheiro era o que não faltava, portanto qualquer “loucura” podia ser levada a termo, além de que isto possibilitava acesso a todos recursos técnicos disponíveis, e por outro lado possibilitava o acesso às drogas, principalmente alucinógenas, que embora obviamente tenham como efeito colateral após algum tempo a total inapetência do usuário para qualquer tipo de atividade, no início ajudam à expandir a mente e “desbloqueá-la” de todos e quaisquer conceitos preestabelecidos; por fim, impossível negar a grande capacidade dos “cabeludos de Liverpool” de misturar tudo isto, reciclar e nos devolver em forma de música!
No início daquele mesmo ano os Beatles haviam lançado um compacto com “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever”, que em suas tinturas psicodélicas antecipavam um pouco do conteúdo do que estava por vir, pois foram gravadas nas mesmas sessões do “Sgt.Pepper’s...”, sessões estas que se iniciaram em dezembro de 1966 e terminaram em abril de 1967, totalizando mais de 700 horas de estúdio!
Já foram escritos vários livros sobre o álbum, portanto será impossível descrever em detalhes neste curto texto os meandros técnicos que o tornaram revolucionário; mas vamos a alguns fatos: foi um dos primeiros trabalhos “conceituais’ da história do Rock, ou seja, as canções se interligam e formam um único tema; a arte gráfica é um caso à parte: concebida por Peter Blake à partir de colagens sugeridas pelos Fab Four, a capa reúne cerca de 50 personalidades diversas, além dos próprios Beatles em duas versões – numa em sua fase “bons moços de terninhos” representados por bonecos de cera oriundos do museu de Madame Trussaud e noutra os quatro em pessoa metamorfoseados em membros da “Banda do Sargento Pimenta”; além disso foi o primeiro LP à vir com as letras impressas na contracapa, e no encarte vinham alguns “souvenirs” como uma insígnia e bigodes para que o ouvinte interagisse com a obra, se transformando também em mais um membro da fictícia banda...
O disco abre com “Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, que serve como uma introdução à Banda do Sargento Pimenta; ao final, há a apresentação de um tal de “Billy Shears”, representado por Ringo, que entra cantando “A Little Help From My Friends”, faixa que acabou sendo banida das rádios inglesas à época pelo verso “I get high with a little help from my friends”, pois muitos viam nestes versos uma alusão à drogas (“ficar alto com uma mãozinha de meus amigos...”). Depois temos a polêmica “Lucy In The Sky With Diamonds”, que de acordo com Paul foi inspirada por alguns desenhos feitos por Julian, filho de John. Polêmicas à parte, o fato é que além de suas iniciais formarem o termo L.S.D., esta faixa se tornou um clássico do psicodelismo pela sua letra e arranjos “surreais”. Prossegue com “Getting Better”, canção com clima e letra bastante otimistas. Depois vêm “Fixing A Hole” no qual Paul faz uma analogia com “o buraco na sua estrutura que impede sua mente de seguir em frente” e segue com “She’s Leaving Home”, que relata de forma triste o conflito de gerações, pois conta a história de uma jovem que abandona a casa dos pais por sentir falta de atenção e carinho, ao que estes ficam perplexos pois “ nós lhe demos tudo que o dinheiro pode comprar”. Para encerrar o lado A temos “Being For The Benefit Of Mr.Kite!”, canção que serve de contraponto à melancolia da anterior, devido à atmosfera meio “circense” recriada pela banda.
O Lado B começa com “Within You, Without You”, composição de Harrison que segue a linha de seus trabalhos da época com influências indianas. Depois temos quatro faixas bem divertidas e descompromissadas: a primeira é “When I’m Sixty-Four”, no qual Paul canta as alegrias de ter 64 anos(!) de idade – de acordo com ele, esta canção foi feita em homenagem ao seu pai; a segunda é “Lovely Rita Meter Maid”, dedicada às moças que cuidavam do parquímetro (aparelho utilizado para controlar o tempo em que um carro permanecia estacionado nos EUA e Inglaterra naquela época – processo similar ao que no Brasil chamamos de “Zona Azul”). Após o canto de um galo temos a terceira faixa – “Good Morning, Good Morning”, canção animadíssima que serve de prenúncio à despedida da Banda do Sargento Pimenta em “Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band (reprise)”. Mas enquanto a banda vai se despedindo começam os primeiros acordes de “A Day In The Life”, intrigante canção que forma um verdadeiro painel sonoro ao mesmo tempo em que trata de problemas existenciais de uma forma totalmente inédita até então! Ao final dela temos um longo acorde (cerca de 40 segundos) produzido por três pianos, e em seguida um som emitido em 20 mil hertz – audível somente para cães(!).
Nas edições em vinil o sulco central do disco traz uma série de ruídos desconexos, gravados durante uma festa após as gravações de “A Day In The Life”, no qual havia uma orquestra contratada por George Martin, que ao invés de tocar algo mais “ortodoxo” se limitou à tocar uma série de notas graves e agudas conforme instruções de Martin. Muitas pessoas se debruçaram sobre estes ruídos, tocando-os em diferentes rotações e de trás para frente, com o objetivo de descobrir algum significado oculto neles... obviamente vários foram encontrados, desde alguém sussurrando “Paul is dead”, o que corroboraria a hipótese de sua morte, até “we’ll fuck you like Superman” e muitas outras coisas...
Descrito assim através de palavras é impossível se ter uma idéia da riqueza dos arranjos e da variedade de nuances obtidas em grande parte graças ao primoroso trabalho de produção de George Martin, aliado à dedicação de Geoff Emerick e Richard Lusch, engenheiros de gravação que conseguiram a proeza de registrar em parcos quatro canais vocais, instrumentos “normais” (baixo, guitarra, bateria, piano, órgão), outros atípicos para uma banda de Rock (harpa, cravo, acordeão, cítara), ruídos de todas espécies (galos cantando, despertador) além de uma orquestra de 30 músicos!
Embora tenham lançado outros grandes trabalhos após o “Sgt.Peppers...” este foi o último que manteve uma certa unidade entre os músicos – notadamente John e Paul, pois logo após seus interesses começaram à tomar rumos bem distintos e os atritos atingiriam proporções imensas, culminando na separação da banda em 1970.
É difícil dissociar os Beatles de todas as revoluções ocorridas àquela época, pois sua influência não se resumiu apenas à música, mas também à atitudes e comportamentos, mesmo se não houvessem lançado este álbum ou encerrado as atividades em 1966...
...com este álbum então, a coisa se torna covardia... pois com ele o Rock foi elevado à categoria de “Arte”... e o mundo nunca mais foi o mesmo...
Músicas:
Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band
With A Little Help From My Friends
Lucy In The Sky With Diamonds
Getting Better
Fixing A Hole
She’s Leaving Home
Being Fot The Benefit Of Mr.Kite
Within You Without You
When I’m Sixty Four
Lovely Rita
Good Morning, Good Morning
Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
A Day In The Life
Beatles:
Paul McCartney (Baixo/Vocal)
George Harrison (Guitarras/Vocal)
John Lennon (Guitarras/Vocal)
Ringo Star (Bateria)
Produção: Beatles e George Martin
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Acordem Coveiros!
Por Tiago Barbosa Mafra
“O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãs e cidadãos que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático”.
Essas palavras do artigo 1° do capítulo I do Estatuto do Partido dos Trabalhadores, contribuíram decisivamente para minha filiação ao partido em 2006. Hoje, frente a tanta turbulência e transformações, que parecem nada alterar, faço a breve reflexão que se segue.
Tanto em discussões nacionais quanto locais sobre a política e a participação popular, é perceptível a crítica de intelectuais, militantes e do povo em geral, aos instrumentos de luta histórica e ideologicamente construídos, como tendo sido dominados e manobrados para favorecerem pequenos grupos ou particulares. Isso vale especialmente para todos os partidos políticos, tidos atualmente ou como extremistas, como o PCO ou como partidos de aluguel, sem comprometimento ideológico e que favorecem a elite nacional, como se diz do PT.
Essa realidade cheia de denúncias e descrença (ambas legítimas) tem causado um gravíssimo problema: a falta de discernimento entre o particular e o institucional, e, por conseguinte, o abandono de tais instrumentos de promoção dos objetivos de classe.
Não é raro constatar sindicatos, associações, partidos, perdendo aos montes seus sindicalizados, associados e filiados, por razão da “personificação” da instituição para fins particulares. É inegável que isso tem se repetido com absurda freqüência em nosso país, mas carece capacidade para perceber que a direção de um sindicato ou de um partido não é ela mesma a própria instituição. Devido a essa confusão (que muitas vezes é omissão disfarçada) os mecanismos de luta dos pobres estão a cada dia mais fracos e vazios. E na visão dos que a tudo abandonam, quem permanece também está corrompido pelo poder.
Assim sendo, em relação à política partidária, é como se toda pessoa que busca transformações da realidade via partido político, fosse portanto, condizente com os erros, com as falcatruas, com a corrupção que é evidenciada a todo instante.
Aos que permanecem, e me insiro nesse grupo como filiado, petista e militante, resta ouvir a todo momento dois tipos de argumento: o primeiro, da maioria da população, embasado simplesmente nos “jornais nacionais” das ótimas emissoras de TV que temos no Brasil; o segundo, dos desiludidos que não aceitam mínimas mudanças ou conquistas, que já abandonaram as várias formas de luta pelas quais passaram e que acusam os remanescentes de fantoches, “que não concordam, mas aceitam”.
Em nenhum desses dois grupos encontramos propostas. E não me entendam mal, propostas não são saídas ou verdades prontas e absolutas, são possibilidades que necessitam de seres humanos para serem postas em prática. Seres humanos que atuam, que acertam e que, na maioria das vezes, erram.
É claro a todos os “angustiados”, ávidos por mudanças, que o que precisamos são transformações estruturais, que não estão acontecendo (e digo isso como petista consciente, por mais que pensem o contrário), haja visto nos últimos anos o aumento da concentração fundiária, a precariedade cada vez maior dos serviços públicos básicos, a retração e criminalização dos movimentos sociais, em especial o MST, o uso da mídia como instrumento da direita. São poucos exemplos que mostram a miríade de pilares que sustentam essa estrutura suja, mas que é forte e se renova.
Renovação que aliás, falta à esquerda. Orgulhosa, personificada, CONSERVADORA, quase não é esquerda. É muito difícil a muitos de nós, que discursamos aos quatro cantos sobre processo, mudanças, movimento, dialética, aceitar, compreender e vivenciar todos esse conceitos, que devem ser na realidade, perspectivas.
Cabe a todos, a humildade para aceitar críticas, para aprender com os erros, para conciliar com os companheiros.
Não deve dissociar como sempre faz a esquerda brasileira. É preciso unir nos pontos comuns, discutir democraticamente as divergências, contribuir no desmanche da estrutura. De nada adianta que o capitalismo crie seus próprios coveiros, se os coveiros estão tirando um cochilo. Acordem coveiros.
A nossa revolução não se fará de políticos profissionais nem de quadros. O povo é a contradição instalada. O povo é o político. O povo é o quadro. A revolução é de mentes.
Mudemos as nossas primeiro.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br
“O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãs e cidadãos que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático”.
Essas palavras do artigo 1° do capítulo I do Estatuto do Partido dos Trabalhadores, contribuíram decisivamente para minha filiação ao partido em 2006. Hoje, frente a tanta turbulência e transformações, que parecem nada alterar, faço a breve reflexão que se segue.
Tanto em discussões nacionais quanto locais sobre a política e a participação popular, é perceptível a crítica de intelectuais, militantes e do povo em geral, aos instrumentos de luta histórica e ideologicamente construídos, como tendo sido dominados e manobrados para favorecerem pequenos grupos ou particulares. Isso vale especialmente para todos os partidos políticos, tidos atualmente ou como extremistas, como o PCO ou como partidos de aluguel, sem comprometimento ideológico e que favorecem a elite nacional, como se diz do PT.
Essa realidade cheia de denúncias e descrença (ambas legítimas) tem causado um gravíssimo problema: a falta de discernimento entre o particular e o institucional, e, por conseguinte, o abandono de tais instrumentos de promoção dos objetivos de classe.
Não é raro constatar sindicatos, associações, partidos, perdendo aos montes seus sindicalizados, associados e filiados, por razão da “personificação” da instituição para fins particulares. É inegável que isso tem se repetido com absurda freqüência em nosso país, mas carece capacidade para perceber que a direção de um sindicato ou de um partido não é ela mesma a própria instituição. Devido a essa confusão (que muitas vezes é omissão disfarçada) os mecanismos de luta dos pobres estão a cada dia mais fracos e vazios. E na visão dos que a tudo abandonam, quem permanece também está corrompido pelo poder.
Assim sendo, em relação à política partidária, é como se toda pessoa que busca transformações da realidade via partido político, fosse portanto, condizente com os erros, com as falcatruas, com a corrupção que é evidenciada a todo instante.
Aos que permanecem, e me insiro nesse grupo como filiado, petista e militante, resta ouvir a todo momento dois tipos de argumento: o primeiro, da maioria da população, embasado simplesmente nos “jornais nacionais” das ótimas emissoras de TV que temos no Brasil; o segundo, dos desiludidos que não aceitam mínimas mudanças ou conquistas, que já abandonaram as várias formas de luta pelas quais passaram e que acusam os remanescentes de fantoches, “que não concordam, mas aceitam”.
Em nenhum desses dois grupos encontramos propostas. E não me entendam mal, propostas não são saídas ou verdades prontas e absolutas, são possibilidades que necessitam de seres humanos para serem postas em prática. Seres humanos que atuam, que acertam e que, na maioria das vezes, erram.
É claro a todos os “angustiados”, ávidos por mudanças, que o que precisamos são transformações estruturais, que não estão acontecendo (e digo isso como petista consciente, por mais que pensem o contrário), haja visto nos últimos anos o aumento da concentração fundiária, a precariedade cada vez maior dos serviços públicos básicos, a retração e criminalização dos movimentos sociais, em especial o MST, o uso da mídia como instrumento da direita. São poucos exemplos que mostram a miríade de pilares que sustentam essa estrutura suja, mas que é forte e se renova.
Renovação que aliás, falta à esquerda. Orgulhosa, personificada, CONSERVADORA, quase não é esquerda. É muito difícil a muitos de nós, que discursamos aos quatro cantos sobre processo, mudanças, movimento, dialética, aceitar, compreender e vivenciar todos esse conceitos, que devem ser na realidade, perspectivas.
Cabe a todos, a humildade para aceitar críticas, para aprender com os erros, para conciliar com os companheiros.
Não deve dissociar como sempre faz a esquerda brasileira. É preciso unir nos pontos comuns, discutir democraticamente as divergências, contribuir no desmanche da estrutura. De nada adianta que o capitalismo crie seus próprios coveiros, se os coveiros estão tirando um cochilo. Acordem coveiros.
A nossa revolução não se fará de políticos profissionais nem de quadros. O povo é a contradição instalada. O povo é o político. O povo é o quadro. A revolução é de mentes.
Mudemos as nossas primeiro.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Eric Hobsbawm: uma nova igualdade depois da crise
cartamaior
IHU - Instituto Humanitas (Unisinos)
Publicamos aqui parte da conferência que o historiador inglês e membro da Academia Britânica de Ciências Eric J. Hobsbawm apresentou no primeiro dia do World Political Forum, em Bosco Marengo (Alexandria). Do Fórum deste ano, sobre o tema "O Leste: qual futuro depois do comunismo?", participam, dentre outros, Mikhail Gorbachev e Yuri Afanasiev.
Segundo Hobsbawn, todos os países do Leste, assim como os do Oeste, devem sair da ortodoxia do crescimento econômico a todo custo e dar mais atenção à equidade social. Os países ex-soviéticos, afirma, ainda não superaram as dificuldades da transição para o novo sistema.
O texto foi publicado no jornal La Repubblica, em 09-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
O "século breve", o XX, foi um período marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o "Socialismo", identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o "Capitalismo", que cobria todo o resto.
Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura dessa lógica totalmente binária dessas definições de "capitalismo" e "socialismo" faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O "fundamentalismo de mercado" anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O século XXI deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.
Como tudo isso influi sobre países que no passado eram devotados ao modelo "socialista"? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nível internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.
Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes políticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponível: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.
As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os países da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das "economias tigres" ou de assalto da Ásia oriental, mas abriu caminho para o seu "gigantesco salto econômico para frente" com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.
Esse período está quase às nossas costas, assim como o predomínio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ásia oriental.
Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento político, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um país exportador, poderoso mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.
As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples "imitação do Ocidente" deixou de ser uma opção possível. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse país o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise na qual nos encontramos atualmente. Em síntese, não é mais possível acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.
Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam portanto ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.
O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, haviam em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes de que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu "modus vivendi" na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.
O segundo aspecto é que tanto a política ocidental do neoliberalismo, quanto as políticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-países comunistas até destruíram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o "capitalismo europeu de rosto humano" das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.
O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do século XXI.
IHU - Instituto Humanitas (Unisinos)
Publicamos aqui parte da conferência que o historiador inglês e membro da Academia Britânica de Ciências Eric J. Hobsbawm apresentou no primeiro dia do World Political Forum, em Bosco Marengo (Alexandria). Do Fórum deste ano, sobre o tema "O Leste: qual futuro depois do comunismo?", participam, dentre outros, Mikhail Gorbachev e Yuri Afanasiev.
Segundo Hobsbawn, todos os países do Leste, assim como os do Oeste, devem sair da ortodoxia do crescimento econômico a todo custo e dar mais atenção à equidade social. Os países ex-soviéticos, afirma, ainda não superaram as dificuldades da transição para o novo sistema.
O texto foi publicado no jornal La Repubblica, em 09-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
O "século breve", o XX, foi um período marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o "Socialismo", identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o "Capitalismo", que cobria todo o resto.
Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura dessa lógica totalmente binária dessas definições de "capitalismo" e "socialismo" faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O "fundamentalismo de mercado" anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O século XXI deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.
Como tudo isso influi sobre países que no passado eram devotados ao modelo "socialista"? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nível internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.
Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes políticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponível: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.
As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os países da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das "economias tigres" ou de assalto da Ásia oriental, mas abriu caminho para o seu "gigantesco salto econômico para frente" com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.
Esse período está quase às nossas costas, assim como o predomínio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ásia oriental.
Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento político, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um país exportador, poderoso mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.
As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples "imitação do Ocidente" deixou de ser uma opção possível. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse país o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise na qual nos encontramos atualmente. Em síntese, não é mais possível acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.
Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam portanto ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.
O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, haviam em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes de que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu "modus vivendi" na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.
O segundo aspecto é que tanto a política ocidental do neoliberalismo, quanto as políticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-países comunistas até destruíram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o "capitalismo europeu de rosto humano" das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.
O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do século XXI.
domingo, 18 de outubro de 2009
10 + – 4ª Posição: Dark Side Of The Moon
Dark Side of the Moon (Pink Floyd – 1973)
Por Érico Ascenção
27 de julho de 2009
http://albunsdecabeceira.blogspot.com/2009/07/dark-side-of-moon-pink-floyd-obra-prima.html
Dark Side of the Moon (Pink Floyd) - A obra-prima do Rock
Antes de começar esta resenha, já vou pedindo desculpas pelo o que vou escrever nas próximas linhas. O primeiro motivo para as desculpas é que escrever sobre este álbum exige uma grande responsabilidade, principalmente considerando que um Floydiano fanático possa ler este artigo. O segundo motivo é que este álbum (ainda) não faz parte da minha cabeceira...
Antes de começar a escrever este artigo, tomei o cuidado de assistir o documentário comemorativo de 30 anos do álbum, que conta com entrevistas com os membros da banda - David Gilmour (guitarra e voz), Roger Waters (baixo), Richard Wright (piano, órgão e sintetizadores) e Nick Mason (bateria) - e outros participantes do processo de gravação do álbum. Recomendo este documentário a todos que curtem a banda ou que pelo menos têm curiosidade sobre este álbum.
Bem, lembro que meu primeiro contato com este álbum foi aos 15 anos, quando estava começando a curtir Rock n' Roll e estava formando meu gosto musical. Um colega meu (o Marcel "Dente") tinha escrito numa divisória de fichário uma letra de música que tinha vários versos iniciados com "All that you" (algo do tipo "tudo o que você", em tradução livre). Ele, fã do Pink Floyd, me disse que era a letra de Eclipse, que mais tarde vim a descobrir que era a música de encerramento do The Dark Side of the Moon. Lembro que meses depois pedi uma cópia do CD pra ele, e ele se recusou a copiar pra mim. E depois eu vim entender o motivo da recusa: todas as músicas do CD são ligadas, e a cópia do CD tiraria as emendas. Anos mais tarde, quando já estava na faculdade, peguei um jornalzinho de um dos centros acadêmicos e vi um review sobre este álbum. E foi este review que se tornou a semente para este blog - os reviews sobre o Moving Pictures e o Turbination foram publicados em outro jornal da minha faculdade.
Bem, deixando os adendos de lado, vamos ao lado escuro da lua...
Apesar de, segundo o baterista Nick Mason, o álbum The Dark Side of the Moon (1973) ter sido idealizado numa lanchonete, ele representou muita coisa para a história do Rock. A mais importante dela foi a popularizaçao do Rock Progressivo e dos álbuns conceituais. Os críticos musicais costumam rotular como conceitual um álbum que tenha um tema único, aparentando como se fosse uma obra única, sem divisões (e neste caso, não há sequer intervalos entre as músicas). No caso do Dark Side, o tema principal são as angústias humanas: a rotina massacrante do trabalho, a falta e o desperdício de tempo, o dinheiro e a ganância, a violência e a incompreensão da natureza individual. Outro aspecto importante foi a fusão de estilos como o Rock, o Jazz e o Blues de uma forma jamais feita anteriormente.
Em termos de sonoridade, as maiores contribuições que o Pink Floyd trouxe com este álbum foram os sintetizadores e sequenciadores. Para quem não sabe, sintetizador é como se fosse um teclado, porém ele tem recursos para a criação de qualquer som (quando digo qualquer, significa qualquer mesmo) a partir de elementos básicos de síntese sonora, como os osciladores, filtros e moduladores. Na época da gravação do álbum, um sintetizador poderia ocupar uma sala inteira, e hoje eles cabem numa carcaça do tamanho do teclado do seu computador. Os sequenciadores são módulos que operam junto com sitetizadores e são resposáveis por criar sequências de execução de notas previamente escolhidas. Escolhidas as notas, é possível escolher um padrão de sequência, a velocidade da execução, etc. Um clássico exemplo de sequenciador é a introdução da música Rádio Pirata, do RPM.
Além da obscuridade natural do álbum, corre uma lenda urbana que diz que o The Dark Side of the Moon seria uma trilha sonora alternativa para o filme O Mágico de Oz. Esta lenda tomou mais corpo quando uma rede de TV transmitiu o filme com o The Dark Side of the Moon de fundo (versão conhecida como The Dark Side of the Rainbow). Dizem que se você der o play no álbum ao terceiro rugido do leão da MGM, vários eventos do filme coincidem com partes das músicas do álbum :
- O início de On the Run coincide com a queda de Dorothy de uma mureta para dentro de um chiqueiro. E enquanto toca o som de helicóptero no final, Dorothy está olhando para o céu.
- Uma mulher aparece andando de bicicleta quando tocam os relógios de Time.
- No começo de The Great Gig in the Sky, no qual há falas de pessoas falando sobre a morte, uma grande ventania começa perto a casa de Dorothy. No momento que ela entra em casa, inicia a parte calma da mesma música.
- No momento em que Dorothy sai de sua casa e encontra o mundo colorido, começam as caixas registradoras de Money. E a segunda parte do solo coincide com a dança de vários anõezinhos.
- No começo de Us and Them (música que teve como origem cenas de violência de um filme) um anão aparece com um "certificado de morte". Mais tarde, no momento em que David canta "black" (preto), aparece a bruxa. E quando David canta "down" (para baixo), a bruxa se abaixa para tocar os pés de algum "ser".
- No começo de Any Colour You Like, Dorothy entra na estrada de trijolos amarelos.
- O início de Brain Damage, com o verso "The lunatic is on the grass" (o lunático está na grama), coincide com a dancinha retardada do Espantalho.
- Quando Dorothy coloca a mão no peito do Homem de Lata para sentir que ele não tem coração, na trilha sonora alternativa toca o coração do fim de Eclipse.
É, vamos ao álbum antes que você enlouqueça...
Nome do álbum: The Dark Side of the Moon
Ano de lançamento: 1973
Músicas:
1. Speak to Me/Breathe
2. On the Run
3. Time
4. The Great Gig in the Sky
5. Money
6. Us and Them
7. Any Colour You Like
8. Brain Damage
9. Eclipse
1. Speak to Me/Breathe
Esta música começa com uma sequência de sons diferentes: batidas de coração, caixas registradoras, vozes, etc. Vários desses sons são utilizados nas outras faixas do disco. As vozes são na verdade resutado de gravações de entrevistas feitas por Roger Waters com pessoas da equipe do Pink Floyd. Algumas histórias dizem que foi feita uma entrevista com Paul McCartney, porém o conteúdo de suas respostas foi tal que não seria responsável colocá-las nas faixas do álbum. A parte relativa a Speak to Me termina com o longo grito de uma mulher, e logo entra a parte relativa a Breathe. Breathe conta com um misto de influências, desde o Jazz no piano até a música havaiana no lap steel (um tipo de guitarra para tocar no colo, com um slide). A letra fala sobre a pressão que sofremos no dia-a-dia, principalmente em relação ao trabalho. O fim desta música se encontra, na verdade, no fim da música Time - este assunto já foi discutido na Nota Musical I. Outra curiosidade sobre esta faixa é a utilização de mais de uma faixa de vocais fazendo harmonias, como as duplas sertanejas brasileiras fazem. Este recurso foi inovador em gravações da época.
2. On the Run
On the Run é outro clássico exemplo do que sintetizadores e sequenciadores são capazes. O padrão principal deste instrumental é composto por 4 notas repetidas em grande velocidade. Além disso, são usados filtros e ruídos para dar uma idéia de movimento para o som. Isso sem contar com o som de pratos de bateria tratados com filtros e osciladores, guitarras com efeito de eco reverso, batidas de coração, passos, etc. E imagine que toda a mixagem destes sons era feita "no braço", rodando fitas e mais fitas (como o prório David Gilmour diz no domcumentário: "A mixagem, naquela época, era uma performance."), e sem o auxílio de computador como se faz hoje em dia. Se você não entendeu lhufas, tudo bem, isso já era esperado. Pelo menos você pode repetir isso para alguém ficar espantado assim como você.
3. Time
Essa é a dos famosos relógios sincronizados, coisa que deu um trabalhão pra mixar "no braço". A levada com cara de Reggae das estrofes contrasta de modo interessante com os refrões mais blueseiros com participação das backing vocals. Logo depois vem o solo de guitarra, uma mistura da melancolia do Blues com o "positivismo" da textura envolvente criada pelo eco. A letra fala de mais uma das conhecidas frustrações de Roger Waters, desta vez com relação à criação dada pela sua mãe, que prezava a educação do seu filho para a vida adulta. Na letra de Time, Roger fala sobre como se deu conta de que perdeu momentos preciosos da infância e da adolescência devido a esta educação que teve, e fala também sobre a angústia relacionada ao pasar do tempo e à proximidade do fim da vida.
4. The Great Gig in the Sky
Esta música começa mais uma vez com um piano bem jazzístico. As falas que acompanham o lap steel são as respostas de uma das entrevistas, mas especificamente repostas para a pergunta: "Você tem medo de morrer?". Para esta canção, foi convidada a cantora Clare Torre para um improviso vocal. A única instrução que ela recebeu foi para pensar no horror e na morte na hora de gravar, e o resultado foi maravilhoso. Só para constar, o título da música, em tradução livre, significa "a grande apresentação no céu".
5. Money
Money foi um dos maiores hits deste álbum. Como parte de uma campanha de marketing para levar o Pink Floyd para os Estados Unidos, foi lançado um single com esta música. Os sons de caixa registradora na introdução viraram referência para trilhas sonoras de tudo quanto é coisa que você possa imaginar. Basicamente, a letra de Money trás uma reflexão sobre a ganância e sobre como se conduz uma vida quando se tem muito dinheiro. Esta reflexão fez parte da vida da banda, pois eles vinham atingindo um grande sucesso na época e tinham dificuldades em lidar com as consequências da fama e do dinheiro. Desta música vem um dos significados da capa do disco: a pirâmide é o símbolo da ganância - basta lembrar que grandes monumentos como as pirâmides do Egito e as dos Maias tinham este formato. A luz representa a própria luz da banda. Nesta música há a participação do saxofonista Dick Perry num solo de saxofone. Logo em seguida deste solo de sax, vem o solo de guitarra, num compaso cuja a fórmula (4/4) foi mudada em relação à fórmula do restante da música (7/4) simplesmente para facilitar a vida do David Gilmour.
6. Us and Them
A estrutura de Us and Them já havia sido criada antes em 1969, quando o Pink Floyd fez a trilha sonora do filme Zabriskie Point, do diretor Michelangelo Antonioni, que tem como tema central o movimento de contracultura nos Estados Unidos dos anos 70. A base de piano foi feita em cima de uma cena de violência, e mesmo com as críticas de Antonioni ("É lindo, mais é muito triste. Me faz pensar em igrejas."), acabou ficando na trilha do filme. Eu sinceramente não consegui tirar conclusões sobre a letra, então usarei as palavras de Roger Waters:
As letras são diretas e lineares. São questões fundamentais sobre se a raça humana é capaz de ser humana.
Entendeu? Eu também não. Coisas do Roger... A grande beleza desta música está nos espaços deixados pelos instrumentos. Não são partes silenciosas, e sim momentos em que os instrumentos são deixados soar. Além disso, outro detalhe que chama atenção são os belos vocais de David e Richard nos refrões.
7. Any Colour You Like
Any Colour You Like é mais um instrumental no qual os sintetizadores são explorados ao extremo. Alguns efeitos como o tremolo e o chorus também são utilizados na guitarra para aquele tipo de timbre "molhado". O final desta música é a preparação para Brain Damage.
8. Brain Damage
Brain Damage é uma música feita para gênios incompreendidos. Assim como Syd Barret, fundador do Pink Floyd que supostamente teria ficado louco devido às muitas viagens de LCD durante sessões de composição para a banda, muitos acreditam que o próprio Roger Waters é um louco em potencial devido às suas paranóias remoídas desde a infância. Todas essas paranóias de Roger o levaram a escrever um álbum inteiro sobre o assunto, o The Wall (1979).
9. Eclipse
Para fechar o álbum, Eclipse trás a idéia de que apesar de tudo parecer estar em harmonia, a lua pode tapar o sol trazendo a escuridão - ou seja, a harmonia sempre pode ser quebrada. O clima dos arranjos traduz bem a angústia pelo momento em que se consolida o eclipse, tanto que nas apresentações ao vivo é justamente a imagem de um eclipse solar que é transmitida no telão do palco.
Para acabar esta resenha, gostaria de citar duas frases. Uma delas é do David Gilmour, declaração esta que me faz ter uma certa pena dele:
Eu adoraria ser uma pessoa que coloca os fones e escuta o álbum pela primeira vez. Nunca tive tal experiência... mas seria ótimo.
A outra é a fala que encerra o álbum:
Não há um lado escuro na lua, de fato. Ela é toda escura.
Músicas:
1. Speak to Me/Breathe
2. On the Run
3. Time
4. The Great Gig in the Sky
5. Money
6. Us and Them
7. Any Colour You Like
8. Brain Damage
9. Eclipse
Pink Floyd:
David Gilmour (Vocias/Guitarras)
Nick Mason (Percussão)
Richard Wrigth (Teclados/Vocal)
Roger Waters (Baixo/Vocal)
Participaram também: Dick Parry (Sax), Clare Torry (Vocais) e Doris Troy, Leslie Duncan, Liza Strike, Barry St John (Backing Vocals)
Produção: Pink Floyd
Por Érico Ascenção
27 de julho de 2009
http://albunsdecabeceira.blogspot.com/2009/07/dark-side-of-moon-pink-floyd-obra-prima.html
Dark Side of the Moon (Pink Floyd) - A obra-prima do Rock
Antes de começar esta resenha, já vou pedindo desculpas pelo o que vou escrever nas próximas linhas. O primeiro motivo para as desculpas é que escrever sobre este álbum exige uma grande responsabilidade, principalmente considerando que um Floydiano fanático possa ler este artigo. O segundo motivo é que este álbum (ainda) não faz parte da minha cabeceira...
Antes de começar a escrever este artigo, tomei o cuidado de assistir o documentário comemorativo de 30 anos do álbum, que conta com entrevistas com os membros da banda - David Gilmour (guitarra e voz), Roger Waters (baixo), Richard Wright (piano, órgão e sintetizadores) e Nick Mason (bateria) - e outros participantes do processo de gravação do álbum. Recomendo este documentário a todos que curtem a banda ou que pelo menos têm curiosidade sobre este álbum.
Bem, lembro que meu primeiro contato com este álbum foi aos 15 anos, quando estava começando a curtir Rock n' Roll e estava formando meu gosto musical. Um colega meu (o Marcel "Dente") tinha escrito numa divisória de fichário uma letra de música que tinha vários versos iniciados com "All that you" (algo do tipo "tudo o que você", em tradução livre). Ele, fã do Pink Floyd, me disse que era a letra de Eclipse, que mais tarde vim a descobrir que era a música de encerramento do The Dark Side of the Moon. Lembro que meses depois pedi uma cópia do CD pra ele, e ele se recusou a copiar pra mim. E depois eu vim entender o motivo da recusa: todas as músicas do CD são ligadas, e a cópia do CD tiraria as emendas. Anos mais tarde, quando já estava na faculdade, peguei um jornalzinho de um dos centros acadêmicos e vi um review sobre este álbum. E foi este review que se tornou a semente para este blog - os reviews sobre o Moving Pictures e o Turbination foram publicados em outro jornal da minha faculdade.
Bem, deixando os adendos de lado, vamos ao lado escuro da lua...
Apesar de, segundo o baterista Nick Mason, o álbum The Dark Side of the Moon (1973) ter sido idealizado numa lanchonete, ele representou muita coisa para a história do Rock. A mais importante dela foi a popularizaçao do Rock Progressivo e dos álbuns conceituais. Os críticos musicais costumam rotular como conceitual um álbum que tenha um tema único, aparentando como se fosse uma obra única, sem divisões (e neste caso, não há sequer intervalos entre as músicas). No caso do Dark Side, o tema principal são as angústias humanas: a rotina massacrante do trabalho, a falta e o desperdício de tempo, o dinheiro e a ganância, a violência e a incompreensão da natureza individual. Outro aspecto importante foi a fusão de estilos como o Rock, o Jazz e o Blues de uma forma jamais feita anteriormente.
Em termos de sonoridade, as maiores contribuições que o Pink Floyd trouxe com este álbum foram os sintetizadores e sequenciadores. Para quem não sabe, sintetizador é como se fosse um teclado, porém ele tem recursos para a criação de qualquer som (quando digo qualquer, significa qualquer mesmo) a partir de elementos básicos de síntese sonora, como os osciladores, filtros e moduladores. Na época da gravação do álbum, um sintetizador poderia ocupar uma sala inteira, e hoje eles cabem numa carcaça do tamanho do teclado do seu computador. Os sequenciadores são módulos que operam junto com sitetizadores e são resposáveis por criar sequências de execução de notas previamente escolhidas. Escolhidas as notas, é possível escolher um padrão de sequência, a velocidade da execução, etc. Um clássico exemplo de sequenciador é a introdução da música Rádio Pirata, do RPM.
Além da obscuridade natural do álbum, corre uma lenda urbana que diz que o The Dark Side of the Moon seria uma trilha sonora alternativa para o filme O Mágico de Oz. Esta lenda tomou mais corpo quando uma rede de TV transmitiu o filme com o The Dark Side of the Moon de fundo (versão conhecida como The Dark Side of the Rainbow). Dizem que se você der o play no álbum ao terceiro rugido do leão da MGM, vários eventos do filme coincidem com partes das músicas do álbum :
- O início de On the Run coincide com a queda de Dorothy de uma mureta para dentro de um chiqueiro. E enquanto toca o som de helicóptero no final, Dorothy está olhando para o céu.
- Uma mulher aparece andando de bicicleta quando tocam os relógios de Time.
- No começo de The Great Gig in the Sky, no qual há falas de pessoas falando sobre a morte, uma grande ventania começa perto a casa de Dorothy. No momento que ela entra em casa, inicia a parte calma da mesma música.
- No momento em que Dorothy sai de sua casa e encontra o mundo colorido, começam as caixas registradoras de Money. E a segunda parte do solo coincide com a dança de vários anõezinhos.
- No começo de Us and Them (música que teve como origem cenas de violência de um filme) um anão aparece com um "certificado de morte". Mais tarde, no momento em que David canta "black" (preto), aparece a bruxa. E quando David canta "down" (para baixo), a bruxa se abaixa para tocar os pés de algum "ser".
- No começo de Any Colour You Like, Dorothy entra na estrada de trijolos amarelos.
- O início de Brain Damage, com o verso "The lunatic is on the grass" (o lunático está na grama), coincide com a dancinha retardada do Espantalho.
- Quando Dorothy coloca a mão no peito do Homem de Lata para sentir que ele não tem coração, na trilha sonora alternativa toca o coração do fim de Eclipse.
É, vamos ao álbum antes que você enlouqueça...
Nome do álbum: The Dark Side of the Moon
Ano de lançamento: 1973
Músicas:
1. Speak to Me/Breathe
2. On the Run
3. Time
4. The Great Gig in the Sky
5. Money
6. Us and Them
7. Any Colour You Like
8. Brain Damage
9. Eclipse
1. Speak to Me/Breathe
Esta música começa com uma sequência de sons diferentes: batidas de coração, caixas registradoras, vozes, etc. Vários desses sons são utilizados nas outras faixas do disco. As vozes são na verdade resutado de gravações de entrevistas feitas por Roger Waters com pessoas da equipe do Pink Floyd. Algumas histórias dizem que foi feita uma entrevista com Paul McCartney, porém o conteúdo de suas respostas foi tal que não seria responsável colocá-las nas faixas do álbum. A parte relativa a Speak to Me termina com o longo grito de uma mulher, e logo entra a parte relativa a Breathe. Breathe conta com um misto de influências, desde o Jazz no piano até a música havaiana no lap steel (um tipo de guitarra para tocar no colo, com um slide). A letra fala sobre a pressão que sofremos no dia-a-dia, principalmente em relação ao trabalho. O fim desta música se encontra, na verdade, no fim da música Time - este assunto já foi discutido na Nota Musical I. Outra curiosidade sobre esta faixa é a utilização de mais de uma faixa de vocais fazendo harmonias, como as duplas sertanejas brasileiras fazem. Este recurso foi inovador em gravações da época.
2. On the Run
On the Run é outro clássico exemplo do que sintetizadores e sequenciadores são capazes. O padrão principal deste instrumental é composto por 4 notas repetidas em grande velocidade. Além disso, são usados filtros e ruídos para dar uma idéia de movimento para o som. Isso sem contar com o som de pratos de bateria tratados com filtros e osciladores, guitarras com efeito de eco reverso, batidas de coração, passos, etc. E imagine que toda a mixagem destes sons era feita "no braço", rodando fitas e mais fitas (como o prório David Gilmour diz no domcumentário: "A mixagem, naquela época, era uma performance."), e sem o auxílio de computador como se faz hoje em dia. Se você não entendeu lhufas, tudo bem, isso já era esperado. Pelo menos você pode repetir isso para alguém ficar espantado assim como você.
3. Time
Essa é a dos famosos relógios sincronizados, coisa que deu um trabalhão pra mixar "no braço". A levada com cara de Reggae das estrofes contrasta de modo interessante com os refrões mais blueseiros com participação das backing vocals. Logo depois vem o solo de guitarra, uma mistura da melancolia do Blues com o "positivismo" da textura envolvente criada pelo eco. A letra fala de mais uma das conhecidas frustrações de Roger Waters, desta vez com relação à criação dada pela sua mãe, que prezava a educação do seu filho para a vida adulta. Na letra de Time, Roger fala sobre como se deu conta de que perdeu momentos preciosos da infância e da adolescência devido a esta educação que teve, e fala também sobre a angústia relacionada ao pasar do tempo e à proximidade do fim da vida.
4. The Great Gig in the Sky
Esta música começa mais uma vez com um piano bem jazzístico. As falas que acompanham o lap steel são as respostas de uma das entrevistas, mas especificamente repostas para a pergunta: "Você tem medo de morrer?". Para esta canção, foi convidada a cantora Clare Torre para um improviso vocal. A única instrução que ela recebeu foi para pensar no horror e na morte na hora de gravar, e o resultado foi maravilhoso. Só para constar, o título da música, em tradução livre, significa "a grande apresentação no céu".
5. Money
Money foi um dos maiores hits deste álbum. Como parte de uma campanha de marketing para levar o Pink Floyd para os Estados Unidos, foi lançado um single com esta música. Os sons de caixa registradora na introdução viraram referência para trilhas sonoras de tudo quanto é coisa que você possa imaginar. Basicamente, a letra de Money trás uma reflexão sobre a ganância e sobre como se conduz uma vida quando se tem muito dinheiro. Esta reflexão fez parte da vida da banda, pois eles vinham atingindo um grande sucesso na época e tinham dificuldades em lidar com as consequências da fama e do dinheiro. Desta música vem um dos significados da capa do disco: a pirâmide é o símbolo da ganância - basta lembrar que grandes monumentos como as pirâmides do Egito e as dos Maias tinham este formato. A luz representa a própria luz da banda. Nesta música há a participação do saxofonista Dick Perry num solo de saxofone. Logo em seguida deste solo de sax, vem o solo de guitarra, num compaso cuja a fórmula (4/4) foi mudada em relação à fórmula do restante da música (7/4) simplesmente para facilitar a vida do David Gilmour.
6. Us and Them
A estrutura de Us and Them já havia sido criada antes em 1969, quando o Pink Floyd fez a trilha sonora do filme Zabriskie Point, do diretor Michelangelo Antonioni, que tem como tema central o movimento de contracultura nos Estados Unidos dos anos 70. A base de piano foi feita em cima de uma cena de violência, e mesmo com as críticas de Antonioni ("É lindo, mais é muito triste. Me faz pensar em igrejas."), acabou ficando na trilha do filme. Eu sinceramente não consegui tirar conclusões sobre a letra, então usarei as palavras de Roger Waters:
As letras são diretas e lineares. São questões fundamentais sobre se a raça humana é capaz de ser humana.
Entendeu? Eu também não. Coisas do Roger... A grande beleza desta música está nos espaços deixados pelos instrumentos. Não são partes silenciosas, e sim momentos em que os instrumentos são deixados soar. Além disso, outro detalhe que chama atenção são os belos vocais de David e Richard nos refrões.
7. Any Colour You Like
Any Colour You Like é mais um instrumental no qual os sintetizadores são explorados ao extremo. Alguns efeitos como o tremolo e o chorus também são utilizados na guitarra para aquele tipo de timbre "molhado". O final desta música é a preparação para Brain Damage.
8. Brain Damage
Brain Damage é uma música feita para gênios incompreendidos. Assim como Syd Barret, fundador do Pink Floyd que supostamente teria ficado louco devido às muitas viagens de LCD durante sessões de composição para a banda, muitos acreditam que o próprio Roger Waters é um louco em potencial devido às suas paranóias remoídas desde a infância. Todas essas paranóias de Roger o levaram a escrever um álbum inteiro sobre o assunto, o The Wall (1979).
9. Eclipse
Para fechar o álbum, Eclipse trás a idéia de que apesar de tudo parecer estar em harmonia, a lua pode tapar o sol trazendo a escuridão - ou seja, a harmonia sempre pode ser quebrada. O clima dos arranjos traduz bem a angústia pelo momento em que se consolida o eclipse, tanto que nas apresentações ao vivo é justamente a imagem de um eclipse solar que é transmitida no telão do palco.
Para acabar esta resenha, gostaria de citar duas frases. Uma delas é do David Gilmour, declaração esta que me faz ter uma certa pena dele:
Eu adoraria ser uma pessoa que coloca os fones e escuta o álbum pela primeira vez. Nunca tive tal experiência... mas seria ótimo.
A outra é a fala que encerra o álbum:
Não há um lado escuro na lua, de fato. Ela é toda escura.
Músicas:
1. Speak to Me/Breathe
2. On the Run
3. Time
4. The Great Gig in the Sky
5. Money
6. Us and Them
7. Any Colour You Like
8. Brain Damage
9. Eclipse
Pink Floyd:
David Gilmour (Vocias/Guitarras)
Nick Mason (Percussão)
Richard Wrigth (Teclados/Vocal)
Roger Waters (Baixo/Vocal)
Participaram também: Dick Parry (Sax), Clare Torry (Vocais) e Doris Troy, Leslie Duncan, Liza Strike, Barry St John (Backing Vocals)
Produção: Pink Floyd
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Pesquisa Tajara
Pesquisa da CNA é pouco representativa, diz MST
Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criticou hoje (14) a pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que afirmava que cerca 72% dos assentamentos do país não produzem o suficiente para gerar renda e que 37% dos assentados brasileiros vivem mensalmente com no máximo um salário mínimo.
Para o MST, a pesquisa - que foi encomendada pela CNA ao Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) - não pode ter relevância porque analisou apenas nove assentamentos.
“Uma pesquisa feita em apenas nove assentamentos é tão tabajara e ridícula que não tem relevância alguma. Estranhamos que o Ibope se preste a esse tipo de trabalho, apenas para atender a vontade dos latifundiários. Confiamos no censo agropecuário, que demonstra que a concentração de terras no país cresceu nos últimos 10 anos”, afirmou João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST, por meio de nota.
A opinião do MST coincide com a que foi apresentada ontem (13) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em entrevista coletiva, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, disse que o Censo Agropecuário, que teria pesquisado todos os estabelecimentos do país, demonstra números bem diferentes.
“Quero reafirmar que a reforma agrária produz muitos alimentos. O censo agropecuário, que pesquisou todos os estabelecimentos do país, mostra que a agricultura familiar detém 24% da área total e produz 40% do valor bruto da produção agropecuária brasileira. Fico com o censo e não com o Ibope, que pesquisou mil famílias. Temos 1 milhão de famílias assentadas no Brasil inteiro em 80 milhões de hectares. A amostra é insuficiente”, afirmou Hackbart. Para ele, a pesquisa da CNA teve o interesse de demonstrar que a “reforma agrária não é mais necessária”.
Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criticou hoje (14) a pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que afirmava que cerca 72% dos assentamentos do país não produzem o suficiente para gerar renda e que 37% dos assentados brasileiros vivem mensalmente com no máximo um salário mínimo.
Para o MST, a pesquisa - que foi encomendada pela CNA ao Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) - não pode ter relevância porque analisou apenas nove assentamentos.
“Uma pesquisa feita em apenas nove assentamentos é tão tabajara e ridícula que não tem relevância alguma. Estranhamos que o Ibope se preste a esse tipo de trabalho, apenas para atender a vontade dos latifundiários. Confiamos no censo agropecuário, que demonstra que a concentração de terras no país cresceu nos últimos 10 anos”, afirmou João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST, por meio de nota.
A opinião do MST coincide com a que foi apresentada ontem (13) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em entrevista coletiva, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, disse que o Censo Agropecuário, que teria pesquisado todos os estabelecimentos do país, demonstra números bem diferentes.
“Quero reafirmar que a reforma agrária produz muitos alimentos. O censo agropecuário, que pesquisou todos os estabelecimentos do país, mostra que a agricultura familiar detém 24% da área total e produz 40% do valor bruto da produção agropecuária brasileira. Fico com o censo e não com o Ibope, que pesquisou mil famílias. Temos 1 milhão de famílias assentadas no Brasil inteiro em 80 milhões de hectares. A amostra é insuficiente”, afirmou Hackbart. Para ele, a pesquisa da CNA teve o interesse de demonstrar que a “reforma agrária não é mais necessária”.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
10 + – 5ª Posição: Exile On Main Street
Exile On Main Street (Rolling Stones)
Por Marcelo Shaw | Em 02/07/04
http://whiplash.net/materias/cds/003703-rollingstones.html
“Um retorno à rua principal”
Em 1972, saiu pela Rolling Stones Records “O” disco desta, que sempre foi, a maior banda de rock do mundo. “Exile on main St.” é uma viagem a algo nunca antes visto, e que, provavelmente, nunca mais será visto. Na época das gravações desse disco, os Stones tiveram o ápice do seu consumo de drogas, alguns estavam num processo de autodestruição, outros, no momento mais alto de sua criatividade. Sim, as drogas tiveram duas faces na história dessa banda.
Mick Taylor, pródigo guitarrista, teve seu nome creditado em uma canção, “Ventilator Blues”. Falando de Mick Taylor, esse foi o primeiro CD dos Stones que ele trabalhou do começo ao fim, os anteriores (“Let It Bleed” e “Sticky Fingers”), tiveram músicas tiradas de antigas seções, e ele se sai muito bem, mostrando que podia ser um rolling stone.
“EOMS” começa com “Rocks off”, a melhor de todo CD, e segue com “Rip this joint”, que mantém o clima iniciado na primeira faixa. “Shake your hips” muda um pouco a atmosfera, mas não faz cair à qualidade. “Casino boogie” tem um ritmo interessante, mas, definitivamente, não é um destaque. “Tumbling dice” é uma pérola! Algo indescritível, que só se sabe o que é ouvindo, com os melhores vocais de todo CD
Entramos em uma parte acústica do “Exile”. “Sweet Virginia”, “Torn and frayed” e “Sweet black Angel” são as que temos, todas as três muito boas, com destaque para especial para “Sweet Virginia”. “Loving Cup” é uma excelente balada. Imaginar que vai ficar naquilo, baladas, é algo normal. Mas “Happy” muda tudo, e se assemelha mais com “Tumbling dice”. “Turd on the run” é um saco, a pior do disco. Mas tudo bem, porque logo depois vem a já citada “Ventilator blues”, que é uma maravilha. A bateria de Watts nessa música da um peso especial, e, como sempre, abusa da precisão.
“Just want to see his face” tem um balanço especial, mas foi muito mal trabalhada, estragando o que podia ser mais um destaque, caiu na mediocridade. “Let it loose” é mais uma balada, mas não é safada, nem grudenta (Algo que os bons moços viriam a fazer depois da saída de Taylor, pra infelicidade geral). “All down the line” tem um fato “curioso”. No lançamento original, creditava Bill Plummer como responsável pelo baixo, mas, Bill Wyman diz ser de sua autoria o baixo que ouvimos nessa musica.
“Stop breaking down” é uma música de Robert Johnson, com uma guitarrinha muito boa, cortesia de Mick Taylor. “Shine a light” é um... Gospel! Estranho? Não, perfeito, isso sim. “Soul survivor” encerra o álbum com perfeição, típico dos Garotos, já dando uma pista do que viria por ai (“Goats Head Soup”).
“Exile on main St.” foi lançado originalmente como disco duplo, mas hoje sai como CD simples. Simples? Nunca! “EOMS” beira a perfeição, e o limite da música. Mick Jagger está cantando demais, outro Mick, o Taylor, contribui discretamente, mas sua ajuda foi essencial. Bill e Charlie, quase nunca lembrados, também se destacam, pelo menos, Bill nas faixas que toca. Keith Richards... Como sempre, esculacha na guitarra, e faz a parte musical. Insuperável! Você já tem? Claro, porque é um fã, senão não teria lido esse review...
Rolling Stones:
Mick Jagger: Vocal e guitarra
Keith Richards: Guitarra, backing vocal e vocal em “Happy”
Mick Taylor: Guitarra e baixo
Bill Wyman: baixo
Charlie Watts: bateria
Tocaram também:
Nicky Hopkins, Billy Preston, Ian Stewart, Bobby Keys, Jim Price, Bill Plummer, Al Perkins.
Músicas:
Lado 1
1. "Rocks Off" – 4:32
2. "Rip This Joint" – 2:23
3. "Shake Your Hips" (Slim Harpo) – 2:59
4. "Casino Boogie" – 3:33
5. "Tumbling Dice" – 3:45
Lado 2
1. "Sweet Virginia" – 4:25
2. "Torn and Frayed" – 4:17
3. "Sweet Black Angel" – 2:54
4. "Loving Cup" – 4:23
Lado 3
1. "Happy" – 3:04
2. "Turd on the Run" – 2:37
3. "Ventilator Blues" (Jagger, Richards, Mick Taylor) – 3:24
4. "I Just Want to See His Face" – 2:52
5. "Let It Loose" – 5:17
Lado 4
1. "All Down the Line" – 3:49
2. "Stop Breaking Down" (Robert Johnson) – 4:34
3. "Shine a Light" – 4:14
4. "Soul Survivor" – 3:49
Produção: Jimmy Miller
Por Marcelo Shaw | Em 02/07/04
http://whiplash.net/materias/cds/003703-rollingstones.html
“Um retorno à rua principal”
Em 1972, saiu pela Rolling Stones Records “O” disco desta, que sempre foi, a maior banda de rock do mundo. “Exile on main St.” é uma viagem a algo nunca antes visto, e que, provavelmente, nunca mais será visto. Na época das gravações desse disco, os Stones tiveram o ápice do seu consumo de drogas, alguns estavam num processo de autodestruição, outros, no momento mais alto de sua criatividade. Sim, as drogas tiveram duas faces na história dessa banda.
Mick Taylor, pródigo guitarrista, teve seu nome creditado em uma canção, “Ventilator Blues”. Falando de Mick Taylor, esse foi o primeiro CD dos Stones que ele trabalhou do começo ao fim, os anteriores (“Let It Bleed” e “Sticky Fingers”), tiveram músicas tiradas de antigas seções, e ele se sai muito bem, mostrando que podia ser um rolling stone.
“EOMS” começa com “Rocks off”, a melhor de todo CD, e segue com “Rip this joint”, que mantém o clima iniciado na primeira faixa. “Shake your hips” muda um pouco a atmosfera, mas não faz cair à qualidade. “Casino boogie” tem um ritmo interessante, mas, definitivamente, não é um destaque. “Tumbling dice” é uma pérola! Algo indescritível, que só se sabe o que é ouvindo, com os melhores vocais de todo CD
Entramos em uma parte acústica do “Exile”. “Sweet Virginia”, “Torn and frayed” e “Sweet black Angel” são as que temos, todas as três muito boas, com destaque para especial para “Sweet Virginia”. “Loving Cup” é uma excelente balada. Imaginar que vai ficar naquilo, baladas, é algo normal. Mas “Happy” muda tudo, e se assemelha mais com “Tumbling dice”. “Turd on the run” é um saco, a pior do disco. Mas tudo bem, porque logo depois vem a já citada “Ventilator blues”, que é uma maravilha. A bateria de Watts nessa música da um peso especial, e, como sempre, abusa da precisão.
“Just want to see his face” tem um balanço especial, mas foi muito mal trabalhada, estragando o que podia ser mais um destaque, caiu na mediocridade. “Let it loose” é mais uma balada, mas não é safada, nem grudenta (Algo que os bons moços viriam a fazer depois da saída de Taylor, pra infelicidade geral). “All down the line” tem um fato “curioso”. No lançamento original, creditava Bill Plummer como responsável pelo baixo, mas, Bill Wyman diz ser de sua autoria o baixo que ouvimos nessa musica.
“Stop breaking down” é uma música de Robert Johnson, com uma guitarrinha muito boa, cortesia de Mick Taylor. “Shine a light” é um... Gospel! Estranho? Não, perfeito, isso sim. “Soul survivor” encerra o álbum com perfeição, típico dos Garotos, já dando uma pista do que viria por ai (“Goats Head Soup”).
“Exile on main St.” foi lançado originalmente como disco duplo, mas hoje sai como CD simples. Simples? Nunca! “EOMS” beira a perfeição, e o limite da música. Mick Jagger está cantando demais, outro Mick, o Taylor, contribui discretamente, mas sua ajuda foi essencial. Bill e Charlie, quase nunca lembrados, também se destacam, pelo menos, Bill nas faixas que toca. Keith Richards... Como sempre, esculacha na guitarra, e faz a parte musical. Insuperável! Você já tem? Claro, porque é um fã, senão não teria lido esse review...
Rolling Stones:
Mick Jagger: Vocal e guitarra
Keith Richards: Guitarra, backing vocal e vocal em “Happy”
Mick Taylor: Guitarra e baixo
Bill Wyman: baixo
Charlie Watts: bateria
Tocaram também:
Nicky Hopkins, Billy Preston, Ian Stewart, Bobby Keys, Jim Price, Bill Plummer, Al Perkins.
Músicas:
Lado 1
1. "Rocks Off" – 4:32
2. "Rip This Joint" – 2:23
3. "Shake Your Hips" (Slim Harpo) – 2:59
4. "Casino Boogie" – 3:33
5. "Tumbling Dice" – 3:45
Lado 2
1. "Sweet Virginia" – 4:25
2. "Torn and Frayed" – 4:17
3. "Sweet Black Angel" – 2:54
4. "Loving Cup" – 4:23
Lado 3
1. "Happy" – 3:04
2. "Turd on the Run" – 2:37
3. "Ventilator Blues" (Jagger, Richards, Mick Taylor) – 3:24
4. "I Just Want to See His Face" – 2:52
5. "Let It Loose" – 5:17
Lado 4
1. "All Down the Line" – 3:49
2. "Stop Breaking Down" (Robert Johnson) – 4:34
3. "Shine a Light" – 4:14
4. "Soul Survivor" – 3:49
Produção: Jimmy Miller
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Um anti-ácido por favor!!!
Que a prova do Enem teve seu vazamento facilitado exclusivamente por fins políticos até o mais ingênuo dos boçais já percebeu. A intenção ali era, e me parece ter sido bem sucedida, desgastar o governo impingindo a pecha de incompetente no excelente ministro Fernando Haddad, suspender e desmoralizar o Enem e demover inúmeras universidades da decisão, que já haviam anunciado, de aderir a proposta do governo de introduzir as notas do exame no processo de vestibular. Minando o Enem desse ano quiçá donos de cursinhos pré-vestibulares, uma verdadeira indústria, e a elite econômica nacional – já bastante desgostosa com o sistema de cotas – poderão enfim festejar a queda de um dos programas sociais do atual governo e impedir que no futuro se volte a discutir a revisão do processo de entrada nas grandes universidades nacionais, sobretudo nas públicas.
A tática adotada pelo o que há de mais retrogrado em nossa sociedade além de ser uma tática ignominiosa, covarde e doente, também nos serve, mais uma vez, para mostrar o quanto nossa mídia oligopilizada pratica um jornalismo servil, decadente, calunioso e anti-ético.
Na edição dessa quinta-feira (08/10/2009) o Jornal Nacional conseguiu ser de tal modo ultrajante e asqueroso – não posso dizer como foi nos outros dias, pois só tive o desprazer de assisti-lo na citada data – que me embrulhou o estômago e me fez escrever essas linhas em repúdio.
Primeiro começaram com uma lengalenga que há varias lacunas no contrato entre o MEC e a gráfica contratada. Essas lacunas viriam por conta do edital onde a tal gráfica foi escolhida. Outras duas empresas teriam desistido de concorrer na licitação por acharem que não teriam tempo hábil de preparar a nova prova do Enem nos moldes em que o MEC sugeriu. Sobrando apenas uma que de imediato se dispôs a aceitar os termos do contrato e iniciou a impressão das provas. Durante toda a reportagem foi omitido o fato de essa gráfica pertencer ao Grupo Folha e procurou por todas as formas jogar integralmente a responsabilidade pelo vazamento para o MEC, acusando claramente o ministro da Educação pelo crime e pelas dificuldades em se encontrar uma gráfica que atendesse as especificações do edital.
É de se perguntar, se o Grupo Folha aceitou os termos do contrato e depois se mostrou inapto para o trabalho não é dele a responsabilidade principal pelo vazamento? Não é assim que ocorre quando o assunto está no âmbito puramente privado? Por que jogar toda a culpa no MEC?
As explicações do ministro Fernando Haddad, selecionadas pela Vênus Platinada, demonstraram a dificuldade de se encontrar no Brasil por meio de edital e da Lei de Licitações uma empresa experiente que desse conta de encomenda dessa envergadura, mais de 4 milhões de provas.
O que a Vênus Platinada – que chama os gorilas golpistas hondurenhos de governo interino – fez? Correu para pedir a opinião de um dos ministros do Tribunal de Contas da União. Qual foi o escolhido? O ministro José Jorge. Sinceramente, cara-de pau e vigarice têm limite!!! Eis um pouco da ficha de José Jorge para quem não está ligando o nome a pessoa: senador por Pernambuco (1999 e 2007); ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso (2001 a 2002); candidato a vice-presidente da República na chapa de Geraldo Alckmin (2006). Faltou dizer o partido? O homem é do DEMO. Acho desnecessário repetir aqui o que José Jorge disse. Ele apenas desqualificou as declarações de Fernando Haddad sem apresentar qualquer dado técnico. Dificilmente encontraremos maior exemplo de jornalismo imparcial.
A Globo simplesmente ignorou ou omitiu esse pequeno detalhe. Assim como ignorou ou omitiu o fato da gráfica donde foram roubadas as provas do Enem pertencer ao Grupo Folha. O estranho é que quando a Globo tem interesse ela passa a ficha completa dos envolvidos. Por acaso não é esse o tratamento que ela dá ao MST ? Quando o MST ocupa alguma área a Globo logo lembra que o movimento recebeu, direta ou indiretamente, dinheiro do governo federal. O mesmo tratamento que a Globo deu ao Congresso da UNE, desqualificando a entidade por receber verbas do governo federal. Se é pra fazer um jornalismo investigativo então por que não dizer que a gráfica responsável pelo vazamento é do Grupo Folha? Ou se é pra fazer jornalismo imparcial então entreviste outro ministro do TCU que não José Jorge. Nem todos os telespectadores do JN são Homer Simpson como o Bonner pensa.
Poderia dar outros mil exemplos, mas termino o texto por aqui, preciso urgentemente tomar um anti-acido. Só de escrever sobre a mídia oligopolizada meu estomago arde.
A tática adotada pelo o que há de mais retrogrado em nossa sociedade além de ser uma tática ignominiosa, covarde e doente, também nos serve, mais uma vez, para mostrar o quanto nossa mídia oligopilizada pratica um jornalismo servil, decadente, calunioso e anti-ético.
Na edição dessa quinta-feira (08/10/2009) o Jornal Nacional conseguiu ser de tal modo ultrajante e asqueroso – não posso dizer como foi nos outros dias, pois só tive o desprazer de assisti-lo na citada data – que me embrulhou o estômago e me fez escrever essas linhas em repúdio.
Primeiro começaram com uma lengalenga que há varias lacunas no contrato entre o MEC e a gráfica contratada. Essas lacunas viriam por conta do edital onde a tal gráfica foi escolhida. Outras duas empresas teriam desistido de concorrer na licitação por acharem que não teriam tempo hábil de preparar a nova prova do Enem nos moldes em que o MEC sugeriu. Sobrando apenas uma que de imediato se dispôs a aceitar os termos do contrato e iniciou a impressão das provas. Durante toda a reportagem foi omitido o fato de essa gráfica pertencer ao Grupo Folha e procurou por todas as formas jogar integralmente a responsabilidade pelo vazamento para o MEC, acusando claramente o ministro da Educação pelo crime e pelas dificuldades em se encontrar uma gráfica que atendesse as especificações do edital.
É de se perguntar, se o Grupo Folha aceitou os termos do contrato e depois se mostrou inapto para o trabalho não é dele a responsabilidade principal pelo vazamento? Não é assim que ocorre quando o assunto está no âmbito puramente privado? Por que jogar toda a culpa no MEC?
As explicações do ministro Fernando Haddad, selecionadas pela Vênus Platinada, demonstraram a dificuldade de se encontrar no Brasil por meio de edital e da Lei de Licitações uma empresa experiente que desse conta de encomenda dessa envergadura, mais de 4 milhões de provas.
O que a Vênus Platinada – que chama os gorilas golpistas hondurenhos de governo interino – fez? Correu para pedir a opinião de um dos ministros do Tribunal de Contas da União. Qual foi o escolhido? O ministro José Jorge. Sinceramente, cara-de pau e vigarice têm limite!!! Eis um pouco da ficha de José Jorge para quem não está ligando o nome a pessoa: senador por Pernambuco (1999 e 2007); ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso (2001 a 2002); candidato a vice-presidente da República na chapa de Geraldo Alckmin (2006). Faltou dizer o partido? O homem é do DEMO. Acho desnecessário repetir aqui o que José Jorge disse. Ele apenas desqualificou as declarações de Fernando Haddad sem apresentar qualquer dado técnico. Dificilmente encontraremos maior exemplo de jornalismo imparcial.
A Globo simplesmente ignorou ou omitiu esse pequeno detalhe. Assim como ignorou ou omitiu o fato da gráfica donde foram roubadas as provas do Enem pertencer ao Grupo Folha. O estranho é que quando a Globo tem interesse ela passa a ficha completa dos envolvidos. Por acaso não é esse o tratamento que ela dá ao MST ? Quando o MST ocupa alguma área a Globo logo lembra que o movimento recebeu, direta ou indiretamente, dinheiro do governo federal. O mesmo tratamento que a Globo deu ao Congresso da UNE, desqualificando a entidade por receber verbas do governo federal. Se é pra fazer um jornalismo investigativo então por que não dizer que a gráfica responsável pelo vazamento é do Grupo Folha? Ou se é pra fazer jornalismo imparcial então entreviste outro ministro do TCU que não José Jorge. Nem todos os telespectadores do JN são Homer Simpson como o Bonner pensa.
Poderia dar outros mil exemplos, mas termino o texto por aqui, preciso urgentemente tomar um anti-acido. Só de escrever sobre a mídia oligopolizada meu estomago arde.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
A novela da Reforma Agrária e MST
Por Yuri de Almeida Gonçalves
Após a ocupação do MST no centro-oeste de São Paulo no laranjal da Cutrale, a bancada ruralista representada pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os deputados federais Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) tem se manifestado na mídia apresentando o MST como movimento terrorista. O que escondem é que são cerca de 4 mil hectares grilados de plantação de laranja só na área citada.
Essa semana o IBGE revelou que no Brasil 46% de suas terras estão nas mãos de latifundiários, aumentando a concentração nos últimos 10 anos, o que não era para ter acontecido num governo popular. Ainda foi demonstrado pelo censo agropecuário que, propriedades com menos de 10 hectares controlam apenas 2,7% do território brasileiro e ainda, é a agricultura familiar que produz 85% do alimento que vai a nossa mesa, sendo o agronegócio ainda destinado ao mercado exportador, como os antigos plantations.
A bancada ruralista ainda quer barrar ou rever o índice de produtividade, que é a forma constitucional de analisar a distribuição fundiária do país para possíveis cálculos orçamentários destinados a reforma agrária.
EUA evitaram presença de latifúndio e formulou uma lei de terras que proporcionou um crescimento econômico rápido. Alemanha, Espanha, França, Itália, Inglaterra, países escandinavos e até Japão, Israel e Irlanda fizeram reforma agrária. O momento de maior crescimento da antiga URSS foi com Stalin que realizou reforma agrária. Não há registro de país que realizou distribuição fundiária sem desenvolvimento sócio-econômico aparente. Não obstante, todos os países que não realizaram reforma agrária permanecem subdesenvolvidos e com desigualdade social imensurável.
É simples entender porque os latifúndios travam o crescimento econômico: concentra renda e deixa de aquecer o mercado interno. O agronegócio apresenta bons números no cenário de exportação, mas a agricultura familiar apresentaria um número superior de lucros com distribuição. Só para se ter idéia, na área ocupada pelo MST na Cutrale mais de 130 famílias poderiam estar assentadas produzindo alimentos.
Impossível haver desenvolvimento sócio-econômico aonde há alta concentração de renda. A bancada ruralista está certa de atacar o MST e a reforma fundiária, defendem seus interesses, legislam em causa própria.
O BRASIL precisa voltar a discutir as reformas de bases de Jango: reformas educacional, tributária, política, agrária e MUITAS OUTRAS. O Sistema vive para o Sistema e a população paga a conta. Até quando?
Yuri de Almeida Gonçalves é bacharel em teologia, licenciado em História e especialista em História e Construção Social no Brasil radicado em Poços de Caldas. O seu e-mail é yuridemetal@yahoo.com.br
Após a ocupação do MST no centro-oeste de São Paulo no laranjal da Cutrale, a bancada ruralista representada pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os deputados federais Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) tem se manifestado na mídia apresentando o MST como movimento terrorista. O que escondem é que são cerca de 4 mil hectares grilados de plantação de laranja só na área citada.
Essa semana o IBGE revelou que no Brasil 46% de suas terras estão nas mãos de latifundiários, aumentando a concentração nos últimos 10 anos, o que não era para ter acontecido num governo popular. Ainda foi demonstrado pelo censo agropecuário que, propriedades com menos de 10 hectares controlam apenas 2,7% do território brasileiro e ainda, é a agricultura familiar que produz 85% do alimento que vai a nossa mesa, sendo o agronegócio ainda destinado ao mercado exportador, como os antigos plantations.
A bancada ruralista ainda quer barrar ou rever o índice de produtividade, que é a forma constitucional de analisar a distribuição fundiária do país para possíveis cálculos orçamentários destinados a reforma agrária.
EUA evitaram presença de latifúndio e formulou uma lei de terras que proporcionou um crescimento econômico rápido. Alemanha, Espanha, França, Itália, Inglaterra, países escandinavos e até Japão, Israel e Irlanda fizeram reforma agrária. O momento de maior crescimento da antiga URSS foi com Stalin que realizou reforma agrária. Não há registro de país que realizou distribuição fundiária sem desenvolvimento sócio-econômico aparente. Não obstante, todos os países que não realizaram reforma agrária permanecem subdesenvolvidos e com desigualdade social imensurável.
É simples entender porque os latifúndios travam o crescimento econômico: concentra renda e deixa de aquecer o mercado interno. O agronegócio apresenta bons números no cenário de exportação, mas a agricultura familiar apresentaria um número superior de lucros com distribuição. Só para se ter idéia, na área ocupada pelo MST na Cutrale mais de 130 famílias poderiam estar assentadas produzindo alimentos.
Impossível haver desenvolvimento sócio-econômico aonde há alta concentração de renda. A bancada ruralista está certa de atacar o MST e a reforma fundiária, defendem seus interesses, legislam em causa própria.
O BRASIL precisa voltar a discutir as reformas de bases de Jango: reformas educacional, tributária, política, agrária e MUITAS OUTRAS. O Sistema vive para o Sistema e a população paga a conta. Até quando?
Yuri de Almeida Gonçalves é bacharel em teologia, licenciado em História e especialista em História e Construção Social no Brasil radicado em Poços de Caldas. O seu e-mail é yuridemetal@yahoo.com.br
terça-feira, 6 de outubro de 2009
MST ocupa fazenda grilada pela Cutrale
Do Centro Acadêmico de Comunicação “Florestan Fernandes”
http://cacoffunesp.blogspot.com/
A grande imprensa no último dia 05 de outubro alardeou a “invasão” de terra provocada por integrantes do MST. Em voos razantes a PM captou imagens de um trator cortanto pés de laranja. Como é de costume, a mídia apresenta os fatos sem uma necessária contextualização do problema com o intuito claro de colocar a opinião pública contra os movimentos sociais. Esses movimentos lutam pelo real desenvolvimento social do país frente ao grande crescimento econômico que aquece a conta corrente daqueles que estão no topo da escala social.
A região mostrada na imprensa, Aras, Agudos, Borebi, no centro-oeste do Estado de São Paulo, onde hoje a empresa Cutrale tem imensas plantações de laranja, tem sua história abafada pelos interesses dos grandes latifundiários brasileiros. Vamos a ela então.
No início do século XX o Governo Federal destinou naquela região mais de 50 mil hectares para a colonização italiana. No entanto, isso não foi possível pois os fazendeiros do café entendiam que essas terras para colonização italiana diminuiriam a oferta de trabalho barato nas plantações de café, e como é de costume, impediram que essas terras fossem destinadas para o fim proposto.
Com o passar do tempo esses 50 mil hectares foram sendo grilados por grandes empresas, principalmente madeireiras. Um pouco mais recente é a entrada da Cutrale nessa região através de terras griladas. Hoje a Cutrale mantém ali uma plantação de cerca de 4 mil hectares apenas de laranja. Só a título de exemplo, com esse número mais de 130 famílias poderiam estar assentadas e plantando alimentos necessários para a alimentação da população, já que não só de laranja vive o homem.
Essas terras da região centro-oeste são uma reinvidicação de mais de 15 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para que ela seja destinada a reforma agrária e contribua para a melhora do quadro social do país. Segundo o INCRA, orgão governamental que regula a reforma agrária, a invasão da Cutrale é ilegal e as terras deveriam ser devolvidas ao governo federal.
Mais de 350 famílias ocupam essa região como forma de pressão para que as terras do governo sejam destinadas à reforma agrária. Parece inconcebível que uma mega empresa, através de meios obscuros como é a grilagem, explore a terra apenas para lucro próprio sem ter pago nenhum centavo, enquanto milhares de famílias continuam na luta por um pedaço de terra agricultável.
Na região de Borebi alguns pés de laranja, entre os 4 mil hectares plantados, foram derrubados para que arroz, feijão, milho, batata pudessem ser plantados. Não nos esqueçamos nunca que a reforma agrária é imprescindível para a construção de um país realmente justo, democrático e menos desigual.
Enquanto o Brasil continuar com uma ditribuição fundiária quase feudal, os números midiáticos continuarão nos falando lindas mentiras e a realidade, duras verdades.
Lembrando de João Cabral de Melo Neto, pergunto: qual será a parte que cabe ao povo neste latifúndio chamado Brasil?
http://cacoffunesp.blogspot.com/
A grande imprensa no último dia 05 de outubro alardeou a “invasão” de terra provocada por integrantes do MST. Em voos razantes a PM captou imagens de um trator cortanto pés de laranja. Como é de costume, a mídia apresenta os fatos sem uma necessária contextualização do problema com o intuito claro de colocar a opinião pública contra os movimentos sociais. Esses movimentos lutam pelo real desenvolvimento social do país frente ao grande crescimento econômico que aquece a conta corrente daqueles que estão no topo da escala social.
A região mostrada na imprensa, Aras, Agudos, Borebi, no centro-oeste do Estado de São Paulo, onde hoje a empresa Cutrale tem imensas plantações de laranja, tem sua história abafada pelos interesses dos grandes latifundiários brasileiros. Vamos a ela então.
No início do século XX o Governo Federal destinou naquela região mais de 50 mil hectares para a colonização italiana. No entanto, isso não foi possível pois os fazendeiros do café entendiam que essas terras para colonização italiana diminuiriam a oferta de trabalho barato nas plantações de café, e como é de costume, impediram que essas terras fossem destinadas para o fim proposto.
Com o passar do tempo esses 50 mil hectares foram sendo grilados por grandes empresas, principalmente madeireiras. Um pouco mais recente é a entrada da Cutrale nessa região através de terras griladas. Hoje a Cutrale mantém ali uma plantação de cerca de 4 mil hectares apenas de laranja. Só a título de exemplo, com esse número mais de 130 famílias poderiam estar assentadas e plantando alimentos necessários para a alimentação da população, já que não só de laranja vive o homem.
Essas terras da região centro-oeste são uma reinvidicação de mais de 15 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para que ela seja destinada a reforma agrária e contribua para a melhora do quadro social do país. Segundo o INCRA, orgão governamental que regula a reforma agrária, a invasão da Cutrale é ilegal e as terras deveriam ser devolvidas ao governo federal.
Mais de 350 famílias ocupam essa região como forma de pressão para que as terras do governo sejam destinadas à reforma agrária. Parece inconcebível que uma mega empresa, através de meios obscuros como é a grilagem, explore a terra apenas para lucro próprio sem ter pago nenhum centavo, enquanto milhares de famílias continuam na luta por um pedaço de terra agricultável.
Na região de Borebi alguns pés de laranja, entre os 4 mil hectares plantados, foram derrubados para que arroz, feijão, milho, batata pudessem ser plantados. Não nos esqueçamos nunca que a reforma agrária é imprescindível para a construção de um país realmente justo, democrático e menos desigual.
Enquanto o Brasil continuar com uma ditribuição fundiária quase feudal, os números midiáticos continuarão nos falando lindas mentiras e a realidade, duras verdades.
Lembrando de João Cabral de Melo Neto, pergunto: qual será a parte que cabe ao povo neste latifúndio chamado Brasil?
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
O MST agradece
Gostaríamos de agradecer a todos que manifestaram sua solidariedade com nosso Movimento, e contribuíram para denunciar o atentado contra a democracia promovido pelos setores reacionários do país. O anúncio do arquivamento da CPI contra o MST é um sinal do isolamento da bancada ruralista, representada pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os deputados federais Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Assustados com o anúncio da atualização dos índices de produtividade, tentaram fugir do debate sobre a viabilidade do agronegócio.
O Censo Agropecuário 2006, divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprova o que vínhamos denunciando: a concentração da terra aumentou no Brasil nos últimos 10 anos. Nosso país tem que lidar com o absurdo de possuir 46% de suas terras dominadas pelo latifúndio, propriedades com mais de mil hectares. O IBGE demonstra que as propriedades com menos de 10 hectares controlam apenas 2,7% do território do Brasil. Esse é o resultado do modelo do agronegócio: grandes empresas transnacionais se apropriam da maioria das nossas terras, controlando a produção e o comércio de grãos e commodities, na mesma medida em que controlam nossos recursos naturais.
E a perversidade segue: mesmo controlando a maior parte do território e utilizando veneno em larga proporção - o estudo mostra que 56% dos estabelecimentos usam agrotóxicos sem nenhum critério ou controle - não é o agronegócio o responsável pelo alimento que chega à mesa do trabalhador brasileiro. É a agricultura familiar a responsável por 85% da produção de todos os alimentos. E é nela que trabalham 85% das pessoas no campo.
Então nos perguntamos: com base nesses dados como justificar que o agronegócio receba 43,6% dos recursos públicos para a produção? Por que os ruralistas têm tanto medo em cumprir a lei que determina a atualização dos índices de produtividade?
Porque eles não querem assumir a falência do seu modelo, que concentra terra, expulsa os trabalhadores do campo, não produz alimentos, abusa dos venenos, degrada o meio ambiente e alimenta os cofres das transnacionais. Insistimos na necessidade de se pensar um outro modelo para a agricultura brasileira.
Seguiremos em luta no combate ao agronegócio, para retomar a necessidade de uma Reforma Agrária massiva, popular, que possa impedir a concentração da propriedade da terra, priorize a produção de alimentos saudáveis para toda a sociedade, democratize a educação e estimule a população a permanecer no meio rural, com qualidade de vida.
Fortalecidos com o apoio das mais de quatro mil pessoas que assinaram o manifesto, nos comprometemos a continuar, como fazemos nos últimos 25 anos, na luta por uma sociedade justa. Sabemos que não estamos sozinhos e, por seu apoio, que estamos no caminho certo.
Secretaria Nacional do MST
O Censo Agropecuário 2006, divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprova o que vínhamos denunciando: a concentração da terra aumentou no Brasil nos últimos 10 anos. Nosso país tem que lidar com o absurdo de possuir 46% de suas terras dominadas pelo latifúndio, propriedades com mais de mil hectares. O IBGE demonstra que as propriedades com menos de 10 hectares controlam apenas 2,7% do território do Brasil. Esse é o resultado do modelo do agronegócio: grandes empresas transnacionais se apropriam da maioria das nossas terras, controlando a produção e o comércio de grãos e commodities, na mesma medida em que controlam nossos recursos naturais.
E a perversidade segue: mesmo controlando a maior parte do território e utilizando veneno em larga proporção - o estudo mostra que 56% dos estabelecimentos usam agrotóxicos sem nenhum critério ou controle - não é o agronegócio o responsável pelo alimento que chega à mesa do trabalhador brasileiro. É a agricultura familiar a responsável por 85% da produção de todos os alimentos. E é nela que trabalham 85% das pessoas no campo.
Então nos perguntamos: com base nesses dados como justificar que o agronegócio receba 43,6% dos recursos públicos para a produção? Por que os ruralistas têm tanto medo em cumprir a lei que determina a atualização dos índices de produtividade?
Porque eles não querem assumir a falência do seu modelo, que concentra terra, expulsa os trabalhadores do campo, não produz alimentos, abusa dos venenos, degrada o meio ambiente e alimenta os cofres das transnacionais. Insistimos na necessidade de se pensar um outro modelo para a agricultura brasileira.
Seguiremos em luta no combate ao agronegócio, para retomar a necessidade de uma Reforma Agrária massiva, popular, que possa impedir a concentração da propriedade da terra, priorize a produção de alimentos saudáveis para toda a sociedade, democratize a educação e estimule a população a permanecer no meio rural, com qualidade de vida.
Fortalecidos com o apoio das mais de quatro mil pessoas que assinaram o manifesto, nos comprometemos a continuar, como fazemos nos últimos 25 anos, na luta por uma sociedade justa. Sabemos que não estamos sozinhos e, por seu apoio, que estamos no caminho certo.
Secretaria Nacional do MST
domingo, 4 de outubro de 2009
10 + – 6ª Posição: Who’s Next
Who’s Next (The Who)
Por Gustavo Camargo | Em 24/05/08
http://whiplash.net/materias/cds_users/073078-who.html
O Who é uma das bandas mais importantes do rock mesmo não sendo tão grande e mística como outras (Beatles? Led Zeppelin?)
É uma banda menos conhecida, porém tão respeitada quanto essas citadas, esse álbum prova perfeitamente isso.
Em 1969 Pete Townshend (guitarra) Roger Daltrey (vocal) John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) já haviam lançado Tommy, um dos melhores e mais inovadores álbuns da história do rock (praticamente inventou e popularizou a ópera rock)
Já em 1971 lançam o Who's Next um álbum-resquícios de um complexo projeto conceitual que o guitarrista Pete Townshend tinha em mente mas que não estava dando certo, quem quiser saber mais sobre isso procure algum texto mais específico sobre a banda, aqui vou me focar na parte musical do álbum.
Baba O'riley - É a faixa que abre o álbum e um dos maiores clássicos da banda, a introdução com os sintetizadores já mostra uma diferença no som da banda em relação aos discos anteriores, a introdução vai crescendo com a entrada do baixo, e dos vocais fortes e vigorosos do Daltrey, depois da entrada da guitarra a musica entra em uma curta parte mais calma pra depois voltar com força total, o pequeno solo do Townshend lá pelos 3 minutos é tão simples e belo que chega a impressionar, no final da musica ainda voltam os sintetizadores e teclados pra fazer um solo muito legal e totalmente experimental que dura até o fim da musica. A letra da musica falando sobre adolescência e amadurecimento dá a qualidade de hino à musica.
Bargain - Mais sintetizadores, eles dão o tom desse álbum do Who, agora juntos com umas guitarras acústicas, que depois mudam pra uma levada bem rock 'n' roll, o refrão é pura empolgação, depois do "the best i've ever had" quando a banda volta com tudo, no meio tem um outro solinho de sintetizador com a musica diminuindo de ritmo, porém ao fim do solo outra virada pra trazer o ritmo forte novamente, o trabalho do Keith lá pelo ultimo refrão e final da musica é soberbo, pra fechar mais sintetizadores e guitarras por cima da bateria agressiva do Keith...que diminui pra simplesmente o violão e os sintetizadores do inicio, outra musica soberba.
Love Ain't For Keeping - Uma balada muito legal e tocante, levada pelo violão, lembra muito a sonoridade do Tommy, a voz do Roger aqui da um charme extra a musica, assim como o violão que é muito bem tocado e tem uma levada bem legal.
My Wife - A letra mais divertida do álbum, ouçam vocês mesmos e vejam coisas como "give me a bodyguard/ A black belt judo expert with a machine gun", é uma musica bem pop e divertida, refrão legal, piano legal acompanhando a musica, ainda tem uns instrumentos de sopro lá pelo meio da musica que dão um toque a mais.
The Song Is Over - Magnífica, música perfeita, a introdução é belíssima, piano, sintetizadores e o Roger dando show, letra simplista porém tocante, de repente no refrão a musica acelera e ganho peso, refrão perfeito pra se cantar junto e que gruda na cabeça, outro solinho simples e legal do Pete lá pelos 2 minutos, mais pianos, baterias geniais, partes calmas em que o Roger fica em primeiro plano, mais refrões hehe é o tipo de musica que você reza pra não acabar mesmo com seus 6 minutos, la pelos 4 minutos a musica vai ficando mais rápida e ganha uns solos de piano sintetizadores matadores, e terminar com o Roger cantando umas linhas diferentes.
Getting in Tune - Essa música é quase a "filha" da musica que a antecede, também tem começo calmo e com piano pra depois ficar mais pesada no refrão (também simples e grudento) a letra é excelente cheia de metáforas, no final a musica acelera inesperadamente pra fechar a toda velocidade com show de bateria, solos de guitarra piano agressivo e todo o poder de fogo que o Who tem, final perfeito pra uma ótima musica.
Going Mobile - Outra ótima musica, muito mais alegre e direta do que as 2 anteriores, outra sobre um tema tão simples que deixa a musica divertida, vai com uma levada no violão e na bateria como sempre matadora do Keith, tem um solo de guitarra Wah-Wah aos 2 minutos que é simplesmente perfeito e se encaixa perfeitamente á musica e é mais longo do que todos os anteriores.
Behind Blue Eyes - O que falar dessa música? muitos já devem conhecer, letra maravilhosa, Roger perfeito (melhor performance dele no álbum na minha opinião) não tem como não se arrepiar ao ouvir ele cantando "but my dreams they aren't as empty/ as my conscience seems to be". A musica vai seguindo nesse ritmo de balada, levada pelo violão e pela voz do Roger até explodir num solinho mágico e ganhar um peso extra e uma parte mais agressiva, pra depois voltar ao ritmo normal e terminar com a voz linda do Roger dizendo o nome da musica.
Won't Get Fooled Again - Não tinha musica melhor pra fechar o album, a introdução com os sintetizadores sendo seguida pela guitarra já demonstra o quão épica é essa canção em seus mais de 8 minutos. Letra política e puramente rock 'n' roll, a mesma "estrutura" de musicas como Bargain e Going Mobile, de terminar o refrão com a musica parando pra logo depois voltar com tudo e aumentar a adrenalina dos ouvintes. la pelos 3 minutos entram uns riffs matadores de guitarra com os sintetizadores ao fundo, pra logo depois voltar ao verso cantando com ainda mais empolgação sendo seguido por mais riffs e mais solos e riffs do Pete que formam uma massa sonora com o baixo a bateria e os sintetizadores, depois dessa parte a musica para, o Roger da AQUELE grito de Yeah que arrepia qualquer um, depois desse orgasmo musical a musica volta pro verso e o refrão e depois recebe mais riffs e solos do Pete que simplesmente DESTRÓI nessa musica, depois vem um solo do sintetizador sozinho e quando você acha que as coisas estão se acalmando a banda volta depois de um solo de bateria do Keith e outro grito de Yeah do Roger que consegue ser mais empolgante e orgásmico do que o primeiro.
Vale a pena procurar o vídeo da performance dessa musica no DVD "The Kids Are Alright" e ver como a banda era matadora ao vivo e como nesse grito em especial a energia chega a ser exagerada. e então a musica termina com a frase "meet the new boss, same as the old boss" denotando todo o tema político adolescente adotado e fechando essa obra prima.
Who´s Next [1971]
01. Baba O’Riley
02. Bargain
03. Love Ain’t for Keeping
04. My Wife
05. The Song Is Over
06. Getting in Tune
07. Going Mobile
08. Behind Blue Eyes
09. Won’t Get Fooled Again
Formação:
Roger Daltrey (Vocais)
John Entwistle (Baixo)
Keith Moon (Bateria)
Pete Townshend (Guitarra)
Nicky Hopkins (Piano em “Song Is Over”)
Dave Arbus (Violino em “Baba O’Riley”)
Produção: The Who e Glyn Johns
Por Gustavo Camargo | Em 24/05/08
http://whiplash.net/materias/cds_users/073078-who.html
O Who é uma das bandas mais importantes do rock mesmo não sendo tão grande e mística como outras (Beatles? Led Zeppelin?)
É uma banda menos conhecida, porém tão respeitada quanto essas citadas, esse álbum prova perfeitamente isso.
Em 1969 Pete Townshend (guitarra) Roger Daltrey (vocal) John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) já haviam lançado Tommy, um dos melhores e mais inovadores álbuns da história do rock (praticamente inventou e popularizou a ópera rock)
Já em 1971 lançam o Who's Next um álbum-resquícios de um complexo projeto conceitual que o guitarrista Pete Townshend tinha em mente mas que não estava dando certo, quem quiser saber mais sobre isso procure algum texto mais específico sobre a banda, aqui vou me focar na parte musical do álbum.
Baba O'riley - É a faixa que abre o álbum e um dos maiores clássicos da banda, a introdução com os sintetizadores já mostra uma diferença no som da banda em relação aos discos anteriores, a introdução vai crescendo com a entrada do baixo, e dos vocais fortes e vigorosos do Daltrey, depois da entrada da guitarra a musica entra em uma curta parte mais calma pra depois voltar com força total, o pequeno solo do Townshend lá pelos 3 minutos é tão simples e belo que chega a impressionar, no final da musica ainda voltam os sintetizadores e teclados pra fazer um solo muito legal e totalmente experimental que dura até o fim da musica. A letra da musica falando sobre adolescência e amadurecimento dá a qualidade de hino à musica.
Bargain - Mais sintetizadores, eles dão o tom desse álbum do Who, agora juntos com umas guitarras acústicas, que depois mudam pra uma levada bem rock 'n' roll, o refrão é pura empolgação, depois do "the best i've ever had" quando a banda volta com tudo, no meio tem um outro solinho de sintetizador com a musica diminuindo de ritmo, porém ao fim do solo outra virada pra trazer o ritmo forte novamente, o trabalho do Keith lá pelo ultimo refrão e final da musica é soberbo, pra fechar mais sintetizadores e guitarras por cima da bateria agressiva do Keith...que diminui pra simplesmente o violão e os sintetizadores do inicio, outra musica soberba.
Love Ain't For Keeping - Uma balada muito legal e tocante, levada pelo violão, lembra muito a sonoridade do Tommy, a voz do Roger aqui da um charme extra a musica, assim como o violão que é muito bem tocado e tem uma levada bem legal.
My Wife - A letra mais divertida do álbum, ouçam vocês mesmos e vejam coisas como "give me a bodyguard/ A black belt judo expert with a machine gun", é uma musica bem pop e divertida, refrão legal, piano legal acompanhando a musica, ainda tem uns instrumentos de sopro lá pelo meio da musica que dão um toque a mais.
The Song Is Over - Magnífica, música perfeita, a introdução é belíssima, piano, sintetizadores e o Roger dando show, letra simplista porém tocante, de repente no refrão a musica acelera e ganho peso, refrão perfeito pra se cantar junto e que gruda na cabeça, outro solinho simples e legal do Pete lá pelos 2 minutos, mais pianos, baterias geniais, partes calmas em que o Roger fica em primeiro plano, mais refrões hehe é o tipo de musica que você reza pra não acabar mesmo com seus 6 minutos, la pelos 4 minutos a musica vai ficando mais rápida e ganha uns solos de piano sintetizadores matadores, e terminar com o Roger cantando umas linhas diferentes.
Getting in Tune - Essa música é quase a "filha" da musica que a antecede, também tem começo calmo e com piano pra depois ficar mais pesada no refrão (também simples e grudento) a letra é excelente cheia de metáforas, no final a musica acelera inesperadamente pra fechar a toda velocidade com show de bateria, solos de guitarra piano agressivo e todo o poder de fogo que o Who tem, final perfeito pra uma ótima musica.
Going Mobile - Outra ótima musica, muito mais alegre e direta do que as 2 anteriores, outra sobre um tema tão simples que deixa a musica divertida, vai com uma levada no violão e na bateria como sempre matadora do Keith, tem um solo de guitarra Wah-Wah aos 2 minutos que é simplesmente perfeito e se encaixa perfeitamente á musica e é mais longo do que todos os anteriores.
Behind Blue Eyes - O que falar dessa música? muitos já devem conhecer, letra maravilhosa, Roger perfeito (melhor performance dele no álbum na minha opinião) não tem como não se arrepiar ao ouvir ele cantando "but my dreams they aren't as empty/ as my conscience seems to be". A musica vai seguindo nesse ritmo de balada, levada pelo violão e pela voz do Roger até explodir num solinho mágico e ganhar um peso extra e uma parte mais agressiva, pra depois voltar ao ritmo normal e terminar com a voz linda do Roger dizendo o nome da musica.
Won't Get Fooled Again - Não tinha musica melhor pra fechar o album, a introdução com os sintetizadores sendo seguida pela guitarra já demonstra o quão épica é essa canção em seus mais de 8 minutos. Letra política e puramente rock 'n' roll, a mesma "estrutura" de musicas como Bargain e Going Mobile, de terminar o refrão com a musica parando pra logo depois voltar com tudo e aumentar a adrenalina dos ouvintes. la pelos 3 minutos entram uns riffs matadores de guitarra com os sintetizadores ao fundo, pra logo depois voltar ao verso cantando com ainda mais empolgação sendo seguido por mais riffs e mais solos e riffs do Pete que formam uma massa sonora com o baixo a bateria e os sintetizadores, depois dessa parte a musica para, o Roger da AQUELE grito de Yeah que arrepia qualquer um, depois desse orgasmo musical a musica volta pro verso e o refrão e depois recebe mais riffs e solos do Pete que simplesmente DESTRÓI nessa musica, depois vem um solo do sintetizador sozinho e quando você acha que as coisas estão se acalmando a banda volta depois de um solo de bateria do Keith e outro grito de Yeah do Roger que consegue ser mais empolgante e orgásmico do que o primeiro.
Vale a pena procurar o vídeo da performance dessa musica no DVD "The Kids Are Alright" e ver como a banda era matadora ao vivo e como nesse grito em especial a energia chega a ser exagerada. e então a musica termina com a frase "meet the new boss, same as the old boss" denotando todo o tema político adolescente adotado e fechando essa obra prima.
Who´s Next [1971]
01. Baba O’Riley
02. Bargain
03. Love Ain’t for Keeping
04. My Wife
05. The Song Is Over
06. Getting in Tune
07. Going Mobile
08. Behind Blue Eyes
09. Won’t Get Fooled Again
Formação:
Roger Daltrey (Vocais)
John Entwistle (Baixo)
Keith Moon (Bateria)
Pete Townshend (Guitarra)
Nicky Hopkins (Piano em “Song Is Over”)
Dave Arbus (Violino em “Baba O’Riley”)
Produção: The Who e Glyn Johns
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