sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Trivial Cássia Eller
O enredo posterior quase todo mundo sabe: sensacionalismo da Veja ligando a morte da artista com o consumo de drogas; luta na Justiça entre sua companheira e seu pai pela guarda do filho Chicão (com vitória da companheira, o que abriu um leque de oportunidades e direitos para outros casais homoafetivos); reconhecimento póstumo etc...
Aqui vai um pequeno trivial dessa carioca tímida, introvertida, incendiária, ousada e corajosa.
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Barcelona 4 x 0 Santos: O Socialismo venceu
Por José Roberto Torero na Carta Maior
Segundo a Wikipédia, o socialismo é um sistema em que há um forte planejamento central, o fim da diferenciação de classes e a propriedade coletiva dos meios de produção. Além disso, Marx dizia que, no socialismo, os homens poderiam trabalhar um dia como pescadores, no outro como pintores e depois como cozinheiros. O trabalho não seria apenas o modo de ganhar a vida, mas seria a própria vida.
O socialismo ficou identificado como uma ideologia que pretendia diminuir o sofrimento de nossa existência, que queria acabar com a pobreza extrema, que achava que os homens deviam ter chances iguais. Essa ideia deu origem a organizações de trabalhadores, partidos políticos e guerras. Dominou boa parte do mundo e depois sumiu de boa parte dele.
Nunca foi o que se esperava, por conta de seus adversários e de seus próprios homens. Em Cuba precisa de reformas e na China houve tantas reformas que há quem diga se transformou num capitalismo de estado.
Porém, neste domingo, felizmente e infelizmente, o socialismo venceu.
Não, não houve uma nova revolução que não saiu nos jornais. Nem um novo PC ganhou alguma eleição. O socialismo de que falo é um socialismo ludopédico, o socialismo do Barcelona. Um socialismo com uma pitada de anarquismo.
E nem me venham dizer que é exagero. Vejam bem, o time tem um planejamento central forte, feito por Pep Guardiola, que conhece bem seus recursos naturais e os utiliza de forma racional para o bem comum. Há também uma certa abolição de classes. Não há mais uma separação nítida entre zagueiros, meio campistas e atacantes. Principalmente entre estes dois últimos. Messi pode ser visto na ponta direita e zanzando como volante, Fábregas é um meio-campista mas aparece para finalizar, Dani Alves é um lateral que mais parece um ponta. Assim sindo, obviamente temos a propriedade coletiva dos meios de produção do gol, pois todos podem, e devem, atacar.
Quanto à pitada de anarquismo, vem da mobilidade decidida pelos próprios jogadores dentro de campo. Não é “cada um faz o que quer”, como se pensa erradamente sobre o anarquismo, mas um conjunto orgânico, que funciona como um ser vivo, com cada indivíduo se comportando como a célula de um grande organismo.
Muitos cronistas esportivos, imitando Francis Fukuyama, diziam que a história do futebol tinha acabado. Que a divisão de classes entre homens de ataque e de defesa era definitiva, com algumas exceções que confirmavam a regra. Mas não. De Barcelona, cidade que esteve ao lado da república na Guerra Civil Espanhola e flertou com o anarquismo, veio uma mudança radical.
Hoje o Barcelona é o “fantasma que assombra a Europa”, como começa o Manifesto Comunista falando do socialismo. E não assombra só a Europa, mas o mundo inteiro.
Se eu não fosse santista, teria me sentido um privilegiado por ter visto ao vivo esta vitória do Barcelona. Como sou, para mim foi um espetáculo cruel e sangrento, com o time grená mostrando o cálculo frio de um vilão de história em quadrinhos e um sadismo de nazista de filme americano.
Mas tudo bem. Passada a dor profunda, sei que vou poder assistir a jogos do time catalão com prazer. Certamente nunca verei o replay deste jogo contra o Santos, mas doravante assistirei a todos outros jogos desta utopia que vai mudar o futebol, porque os outros times terão que imitá-lo de alguma forma, do mesmo modo que o socialismo acabou sendo responsável pela socialdemocracia dos países nórdicos.
Boleiros do mundo, uni-vos. Uni-vos ao belo futebol do Barcelona. Vós não tendes nada a perder, pois o futebol no resto do mundo, inclusive nestas nossas bandas, anda feio e sem arte.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Há dez anos o povo argentino dizia não ao neoliberalismo
Por João Peres na Rede Brasil Atual
Sergio Bertaccini deixou uma reunião em Barracas, na zona sul de Buenos Aires, e tomou o ônibus que o levaria para casa, em Abasto. Parecia mais uma tarde normal, se é que poderia haver normalidade na Argentina de 2001, em que a pobreza já alcançava 38% da população, e subiria a 53% em menos de cinco meses.
Foi repentina a mudança de cenário daquele 19 de dezembro. Panelas começaram a ser batucadas em todos os cantos da capital, e logo valia bater em tudo que fizesse barulho com qualquer objeto que se tivesse ao alcance das mãos. A bronca era geral: no começo daquele mês o governo de Fernando de la Rúa havia decretado o corralito, que limitava saques bancários a 250 pesos semanais por pessoa. "A verdade é que já não se podia viver", diz Sergio.
Carlos Días lecionava em um colégio de ensino médio da capital. Quando soube, pelo rádio, que a situação política estava ainda mais tensa que de costume, pediu dispensa e correu até a sede da Juventude Peronista, onde segue militando nos dias de hoje. Chegou a tempo de assistir pela televisão ao pronunciamento em que De la Rúa decretava estado de sítio. Era a gota d'água.
"Não pudemos chegar à Praça de Maio porque já havia começado a repressão. Fomos ao Congresso", recorda. Entre a Praça de Maio, onde fica a Casa Rosada, sede do Poder Executivo, e o Congresso, são menos de três quilômetros de caminhada pelas avenidas De Mayo e Rivadavia, sempre repletas em ocasiões como esta.
Perto dali, Sergio chegava em casa, levava a todos para a rua e se reunia com os vizinhos para decidir o que fazer. O roteiro não é exatamente original: Praça de Maio. "Fizemos o que qualquer militante faria. Começamos a organizar a resistência, a ajudar gente que não sabia como proceder", pontua o veterano, hoje integrante do MTL Rebelde, um coletivo político de oposição ao kirchnerismo.
Quando estudante do ensino médio, lutou contra a ditadura (1976-83). Durante o governo de Carlos Menem (1989-99), início da derrocada, somou-se ao movimento piqueteiro, um dos frutos de uma nação marcada pela miséria. Os piquetes como forma sistemática e emblemática de organização tiveram a mesma direção do desemprego: do interior para a capital.
O início simbólico são os movimentos das cidades de Cutral Co, na província oriental de Neuquén, e Tartagal, na nortista Jujuy. Cidades antes com nível de vida médio, passaram a ser povoados miseráveis após a privatização da YPF, a estatal de petróleo. Os novos patrões demitiram aos montes, cortaram direitos trabalhistas e passaram a contratar mão de obra estrangeira ou de outras regiões. Apesar da dura repressão, com mortes, o movimento piqueteiro já se tornava prática concreta. E crescia exponencialmente em 2001.
O estalar de dezembro daquele ano, porém, não foi filho deste ou daquele grupo. Foi o resultado de uma sociedade cansada. "Foi um momento de total tristeza. Era perder a esperança completamente, não se sabia o que iria ocorrer", lembra Soledad Allarde, à época estudante, sobre os dias em que a Argentina deu adeus ao "mundo estável" prometido dez anos antes por Cavallo. Ungido novamente ao cargo meses antes como salvador da pátria, o ministro da Economia viu seu apartamento, no metro quadrado mais caro do país, cercado por manifestantes enfurecidos que queriam estourar a porta do edifício para sacar de lá o mentor das ideias que conduziram à derrocada.
As horas finais do neoliberal
Ele entrega a carta de renúncia no dia 19. De la Rúa, friamente, aceita, e acredita que isso o salvará. O 20 de dezembro começa com a notícia de que as Mães da Praça de Maio foram reprimidas em frente à Casa Rosada. O país explode outra vez. Todos à praça.
A repressão de senhoras, símbolos da democracia pela luta incansável de busca dos filhos mortos pelo regime autoritário, acende o sinal de que o "gorilismo" segue à solta. E pode voltar. "Ô, que se vayan todos, que no quede ni uno solo" é o canto que unifica – algo como "Que saiam todos, que não fique um único". Uma frase simples para uma profunda descrença na classe política em geral.
De la Rúa, da União Cívica Radical, chama os caciques do Partido Justicialista na tentativa de formar um governo de coalizão, um gabinete de crise capaz de sustentá-lo. Os líderes peronistas garantem que irão se reunir e lhe dar uma resposta. De fato, reúnem-se, mas o telefone do presidente jamais soará. De la Rúa deixa a Casa Rosada usando um helicóptero. Renuncia no dia 21.
Muitos se sentarão à cadeira presidencial. Nenhum permanecerá nela. "Era combate desde a Praça de Maio até passar a Nove de Julho, principalmente pela Avenida de Maio. Houve problemas por todos os lados. Essa repressão continuou dia após dia, e na primeira semana todos os dias vínhamos à praça", lembra Sergio. Para o velho militante, começava ali a se definir se seria seguido o caminho do refluxo ou da formação de um novo modelo. Na opinião dele, tomou-se a rota equivocada.
domingo, 18 de dezembro de 2011
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Mídia apartidária
E, ora, não se trata de afirmar se o que está no livro é ou não verídico ou se o livro é bom ou ruim. Afinal a mesma mídia oligopolizada que se silencia sobre o livro do jornalista mineiro não cansa de levantar “suposições” – ou como diz o todo-poderoso diretor de jornalismo da tv Globo Ali Kamel, testar hipóteses – quando o assunto lhe interessa. Noutras palavras: quando a denúncia (embasada ou não) serve pra atacar o governo petista e seus aliados.
A forma vergonhosa e canhestra como a mídia oligopolizada (não) está tratando o livro “Privataria Tucana” é a mesma como trata os inúmeros pedidos de CPI barrados na Assembleia Legislativa de São Paulo ou como trata os sucessivos atos autoritários perpetrados em Minas por Aécio Neves e seu boneco de ventríloquo Antonio Anastasia. Ou então, voltando um pouco no tempo, o confronto entre PMs e policiais civis às portas do Palácio dos Bandeirantes, fato que de tão inusitado a mídia não pôde esconder, mas tratou-o da maneira mais superficial o possível e rapidamente retirou da pauta.
Agora dando um rápido giro por alguns sites e blogs me deparei com essa declaração de Dora Kramer no Blog do Noblat:
“Na hora do escândalo é que se enxerga com mais nitidez a divisão: no governo há os ministros do PT e há os outros.”
Obviamente que a colunista do Estadão fazia referência às denúncias que têm recaído sob o ministro do Desenvolvimento e ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Bom, já não bastasse o silêncio ensurdecedor sobre “Privataria Tucana”, Dora Kramer faz questão de gritar em alto e bom som qual o objetivo do denuncismo (seletivo) da mídia oligopolizada – ou como diria Antonio Gramsci do Partido do Capital: desestabilizar a base aliada, isto está suficientemente claro na coluna de Dora Kramer, engessar o governo e servir como condutora da oposição farisaica.
Será que ainda tem gente crendo que dentro dum sistema no qual tudo é mercadoria possa haver de fato uma “imprensa livre, independente, imparcial e isenta”???
Poços de Caldas e o retrocesso trabalhista!
A mais nova face do neoliberalismo mundial se manifesta no retrocesso dos direitos trabalhistas, no arrocho salarial, nas demissões em massa, na salvaguarda das grandes corporações e bancos pelo viés estatal e principalmente através de governos ditos técnicos, mas que na verdade são ditaduras socioeconômicas direitistas.
A Europa e EUA passam pela aplicação de tal política que é uma mistura de Estado Minimizado com uma Socialdemocracia a favor das corporações financeiras.
O Brasil não vive tal momento em sua essência, como também a América Latina. Pelo contrário, muitas políticas públicas têm surgido como estratégia para vencer a crise mundial.
Em Poços de Caldas, uma fagulha dessa postura neoliberal assombra a cidade através do retrocesso ou assalto dos direitos dos trabalhadores públicos municipais. Me refiro a possível mudança do regime de trabalho proposto pelo executivo. Atualmente, a maioria dos servidores municipais é regida pela CLT. Contudo, a Câmara deve votar em breve o projeto que transformará o regime trabalhista para estatutário.
Tal mudança significa várias perdas nos direitos trabalhistas, conquistados na história de nosso país mediante muitas lutas, tanto de sindicatos quanto de movimentos sociais, partidos políticos, parlamentares e até mesmo pela própria população.
No regime estatutário, os reajustes salariais devem ser aprovados por lei, na maioria das vezes partindo do executivo. No estado de Minas já aconteceu dos servidores ficarem anos sem aumento salarial. No celetista, o reajuste é definido por meio de negociação coletiva, que costuma acontecer todo ano. O correto mesmo é acontecer pelo menos o reajuste inflacionário, o que em Poços de Caldas há anos não se observa.
Outro fator que prejudica o trabalhador é o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), pois o regime estatutário não há o recolhimento do fundo. Hoje, com as facilidades de aquisição da casa própria, o FGTS é um aliado no financiamento.
No caso de não cumprimento legal de qualquer direito trabalhista, a Justiça do Trabalho é provocada em favor do empregado. No estatutário a Justiça do Trabalho é inválida.
Para os professores, a CLT garante no Art. 320 § 1º, o pagamento mensal considerando para efeito cada mês constituído de quatro semanas e meia. No estatutário, essa e outras observações inseridas na CLT ficam a critério do estatuto, que é o documento que norteará os direitos dos trabalhadores.
Quanto ao plano de carreira, o regime estatutário terá que regular tal. Tenhamos o estado de Minas como exemplo. Há poucas semanas os professores tiveram direitos abortados mediante lei, inclusive contrapondo a legislação federal.
São muitos os direitos que os servidores da prefeitura poderão perder. A CLT garante regras sobre: as penalizações e o direito de defesa mediante justiça do trabalho, a jornada máxima de trabalho, o tempo mínimo de descanso e férias anuais, fixação de salário mínimo, remuneração e abono de férias, órgãos de segurança e de medicina de trabalho, salubridade no local de trabalho, proteções a maternidade e a mulher e muitos outros direitos que, não significa que não terão no estatutário, mas já são direitos conquistados e que dificilmente um estatuto conseguirá avançar além disso.
Yuri Almeida é bacharel em Teologia e licenciado em História, com especialização em História e Construção Social. Leciona na rede pública municipal e em educandário da rede participar. Escritor, é autor do livro “Poços de Caldas: Uma leitura Econômica”. É diretor do Sinpro Minas.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
A mídia não sabe o que fazer com "A privataria tucana"
Três parlamentares petistas, no entanto, usaram a tribuna da Câmara, nesta segunda, para falar do livro. São eles Paulo Pimenta (RS), Claudio Puty (PA) e Amaury Teixeira (BA). O delegado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) começa a colher assinaturas para a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os temas denunciados no livro. Já o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) indagou: "Nenhum jornalão comentou o procuradíssimo livro A privataria tucana. Reportagens sobre corrupção têm critérios seletivos?”
O silêncio dos coniventes
O silêncio maior, evidentemente, fica com os meios de comunicação. Desde o início da semana passada, quando a obra foi para as livrarias, um manto de silêncio se abateu sobre jornais, revistas e TVs, com a honrosa exceção de CartaCapital.
As grandes empresas de mídia adoram posar de campeãs da liberdade de expressão. Acusam seus adversários – aqueles que se batem por uma regulamentação da atividade de comunicação no Brasil – de desejarem a volta da censura ao Brasil.
O mutismo sobre o lançamento mais importante do ano deve ser chamado de que? De liberdade de decidir o que ocultar? De excesso de cuidado na edição?
Um curioso espírito de ordem unida baixou sobre a Rede Globo, a Editora Abril, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e outros. Ninguém fura o bloqueio da mudez, numa sinistra brincadeira de “vaca amarela” entre senhores e senhoras respeitáveis. Que acordo foi selado entre os grandes meios para que uma das grandes pautas do ano fosse um não tema, um não-fato, algo inexistente para grande parte do público?
Comissão da verdade
Privatização é um tema sensível em toda a América Latina. No Brasil, uma pesquisa de 2007, realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Instituto Ipsos detectou que 62% da população era contra a venda de patrimônio público. Nas eleições de 2006, o assunto foi decisivo para a vitória de Lula (PT) sobre Geraldo Alckmin (PSDB).
Que a imprensa discorde do conteúdo do livro, apesar da farta documentação, tudo bem. Mas a obra é, em si, um fato jornalístico. Revela as vísceras de um processo que está a merecer também uma comissão da verdade, para que o país tome ciência das reais motivações de um dos maiores processos de transferência patrimonial da História.
Como ficarão as listas dos mais vendidos, escancaradas por jornais e revistas? Ignorarão o fato de o livro ter esgotado 15 mil exemplares em 48 horas?
O expediente não é inédito. Há 12 anos, outra investigação sobre o mesmo tema – o clássico O Brasil privatizado, de Aloysio Biondi – alcançou a formidável marca de 170 mil exemplares vendidos. Nenhuma lista publicou o feito. O pretexto: foram vendas diretas, feitas por sindicatos e entidades populares, através de livreiros autônomos. O que valeria na contagem seriam livrarias comerciais.
E agora? A privataria tucana faz ótima carreira nas grandes livrarias e magazines virtuais.
Deu no New York Times
O cartunista Henfil (1944-1988) costumava dizer, nos anos 1970, que só se poderia ter certeza de algo que saísse no New York Times. Notícias sobre prisões, torturas, crise econômica no Brasil não eram estampadas pela mídia local, submetida a rígida censura. Mas dava no NYT. Aliás, esse era o título de seu único longa metragem, Tanga: deu no New York Times, de 1987. Era a história de um ditador caribenho que tomava conhecimento dos fatos do mundo através do único exemplar do jornal enviado ao seu país. As informações eram sonegadas ao restante da população.
Hoje quem sonega informação no Brasil é a própria grande mídia, numa espécie de censura privada. O título do filme do Henfil poderia ser atualizado para “Deu na internet”. As redes virtuais furaram um bloqueio que parecia inexpugnável. E deixam a mídia bem mal na foto...
domingo, 11 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Salve, salve o país do agro(tóxico)negócio!!!
Da Agência Câmara de Notícias
Resultado de seis meses de trabalho, o parecer do deputado Padre João (PT-MG) aponta a correlação entre o aumento da incidência de câncer e o uso desses produtos na agricultura. A cidade mineira de Unaí está entre os exemplos. Com presença marcante do agronegócio, o município registra 1.260 novos casos da doença por ano a cada 100 mil habitantes. A incidência mundial média é de 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período.
Contaminação
O texto aprovado menciona também estudo realizado na cidade de Lucas do Rio Verde (MT) que constatou a presença desses compostos no leite de 100% das nutrizes (mulheres que estão amamentando) analisadas. “Além das proteínas, vitaminas e anticorpos, a amamentação dos recém-nascidos de Lucas do Rio Verde também fornece agrotóxicos”, afirma Padre João.
Na pesquisa também foram observadas, segundo o relatório, malformações em 33% dos anfíbios de um curso d’água da região e de 26% em outro. No grupo de controle, o índice teria ficado em 6% de casos.
Propostas
Como forma de reduzir o que chama de “crescente envenenamento dos campos”, o relator apresentou proposta para reduzir de forma gradativa os benefícios fiscais e tributários concedidos aos agrotóxicos. Segundo o texto, hoje o produto conta com redução de até 60% do ICMS e isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS/Pasep e Cofins.
Sugere-se ainda a adoção de incentivos – como mecanismos tributários e linhas de crédito e financiamento público – à produção agroecológica. “Há exemplos de que no longo prazo esse tipo de agricultura é viável”, sustenta o relator.
Recolhimento de embalagens
Padre João explicou que há problemas sérios relacionados a registro, comercialização e rotulagem dos agrotóxicos no País.
Apesar de exigido por lei (9.974/00), o recolhimento e a destinação adequada das embalagens de agrotóxicos também seriam falhos, de acordo com a subcomissão. O relator destacou que existem também irregularidades no recolhimento obrigatório de embalagens vazias desses produtos. Os deputados da comissão constataram que no Amapá, por exemplo, não existe sequer sistema de recolhimento. “As pessoas acham que estão se alimentando bem porque na mesa tem verdura, legumes, frutas, mas todos têm certo percentual de agrotóxico e alguns com percentual além do tolerável, além do permitido. Em algumas culturas, os resíduos são de agrotóxicos proibidos para aquela cultura.”
Segundo a Anvisa, o pimentão, o morango e o pepino lideram o ranking dos alimentos com maior número de amostras contaminadas por agrotóxico em 2010.
Controle rigoroso
A subcomissão constatou ainda que não há segurança no controle da comercialização dos agrotóxicos, porque as informações do receituário agroeconômico, previsto em lei, simplesmente não chegam até os órgãos do governo. Com isso, nem estados nem União possuem dados concretos sobre o mercado dos agrotóxicos no Brasil.
O relatório aprovado recomenda que o controle e a fiscalização do setor sejam mais duros. O texto aponta também a necessidade de mais técnicos e fiscais, que hoje não chegam a 100 para cuidar de todo o território nacional.
Padre João também propõe que a receita, hoje em duas vias, seja emitida com cinco cópias – uma para o agricultor, uma para o comerciante, e as três outras para os órgãos de fiscalização do governo.
Há ainda uma sugestão para que se adote para os agrotóxicos um sistema de controle semelhante ao existente para os remédios controlados.
Consumo de agrotóxicos
O relator lembrou que atualmente o Brasil ocupa a primeira posição no volume consumido de substâncias agrotóxicas em todo o mundo. “Sendo a nossa agricultura fortemente embasada no uso de substâncias químicas para o controle de pragas e doenças vegetais e de ervas invasoras, quanto maior a produção e a área plantada, maior vem sendo o volume de agroquímicos utilizados. Mas o fato a ser destacado é que no Brasil, o aumento do consumo é superior ao aumento da produção agrícola, ampliando ainda mais a preocupação quanto ao tema.”
Padre João ressaltou ainda em seu relatório que paralelamente ao aumento no consumo, o Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem constatado a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos acima dos limites máximos recomendados e a presença de produtos não permitidos para determinados alimentos. “Afora isso, nas fiscalizações junto às empresas produtoras se observam recorrentemente algumas irregularidades. Os desvios são certamente sentidos pelo solo, pela água, pelo ar e nas condições de saúde dos seres humanos”, acrescentou.
Outras sugestões da subcomissão de agrotóxicos
Como resultado da subcomissão que analisou o uso de agrotóxicos no País, instalada em maio deste ano, surgiram ainda outras propostas para tornar o controle e a fiscalização do setor mais rígidos e capacitar o setor de saúde.
Entre as providências a serem tomadas constam:
- venda de agrotóxicos feita somente com capacitação do produtor que compra o produto;
- mudança no prontuário de atendimento médico, para identificar intoxicações por agrotóxicos;
- contratação de mais fiscais e técnicos, que hoje não chegam a 100 para cuidar de todo o território nacional;
- oferecimento de assistência técnica específica a produtores rurais para o uso de agrotóxicos;
- adequação na grade curricular de cursos na área de saúde, para maior capacitação na área de toxicologia;
- maior fiscalização dos rótulos dos agrotóxicos;
- controle da contaminação das águas pela Agência Nacional de Águas (ANA).
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Entidades e movimentos sociais pedem veto às mudanças do Código Florestal
Diversas entidades ambientalistas participaram de audiência pública realizada pela Frente Parlamentar pela Reforma Agrária e Agricultura Familiar na última sexta-feira (2/12). O ato foi presidido pelo deputado Simão Pedro (PT), que salientou a importância do encontro e da participação de um representante do senado, uma vez que a decisão agora está nas mãos do Congresso Nacional. O convidado para dividir espaço na mesa de discussão foi Aloysio Nunes (PSDB), que não pôde comparecer e enviou seu assessor João Guariba.
Estiveram também no ato Delveque Mateus, da Via Campesina; Marco Astrini, do Greenpeace; Belo Monteiro e Malu Ribeiro, do SOS Mata Atlântica; Daniel Cunha, do Conselho Municipal da Juventude; e trabalhadores rurais e militantes de movimentos sociais.
Delveque discursou sobre os caminhos que o país segue defendendo os interesses do agronegócio. Para ele, a reforma do Código Florestal “concretiza a inviabilidade da reforma agrária, que será comandada pelo capital financeiro internacional, abusando da mão de obra barata dos trabalhadores brasileiros para o benefício de poucos”. Ainda disse do trabalho da Via Campesina e da possibilidade de enxergar a agricultura a partir de outro parâmetro, “de desenvolvimento viável social e economicamente, protegendo áreas indígenas, nascentes e rios”.
Marco Astrini relembrou que o Código Florestal tem sido objeto de manobra da bancada ruralista desde o início e que há posições contrárias do Ministério Público, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). “Ou seja, temos a lei, a igreja e a ciência contra essa reforma. Algo de muito errado deve haver isso não?”, questionou.
Malu Ribeiro reafirmou a esperança que os movimentos têm sobre a decisão da presidente Dilma Rousseff, dizendo terem sido tranquilizados pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho (PT). “Ele nos garantiu que poderíamos confiar na palavra da presidenta. Ela disse que vetaria o desmatamento e acreditamos nisso. Mas, ainda assim, acho importante a mobilização da sociedade”, analisou Malu. “Só que não podemos deixar de pensar que quando faltar água na torneira, quando não houver mais saída para o tratamento de esgoto, quando os efeitos das mudanças climáticas afetarem as nossas vidas como já vem afetando, será tarde demais para reclamar.”
domingo, 4 de dezembro de 2011
Adeus Doutor!!!
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Discussão sobre a Educação
Por Yuri de Almeida Gonçalves
Por incrível que pareça após a redemocratização, a Educação no Brasil passou por um processo de sucateamento. Isso aconteceu por vários fatores, mas principalmente porque a política educacional acompanhou a implantação do neoliberalismo no país. Houve uma privatização da política estatal, minimizando o Estado e sua responsabilidade para com a Educação e instrumentalizando o Estado para com o capital e as corporações capitalistas.
Houve no Brasil, e isso é claro, uma desregulamentação das políticas públicas, inclusive a educacional. Em consequência, o foco da educação, que já não era formar cidadãos críticos e conscientes das nossas realidades social, política e econômica, se distanciou ainda mais daquilo que os profissionais da educação entendem como “educação de qualidade”.
Não podemos esquecer da descapitalização que a educação sofreu durante muitos anos. Falta dinheiro para o ensino de qualidade. As Secretarias Institucionais de Educação não têm condições para aplicar educação integral e os salários dos professores chegam a condições vergonhosas. Hoje o Brasil aplica menos de 5% do PIB nacional em Educação e o novo PNE define a meta de 7%. Contudo, 10% do PIB para a Educação é o mínimo para um país que deseja se desenvolver econômica e socialmente.
Órgãos internacionais como a ONU utilizam estatísticas para medir o avanço e incentivar a educação nos países emergentes e subdesenvolvidos. Mas no Brasil a Educação se tornou refém das estatísticas, pois os números são manipulados na base para indicar alto nível de aprovação, enquanto a qualidade do aprendizado está debilitada. As provas externas dos governos federal e estadual têm demonstrado que falta conteúdo a nossos alunos, que mal conseguem interpretar um texto.
Não obstante, a temática “qualidade de educação” tem sido discutida em todo país por sindicatos, movimentos sociais, no congresso nacional e também no Ministério da Educação. Contudo, essa discussão deve partir da base, isto é, de quem está na sala de aula, por quem está com o giz na mão, do professor.
Diante disso, em Poços de Caldas, o Sinpro Minas (Sindicato dos Professores de Minas Gerais) em parceria com SindUTE (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais), o SAAEMG (Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar de Minas Gerais), o Sindserv (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Poços de Caldas) e o Educafro farão um bate papo sobre o novo PNE (Plano Nacional da Educação). O objetivo é chamar os profissionais da educação para discutir a educação em nosso país.
Defendemos uma educação de qualidade que corrobore para construção de uma civilização brasileira crítica e democrática e para isso todos devem se envolver no processo de luta.
Yuri de Almeida Gongalves, Professor das redes pública e particular de Poços de Caldas
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Anastasia, um flagelo para Minas
Minas Gerais, o segundo maior PIB e a segunda maior população do Brasil pode estar diante de um fato de profundas consequências para a politica estadual e nacional. O governador Antonio Anastasia, eleito em outubro do ano passado, corre o risco de ter o mandato cassado pela Justiça. Denúncias por conta dum claro abuso de poder político e econômico, além de utilização incorreta dos meios de comunicação durante a campanha eleitoral estão sendo analisadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Anastasia, que ocupava o posto de vice-governador de Aécio Neves e assumiu o governo em março de 2010 quando Aécio renunciou para concorrer ao Senado, é um fiel escudeiro de Aécio e defensor das pretensões do neto de Tancredo a corrida presidencial de 2014, ou então, em caso de mais uma vez não vingar a candidatura do bon vivant à presidência da República, Anastasia deve apoiá-lo na tentativa de retornar ao Palácio da Liberdade.
Porém, nos vinte meses em que Anastasia está à frente do governo mineiro polêmicas é o que não têm faltado. Primeiro foi à greve dos servidores da Educação deflagrada em abril de 2010 e que durou 48 dias terminando com um acordo entre governo e o Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (SIND-UTE),. Acordo este que não foi respeitado por parte do governo e culminou noutra greve agora em 2011, esta durando 112 dias.
Em janeiro deste ano, ao tomar posse como governador eleito, Antonio Anastasia recebeu da Assembleia Legislativa carta branca por 90 dias através da imoral e antidemocrática Lei Delgada que lhe deu amplos poderes em várias esferas da administração pública. Com a Lei Delegada os deputados estaduais abriram mão da sua função de fazer e editar leis para que o próprio governador criasse leis sem ser impedido. Assim, do alto da sua prática antidemocrática, Anastasia pôde promulgar e editar leis como bem quis. (Vale lembrar que esse é o modo tucano de agir em Minas Gerais, Aécio Neves em seus dois mandatos implementou a Lei Delegada e editou mais de 130 leis). Com os poderes conferidos pela Lei Delegada, dentre outras coisas, Anastasia criou 1.314 cargos comissionados, significando, segundo sua própria Secretaria de Planejamento, um impacto anual de R$ 54 milhões na folha de pagamento.
Em setembro último Anastasia se viu obrigado a exonerar seu secretário de Regularização Fundiária, Manoel Costa, após investigações da Polícia Federal onde se suspeita que ele, o ex-secretário, seja integrante de uma organização criminosa que vem há vários anos patrocinando grilagem de terras públicas, posteriormente vendendo-as a mineradoras com o objetivo de explorar jazidas de minério de ferro.
Mais recentemente, em novembro passado, Anastasia enviou a Assembleia Legislativa projeto de Modelo Unificado de Remuneração dos Professores, atropelando o desejo da categoria, mais uma vez descumprindo o que fora acordado com o SIND-UTE e obviamente provocando a ira destes servidores. Num ato de petulância e autoritarismo o governo do estado iniciou uma campanha publicitária veiculada em rádios e tv – paga obviamente com o dinheiro dos contribuintes – atacando o SIND-UTE e por extensão os próprios servidores da Educação.
Sempre tratei Anastasia pela alcunha de “Boneco de Ventríloquo”, mas em BH a alcunha é “Flanelinha”, em alusão a possibilidade de ele estar apenas guardando lugar para seu padrinho político, o senador Aécio Neves. Pelo andar da carruagem será preciso Aécim gastar muito gogó e muita propaganda para ver seu projeto político não ir água abaixo, porque debaixo do tapete já não cabe mais tanta sujeira.
domingo, 27 de novembro de 2011
O discurso ideológico da pesca
Mais do mesmo: “Não de somente o peixe, ensina a pescar”. Creio que já passamos desta fase, principalmente quando se sabe que a questão não é propriamente o ensinar a pescar, mas a quem pertence a vara e os apetrechos para o desenvolvimento da pesca.
A desigualdade social presente em nossa sociedade é fruto do modo de vida e produção a que estamos submetidos. Esse sistema nos viola a todo dia, nos impede de sermos plenamente cidadão e de buscarmos coletivamente as respostas para as questões problemáticas e as situações críticas que enfrentamos.
Tendemos a colocar unicamente no indivíduo a culpa, como se este fosse o responsável por não conseguir pescar. Como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman, “tendemos a culpabilizar o indivíduo em questões exteriores a ele, não geradas por ele, mas sofridas por ele. Somos impelidos a buscar soluções biográficas para questões sistêmicas”.
Assim, em tempos de crise, voltam os apelos para o “resgate do espírito empreendedor”, do “protagonismo”, da independência em relação ao Estado. Cabe salientar que independência em relação ao Estado, na atua conjuntura, nos leva a uma dependência do mercado, que não perdoa e explora das mais diversas formas o trabalhador e todos os seus espaços de vivencia.
Precisamos sim de protagonistas, mas daqueles que se reconhecem como componentes de algo maior, de um grupo que partilha das mesmas necessidades de classe e que pode a partir daí, construir conjuntamente o poder de forma reflexiva, crítica e legítima. Esse protagonismo reconhece primeiramente, que o problema não é o próprio indivíduo, mas a estrutura que o cerca, para então, poder propor algo novo.
A ONU alerta que juntamente com os demais países da América Latina, o Brasil compõe a área mais desigual do mundo. Ou seja: carece de distribuição de renda, terra e de controle das informações, para poder tomar em suas mãos os rumos de sua existêcia.
O geógrafo negro Milton Santos, certa vez escreveu que tempos de crise estrutural requerem remédios estruturais.
Não nos enganemos pelo discurso da culpabilização individual. O país carece de reforma agrária, distribuição de renda e a construção de espaços efetivamente democráticos, onde o povo seja capaz de aprender e de decidir sem intermediações. Talvez nesse dia, possamos falar em ensinar a pescar, pois os instrumentos da pesca serão de todos.
Tiago Barbosa Mafra, Professor de História e Geografia na rede municipal de ensino de Poços de Caldas e no pré-vestibular comunitário Educafro.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Europa desolada
Ana Cláudia Barros, no Terra Magazine
Os primeiros seis meses de governo serão um duro teste para o conservador Mariano Rajoy, eleito primeiro-ministro da Espanha no último domingo (20) em meio a uma das maiores crises econômicas enfrentadas pelo País nos últimos anos. A análise é do especialista em relações internacionais Virgílio Arraes, da Universidade de Brasília (UnB). O Partido Popular (PP), liderado por Rajoy, impôs uma derrota histórica ao Partido Socialista Operário Espanhol, de José Luís Rodríguez Zapatero, que deixa o poder após dois mandatos à frente do Executivo. Mesmo com maioria absoluta no Congresso, o novo primeiro-ministro terá, entre os primeiros desafios, que convencer o Parlamento a adotar as medidas de efeito recessivo exigidas pela Alemanha, conforme destaca Arraes.
- A Alemanha espera que a Espanha se torne o exemplo da União Europeia no sentido de corrigir as chamadas "distorções" que ocorreram nos últimos anos e que fizeram com que a União Europeia não estivesse preparada para enfrentar a crise irradiada pelos Estados Unidos no final de 2008. Neste sentido, os conservadores na Espanha avisaram que, com a vitória, vão aplicar uma série de medidas de efeito recessivo. Vamos ver se o Parlamento vai aprovar os projetos de lei recomendados por Bruxelas, pela União Europeia. Pode haver ainda uma pressão do eleitorado no sentido de que essas medidas sejam amenizadas. A segunda fase, caso sejam aprovados os projetos, é ver se a situação no País vai de fato melhorar.
Para o professor, um outro aspecto a ser observado é o posicionamento adotado pelos socialistas, agora no papel de oposição.
- Seria uma incoerência não apoiarem as medidas de caráter recessivo que têm sido aplicadas por eles. Mas, ao mesmo tempo, como eles são oposição agora, provavelmente vão se colocar contrários. Isso desanima ainda mais o eleitor espanhol, que vê, no fundo, apenas um rodízio entre elites partidárias - afirma, explicando que a vitória esmagadora do PP, partido de centro-direita, não significou, necessariamente, um crescimento do eleitorado conservador.
Arraes enfatiza que na Espanha, a exemplo do que vem ocorrendo em outros países do continente, o índice de não comparecimento às urnas foi superior ao verificado nos últimos anos, revelando, segundo ele, um "desânimo em relação à política efetivada hoje pela União Europeia".
- As duas grandes correntes políticas comungam do mesmo posicionamento, independentemente do nome que a sigla sustente, como é o caso da Espanha. Foram socialistas que iniciaram medidas anti-sociais. Neste sentido, o eleitorado dos partidos conservadores na Europa não aumenta muito. Ele se situa mais ou menos no que era há alguns anos, mas a abstenção, somada à desilusão com os socialistas, fez com que proporcionalmente os conservadores tenham tido mais votos nestes últimos pleitos.
Na avaliação do especialista, a classe média, a mais afetada pela crise, não encontra representatividade nos partidos políticos.
- Há uma revolta da classe média, mas essa revolta não tem eco nos partidos políticos da Europa. Não há nenhum partido , com peso em seus respectivos países, que possa se contrapor às exigências que estão sendo feitas hoje pela Alemanha, basicamente. O descontentamento que existe na Grécia, Portugal, Irlanda, Itália é porque a população está sendo convocada, e não convidada, a pagar os custos de uma conta que vem do setor financeiro. Setor financeiro que não está sendo responsabilizado pela crise.
"Cenário desolador"
Na análise de Virgílio Arraes, o cenário hoje na política europeia é "desolador porque não há coerência no dia a dia dos partidos".
- A União Europeia se desloca em função dos interesses de sua própria burocracia e de grandes corporações existentes nela. Durante décadas, acreditou-se que o melhor para a Europa seria uma tecnocracia desnacionalizada, uma tecnocracia que não se deixasse influenciar pelas paixões locais, pelo ritmo eleitoral de cada um dos países e, de certa forma, enquanto no período da Guerra Fria a vida dos europeus melhorou, a população não prestava muita atenção no deslocamento de poder do seu país para uma união supranacional. Mas a partir dos anos 90, com o fim da União Soviética, isso tudo começa a ser desmontado. No século XXI, é ainda mais intensificado, porque os dirigentes, as grandes corporações começam a alegar que, caso os direitos sociais sejam mantidos na escala em que estão, a Europa não teria mais condições de competir com países da Ásia e da América do Sul.
Para o professor da Unb, esta ótica, alicerçada na competitividade e na produtividade, deve ser submetida a questionamentos.
- O importante é saber se vale a pena isso. Se é interessante que daqui a dez, 15 anos, um europeu tenha condições de vida próximas a de um trabalhador chinês, por exemplo. Se a China é o exemplo do futuro, então, esse sistema todo,construído durante mais de 100 anos, através das lutas sociais, perdeu o sentido.O preocupante é que, positivo ou negativo, a Europa e, depois da Segunda Guerra, os Estados Unidos, foram espelhos do ocidente. Se a classe média na Europa e nos Estados Unidos têm uma queda no seu nível de vida em nome de uma competitividade, isso, certamente vai ter impacto no resto do mundo.
De acordo com ele, esse é um momento-chave para a União Europeia.
- Primeiro, foram países periféricos atingidos pela crise, agora, países médios, como a Itália. E o preocupante é que a França pode ser a próxima. Então, a questão é repensar se a forma como a União Europeia foi estruturada nos últimos anos está correta. Se até os países mais fortes estão entrando numa crise que se iniciou há três anos, então, é a hora de se repensar se é a União Europeia que não está adequada ao momento econômico, e não seus membros.
Arraes entende que todo o sacrifício imposto pelas medidas de contenção da crise, como aumento de impostos, redução de direitos trabalhistas, pode ser em vão.
- A hora é de rever a própria União Europeia. Não pensar o seu fim ou numa suspensão, como parte da elite inglesa acredita. Mas avaliar se uma União Europeia, moldada nos interesses de uma tecnocracia insensível que só se lastreia em números, resultados, e não nas pessoas, se esse modelo realmente teve êxito. Não é o momento de se questionar as políticas nacionais, mas sim, as regras da União Europeia. A crise não é de fato mundial. Ela não atingiu a Ásia nem a América Latina com a mesma intensidade com que está atingindo a União Europeia. É preciso pensar em reformar a União Europeia, e não de sacrificar, pouco a pouco, os próprios países membros.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Michael Schlecht, deputado e economista alemão: "A democracia europeia afunda nos braços das finanças"
A democracia europeia afunda nos braços das finanças. O continente da liberdade se transformou em continente “Wall Street”. Gestores das finanças e dos bancos, sem a menor legitimidade democrática, chegam ao poder com o pôquer dos ajustes. O deputado e economista alemão Michael Schlecht, responsável pelo bloco parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) analisa nesta entrevista o transtorno das democracias européias e denuncia o papel que desempenhou o capitalismo alemão nesta mega crise. Para Michael Schlecht, a democracia está se evaporando do Velho Continente.
A democracia Européia está sendo construída pelos bancos, não pelos eleitores que decidem por uma maioria? Para além do que pensemos deles, Papandreu e Berlusconi são as vítimas mais recentes desta nova doutrina?
A resposta é muito simples. A democracia está desaparecendo dia após dia na Europa. Por exemplo, quando no dia cinco de junho passado se organizaram as eleições em Portugal, a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu, União Européia) pediu aos dois partidos políticos portugueses que tinham chances de ganhar as eleições que assinassem um acordo diante do qual se comprometessem em implementar as condições impostas pela Troika. Agora isso aconteceu com a Grécia e é a vez da Itália. Por conseguinte, pode-se dizer que os portugueses não tiveram eleições verdadeiramente livres. Foi usada uma arma contra eles. Na realidade, com esta política européia, a Alemanha está defendendo com unhas e dentes os interesses financeiros, os interesses do mercado. O governo de Angela Merkel tem uma atitude muito agressiva neste ponto. É uma agressão sem tanques. Mas o resultado é o mesmo.
Isso equivale dizer que a Alemanha é hoje a grande polícia financeira da Europa? A Alemanha, junto com a França, foi a vanguarda da substituição de poderes surgidos das urnas por tecnocratas teleguiados pelos bancos?
O que a Alemanha está fazendo é dando seu acordo ao que está ocorrendo. A Alemanha está preparando o terreno porque tem um excedente de exportações muito maior que suas importações. Nos últimos dez anos o excedente alemão alcançou um trilhão de euros. Por outro lado, este excedente gigantesco acarreta uma contrapartida da outra parte: faz com que a dívida cresça nos países importadores. Cerca de 50 ou 60% da dívida criada por esta política alemã aparece nas contas dos demais países da Europa. Todos falam da dívida na Europa, mas ninguém diz nada sobre o país que ganha muito com esta dívida. E este país é a Alemanha. A dívida dos países europeus é o resultado da política alemã no Velho Continente.
O núcleo desta política é o dumping dos salários. Nos últimos dez anos tivemos um dumping salarial que chega a 5%, e isso sem considerar a inflação. Nenhum outro país da Europa conhece uma situação semelhante derivada do dumping salarial. Esta política de dumping equivale a colocar uma metralhadora nas mãos dos capitalistas alemães. É uma arma muito destrutiva. No século passado, a Europa estava arrasada pelos tanques alemães. Agora está arrasada pela política de Angela Merkel.
A desaparição da democracia na Europa é um fato considerável. O Velho Continente é o berço da democracia. É um péssimo exemplo para o mundo. Por acaso não é o fim do poder e dos valores da Europa sobre o resto do planeta?
Veremos o que nos diz o futuro. Acho que, no próximo ano, os povos da Europa podem lutar e levantar-se em defesa dos interesses da democracia e contra os mercados financeiros. Aí teremos uma possibilidade de restabelecer a democracia na Europa. Esta é a luta da esquerda alemã neste momento.
Você acha realmente que haverá um povo mais forte disposto a encarar a luta? Por acaso não é tarde demais, por acaso a ideologia do consumo não adormeceu as consciências?
Acho que sob as condições que existem hoje podemos ver o surgimento de movimentos sociais fortes, como aconteceu na Grécia. A situação que encontramos na Alemanha incita a isso. A história está aberta para que os povos a escrevam.
O que aconteceu à social-democracia europeia? Embora seu inimigo ideológico, o ultraliberalismo, tenha cometido todos os erros possíveis e tenha afundado o planeta, o discurso da social-democracia não tem liga, não gera confiança. É uma crise da social-democracia ou uma crise do eleitorado?
As duas coisas. Estou convencido de que, dentro de um futuro imediato, teremos uma explosão na zona do euro. Teremos que escrever nos livros de história que os social-democratas alemães, junto ao partido verde, foram o poder político que gerou as medidas que conduzirão ao fim do euro. Os social-democratas e os verdes iniciaram o dumping salarial. Essa política é a responsável pelo que acontece hoje.
Reconheço o drama total que há neste momento na Europa por culpa desta situação. Durante muitos, muitos anos, foi necessário que, na Europa Central, houvesse guerras e morte. Depois de 1945 e pela primeira vez na história, tivemos 70 anos de paz, o que é totalmente anormal. A paz neste continente é uma anomalia.
Se olharmos a história da Europa notaremos que nunca antes tivemos 70 anos de paz seguidos. Agora, esta paz é o resultado dos intercâmbios de idéias e de mercadorias que se levou a cabo sob o abrigo da construção européia. Mas, se este abrigo se esfacela e cai sobre a cabeça dos povos, a situação se torna muito inquietante e perigosa. Talvez voltemos à mesma situação. Vamos tratar de melhorar o movimento de esquerda sob estas novas condições, vamos explicar melhor nossa política para ganhar a batalha.
domingo, 20 de novembro de 2011
Música de Domingo – Dirty Mac
Os músicos se juntaram especialmente, e exclusivamente, para tocar Yer Blues – composição de Lennon-McCartney e lançada pelos Beatles no White Album – durante o The Rolling Stones Rock and Roll Circus, um festival de Rock dentro de um circo. Ideia surgida da cabeça de Mick Jagger.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Tariq Ali: precisamos de novas formações políticas
Pescado na Fundação Lauro Campos
O historiador, novelista e ativista Tariq Ali, membro do Conselho Editorial de Sin Permiso, falou com Firas Khatib para a revista al-Akhbar sobre os desafios que enfrentam as Revoltas Árabes, o futuro da política dos EUA no Oriente Médio, depois da "retirada de tropas" do Iraque, e a importância da tomada de ruas e praças de cidades no mundo todo pelo atual movimento de dissenso.
As revoltas árabes
Firas Khatib: Você concorda com o argumento de que a mudança no mundo árabe foi incompleta?
Tariq Ali: Estou a favor dos levantes massivos no mundo árabe. Quando recém surgiram, os comparei com a Europa de 1848. [Então] houve imensos levantes que estabeleceram o quadro geral dos cem anos seguintes. Mas, quando ocorreram estes levantes na Europa, houve muitas derrotas e reveses, e penso que é o que provavelmente vamos presenciar e viver. Espero que não seja assim, mas, até agora, parece que as autoridades recuperarão a situação, prometendo umas poucas reformas por aqui e por ali, enquanto mantém em seu lugar o sistema. É o que está acontecendo na Tunísia e no Egito.
Líbia é outra história totalmente diferente, onde intervém o Ocidente, supostamente pelos direitos humanos e para evitar que Bengasi fosse tomada por Kadafi, e termina por combater na guerra, e a OTAN vem bombardeando este país durante mais de seis meses. E os resultados, a meu ver, serão uma bagunça. Argumentei que, quem quer que ganhe na Líbia, o povo líbio vai perder, em virtude do que está acontecendo. A Líbia é importante para eles não pela sua geografia, mas pela sua geologia: contém imensas reservas de petróleo e gás natural e não permitirão que lhes fuja do controle.
FK: Se passaram meses desde a explosão da "Primavera Árabe". Como avalia a reação de Obama?
TA: A reação inicial dos EUA foi de surpresa e medo. Surpresa porque isso havia acontecido e estava aumentando, e temor de que pudesse derrubar toda a fachada na região, com conseqüências imprevistas e imprevisíveis. Na Tunísia, os estadunidenses trataram tardiamente, através dos franceses, de manter Ben Ali no poder. O governo francês, Sarkozy e seu ministro de Defesa, ofereceram enviar soldados franceses para manter Ben Ali no poder, mas era tarde demais. Ben Ali já ia de avião à Arábia Saudita.
No Egito, trataram de controlar a situação, primeiro com a esperança de manter Mubarak no poder. Logo começaram numerosas negociações nos bastidores e, finalmente, notando que a situação podia ficar fora de controle e possivelmente levar a disputas no exército, os EUA aceitaram que Mubarak devia ir embora, portanto lhe colocaram uma camisa de força e o arrastaram, gritando e lutando, fora da cena política. E depois temos uma situação na qual sacrificaram Mubarak, mas querem ficar, persistir, como fazem no Paquistão, na Tunísia e em outros países onde as forças da morte e os ditadores foram removidos. E permitiram que se estabelecesse uma fachada civil, mas foi muito cuidadosamente negociada e coreografada. Não está dando muito bons resultados, porque o ataque de forças de segurança aos manifestantes cristãos na cidade do Cairo na semana passada mostra até que ponto a situação é frágil.
FK: Por que, depois de uma vitória similar para o povo do Egito, houve tantos reveses?
TA: Os levantes de massas são absolutamente vitais para derrubar um ditador, mas o que se coloca depois no lugar se dá com verdadeiros meios políticos. E a respeito disso, é de grande importância o fato de que estes novos movimentos no mundo árabe não tenham produzido novas formações políticas. Nesse aspecto, o contraste com a América do Sul é muito visível. Na América do Sul, durante todos os anos noventa e no Século XXI, estamos diante de uma combinação de massivos movimentos sociais, que produzem novas formas de organizações políticas. Essas organizações participaram de eleições e chegaram ao poder democrática e eleitoralmente, e depois implementaram reformas estruturais, desafiando o controle do capitalismo neoliberal. Não ao capitalismo em seu conjunto, mas esta forma particular de capitalismo. Sem novas formas de organizações políticas, as estruturas políticas existentes como a Irmandade Muçulmana, especialmente no Egito, têm uma imensa vantagem.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Música de Feriadão – Especial Oasis
Arrogantes, esnobes, infantis, mimados, ególatras, mauricinhos, plagiadores. Esses são os adjetivos frequentemente usados para definir os irmãos Gallagher. Além, claro, de idiotas pela chata insistência que os próprios Gallagher têm em se comparar aos Beatles. E mesmo quando a discussão vai para o que realmente deveria importar, a qualidade da musica que produzem, a conversa parece não mudar de rumo: “o que matava o Oasis é os Gallagher serem tão arrogantes, esnobes...”.
Será???
Num cenário musical tão pasteurizado onde o bom-mocismo e o politicamente correto se tornaram regra (vide Coldplay, U2 e congêneres), o Oasis fugia a regra e era um suspiro do que ainda podia existir do espirito transgressor e provocador do Rock. As constantes brigas entre Noel e Liam ¬– tanto fora quanto em cima dos palcos – e suas declarações polêmicas denotavam justamente tal espirito avesso às convenções.
E, ao contrário do que muitos imaginavam, os desentendimentos públicos entre os irmãos não se tratava, meramente, de quererem chamar a atenção para si numa estratégia de autopromoção. Prova disso são algumas passagens ocorridas em 1996 e que entraram para o repertorio de polêmicas da banda.
Pouco antes da gravação dum MTV Unplugged, Liam, já nos camarins, alegou não ter condições de se apresentar por conta de uma suposta irritação na garganta, deixando com Noel a responsabilidade pelos vocais. Não demorou muito para Noel divulgar que Liam assistira a apresentação se esbanjando na cerveja e nos charutos. Poucos dias depois Liam deixou novamente o Oasis na mão ao se recusar a acompanha-los numa turnê pelos EEUU. Dessa vez alegando precisar de tempo para arranjar uma nova casa. Quando Liam finalmente resolveu se unir a banda, Noel teve a oportunidade de dar o troco e voltou para a Europa. Acho que não preciso dizer como os fãs ficaram putos com esses fatos. Tudo isso, afinal, não me parece ser uma boa jogada de marketing!!!
Mas vamos à carreira musical. As letras não muito trabalhadas por um lado e de outro a capacidade de Noel em transpor para o terreno musical sentimentos e coisas do cotidiano se tornaram hinos na voz de plateias em todo o mundo e o Oasis rapidamente se tornou a queridinha do público britânico. Uma estreia de arrebentar e milhões de álbuns vendidos depois fizeram o Oasis assumir a invejável posição de principal banda de Rock após a morte de Kurt Cobain.
Os três primeiros álbuns Definitely Maybe (1994) – que ostentou durante doze anos o posto de álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido –, (What's the Story) Morning Glory? (1995) – mais de 23 milhões de cópias vendidas em todo o mundo – e Be Here Now (1997) foram responsáveis por colocar o britpop no topo das paradas dos dois lados do Atlântico criando uma áurea mágica em torno da banda e elevando merecidamente Noel, o mais velho dos Gallagher, a condição de gênio.
Em 1998, apenas quatro anos após seu debute, o Oasis já lançava uma coletânea com 14 faixas só de b-sides, The Mastreplan, e logo essa coletânea se tornaria uma das mais cultuadas de todos os tempos.
Os anos 2000 e os álbuns seguintes não deram ao Oasis o mesmo sucesso da década e álbuns anteriores, contudo ainda continuaram como referência, os shows ainda atraiam multidões e em cima do palco a presença e energia da banda era a mesma – Familiar to Millions, gravado em Wembley em 2000, é dos meus discos ao vivo preferidos – e mesmo com álbuns abaixo daquilo que haviam mostrado antes, conseguiam trazer no mínimo três ou quatro hits.
Pena que a disputa de egos levou o Oasis ao fim após quase vinte anos de uma relação conturbada, porém, a de maior sucesso da música pop pós Nrivana.
Atualmente Liam e o que restou da última formação da banda formaram o Beady Eye e estão em turnê de divulgação do primeiro álbum do grupo Different Gear, Still Speeding, lançado em fevereiro desse ano, enquanto Noel acaba de lançar no Reino Unido Noel Gallagher`s High Flying Birds, seu primeiro trabalho solo.
Quem sabe, para o bem da música e deleite dos fãs, Noel e Liam deem um tempo em seus projetos em separado (e brigas via imprensa) e voltem a subir juntos no mesmo palco. Nem que seja apenas para comemorar os vinte anos de Definitely Maybe. O mundo da música agradeceria.
Discografia:
Álbuns de Estúdio
Definitely Maybe (1994)
(What's the Story) Morning Glory? (1995)
Be Here Now (1997)
Standing on the Shoulder of Giants (2000)
Heathen Chemistry (2002)
Don't Believe the Truth (2005)
Dig Out Your Soul (2008)
Ao vivo
Familiar to Millions (2000)
Coletâneas
The Masterplan (1998)
Stop the Clocks (2006)
Time Flies... 1994-2009 (2010)
Última formação
Liam Gallagher - Voz
Noel Gallagher - Guitarra e Voz
Gem Archer - Guitarra
Andy Bell - Baixo
Chris Sharrock – Bateria
Antigos integrantes
Tony McCarroll - Bateria (1991-1994)
Paul Arthurs - Guitarra (1991-1999)
Paul McGuigan - Baixo (1991-1999)
Alan White - Bateria (1995-2004)
Zak Starkey - Bateria (2004-2008)
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Grécia, Itália e os sagazes sarcasmos de Marx sobre os “governos técnicos”
Se retornasse ao debate jornalístico no mundo de hoje, analisando o caráter cíclico e estrutural das crises capitalistas, Marx poderia ser lido com particular interesse hoje na Grécia e na Itália por um motivo especial: a reaparição do “governo técnico”. Na qualidade de articulista do New York Daily Tribune, um dos diários de maior circulação de seu tempo, Marx observou os acontecimentos político-institucionais que levaram ao nascimento de um dos primeiros “governos técnicos” da história, em 1852, na Inglaterra: o gabinete Aberdeen (dezembro de 1852/janeiro de 1855).
A análise de Marx é notável por sua sagacidade e sarcasmo. Enquanto o Times celebrava o acontecimento como um sinal de ingresso “no milênio político, em uma época na qual o espírito de partido está destinado a desaparecer e no qual somente o gênio, a experiência, o trabalho e o patriotismo darão direito a acesso aos cargos públicos”, e pedia para esse governo o apoio dos “homens de todas as tendências”, porque “seus princípios exigem o consenso e o apoio universais”; enquanto os editorialistas do jornal diziam isso, Marx ridicularizava a situação inglesa no artigo “Um governo decrépito. Perspectivas do gabinete de coalizão”, publicado em janeiro de 1853.
O que o Times considerava tão moderno e bem articulado, era apresentado por Marx como uma farsa. Quando a imprensa de Londres anunciou “um ministério composto por homens novos”, Marx declarou que “o mundo ficará um tanto estupefato ao saber que a nova era da história está a ponto de ser inaugurada por cansados e decrépitos octogenários (...), burocratas que participaram de praticamente todos os governos desde o final do século passado, frequentadores assíduos de gabinetes duplamente mortos, por idade e por usura, e só mantidos vivos por artifício”.
Para além do juízo pessoal estava em questão, é claro, o de natureza política. Marx se pergunta: “quando nos promete a desaparição total das lutas entre os partidos, inclusive o desaparecimento dos próprios partidos, o que o Times quer dizer?” A interrogação é, infelizmente, de estrita atualidade no mundo de hoje, no qual o domínio do capital sobre o trabalho voltou a tornar-se tão selvagem como era em meados do século XIX.
A separação entre o “econômico” e o “político”, que diferencia o capitalismo de modos de produção que o precederam, chegou hoje ao seu ápice. A economia não só domina a política, fixando agendas e decisões, como retirou competências e atribuições que eram próprias desta, privando-a do controle democrático a tal ponto que uma mudança de governo já não altera as diretrizes da política econômica e social.
Nos últimos 30 anos, inexoravelmente, o poder de decisão foi sendo transferido da esfera política para a econômica, transformando possíveis decisões políticas em incontestáveis imperativos econômicos que, sob a máscara ideológica do “apolítico”, dissimulam, ao contrário, uma orientação claramente política e de conteúdo absolutamente reacionário. O deslocamento de uma parte da esfera política para a economia, como âmbito separável e inalterável, a passagem do poder dos parlamentos (já suficientemente esvaziados de valor representativo pelos sistemas eleitorais e majoritários e pela revisão autoritária da relação entre Poder Executivo e Poder Legislativo) para os mercados e suas instituições e oligarquias constitui, em nossa época, o maior e mais grave obstáculo interposto no caminho da democracia. As avaliações de Standard & Poor’s, os sinais vindos de Wall Street – esses enormes fetiches da sociedade contemporânea – valem muito mais do que a vontade popular.
No melhor dos casos, o poder político pode intervir na economia (as classes dominantes precisam disso, inclusive, para mitigar as destruições geradas pela anarquia do capitalismo e a violência de suas crises), mas sem que seja possível discutir as regras dessa intervenção e muito menos as opções de fundo.
Exemplos deslumbrantes disso são os acontecimentos dos últimos dias na Grécia e na Itália. Por trás da impostura da noção de um “governo técnico” – ou, como se dizia nos tempos de Marx, do “governo de todos os talentos” – esconde-se a suspensão da política (referendo e eleições estão excluídos), que deve ceder em tudo para a economia. No artigo “Operações de governo” (abril de 1853), Marx afirmou que “o mínimo que se pode dizer do governo de coalizão (“técnico”) é que ele representa a impotência do poder (político) em um momento de transição”. Os governos já não discutem as diretrizes econômicas, mas, ao contrário, as diretrizes econômicas é que são as parteiras dos governos.
No caso da Itália, a lista de seus pontos programáticos ficou clara em uma carta (que deveria ter sido secreta) dirigida pelo Banco Central europeu ao governo Berlusconi. Para “recuperar a confiança” dos mercados, é preciso avançar pela via das “reformas estruturais” – expressão que se tornou sinônimo de dano social – ou seja, redução de salários, revisão de direitos trabalhistas em matéria de contratações e demissões, aumento da idade de aposentadoria e privatizações em grande escala. Os novos “governos técnicos” encabeçados por homens crescidos sob o teto de algumas das principais instituições responsáveis pela crise (veja-se os currículos de Papademos e de Monti) seguirão esse caminho. Nem é preciso dizer, pelo “bem do país” e pelo “futuro das gerações vindouras”, é claro. Para o paredão com qualquer voz dissonante desse coro.
Mas se a esquerda não quer desaparecer tem que voltar a saber interpretar as verdadeiras causas da crise em curso e ter a coragem de propor e experimentar as respostas radicais exigidas para a sua superação.
Marcello Musto é professor de Ciência Política na Universidade York, de Toronto.
Fonte:
http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=4558
Tradução: Katarina Peixoto