sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Direita ou esquerda?

Por Tiago Barbosa Mafra

Na primeira vez que ouvi a afirmação achei que era apenas implicância minha. Ora, cada um que fique com sua avaliação sobre como as relações políticas e suas ideologias sustentáculos se dão em pleno século XXI. Mas quando reincidiu a mesma declaração, em menos de uma semana, não pude deixar de tentar me contrapor, através destas linhas, à idéia de que “é difícil hoje definir o que é esquerda e direita”.

Retomando Marx, lembramos que o homem se faz homem pelo trabalho. Porém, no sistema atual, o trabalho só acontece sob pressão de suprir as necessidades imediatas de existência de quem trabalha. A grande questão é que quem trabalha não lucra e quem lucra não trabalha.

Isso só ocorre porque é a partir da propriedade que ocorre a exploração dos trabalhadores, a concentração das riquezas e a formação e aprofundamento das desigualdades sociais e econômicas.

Como lembra Norberto Bobbio em sua obra Direita e Esquerda, as concepções distintas de desigualdade ajudam a contrapor a frase geradora deste artigo, sobre a indistinção entre direita e esquerda no mundo atual. Enquanto para a direita a desigualdade é inevitável, ou mesmo natural, para a esquerda é algo construído ideológica e historicamente e, portanto, passível de transformação.

É possível, a partir daí, separar quem está de cá e quem está de lá; quem é pelo trabalhador e quem é contra ele; quem é pela desigualdade e quem contra ela luta.

Digo que não é difícil definir esquerda e direita. Difícil é ter que presenciar e conviver com um mundo de politicagem, acordos e negociações espúrias que deixam de lado qualquer viés de comprometimento com o bem estar coletivo. Ai fica mesmo difícil definir a esquerda da direita no meio da negociata.

Para finalizar, cito o geógrafo russo Piotr Kropotkin, que escreveu certa vez: “Como se fará em uma sociedade em que todos comam até saciar-se, para satisfazer tal pessoa que deseja uma louça de Sevres ou um vestido de veludo? Angariemos primeiro o pão. Quanto à porcelana e ao veludo, mais tarde veremos.”

Ao que tudo indica, muitos políticos em nossa cidade hoje querem mais é discutir seu veludo e sua porcelana. E nessa discussão míope, aparece a “dificuldade” de discernimento. Mas que fique o aviso: o povo quer pão. E em meio à politicagem e arrumações escusas, o povo sim saberá discernir entre esquerda e direita. Pelo menos assim espero.

Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na rede pública municipal de ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.

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