Por Tiago Barbosa Mafra
Ao receberem um castigo, com freqüência as crianças ouvem: “isso é para você pensar sobre o que fez”. Nessa situação simples e corriqueira, aparece algo imprescindível para a prática docente: a reflexão.
O professor carece pela natureza de seu trabalho, agir e pensar constantemente sobre sua ação em sala de aula, para compreender seu meio, suas dificuldades, suas falhas, enfim, manter o aperfeiçoamento constante exigido para quem leciona.
Nos idos da década de 1960, o educador suíço Pierre Furter escreveu: “A reflexão é, portanto, um pensamento ao segundo grau, no qual o homem re-pensa o que estava fazendo”. Isso, segundo ele, desencadeia a contextualização, a constante revisão, o aperfeiçoamento, a responsabilização pela prática docente.
É nesse ponto, que se chega à questão crítica: o tempo. Os professores da era da informação carecem de tempo para a reflexão.
Uma sociedade que supervaloriza a velocidade e aprofunda a cada dia , por meio dos avanços tecnológicos a exploração do trabalho, reduz significativamente o tempo disponível para outras atividades que não o trabalho, e portanto, reduz a propensão à reflexão.
São esses docentes, obrigados à dupla ou tripla jornada de trabalho, que a cada dia agem sem reflexão. São agentes reprodutores da estrutura atual. A jornada massacrante se dá no intuito de garantir o mínimo de dignidade no salário. Porém, isso tem retirado o tempo de formação continuada, de leitura, de pesquisa, e do mais importante, a reflexão da própria prática.
Ao observar o quadro atual da sociedade em que vivemos, ficam claras algumas das razões pelas quais isso efetivamente ocorre.
Na esfera federal, temos um governo que ao invés de destinar 10% do PIB para educação, conforme clamou a sociedade durante todo ano de 2011, contará neste ano com um orçamento de R$ 2,2 trilhões, dos quais cerca de R$ 650 bilhões irão para o pagamento da dívida. Parece que falta foco nas prioridades.
Em Minas Gerais, mesmo após 112 dias de greve, a base do governo tucano votou contra a aplicação do piso nacional para os professores, inclusive com apoio de deputado da região. Depois as propagandas afirmam que Minas avança. Só não se sabe para onde.
Poços de Caldas não escapa do cenário, contando com um Executivo que desde 2009 ignora o sindicato e não proporciona negociações democráticas. Como resultado, constata-se que o salário de um professor dos primeiros anos do ensino fundamental em início de carreira está pouco acima do mínimo, após ajuste deste ano para R$ 622. A saída: trabalhar mais.
Frente a isso, resta a ação reprodutora, mecânica, acrítica. Para Furter, “a reflexão é ao mesmo tempo crítica, dialética e inovadora”. Justamente o que parece se quer negar ao povo. Para isso, não há alvo melhor do que o professor.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na rede pública municipal de ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário