A atitude tomada pelo prefeito Paulinho Courominas ao exonerar secretários e funcionários de segundo e terceiros escalões que não lhe garantissem obediência canina, além de desprovida de qualquer senso republicano, ocasionou a antecipação do calendário eleitoral em Poços de Caldas.
Para justificar a “exoneração em massa” Courominas alegou precisar de pessoas que estejam envolvidas em seu projeto, ou seja, sua reeleição e nada mais. A solução para os problemas enfrentados pelo município que tem visto Alfenas, Pouso Alegre e Varginha avançarem de forma contundente no desenvolvimento social e econômico enquanto Poços parece estagnada nesses quesitos – vários dados e estudos provam isso –, são irrelevantes perto do projeto de reeleição.
Ao lançar-se candidato de si mesmo Courominas antecipou o calendário eleitoral fazendo com que outros atores da cena politica local também se posicionassem. Em especial neste caso o deputado federal Geraldo Thadeu que já no primeiro dia útil de janeiro lançou sua pré-candidatura a Prefeitura Municipal.
É bem verdade que Geraldo já vinha há algum tempo articulando sua candidatura – inclusive sondando o PT –, entretanto foi o emparedamento dos ocupantes de cargo de confiança indicados pela tríade de caciques (Navarro, Mosconi e o próprio Geraldo)somada a ruptura pública de Courominas com essa “tríade” que levaram o deputado federal a se manifestar em público sobre aquilo que até então só tratara nos bastidores.
Início da carreira e formação do grupo dos caciques
Em 1996 após a morte do ex-prefeito José Aurélio Vilela – o último prefeito nomeado de Poços e com quem Carlos Mosconi dividia o tucanato local – Geraldo Thadeu então presidente da Executiva Municipal do PSDB debutou na carreira política-eleitoral sendo ungido nome de consenso entre os dois maiores grupos políticos de Poços à época para suceder Luiz Antônio Baptista (então afilhado político de Navarro, mas hoje considerado persona non grata pelo mesmo).
A aliança entre o grupo de Sebastião Navarro (PFL) e o grupo de Carlos Mosconi (PSDB), até aquele momento adversários políticos figadais, resultou numa vitória apertada com a diferença de ínfimos 35 votos de Geraldo Thadeu sobre Paulo Tadeu D’arcadia e a transformação do PT, até então mero figurante da política local, em ator de peso. A diferença de 35 votos se deu num universo de mais de 60 mil votos válidos.
A criação do forte grupo de caciques deu oxigênio a um modo arcaico e ultrapassado de se fazer política assentado no fisiologismo sem limites; na cooptação de forças não-simpatizantes, porém maleáveis; na desavergonhada tomada para si de obras públicas e programas dos governos estadual e federal, um exemplo mesquinho e nada republicano; na inexistência de qualquer participação popular na tomada de decisões; no tratamento dos problemas sociais como problemas individuais e separados da dimensão sócio-econômico-cultural; e na divisão dos cargos-chave na administração municipal por apadrinhados ou mesmo parentes dos caciques do grupo.
Após o quadriênio de seu governo municipal Geraldo teve a pretensão da reeleição barrada pelo grupo dos caciques, talvez por considerarem que tinha poucas chances de vitória dado o fato de a pequena diferença de 1996 ainda estar entalada na garganta da população e o previsível crescimento do PT. De fato o PT chegou ao poder com uma acachapante vitória de Paulo Tadeu na sua segunda tentativa de se tornar mandatário local.
Mas por que cargas d’água tanto tempo depois Geraldo gostaria de retornar a Prefeitura de Poços?
O que tem motivado Geraldo Thadeu a se candidatar a Prefeitura da maior cidade do Sul de Minas e um dos maiores PIBs do estado ¬– por enquanto, porque esse PIB está em plena decadência graças a falta de preocupação social, planejamento estratégico e visão a longo prazo das ultimas administrações – não é uma alternativa política, é antes a única opção de sobrevivência.
Em 2002 com o apoio do grupo dos caciques GeraldoThadeu, já no PPS, elegeu-se deputado federal com 61.277 votos. Em 2006 e 2010 conseguiu a reeleição com respectivamente 94.984 e 87.826 votos. Portanto, na comparação entre as duas últimas eleições Geraldo Thadeu perdeu pouco mais de 7 mil votos.
Os motivos dessa queda podem ser vários. Um deles o modelo brasileiro de financiamento de campanhas. O modelo privado sem qualquer teto para arrecadação e fiscalização frouxa tem tornado cada vez mais caras as disputas eleitorais em todos os seus níveis, mas com reflexo dramático nos Legislativos onde o poder do capital tem predominado de forma quase absoluta.
Sintoma desse encarecimento das campanhas e do abuso do poder econômico está presente na decisão de três ex-deputados federais de distintas matizes ideológicas e partidos políticos em não buscarem a reeleição em 2010: Roberto Magalhães (PPS), Ibsen Pinheiro (PMDB) e José Eduardo Cardozo (PT). Em comum os três declararam não ter condições ou disposição de arcar com os elevados custos ou se subordinar aos “financiadores” de campanha.
Pode ser que o “encarecimento” das campanhas seja um dos motivos que levaram Geraldo Thadeu a decidir trocar a Câmara dos Deputados pelo prédio da Avenida Francisco Sales. Não obstante há outros fatores. Talvez ainda mais fortes que o encarecimento das campanhas.
Em 2010 Geraldo Thadeu foi reeleito numa das últimas posições da coligação a qual pertencia tendo, como vimos acima, uma diminuição de votos. Os motivos para essa queda são a presença e o fortalecimento no Sul de Minas de dois deputados federais petistas com bom trânsito no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios, Odair Cunha e Reginaldo Lopes. Eleitos deputados pela primeira vez em 2002, assim como Geraldo Thadeu, ambos petistas têm aumentado de forma sistemática sua votação a cada pleito. Odair Cunha saltou de 34.846 votos em 2002 para 165.644 em 2010, enquanto Reginaldo Lopes no mesmo período partiu de 64.204 para 176.241.
Mas há outros nomes que podem complicar mais e tornar improvável uma nova reeleição de Geraldo Thadeu para deputado federal em 2014. O primeiro é o de Carlos Melles que também foi reeleito deputado federal em 2010 com muitas dificuldades na mesma coligação que Geraldo. No entanto agora Carlos Melles está à frente da poderosa Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, portanto, possui a chave que libera valiosos recursos pelo estado afora e certamente virá com muita força para o pleito de 2014 disputando com Geraldo a parcela conservadora do eleitorado sul-mineiro.
Outro nome que pode estar tirando o sono de Geraldo Thadeu é o do ex-prefeito de Alfenas e atual deputado estadual Pompílio Canavez. Pompílio possui há tempos forte articulação política na região do Lago de Furnas, região esta onde Geraldo sempre resguardou como parte de sua base. Acontece que Pompílio já emite sinais claros de que pretende em 2014 deixar a Assembleia Legislativa e ir rumo a Câmara dos Deputados. Mais um para Geraldo dividir seus votos.
Se tudo isso não fosse o suficiente para Geraldo se agarrar à possibilidade de retorno a Prefeitura de Poços, ainda existe a vontade mencionada em meu último artigo de Carlos Mosconi também trocar BH por Brasília. Poderia restar a Geraldo justamente o caminho inverso, uma cadeira na Assembleia Legislativa. Todavia tanto Carlos Mosconi quanto Sebastião Navarro sonham em criar uma dinastia com os filhos sucedendo-os na carreira política tendo a Assembleia Legislativa como ponto de partida.
De tudo isso a conclusão é simples: o horizonte político de Geraldo se estreitou a tal ponto que só lhe resta a opção de juntar todo o cacife e a popularidade que possui a fim de disputar a Prefeitura de Poços, com ou sem o apoio dos demais caciques.
Para Geraldo a Prefeitura de Poços não é mais alternativa, mas sim a única opção.
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