domingo, 29 de julho de 2012
Olimpíadas mostram um mundo esportivo próspero e alheio à crise financeira mundial
Com
a tradicional festa de abertura repleta de representações teatrais sobre a
história e cultura locais, adornadas por um vasto desfile de manifestações
estéticas e artísticas, teve início em Londres nesta sexta-feira, 27, a 30ª
edição dos Jogos Olímpicos, a última antes de serem realizados pela primeira
vez na América do Sul, mais precisamente no Rio de Janeiro, daqui a quatro
anos.
Com
cerca de 10.000 atletas de 203 países, a disputarem 26 modalidades esportivas,
os jogos tiveram orçamento de aproximadamente 30 bilhões de reais, financiados
evidentemente pelos cofres públicos ingleses em sua maioria. Já o Comitê
Olímpico Internacional, deverá arrecadar a bolada de 23 a 25 bilhões de reais
na soma de direitos de televisão, vendas de produtos licenciados e patrocínios.
Por
conta disso, o evento terá uma das marcas dos tempos modernos, a despeito de
velhos “lemas olímpicos”, que apesar de iniciados na Grécia Antiga não escapam
do culto ao “deus” contemporâneo, o mercado. Medidas de exceção foram tomadas
para preservar os interesses comerciais dos patrocinadores oficiais,
notadamente os da área alimentar, como o McDonalds, que só após muita pressão
“liberou” o fish and
chips que tanto marca
o cardápio dos britânicos.
Com
isso, verifica-se claramente a velha equação de custos públicos com lucros
privados. O governo e, consequentemente, a sociedade locais bancam a maior
parte dos custos e a arrecadação vai majoritariamente para o bolso do COI e
seus respectivos aliados, mantendo tal renda nas esferas de controle da
cartolagem internacional, a exemplo das práticas da FIFA no futebol e suas
confederações de aliados.
Diante
da magnitude do evento, há expectativas de audiências globais extraordinárias.
Estima-se que só a cerimônia de abertura pode ter sido assistida por 4 bilhões
de seres humanos! Decisões das principais modalidades, com alguns dos ídolos
mundiais, devem superar a casa do bilhão de telespectadores. Clichês à parte,
um momento único de congraçamento dos povos e envolvimento coletivo em torno de
uma causa universal, o que tanto urge em tempos de crises do capital e de
regimes políticos, rodeadas por cada vez mais alarmes ambientais.
Exatamente
por isso, reforçou-se outra marca da atualidade: um aparato de guerra para
prover a segurança desejada aos jogos, parte ponderável do orçamento total.
Apesar disso, a G4S, empresa encarregada de treinar e dispor 10 mil
profissionais da área para trabalhar nos cuidados e monitoramento dos eventos e
pessoas, fracassou em sua tarefa, causando uma considerável consternação int
O
fiasco veio à tona quando a apenas duas semanas da abertura o governo inglês
não teve mais como esconder sua falta de confiança na empresa e convocou em
caráter de urgência 3.500 integrantes de suas forças armadas para trabalharem
nas ruas de Londres. O fato causou indignação no parlamento e na população, uma
vez que vários recrutas tinham outras missões a cumprir, ou delas voltavam,
dentre elas o nada “olímpico” Afeganistão. Fora o fato de terem se passado sete
anos desde a escolha da cidade como sede.
Com
isso, passou a se notar certo clima de tensão, até relatado pela mídia, entre
os novos “voluntários” dos jogos e os torcedores, vindos de todos os cantos do
mundo, de todos os estilos e espécies turísticas. Aliado a estratégias
neuróticas de revista e monitoramento dos presentes nas competições e à enorme
lista de proibições de objetos e alimentos tolerados nas arenas (inclusive
qualquer imagem de Che Guevara), tornam-se um tanto ostensivas as facetas
comerciais e militares, dentro de algo que deveria ser presenciado em clima de
despreocupação e festa, ao menos se comparamos com outras questões mais
complexas da vida humana. Mas a bomba que matou duas pessoas e feriu outras 100
nos jogos de 1996, em Atlanta (EUA), não saem da memória, sem esquecer, mais
atrás, do trágico assassinato de 11 atletas israelenses em Munique, 1972, por
membros do Setembro Negro.
De
toda forma, antecipa as mesmas operações de segurança que veremos por aqui, com
a diferença que nossas forças de segurança são acostumadas a atuar na mais
absurda ilegalidade e truculência contra seu “inimigo interno” de cada dia.
Precisaremos estar atentos a possíveis violências contra os habitantes mais
pobres do Rio de Janeiro, que certamente serão tratados como seus congêneres
baianos em trios elétricos de carnaval, vendo do lado de fora uma festa para
poucos e visitantes.
Para
preservar os interesses dos patrocinadores oficiais, uma série de leis de
exceção já são editadas desde já (assim como o foram em Londres), tornando
crime diversas formas prosaicas de comércio, a partir de mínimas associações de
seus produtos com as Olimpíadas, seus símbolos e imagens icônicas. Toda
concorrência “extra-oficial”, entre aspas para evitar um tratamento “marginal”
aos milhares de comércios e trabalhadores que não podem assinar contratos com o
COI, será combatida e afastada dos locais de competições.
Tratando
da parte aprazível, não faltará diversão aos telespectadores, pois não há época
igual para acompanhar e se entusiasmar com modalidades sempre ignoradas do
noticiário, heróis de ocasião cujas histórias impregnam nas mentes humanas e as
esperadas consagrações de atletas que ficarão imortalizados em suas
especialidades.
Com
competições que começam e geralmente se definem em um ou dois dias, não haverá
instante em que alguma medalha não esteja sendo colocada no peito de algum(a)
atleta. A maioria das competições tem disputas ou performances de curta
duração, de modo que se pode acompanhar de forma mais palpitante os esportes
com os quais temos menos intimidade – e avançar um pouco em sua compreensão e
divulgação, se o Brasil realmente se pretende uma potência olímpica. São poucos
esportes, como o futebol, o basquete ou a vela, em que uma disputa dura tanto
tempo, nesses casos, duas ou mais horas.
Além
do mais, não faltará cobertura midiática. Pela primeira, e provavelmente única,
vez na história a Rede Globo não transmitirá o maior evento do esporte mundial,
ao lado da Copa do Mundo. Por 60 milhões de dólares, a Record ganhou a corrida
e ficou com os direitos exclusivos de transmissão, o que na prática só valerá
para a televisão aberta.
A
Sportv, emissora fechada da própria Globo, desembolsou 22 milhões de reais e
disporá de quatro canais diários cobrindo os eventos 24 horas por dia. ESPN
(três canais), Band (dois canais, Sports e News), Esporte Interativo e o
próprio braço da TV de Edir Macedo, a Record News, formam a lista dos canais
que cobrirão as Olimpíadas na televisão por assinatura. Uma overdose, a ser
reforçada pela mesma Globo em 2016, que redobrou esforços para não ficar de
fora da festa dentro de seu próprio quintal.
Ao
todo, o COI arrecadou 4 bilhões de dólares em direitos de televisão, número com
alta probabilidade de ser superado pela edição carioca, que já garantiu 3,7
bilhões, com quatros anos ainda pela frente, tempo de sobra para novos
contratos. Os ingleses fecharam 11 patrocinadores; para 2016, já existem 10
garantidos, o que também ressalta o momento econômico das grandes, e cada vez
mais transnacionais, empresas brasileiras.
Rompendo
definitivamente com certas ilusões, a terceira Olimpíada londrina (as outras foram
em 1908 e 1948) não dará contribuição alguma, a não ser moral, “espiritual”, à
complicada conjuntura econômica britânica. Servirá como um bom anestésico a ser
aplicado por 17 dias consecutivos no combate às agruras do mundo capitalista em
crise. Aliás, crise financeira é algo que não existe no principal escalão do
mundo esportivo.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Cinema: On The Road
As referências beat nortearam minha formação literária de
maneira mais intensa e duradoura do que as da contracultura hippie, sua
herdeira imediata, que encantava boa parte da juventude da época. Éramos
demasiados boêmios, iconoclastas, agressivos e pessimistas para as utopias do
pacifismo cabeludo, e por isso, instintivamente, preferíamos nortear nossos
devaneios experimentalistas e libertários pelas figuras quase místicas de Jack
Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs. E Bob Dylan, sempre.
O legado do universo beat é inestimável. Os repertórios
musicais, visuais, literários e até mesmo filosóficos da chamada
pós-modernidade possuem ramificações que levam diretamente àquele espírito. Se
não podemos simplificá-lo em fórmulas estéticas homogeneizantes, porém, é um
erro grotesco negar sua influência a partir do repúdio ao individualismo (como
faz a esquerda mais bitolada) ou desses purismos formais que a crítica
conservadora usa para se proteger das incertezas cotidianas.
Não era pequena, portanto, a responsabilidade que Walter
Salles assumiu ao transpor a notória saga de Kerouac. E o diretor soube
resolver dignamente quase todos os desafios inevitáveis do projeto. Muniu-se de
um elenco inspirado, apesar da juventude e da complexidade dos papéis, com
destaque para Garrett Hedlund (Dean Moriarty/Neal Cassady), Tom Sturridge (Carlo
Marx/Ginsberg), Viggo Mortensen (Old Bull Lee/Burroughs) e Elisabeth Moss
(Galatea Dunkel/Helen Hinkle). A fotografia de Eric Gautier explora bem as
paisagens inóspitas e se movimenta com desenvoltura nos interiores dos
veículos, tão difíceis de filmar. A direção de arte é excelente e a trilha
sonora de Gustavo Santaolalla harmoniza-se com o privilegiado fundo musical da
época.
Há problemas na adaptação. O roteirista Jose Rivera optou
por uma estrutura demasiado convencional, mais preocupada em esmiuçar a
cronologia dos relatos (mantendo fidelidade à biografia dos envolvidos) do que
em reproduzir o turbilhão episódico da narrativa original. Esse tratamento
intermediário prejudica a identificação do espectador com os personagens e
arrasta o desenvolvimento da trama, impondo-lhe uma falsa divisão de atos e
anunciando conflitos e rupturas que não se realizam. Trata-se de uma
expectativa desnecessária, pois Salles costuma utilizar um tempo narrativo
muito característico, dado à contemplação e às pausas reflexivas, realçadas
aqui (e em diversos momentos de sua obra) na clara homenagem a Wim Wenders,
outro apaixonado pelos relatos de viagem.
É um trabalho bonito, provocativo, relevante sob diversos
aspectos. Maior audácia formal e menos reverência histórica o transformariam no
filmaço que o tema exigia. Mas talvez fosse muita transgressão para os padrões
e costumes hollywoodianos.
domingo, 22 de julho de 2012
Música de Domingo – O que sobrou do Céu (O Rappa)
Excelente música de O Rappa, com letra do
agoa candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Yuka.
Se todo o político tivesse uma alma de artista o Brasil
seria outro???
sexta-feira, 20 de julho de 2012
As vergonhosas campanhas eleitorais, de novo!
Editorial da
edição 490 do Brasil de Fato
Na semana
passada venceram os prazos de convenções partidárias e registro dos candidatos
e coligações na Justiça Eleitoral. Agora, vai começar o vale-tudo da caça aos
votos, a qualquer preço. Depois, em agosto começam os 45 dias do campeonato
entre os marqueteiros de plantão, sobre quem consegue melhor perfumar seu
candidato aos olhos do povão, nos programas de televisão.
No registro
das candidaturas das principais cidades do país, nenhuma novidade. Há todo tipo
de coligações, as mais estapafúrdias e inesperadas, entre os mais diferentes
partidos. Talvez a única novidade positiva foi o rompimento do PT com a
candidatura de Lacerda em Belo Horizonte (MG). Lacerda representa os setores
petistas comandados pelo ministro Pimentel, que vinham unindo setores do PT com
os tucanos (PSDB) de Aécio Neves, há muito tempo. E haviam transformado as
eleições de Belo Horizonte em chapa única, onde cabiam todos, menos o povo!
Talvez assustados pelas pretensões de Aécio em 2014, fez com que os dirigentes
do PT mineiro avaliassem, e assim pelo menos haverá alguma disputa por lá, que
vai colocar em chapas diferentes ministros, e inclusive petistas, pois o
ministro Pimentel manteve seu apoio ao candidato tucano. Nesses casos nunca se
apela à coerência e comissões de ética.
Há, no
entanto, um fato muito preocupante que está assolando todas as eleições,
principalmente nas capitais e grandes cidades. O registro de gastos previstos
para a campanha feito pelos candidatos nos tribunais eleitorais. Em São Paulo,
José Serra prometeu gastar “apenas” até R$ 98 milhões. Fernando Haddad, nada
menos que R$ 80 milhões. E cada vereador - de todos os partidos – sinalizaram
que podem gastar até R$ 3 milhões! Ora, os recursos dessas candidaturas virão
certamente de empresas. Muitas delas concessionárias de serviços públicos, na
cidade ou em nível nacional. E o mais grave: todos dizem que é dentro da lei.
A população
está indignada. Como podem gastar R$ 90 milhões numa campanha de três meses?
Quem está financiando depois vai cobrar a fatura, que certamente será paga com
recursos do povo.
O custo das
campanhas eleitorais no Brasil tornou-se, segundo especialistas, o terceiro
mais caro do mundo. Só perdemos para Estados Unidos e França. Uma vergonha!
Esses milhões de reais serão usados justamente para usar técnicas de propaganda
que iludem e enganam o cidadão. Não se trata de disputa de ideias, programas ou
projetos para as cidades. A propaganda é cara, porque é necessário iludir,
enganar, distorcer a realidade.
O fato é que
só há um remédio para curar essa situação que ofende a sociedade e distorce a democracia.
Uma reforma política profunda, que garanta o princípio da constituição: todo
poder pertence ao povo. E o povo precisar ter garantias de normas e métodos que
lhe garanta o exercício pleno de sua vontade política, através de quem eleger.
E dentro dessa reforma política incluir: financiamento público de campanha;
pena de prisão e perda de patrimônio a quem usar recursos privados; direito do
povo convocar plebiscitos e referendos (hoje restrito aos deputados federais);
direito do povo convocar plebiscitos de cassação de mandatos daqueles que não
honrarem com as promessas; registro em cartório sob as penas da lei, dos
programas e metas a que os candidatos se comprometem perante os eleitores;
fortalecimento dos partidos, e com candidaturas em listas partidárias e perda
de mandato com as mudanças de siglas; fim da reeleição em qualquer nível.
Os chamados
políticos “profissionais”, são assim chamados porque vivem da vida pública e
dos recursos públicos, transformaram a arte de enganar o povo numa profissão.
Não têm categoria de trabalho nem vínculo real com outra profissão. Eles
continuam impedindo a aprovação da reforma política, dos vários projetos que
estão nas gavetas do Congresso. Continuam sorrindo com as enganações do povo.
Mas isso não
poderá ser eterno. A atual e crescente separação entre a vida da sociedade,
seus interesses e os interesses desses políticos está se agravando aos olhos de
um número cada vez maior de cidadãos. Está se aprofundando uma contradição que
algum dia vai se transformar em alguma rebelião popular. Basta de Demóstenes e
enroladores. É necessária uma verdadeira reforma política, já!
domingo, 15 de julho de 2012
Música de Domingo – 50 anos de Rolling Stones
50 anos e
toda uma carreira cheia de histórias, fatos marcantes, alegrias, decepções e
tragédias. Além, é claro, de muito sucesso e quebra de paradigmas. E, afinal,
quem representa melhor o espírito do Rock´N´Roll do que os próprios Stones???
Ficar aqui
delongando sobre eles será apenas chover no molhado, pois tudo o que já foi
escrito sobre eles tem um pouco de verdade e muito de exagero. Compreensível,
porque talvez nenhuma outra banda tenha sido tão falada e certamente nenhuma
outra teve longevidade tão grande.
Parabéns a
Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Ron Wood, Brian Jones, Mick Taylor,
Bill Wyman e também a Ian Stewart que na prática foi o sexto Stone durante as décadas
de 1960 e 1970.
Parabéns
também ao mundo da música popular por ter nos dado uma banda com tanta
criatividade e energia capaz de compor letras e arranjos surpreendentes, por
marcar gerações e gerações com hinos que refletem o sentimento dessas
gerações.
Pra
finalizar escolhi a música que talvez melhor represente os Rolling Stones,
mesmo sendo uma composição de Jerry Ragovoy, anteriormente gravada por Kai
Winding e Thomas Irma, essa canção ficou marcada pela extraordinária interpretação
dos Stones e tornou-se hino e símbolo do quinteto britânico.
Porque, afinal de contas, dá pra negar que o Tempo está ao lado dos Stones???
PS. Dica de
livro: Sexo, Drogas e Rolling Stones de Jose Emilio Rondeau e Nelio Rodrigues,
editora Agir (esse já tá na minha estante há um tempinho!!!).
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Beagá merece Patrus mais uma vez: o que é bom vale repetir
por Fátima
Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br
Patrus é um prefeito inesquecível no imaginário popular
belo-horizontino. É raro o dia em que alguém não fale “No tempo do Patrus”… “Se
fosse Patrus o prefeito”… Conversas num pronto-socorro entupido de gente em
macas dias e dias a espera de um leito que teima em não aparecer…
O que povo fala sobre Patrus prefeito, do que significou e fez
diferença em suas vidas, evidencia que ele “carrega o selo de mito fundador,
com poder de convencimento político que ainda arrebata corações e mentes” e
também revela um capital político inconteste daquele que foi considerado o
melhor gestor do SUS no Brasil, pois reformatou a atenção à saúde em Beagá de
tal modo que a incompetência e o descompromisso de alguns que vieram depois não
conseguiram destruir os alicerces da atenção à saúde estabelecida na gestão
Patrus: o lastro do acesso universal como direito.
Eu disse em “Memória, compromisso e via-crúcis: do ‘Resgate’ ao
Samu” que Patrus é pai do Resgate e avô do Samu. “Lembra do ‘Resgate’? Vou
contar. É de onde foi parido o Samu 192 (marca Governo Lula, 2003). Lembra de
Belo Horizonte sem ‘Resgate’? Nem vale a pena.
Em 1995, o prefeito Patrus Ananias, do alto de sua incomensurável
sensatez humanista, entendeu que uma cidade do porte da nossa não poderia
prescindir de um serviço público móvel para as urgências médicas e depender
apenas do trabalho abnegado do Corpo de Bombeiros. Era convicto que a
ressurreição da atenção digna à saúde exigia desatar aquele nó. Foi uma sacada
de mestre! E colocou gente para correr atrás, ver experiências mundiais. Não
ficou contando tostão por tostão. Decidiu ter uma política assim, custasse o
que custasse”. Assim nasceu o Resgate: “ideia pioneira no Brasil, modelo para o
Samu 192 em âmbito nacional”. (TEMPO, 02.03.2010).
Escrevi em “Equidade para as duas Beagás: mais para quem precisa
de mais” que “Sabemos que ser belo-horizontino é um estado mental” e
filosofava: “Nada mais instigante do que as eleições municipais para
desencadear em mim o pensar e pensar. Porém, o caráter sui generis de alguns fatos
da política mineira desafiam meus neurônios. Que bicho surgirá do cruzamento do
‘jeito petista de governar’ com o ‘choque de gestão’? Como duas vias tão
díspares de administrar bens públicos poderão ampliar a cidadania? Quando da
escolha de um prefeito ou uma prefeita, o que faz sentido é indagar o que
queremos da futura administração da cidade”. (O TEMPO, em 16.09 2008).
Mas “Aécio e Pimentel queriam apoiar um candidato que aprofundasse
a relação entre a prefeitura e o governo estadual. ‘O objetivo era dar um
caráter mais técnico e profissional’”, disse em recente entrevista o atual
prefeito (O TEMPO, 07.07.2012). Entenderam agora por que votei nulo? Ai,
meus sais! E desde quando ser prefeito é isso?
Escrevi em 2008, mas vale para 2012: “Digo, com esperanças
renovadas, que a gestão Patrus demonstrou em palavras e atos que priorizava a
busca de soluções para os problemas mais prementes da cidade, em áreas nas
quais as políticas sociais fazem a diferença, notadamente na educação, saúde,
saneamento básico, habitação e alimentação dignas e saudáveis. Sobretudo,
comprometida com as duas Beagás, considerando que o caminho da cidadania
implicava em diminuir o fosso que separa uma da outra, adotando a equidade:
mais para quem precisa mais”.
A manchete “Patrus Ananias dá novo rumo à eleição em BH” primou
pela precisão, pois o que Beagá precisa é de mais uma dose de Patrus. Vale
repetir!
domingo, 8 de julho de 2012
Poços de Caldas - "Alea jacta est"
"Alea
jacta est". Expressão em latim que significa “a sorte está lançada” define bem o
sentimento dos seis candidatos a prefeito de Poços de Caldas nesse 2012.
Na
história recente de Poços não houve outra eleição municipal com as principais
forças políticas tão divididas. O grupo dos caciques formado em 1996 com o
objetivo de evitar a chegada do PT ao poder se vê rachado e o responsável por
esse racha é o trunfo que este mesmo grupo teve em 2004 para retomar o poder perdido
para o PT quatro anos antes.
O arco de alianças que elegeu Sebastião Navarro em 2004 e Paulinho Courominas em 2008 se dividiu em dois grupos: de um lado os partidários de Courominas (PPS) – o antigo trunfo – e que formaram um novo e eclético arco de alianças trazendo antigos adversários como o PMDB e o PCdoB. Do outro os partidários do deputado federal Geraldo Thadeu (PSD) que contam com o apoio dos outros dois principais caciques da política local, o deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB) e o ex-prefeito Sebastião Navarro (DEM).
O arco de alianças que elegeu Sebastião Navarro em 2004 e Paulinho Courominas em 2008 se dividiu em dois grupos: de um lado os partidários de Courominas (PPS) – o antigo trunfo – e que formaram um novo e eclético arco de alianças trazendo antigos adversários como o PMDB e o PCdoB. Do outro os partidários do deputado federal Geraldo Thadeu (PSD) que contam com o apoio dos outros dois principais caciques da política local, o deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB) e o ex-prefeito Sebastião Navarro (DEM).
Aqui vale
resaltar que o grupo dos caciques – Geraldo, Navarro e Mosconi – embora pareça unido e coeso passou por vários
sobressaltos, inclusive com o deputado Geraldo Thadeu tentando de várias formas
se aproximar do PT – mesmo com este afirmando e reafirmando que teria
candidatura própria – e criando uma
indefinição sobre quem de fato o apoiaria até quinta-feira passada, prazo final
para a inscrição das candidaturas na Justiça Eleitoral.
O
interessante no caso desses dois grupos, o dos caciques e o de Courominas, agora opositores e adversários no pleito de outubro próximo, é que até dezembro passado
todos caminhavam juntos e o rompimento público só veio após Courominas exigir o
apoio integral dos caciques ao seu projeto de reeleição ou a entrega de todos
os cargos que apadrinhados desses mesmos caciques ocupavam na máquina pública
municipal. Um rompimento com ares de fisiologismo generalizado por ambas as
partes.
Outras
quatro candidaturas disputam a preferência do eleitorado e o direito de
governar Poços pelos próximos quatro anos. O vereador no sexto mandato Marcus
Togni (PSB) – remanescente do baixo clero do grupo dos caciques – que já havia
há tempos declarado a disposição de trocar o Legislativo pelo Executivo e para
essa empreitada chegou a trocar de partido – fora eleito pelo PPS – correndo o
risco de perder o mandato por conta da fidelidade partidária, enfim se colocou
como prefeitável.
A quarta
candidatura é a de Rovilson de Lima (PMN). Antigo vereador que agora tenta
retornar ao cenário político local numa candidatura que ao que dizem, terá a
incumbência de fazer forte campanha contra Geraldo Thadeu.
A quinta
candidatura é a de Waldir Inácio (PSOL) que em 2008 surpreendeu ao obter cerca
de 5% dos votos válidos com uma campanha simples e modesta.
A sexta e
a última a ser divulgada dentro do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral é a
de Eloisio Lourenço (PT). Odontólogo por profissão e ex-presidente do Conselho
Municipal de Saúde, Eloisio terá a tarefa de marcar sua campanha pelo projeto
de renovação na política local e ao mesmo tempo enaltecer os avanços sociais
pelos quais o Brasil passou na última década após a ascensão do Partido dos Trabalhadores
ao governo federal, demonstrando que Poços lamentavelmente não tem seguido no
mesmo caminho.
A campanha
de Eloisio deverá também mostrar que é possível fazer uma política diferente da
que existe em Poços. Uma política voltada para o cidadão, para as classes mais
humildes, para o desenvolvimento realmente sustentável – aquele que leva em
conta os vetores ambientais, econômicos e sociais. Essa candidatura representa, acima de tudo, uma renovação necessária para a política local, já cansada do mais do
mesmo e de um tipo arcaico e ultrapassado de se fazer política e lidar com a
coisa pública.
domingo, 1 de julho de 2012
América Latina, 50 anos depois
Fisgado do Blog do Emir
Em 1962, os EUA impuseram à OEA a expulsão de Cuba desse organismo. A moção conseguiu 14 votos a favor, o voto contrario de Cuba e 6 abstençoes (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Equador e Mexico). Mais tarde, já com o golpe militar de 1964 no Brasil, os EUA impuseram a ruptura de relações com Cuba, medida que foi seguida de forma subserviente por todos os governos do continente, menos o México.
Tudo isso se dava paralelamente à tentativa fracassada de invasão de Cuba por tropas mercenárias coordenadas pelos EUA, com o apoio direto da Nicarágua de Somoza e da Republica Dominicana de Trujillo, em 1961, e do cerco militar a Cuba, em 1962.
Para termos uma ideia de como mudou o continente desde então, praticamente todos os países retomaram relações com Cuba, a OEA decidiu convidar Cuba de volta ao organismo, mas o governo cubano se recusou ao que Fidel chamou de Ministério das Colônias dos EUA. E, ao mesmo tempo, o continente dispõe de organismos sem a participação dos EUA, como o Mercosul, a Unasul, o Banco do Sul, o Conselho Sulamericano de Defesa, a Comunidade de Estados Latinoamericanos. Já não existirão reuniões da Comunidade Ibero Americana sem a participação de Cuba.
A OEA sobrevive, mas com representação e legitimidade cada vez menores.
Em situações de crise como a do Paraguai, o Mercosul e a Unasul decidiram suspender a participação do governo golpista, em decorrência da cláusula democrática, acordada pelos governos que compõem esses organismos. Em outras, como o conflito da Colombia com o Equador e a Venezuela, o Conselho Sulamericano de Defesa encontrou a solução politica.
Os tempos passaram e mudaram, os EUA têm cada vez menos voz e aliados no continente. Como cantava Cuba:
“Con OEA o sin OEA, y aganamos la pelea".
Em 1962, os EUA impuseram à OEA a expulsão de Cuba desse organismo. A moção conseguiu 14 votos a favor, o voto contrario de Cuba e 6 abstençoes (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Equador e Mexico). Mais tarde, já com o golpe militar de 1964 no Brasil, os EUA impuseram a ruptura de relações com Cuba, medida que foi seguida de forma subserviente por todos os governos do continente, menos o México.
Tudo isso se dava paralelamente à tentativa fracassada de invasão de Cuba por tropas mercenárias coordenadas pelos EUA, com o apoio direto da Nicarágua de Somoza e da Republica Dominicana de Trujillo, em 1961, e do cerco militar a Cuba, em 1962.
Para termos uma ideia de como mudou o continente desde então, praticamente todos os países retomaram relações com Cuba, a OEA decidiu convidar Cuba de volta ao organismo, mas o governo cubano se recusou ao que Fidel chamou de Ministério das Colônias dos EUA. E, ao mesmo tempo, o continente dispõe de organismos sem a participação dos EUA, como o Mercosul, a Unasul, o Banco do Sul, o Conselho Sulamericano de Defesa, a Comunidade de Estados Latinoamericanos. Já não existirão reuniões da Comunidade Ibero Americana sem a participação de Cuba.
A OEA sobrevive, mas com representação e legitimidade cada vez menores.
Em situações de crise como a do Paraguai, o Mercosul e a Unasul decidiram suspender a participação do governo golpista, em decorrência da cláusula democrática, acordada pelos governos que compõem esses organismos. Em outras, como o conflito da Colombia com o Equador e a Venezuela, o Conselho Sulamericano de Defesa encontrou a solução politica.
Os tempos passaram e mudaram, os EUA têm cada vez menos voz e aliados no continente. Como cantava Cuba:
“Con OEA o sin OEA, y aganamos la pelea".
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