Por Marcelo Fernandes Fonseca de Oliveira
“Ninguém escapa da educação”, nos recorda e alerta Carlos Rodrigues Brandão (1). Acompanhamos diariamente um discurso, que se torna cada vez mais discurso, tanto na mídia como na política, a temática: Educação. Educação como aporte para um futuro melhor. E sabemos disso. Sabemos o quanto uma educação progressista, humanista, libertadora e de qualidade é capaz de tirar as amarras e as vendas da juventude brasileira.
No entanto, a mídia que se diz apoiadora de uma educação qualitativa, em contrapartida, a apresenta em horário nobre da TV aberta brasileira com o estereótipo de uma “escola muito louca”.
Levei este debate para a sala de aula. Meus alunos, do primeiro ano do Ensino Médio, não gostaram das comparações. Afinal, o que esta escola muito louca quer mostrar? Será que nossa educação é assim? É essa a imagem da Educação brasileira? Se for, estamos fadados ao fracasso...
Ao apresentar uma escola desta forma, a mídia brasileira mais uma vez (Escolinha do Professor Raimundo, Escolinha do Golias), não está contribuindo em nada para a melhoria da educação. Aliás, penso eu, banaliza.
Um bando de alunos idiotas (opinião minha e de meus alunos), respondem a questionários pedagogicamente sem sentido. Os tipos são mal representados. O atleta, o funkeiro e o marginal. Banalizam as mulheres: muito corpo, pouca roupa e pouco cérebro. O chinês é o contrabandista, além do CDF, é claro.
O barato é fazer rir. Rir do professor, classe profissional que luta diariamente para recuperar seu prestígio na sociedade. Sidney Magal nos representa, e encerra sua aula dizendo: “eu poderia só cantar...”, como se educar fosse um passatempo, uma tarefa aparte. O que pensaria nosso grande mestre Paulo Freire...
Não possuímos uma educação perfeita, temos muito que melhorar. E muitos professores comprometidos lutam diariamente para isso. Para tanto, a grande mídia, que se diz tão incentivadora de uma educação de qualidade, poderia abrir espaços para debates consistentes e produções criativas sobre os mais diversos temas, e não nos apresentar como um bando de tolos.
Não somos assim; e o perigo se encontra na formação de opinião. Eles têm esse poder manipulador. E se querem nos apresentar desta forma, lutaremos contra; sempre.
Professores e alunos comprometidos com uma EDUCAÇÃO de qualidade, uni-vos!
Marcelo Fernandes Fonseca de Oliveira é Professor de História e Geografia da rede pública estadual de Poços de Caldas – MG
marceloffoliveira@hotmail.com
(1) Brandão, Carlos Rodrigues. O que é educação – SP: Brasiliense; 2005
3 comentários:
Aos tempos de minha mocidade, lembra-me bem, antes de começar a passar qualquer filme em nossos cinemas havia um aviso, na mesma tela, mais ou menos nos seguintes termos, bem visível a todos:
"AS PERSONAGENS E OS ACONTECIMENTOS DESTE FILME NÃO DEVEM SER CONSIDERADOS COMO REAIS. OS FATOS E PESSOAS NÃO PASSAM DE FICÇÃO. QUALQUER FATO QUE POSSA PARECER REAL, NÃO PASSA DE MERA COINCIDÊNCIA."
Por que, pois, não fazem o mesmo a esses programas cômicos nos quais o objetivo é tão somente levar diversão a uma população acostumada a ver e ouvir, o dia inteiro e todos os dias, notícias de violências e de corrupção?
Não creio, em sã consciência, que queiram denegrir o ambiente de uma sala de aula - mestres e alunos -
emprestando-lhes personalidades jocosas demais, exacerbadas o bastante para se tornarem exemplos negativos da realidade do nosso ensino. O ensino em nosso Brasil não é lá essas coisas, malgrado o esforço que fazem professores e alunos; aqueles, preparando suas aulas em casa, com o único fito de passar aos seus alunos o que há de melhor no profissional que ele é.
O aviso, que havia em épocas passadas, antes dos filmes, deveria ser obrigatório à abertura de programas como esse, da Bandeirantes, sob a batuta de Magal. Nesse contexto, ficaria preservada a seriedade de uma escola, mesmo pública, e os telespectadores não teriam suas mentes subliminarmente deturpadas pelo humorismo dessas "escolinhas de mentirinha".
O humorismo da TV e do rádio, no Brasil e em diversos países, é calcado na baixaria, no preconceito, no estereótipo.
É que, para fazer humor sem apelar para a baixaria, o comediante tem que ser inteligente.
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