domingo, 13 de setembro de 2009

10 + – 10ª Posição: London Calling

London Calling (The Clash)

Por André Melo


http://lemonsoup.blogspot.com/2004/09/clash-london-calling.html

É inegável a influência do Clash ao longo de sua existência e a que ainda ostenta quase 20 anos depois de ter encerrado as atividades. Desde 1976, ano em que apareceu no cenário punk de Londres, pipocam bandas pelo mundo todo querendo se aproximar musicalmente dos caras, não importando se são seus conterrâneos (The Cure, Joy Division, Echo & The Bunnymen) ou surgidos nesta ultima grande onda punk de dez anos atrás (Green Day, Offspring, Rancid). Em terras brasileiras também apareceram seguidores (Ira!, Capital Inicial, Legião Urbana).

A obra-prima de Joe Strummer (guitarra e vocal), Mick Jones (guitarra e vocal), Paul Simonon (baixo) e Topper Headon (bateria) foi London Calling. Lançado originalmente em 1979 como vinil duplo (a versão em CD é simples), mas custando o preço de um simples (o quarteto abriu mão de parte dos seus lucros), o álbum mostra a banda politizada como sempre foi, mas flertando um pouco mais com outros ritmos, trazendo mais informação musical para as já manjadas três notas do punk. Em várias faixas podemos ouvir pianos, órgãos e metais se somando ao som do grupo e contribuindo para os elementos de reggae e de jazz aqui presentes.

Já na capa do disco pode-se perceber a que eles vieram. Trata-se de uma paródia ao álbum de estréia do Elvis Presley, com as palavras "London" e "Calling" dispostas na mesma fonte, cor e posição das palavras "Elvis" e "Presley" do disco do rei, mas com a foto de Simonon prestes a estilhaçar um Fender Precision (seu baixo preferido) no palco de um show em Nova York. Os restos mortais do instrumento podem ser encontrados hoje no museu do Rock & Roll Hall of Fame.

O álbum é aberto com a faixa-título. O hino London Calling clama a presença de garotos e garotas londrinos para uma guerra já declarada pelo movimento punk contra a sociedade local - "London Calling to the faraway towns, now that war is declared, and the battle come down, London Calling to the underworld, Come out the cupboard, all you boys and girls". E a guerra se estende por todo o disco, sejam as letras falando sobre a polícia, como na jazzística Jimmy Jazz; sobre traficantes, na festiva Hateful; ou sobre uma guerra de verdade, como em Spanish Bombs. Aliás, com seu refrão em espanhol, esta é uma das mais empolgantes do disco.
As letras afiadas de Strummer e Jones não perdem uma só oportunidade de criticar o governo e a forma de vida inglesa dos anos 70. A primorosa Lost in the Supermarket, além de mostrar uma banda afinadíssima (riffs bacanas, baixo e bateria no lugar exato, vocais se completando...) discute a febre consumista, Koka Kola fala da cocaína (e do refrigerante) infiltrada nos "corredores do poder"...

O reggae e o ska aparecem de forma marcante. Rudie Can't Fail, The Guns of Brixton e Wrong 'Em Boyo mostram o porquê de hoje ser tão dificil conseguir classificar (comercialmente falando) bandas novas como sendo representantes de ska ou de punk. A penúltima faixa, Revolution Rock, só vem ratificar essa fusão de ritmos. É engraçado ouvir uma música com um título forte como este ser na verdade... Um reggae! E com direito à batida havaiana, naipe de metais, baixo suingado e uma guitarra chorada de dar dó.

Na verdade, a porrada do disco está em Death or Glory. Seria possível título mais punk do que este? E para fechar com toda a classe, a ótima Train in Vain (Stand by Me) , que desde a introdução na bateria (que 15 anos mais tarde foi tomada de empréstimo pelo Garbage para a sua Stupid Girl) até os acordes finais é cativante - "The only thing I can say, Stand by me". Um álbum que ficou para a história, London Calling foi como uma introdução aos anos 80. Ouvindo suas 19 músicas, é difícil não achar alguma coisa que não tenha influenciado quem foi sucesso em qualquer parte do planeta à época, sejam punks, pós-punks ou new wave. E pensar que depois disso o Clash ainda teve lenha para queimar e fez mais alguns discos muito bons.

Faixas:


Lado 1

01.London Calling (Joe Strummer e Mick Jones)
02. Brand New Cadillac (Vince Taylor)
03. Jimmy Jazz (Joe Strummer e Mick Jones)
04. Hateful (Joe Strummer e Mick Jones)
05. Rudie Can’t Fail (Joe Strummer e Mick Jones)

* As faixas de 1 a 4 são cantadas por Joe Strummer e a faixa 5 é cantada por Joe Strummer e por Mick Jones.

Lado 2
01. Spanish Bombs (Joe Strummer e Mick Jones)
02. The Right Profile (Joe Strummer e Mick Jones)
03. Lost in the Supermarket (Joe Strummer e Mick Jones)
04. Clampdown (Joe Strummer e Mick Jones)
05. The Guns of Brixton (Paul Simonon)

* As faixas 1 e 4 são cantadas por Joe Strummer e Mick Jones, a faixa 2 é cantada por Joe Strummer, a faixa 3 é cantada por Mick Jones e a faixa 5 é cantada por Paul Simonon.

Lado 3

01. Wrong ‘Em Boyo (Clive Alphonso)
02. Death or Glory (Joe Strummer e Mick Jones)
03. Koka Kola (Joe Strummer e Mick Jones)
04. The Card Cheat (Jones, Strummer, Simonon, Topper Headon)

* As faixas de 1 a 3 são cantadas por Joe Strummer e a faixa 4 é cantada por Mick Jones.

Lado 4

01. Lover’s Rock (Joe Strummer e Mick Jones)
02. Four Horsemen (Joe Strummer e Mick Jones)
03. I’m Not Down (Joe Strummer e Mick Jones)
04. Revolution Rock (Jackie Edwards, Danny Ray)
05. Train in Vain (Joe Strummer e Mick Jones)

* A faixa 1 é cantada por Joe Strummer e Mick Jones, as faixas 2 e 4 são cantadas por Joe Strummer e as faixas 3 e 5 são cantadas por Mick Jones.

Formação:


Joe Strummer - Voz, guitarra base e piano
Mick Jones - Voz, guitarra e piano
Paul Simonon - Voz e baixo
Topper Headon - Bateria e percussão
Mickey Gallagher – Órgão

Produção: Guy Stevens

Um comentário:

Lingua de Trapo disse...

É realmente um disco fantástico. Tenho o vinil na mais perfeita ordem, sem um arranhão sequer. É uma obra única e de altíssimo nível. Ainda não apareceu algo que se assemelhasse a este disco, exceto, em minha humilde opinião, ao triplo Sandinista.