sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um anti-ácido por favor!!!

Que a prova do Enem teve seu vazamento facilitado exclusivamente por fins políticos até o mais ingênuo dos boçais já percebeu. A intenção ali era, e me parece ter sido bem sucedida, desgastar o governo impingindo a pecha de incompetente no excelente ministro Fernando Haddad, suspender e desmoralizar o Enem e demover inúmeras universidades da decisão, que já haviam anunciado, de aderir a proposta do governo de introduzir as notas do exame no processo de vestibular. Minando o Enem desse ano quiçá donos de cursinhos pré-vestibulares, uma verdadeira indústria, e a elite econômica nacional – já bastante desgostosa com o sistema de cotas – poderão enfim festejar a queda de um dos programas sociais do atual governo e impedir que no futuro se volte a discutir a revisão do processo de entrada nas grandes universidades nacionais, sobretudo nas públicas.

A tática adotada pelo o que há de mais retrogrado em nossa sociedade além de ser uma tática ignominiosa, covarde e doente, também nos serve, mais uma vez, para mostrar o quanto nossa mídia oligopilizada pratica um jornalismo servil, decadente, calunioso e anti-ético.

Na edição dessa quinta-feira (08/10/2009) o Jornal Nacional conseguiu ser de tal modo ultrajante e asqueroso – não posso dizer como foi nos outros dias, pois só tive o desprazer de assisti-lo na citada data – que me embrulhou o estômago e me fez escrever essas linhas em repúdio.

Primeiro começaram com uma lengalenga que há varias lacunas no contrato entre o MEC e a gráfica contratada. Essas lacunas viriam por conta do edital onde a tal gráfica foi escolhida. Outras duas empresas teriam desistido de concorrer na licitação por acharem que não teriam tempo hábil de preparar a nova prova do Enem nos moldes em que o MEC sugeriu. Sobrando apenas uma que de imediato se dispôs a aceitar os termos do contrato e iniciou a impressão das provas. Durante toda a reportagem foi omitido o fato de essa gráfica pertencer ao Grupo Folha e procurou por todas as formas jogar integralmente a responsabilidade pelo vazamento para o MEC, acusando claramente o ministro da Educação pelo crime e pelas dificuldades em se encontrar uma gráfica que atendesse as especificações do edital.

É de se perguntar, se o Grupo Folha aceitou os termos do contrato e depois se mostrou inapto para o trabalho não é dele a responsabilidade principal pelo vazamento? Não é assim que ocorre quando o assunto está no âmbito puramente privado? Por que jogar toda a culpa no MEC?

As explicações do ministro Fernando Haddad, selecionadas pela Vênus Platinada, demonstraram a dificuldade de se encontrar no Brasil por meio de edital e da Lei de Licitações uma empresa experiente que desse conta de encomenda dessa envergadura, mais de 4 milhões de provas.

O que a Vênus Platinada – que chama os gorilas golpistas hondurenhos de governo interino – fez? Correu para pedir a opinião de um dos ministros do Tribunal de Contas da União. Qual foi o escolhido? O ministro José Jorge. Sinceramente, cara-de pau e vigarice têm limite!!! Eis um pouco da ficha de José Jorge para quem não está ligando o nome a pessoa: senador por Pernambuco (1999 e 2007); ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso (2001 a 2002); candidato a vice-presidente da República na chapa de Geraldo Alckmin (2006). Faltou dizer o partido? O homem é do DEMO. Acho desnecessário repetir aqui o que José Jorge disse. Ele apenas desqualificou as declarações de Fernando Haddad sem apresentar qualquer dado técnico. Dificilmente encontraremos maior exemplo de jornalismo imparcial.

A Globo simplesmente ignorou ou omitiu esse pequeno detalhe. Assim como ignorou ou omitiu o fato da gráfica donde foram roubadas as provas do Enem pertencer ao Grupo Folha. O estranho é que quando a Globo tem interesse ela passa a ficha completa dos envolvidos. Por acaso não é esse o tratamento que ela dá ao MST ? Quando o MST ocupa alguma área a Globo logo lembra que o movimento recebeu, direta ou indiretamente, dinheiro do governo federal. O mesmo tratamento que a Globo deu ao Congresso da UNE, desqualificando a entidade por receber verbas do governo federal. Se é pra fazer um jornalismo investigativo então por que não dizer que a gráfica responsável pelo vazamento é do Grupo Folha? Ou se é pra fazer jornalismo imparcial então entreviste outro ministro do TCU que não José Jorge. Nem todos os telespectadores do JN são Homer Simpson como o Bonner pensa.

Poderia dar outros mil exemplos, mas termino o texto por aqui, preciso urgentemente tomar um anti-acido. Só de escrever sobre a mídia oligopolizada meu estomago arde.

3 comentários:

Rubens Caruso Jr. disse...

Hudson, gostaria muito de ler um artigo seu com opinião sobre o projeto Niemeyer para a construção de uma nova Câmara no Paço Municipal. Que tal?
Um abraço,

Rubens

Blog do Morani disse...

Tem razão, meu caro Hudson. Há coisas que devem ser separadas para que se evitem as injustiças. O que teria o MEC a haver com tal vazamento? E o Ministro Hadadd com isso?
Não posso falar sobre as noticias veiculadas no Jornal Nacional porque não o assisto mais. Da Globo, só as transmissões de futebol me interessam, mais nada. Estirpei-a dos canais que ainda considero honestos. E agora, vejam lá quem foi o escolhido para ser entrevistado: Um dos piores elementos do governo Fernando Henrique, muito criticado por um jornal do Rio de média tiragem - não me lembra o seu nome - mas era só desancando o pau em FHC e equipe. O senhor José Jorge estava envolvido em muitos escândalos, apontados, todos, pelo jornalista, que ao mesmo tempo era o proprietário do jornal. Quando as criaturas não se entendem, tudo é possível. Pode-se fazer oposição, sim, a qualquer governo. Há liberdade para isso, mas também é necessário separar o joio do trigo. As minhas opiniões eu as dou em meu blog e naqueles que acredito, como o seu, democráticos. Muitas foram as vezes que inseri meus comentários no blog do Paulo Henrique Amorim, pois não tinha o meu próprio espaço, mas nem sempre eram editados por ele. É isto.

Eloisio disse...

Hudson:
Realmente é uma pena que façam tais coisas (não com o Enem) mas com a chance de oportunidades de tantos jovens. O desejo que as pessoas tem pelo poder é impressionante, já vimos que matam por isso, neste caso matam as oportunidades, os sonhos e as idéias e de uma forma terrível: por sufocamento e bem devagar.
Lamentável.
abs
Eloisio