Que a prova do Enem teve seu vazamento facilitado exclusivamente por fins políticos até o mais ingênuo dos boçais já percebeu. A intenção ali era, e me parece ter sido bem sucedida, desgastar o governo impingindo a pecha de incompetente no excelente ministro Fernando Haddad, suspender e desmoralizar o Enem e demover inúmeras universidades da decisão, que já haviam anunciado, de aderir a proposta do governo de introduzir as notas do exame no processo de vestibular. Minando o Enem desse ano quiçá donos de cursinhos pré-vestibulares, uma verdadeira indústria, e a elite econômica nacional – já bastante desgostosa com o sistema de cotas – poderão enfim festejar a queda de um dos programas sociais do atual governo e impedir que no futuro se volte a discutir a revisão do processo de entrada nas grandes universidades nacionais, sobretudo nas públicas.
A tática adotada pelo o que há de mais retrogrado em nossa sociedade além de ser uma tática ignominiosa, covarde e doente, também nos serve, mais uma vez, para mostrar o quanto nossa mídia oligopilizada pratica um jornalismo servil, decadente, calunioso e anti-ético.
Na edição dessa quinta-feira (08/10/2009) o Jornal Nacional conseguiu ser de tal modo ultrajante e asqueroso – não posso dizer como foi nos outros dias, pois só tive o desprazer de assisti-lo na citada data – que me embrulhou o estômago e me fez escrever essas linhas em repúdio.
Primeiro começaram com uma lengalenga que há varias lacunas no contrato entre o MEC e a gráfica contratada. Essas lacunas viriam por conta do edital onde a tal gráfica foi escolhida. Outras duas empresas teriam desistido de concorrer na licitação por acharem que não teriam tempo hábil de preparar a nova prova do Enem nos moldes em que o MEC sugeriu. Sobrando apenas uma que de imediato se dispôs a aceitar os termos do contrato e iniciou a impressão das provas. Durante toda a reportagem foi omitido o fato de essa gráfica pertencer ao Grupo Folha e procurou por todas as formas jogar integralmente a responsabilidade pelo vazamento para o MEC, acusando claramente o ministro da Educação pelo crime e pelas dificuldades em se encontrar uma gráfica que atendesse as especificações do edital.
É de se perguntar, se o Grupo Folha aceitou os termos do contrato e depois se mostrou inapto para o trabalho não é dele a responsabilidade principal pelo vazamento? Não é assim que ocorre quando o assunto está no âmbito puramente privado? Por que jogar toda a culpa no MEC?
As explicações do ministro Fernando Haddad, selecionadas pela Vênus Platinada, demonstraram a dificuldade de se encontrar no Brasil por meio de edital e da Lei de Licitações uma empresa experiente que desse conta de encomenda dessa envergadura, mais de 4 milhões de provas.
O que a Vênus Platinada – que chama os gorilas golpistas hondurenhos de governo interino – fez? Correu para pedir a opinião de um dos ministros do Tribunal de Contas da União. Qual foi o escolhido? O ministro José Jorge. Sinceramente, cara-de pau e vigarice têm limite!!! Eis um pouco da ficha de José Jorge para quem não está ligando o nome a pessoa: senador por Pernambuco (1999 e 2007); ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso (2001 a 2002); candidato a vice-presidente da República na chapa de Geraldo Alckmin (2006). Faltou dizer o partido? O homem é do DEMO. Acho desnecessário repetir aqui o que José Jorge disse. Ele apenas desqualificou as declarações de Fernando Haddad sem apresentar qualquer dado técnico. Dificilmente encontraremos maior exemplo de jornalismo imparcial.
A Globo simplesmente ignorou ou omitiu esse pequeno detalhe. Assim como ignorou ou omitiu o fato da gráfica donde foram roubadas as provas do Enem pertencer ao Grupo Folha. O estranho é que quando a Globo tem interesse ela passa a ficha completa dos envolvidos. Por acaso não é esse o tratamento que ela dá ao MST ? Quando o MST ocupa alguma área a Globo logo lembra que o movimento recebeu, direta ou indiretamente, dinheiro do governo federal. O mesmo tratamento que a Globo deu ao Congresso da UNE, desqualificando a entidade por receber verbas do governo federal. Se é pra fazer um jornalismo investigativo então por que não dizer que a gráfica responsável pelo vazamento é do Grupo Folha? Ou se é pra fazer jornalismo imparcial então entreviste outro ministro do TCU que não José Jorge. Nem todos os telespectadores do JN são Homer Simpson como o Bonner pensa.
Poderia dar outros mil exemplos, mas termino o texto por aqui, preciso urgentemente tomar um anti-acido. Só de escrever sobre a mídia oligopolizada meu estomago arde.
3 comentários:
Hudson, gostaria muito de ler um artigo seu com opinião sobre o projeto Niemeyer para a construção de uma nova Câmara no Paço Municipal. Que tal?
Um abraço,
Rubens
Tem razão, meu caro Hudson. Há coisas que devem ser separadas para que se evitem as injustiças. O que teria o MEC a haver com tal vazamento? E o Ministro Hadadd com isso?
Não posso falar sobre as noticias veiculadas no Jornal Nacional porque não o assisto mais. Da Globo, só as transmissões de futebol me interessam, mais nada. Estirpei-a dos canais que ainda considero honestos. E agora, vejam lá quem foi o escolhido para ser entrevistado: Um dos piores elementos do governo Fernando Henrique, muito criticado por um jornal do Rio de média tiragem - não me lembra o seu nome - mas era só desancando o pau em FHC e equipe. O senhor José Jorge estava envolvido em muitos escândalos, apontados, todos, pelo jornalista, que ao mesmo tempo era o proprietário do jornal. Quando as criaturas não se entendem, tudo é possível. Pode-se fazer oposição, sim, a qualquer governo. Há liberdade para isso, mas também é necessário separar o joio do trigo. As minhas opiniões eu as dou em meu blog e naqueles que acredito, como o seu, democráticos. Muitas foram as vezes que inseri meus comentários no blog do Paulo Henrique Amorim, pois não tinha o meu próprio espaço, mas nem sempre eram editados por ele. É isto.
Hudson:
Realmente é uma pena que façam tais coisas (não com o Enem) mas com a chance de oportunidades de tantos jovens. O desejo que as pessoas tem pelo poder é impressionante, já vimos que matam por isso, neste caso matam as oportunidades, os sonhos e as idéias e de uma forma terrível: por sufocamento e bem devagar.
Lamentável.
abs
Eloisio
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