Durante a última campanha eleitoral o PSDB por diversas vezes acusou o PT de fazer um jogo político espúrio cujo objetivo era instigar a divisão de classes no Brasil. O PSDB dizia que era irresponsabilidade do Partido dos Trabalhadores e, sobretudo do ex-presidente Lula, querer dividir o Brasil em dois: o dos ricos e o dos pobres. Tudo isso como senão fosse outro barbudo, e não Lula, o responsável por decifrar a luta de classes ainda em meados do século XIX.
Os tucanos, ou pelo menos sua “elite” – FFHH, Covas, Montoro, Serra, Jereissati, Aécio, Alckmin, Aloysio Nunes, Bresser Pereira, Pimenta da Veiga ... –, sempre gostaram de posar de finos, educados, letrados e legítimos filhos do que há de (sic) melhor na sociedade tupiniquim. Se por acaso algum teve a desventura de nascer em seio de família sem recursos, não se fez de rogado e através do esforço e dedicação chegou aonde era seu lugar por predestinação.
Na visão tucana a divisão de classes simplesmente não existe porque ela é natural, ela é inata a todas as sociedades. Isso mostra um sério problema: o quão o PSDB tem dificuldade em dialogar com a sociedade em sua essência. Bem diferente de Lula, para quem é algo natural amassar barro, beijar crianças e idosos, comer pastel no boteco da esquina ou implementar programas sociais capazes de tirar vinte milhões de brasileiros da pobreza.
Outro problema sério para o PSDB é que a pose a qual os tucanos estão acostumados parece não agradar a imensa maioria da população dum país cujo cidadão, para usar uma linguagem popular, vende o almoço para comprar o jantar. Então se faz necessário, ao menos em tempos de campanha eleitoral, sair dos gabinetes e escritórios e ir amassar barro, beijar crianças e idosos, comer pastel no boteco da esquina.
Não obstante, inclusive durante períodos eleitorais, os tucanos gostam de mostrar que não são da mesma verve que os simples mortais. FFHH, o deão do tucanato e exemplo acabado do jeito tucano de ser/agir, na campanha de 1994 em pleno sertão pernambucano, confidenciou a um grupo de camponeses que havia perdido sua "cátedra" na USP durante o regime militar! Façamos um exercício de imaginação para descobrir o que aqueles camponeses castigados pelo sol e seca pensaram se tratar de "cátedra".
Agora imaginemos outra situação. O primeiro-ministro francês, britânico ou sueco inaugurando o ano letivo numa escola da rede privada. A menos que eu esteja muito enganado, e posso estar, a repercussão seria extremamente negativa gerando verdadeira estupefação na sociedade local. Afinal esses países há muito tempo que tratam a Educação como prioridade e, portanto, dispõem de polítcas que sabem valorizar tanto educando quanto educador na rede pública. Aliás, nesses países a rede pública de Ensino é parâmetro para as demais.
Mas não é na lógica de tratar a Educação pública como prioridade que age o cérebro dum governante tucano e passada a campanha com a eleição ganha ele pode enfim retornar ao seu habitat natural no meio da elite da qual faz parte.
E assim agiu o governador de São Paulo Geraldo Alckmin ao escolher uma escola da rede privada de ensino para inaugurar o ano letivo de 2011. Obviamente não é uma escola qualquer. O Colégio Dante Alighieri, o escolhido, cobra uma mensalidade de R$1751,00, valor pouco acima da média salarial do professor no Brasil – R$1745,00. Por aí dá para notar o naipe dos pais que bancam o colégio.
O Dante Alighieri, mesmo cobrando uma mensalidade que é mais do triplo do salário mínimo, ficou em 181° no ENEM 2009. O que não deixa de ser uma bela posição. Todavia ficou atrás da Escola Técnica Estadual de São Paulo (116°), do Colégio Técnico e Industrial da UNESP de Guaratinguetá (178°) e da Escola Técnica Estadual Presidente Vargas de Mogi das Cruzes (179°), todas sob responsabilidade da Secretaria de Educação paulista.
Por que cargas d'água Alckmin não prestigiou uma dessas instituições? Talvez porque nessas escolas o tucano não estivesse em seu habitat natural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário