Maio de 1992, num sábado ensolarado três amigos adolescentes cortam os cento e tantos quilômetros que separam Botelhos de Santa Rita do Sapucaí, ambas cidades no Sul de Minas.
No caminho um deles, curtindo um tremendo pé na bunda por conta duma paixão de adolescência, toma contato pela primeira vez, através dum novíssimo rádio toca-fitas auto reverse, com as músicas duma banda ianque que acabara de surgir para o mundo. Os versos de Smells like a teen spirit grudam em seu ouvido e faz pulsar a alma. O faziam chegar próximo do Nirvana.
Pois bem, o implacável tempo passou. Os três antigos amigos quase não se encontram e pode-se dizer que não possuem mais afinidades. O adolescente a ouvir pela primeira vez Nirvana era eu, então com 17 anos. A paixão causadora do pé na bunda? O tempo levou como tantas outras antes e depois. Ninguém mais, ou quase ninguém, tem toca-fitas, pelo menos no carro. O autor e intérprete daquelas letras morreu dando um tiro na própria cabeça. A única coisa que sobrou foi a atemporalidade presente nos versos de Kurt Cobain e na sua melodia aparentemente desafinada.
Por muito tempo o Nirvana seria meu companheiro, o movimento grunge minha identificação com o mundo e Kurt uma espécie de anti-herói. Com o passar do tempo, implacável tempo, ficou difícil para quem torcia o nariz negar a importância de Nevermind para aquela geração em especial e o mundo da música pop em geral.
Hoje raramente ouço Nirvana. Quando o faço é geralmente pegando carona com o que meu filho mais velho está ouvindo (esse sim, um grande fã da banda de Seattle) e ainda assim me vem à mente a mesma sensação de há quase vinte atrás.
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