Por Tiago Barbosa Mafra e Hudson Luiz Vilas Boas
O filósofo francês Claude Lefort demonstrou em seus escritos as mudanças ocorridas no modo como opera a ideologia a partir da década de 1930 e as novas formas de organização do trabalho que acompanharam o fordismo.
A ideologia da competência, onde a dominação se dá por meio do prestígio e poder oferecidos ao conhecimento dos especialistas, faz-se hoje presente em todas as esferas da vida social.
Esse discurso de “competência” afasta das discussões todo aquele que não é considerado apto para a ação ou o debate.
No âmbito da prática política, isso tem a cada dia trazido um pragmatismo tão grande às ações dos atores envolvidos, que a população se afasta, deixa aos mesmos o poder de decisão, aos considerados entendidos do assunto. Aqueles que se atrevem a permanecer e buscam espaço para a discussão, e claro, não se enquadrando em jogatinas com a coisa pública, são logo tachados de idealistas, despreparados para a vida política que exige “maturidade”, “visão clara da realidade” e “atuação dentro da realpolitik”.
Nesse sentido, aqueles que ainda crêem na transformação da estrutura social por não terem se entregado ao modo predatório e explorador do capitalismo, tornam-se os radicais, ditos desconexos do mundo como ele é.
O fato é que, como grande parte dos especialistas já se entregou ao modo de produção vigente, buscam justificar suas ações por meio da competência, elencando alguns aspectos do sistema como válidos e aceitáveis.
O comprometimento com o coletivo se desfaz, pois qualquer idéia é substituída pelo marketing. O produto é vendido pela imagem construída e dane-se a coerência das idéias. O marketing político não vende idéias ¬– pois não acredita nessas – vende apenas o candidato, como se vendesse sabonete ou chocolate.
Ou seja, no balcão de negócios do jogo político atual, os que defendem as idéias de transformação são colocados como os distantes idealistas que não vêem o que é a realidade. Na idéia de que idealismo se opõe a realidade, a ação política vira mercadoria, justificada pela competência, vendida como produto.
No entanto os adeptos da realpolitik se mostram a cada dia mais afastados da realidade social, olhando para si como se fossem o suprassumo do que há de melhor na sociedade e inventando uma ética sui generis, conhecida apenas no círculo fechado deles mesmos, onde o pragmatismo não possui limites, levando-os a deixar de serem apenas realistas/pragmáticos para tornarem-se meros oportunistas.
Para o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, o ponto central do conservadorismo como ideologia moderna é a convicção de que os riscos de uma intromissão coletiva e consciente nas estruturas sociais existentes, que evoluíram lenta e historicamente, são muito elevados. E é desta ideologia conservadora que surge a realpolitik e o pragmatismo extremado, que na verdade, com todos os seus vícios, ainda assim, possuem infinitamente mais virtudes que o mero oportunismo.
Tiago Barbosa Mafra, Professor de História e Geografia na rede municipal de ensino e no pré-vestibular comunitário Educafro.
Hudson Luiz Vilas Boas, Professor de Sociologia, Geografia e Cultura e Cidadania nas redes estadual e particular de ensino e no pré-vestibular comunitário Educafro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário