quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Serra pede e Gilmar Mendes interrompe sessão do STF
A TRES DIAS DO VOTO, DATAFOLHA ADMITE VITÓRIA DE DILMA, MAS ELES VÃO TENTAR DE TUDO
SERRA E GILMAR MENDES 'SE ACERTAM' PARA DIFICULTAR A VIDA DOS ELEITORES HUMILDES
SE PUDESSEM, RESSUSCITAVAM A CONSTITUIÇÃO DA MANDIOCA, DE 1823, QUE EXIGIA TÍTULO DE POSSE DE TERRAS PARA PARTICIPAR DA DEMOCRACIA
Ontem, às 14 horas, Serra ligou para Gilmar Mendes, a quem tratou apropriadamente como "meu" presidente'. Em seguida, o ministro do STF suspendeu julgamento praticamente decidido para derrubar a exigência de dois documentos na hora de votar. Até a Folha se escandaliza com a conspirata perpetrada pela matraca de toga e o candidato do conservadorismo nativo. Na frase de Gilmar Mendes para justificar sua decisão, todo o menosprezo da direita brasileira pelo povo do país: " daqui a pouco apenas um desenho a lapis será necessário para provar que o Zé Mané é o Zé Mané" [GiLmar Mendes; Folha; 30-09)
Após ligação de Serra, Gilmar Mendes para sessão sobre documentos para votar
Na Folha.com
Após receber uma ligação do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes interrompeu o julgamento de um recurso do PT contra a obrigatoriedade de apresentação dos dois documentos na hora de votar.
Serra pediu que um assessor telefonasse para Mendes pouco antes das 14h, depois de participar de um encontro com representantes de servidores públicos em São Paulo. A solicitação foi testemunhada pela Folha.
No fim da tarde, Mendes pediu vista, adiando o julgamento. Sete ministros já haviam votado pela exigência de apresentação de apenas um documento com foto, descartando a necessidade do título de eleitor.
A obrigatoriedade da apresentação de dois documentos é apontada por tucanos como um fator a favor de Serra e contra sua adversária, Dilma Rousseff (PT).
Serra fala ao celular com o ministro Gilmar Mendes em auditório onde se reuniu com entidades de servidores
Serra fala ao celular com o ministro Gilmar Mendes em auditório onde se reuniu com entidades de servidores
A petista tem o dobro da intenção de votos de Serra entre os eleitores com menor nível de escolaridade.
Após pedir que o assessor ligasse para o ministro, Serra recebeu um celular das mãos de um ajudante de ordens. O funcionário o informou que o ministro do STF estava do outro lado da linha.
Ao telefone, Serra cumprimentou o interlocutor como "meu presidente". Durante a conversa, caminhou pelo auditório onde ocorria o encontro. Após desligar, brincou com os jornalistas: "O que estão xeretando?"
Depois, por meio de suas assessorias, Serra e Mendes negaram a existência da conversa.
Para tucanos, a exigência da apresentação de dois documentos pode aumentar a abstenção nas faixas de menor escolaridade.
Temendo o impacto sobre essa fatia do eleitorado, o PT entrou com a ação pedindo a derrubada da exigência.
O resultado do julgamento já está praticamente definido, mas o seu final depende agora de Mendes.
Se o Supremo não julgar a ação a tempo das eleições, no próximo domingo, continuará valendo a exigência.
À Folha, o ministro disse que pretende apresentar seu voto na sessão de hoje.
Antes da interrupção, foi consenso entro os ministros que votaram que o eleitor não pode ser proibido de votar pelo fato de não possuir ou ter perdido o título.
Votaram assim a relatora da ação, ministra Ellen Gracie, e os colegas José Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Carlos Ayres Britto e Marco Aurélio Mello.
Para eles, o título, por si só, não garante que não ocorram fraudes. Argumentam ainda que os dados do eleitor já estão presentes, tanto na sessão, quanto na urna em que ele vota, sendo suficiente apenas a apresentação do documento com foto.
"A apresentação do título de eleitor não é tão indispensável quanto a do documento com fotografia", afirmou Ellen Gracie.
O ministro Marco Aurélio afirmou que ele próprio teve de confirmar se tinha consigo seu título de eleitor. "Procurei em minha residência o meu título", disse. "Felizmente, sou minimamente organizado."
A obrigatoriedade da apresentação de dois documentos foi definida em setembro de 2009, quando o Congresso Nacional aprovou uma minirreforma eleitoral.
O PT resolveu entrar com a ação direta de inconstitucionalidade semana passada por temer que a nova exigência provoque aumento nas abstenções.
O advogado do PT, José Gerardo Grossi, afirmou que a exigência de dois documentos para o voto é um "excesso". "Parece que já temos um sistema suficientemente seguro para que se exija mais segurança", disse.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Palpites – Parte 2
Distrito Federal
Com a renúncia do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), segundo parecer ao Supremo do procurador Roberto Gurgel o maior ficha-suja da galáxia, a tendência é que o caminho se torne mais fácil para o ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz (PT). Roriz escolheu a esposa Weslian Roriz (PSC) e ela deve manter boa parte das intenções de voto que Roriz que já havia conquistado, senão a totalidade desses supostos votos, no entanto não deverá avançar e de acordo com as últimas pesquisas Queiroz teria uma vantagem em torno dos 10% de dianteira em relação a Roriz. Dificilmente ocorrerá uma virada de Weslian para cima de Queiroz.
Quanto ao Senado, também é muito difícil que haja surpresas no DF. Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) abriram grande vantagem desde o início da campanha em relação aos demais concorrentes.
Bahia
Pelo o que as pesquisas indicam Jaques Wagner (PT), governador candidato a reeleição, vem tendo uma ligeira queda na intenção de votos. Mesmo assim ainda possui uma certa gordura e seus adversários mais fortes, Geddel Vieira Lima (PMDB) e Paulo Souto (DEM), parecem não empolgar o eleitorado baiano.
Na disputa pelas duas vagas do Senado uma briga acirrada entre Walter Pinheiro (PT), César Borges (PR) e Lídice da Mata (PSB). Dada à força do “lulismo” na Bahia e o fato de Borges ser cristão novo na base de apoio do Presidente Lula, além de por anos a fio ter sido fiel escudeiro de ACM – inclusive foi governador do estado pelo finado PFL de ACM – tornam os candidatos do PT e PSB favoritos.
Rio de Janeiro
Talvez seja um dos estados onde a eleição para governador se definiu mais cedo. Sérgio Cabral Filho (PMDB) deve se reeleger de forma olímpica, algo próximo ou acima dos 60% dos votos válidos. Contudo a candidatura de Fernando Gabeira que por ora roça os 20% deverá se aproximar dos 30%, muito por conta de uma suposta “onda verde” fluminense.
Essa mesma suposta “onda verde” pode beneficiar César Maia (DEM). O candidato ao Senado e que por três vezes foi prefeito do Rio de Janeiro, começou a campanha na frente, depois viu Marcelo Crivella (PRB) e na seqüencia Lindberg Farias (PT) ultrapassarem-no e abrirem boa dianteira. Mas aqui vai uma aposta minha. Crivella, dono de um alto índice de rejeição, fica de fora e Maia passando raspando.
São Paulo
Dá segundo turno. Não posso crer que o Picolé de Chuchu e Príncipe do Atraso – Geraldo Alckmin (PSDB) –, mesmo com toda a força dos tucanos no interior do estado, liquidará a fatura no primeiro turno. Aloizio Mercadante (PT) demorou muito a crescer nas intenções de voto, mas está crescendo e provavelmente chegará próximo aos 30% no domingo fatídico. Por outro lado Alckmin não obterá os cinquenta por cento mais um, então teremos segundo turno e aí a historia será outra.
Quanto ao Senado, embora Marta Suplicy (PT) e Neitnho de Paula (PCdoB) estejam na frente segunda as mais recentes pesquisas, acredito que Aloysio Nunes (PSDB) sentará numa das cadeiras do Senado no ano que vem. Acredito nisso porque com a desistência de Orestes Quércia (PMDB) e com o atual estado de saúde de Romeu Tuma (PTB) – há semanas num leito de UTI – o tucano tem sido o grande beneficiado das tragédias alheias. Mais o eleitor paulista, principalmente o do interior, é conservador demais para eleger dois candidatos ligados ao campo popular. Bom, se Aloysio Nunes sentará numa das cadeiras, quem sentará na outra em disputa? Por enquanto não me arrisco a apostar nem em Marta nem em Netinho.
Minas Gerais
Deixei por último meu estado. Todos os prognósticos mostram que o Boneco de Ventríloquo, Antonio Anastasia (PSDB), logrará êxito em sua empreitada. Na verdade o êxito nesse caso é muito mais de Aécio Neves do que do governador tampão. Realmente as circunstâncias e conjuntura não são muito favoráveis ao principal adversário do tucano, o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa (PMDB).
Hélio Costa parece ter seguido o exemplo de José Serra no plano federal e cometeu todo o tipo de barbeiragem que tinha a seu dispor. Começando por não se declarar candidato de oposição, mas sim de o melhor para dar continuidade ao que Aécio fez por Minas.
No mais, o PT nacional e o Presidente Lula também erraram feio, cometendo o seu maior erro estratégico nessas eleições. Caso o PT tivesse lançado candidato próprio – Pimentel venceu as prévias numa disputa onde foram abertas várias feridas – a possibilidade de segundo turno seria enorme. Ao impor a aliança entre PT e PMDB no estado, colocando o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias, o maior nome do partido em Minas, como o vice de Costa, praticamente subtraído do processo qualquer possibilidade de segundo turno. A eleição se tornou polarizada entre os aliados de Aécio e uma oposição quase invisível nos últimos sete anos. Invisibilidade tanto por conta da absurda e vergonhosa censura imposta a imprensa mineira por Aécio e sua turma quanto pela cooptação de políticos antes adversários.
Ademais a chapa Hélio/Patrus tem lutado num cenário extremamente adverso. Para que haja segundo turno já não necessitam mais de suas forças apenas, enquanto os “nanicos” devem terminar a eleição com uma votação nula do ponto de vista eleitoral. Por outro lado a militância petista em nenhum momento mostrou entusiasmo por uma campanha na qual não há opção de número 13. Soma-se a isso o criminoso abuso do poder econômico da campanha do “Boneco de Ventríloquo “.
Em relação ao Senado Aécio Neves (PSDB) praticamente já está eleito. Mas, embora as pesquisas indiquem que Itamar “Forrest Gump” Franco (PPS) seja o favorito para a segunda vaga, ainda creio que Fernando Pimentel (PT) possa surpreender e tirar o doce da boca do ex-presidente.
Creio nisso porque o voto para Senador, tradicionalmente, é o último a ser definido pelo eleitor médio, trazendo sempre grandes surpresas no resultado final. Numa eleição em que serão eleitos dois Senadores essa situação é ainda pior. Também pode ajudar na eleição de Pimentel o fato de Itamar ter uma rejeição relativamente alta em algumas regiões do estado, sobretudo no Sul de Minas, segunda região mais populosa de Minas.
Palpites - Parte I
Pelo menos nos estados onde acho que as eleições estão mais interessantes.
Rio Grande do Sul
Tarso Genro se elege governador ainda no primeiro turno. Nem José Fogaça e muito menos Yeda Crusius têm fôlego para tirar a ampla vantagem aberta por Tarso ao ongo da campanha.
Já o Senado deverá ficar com Ana Amélia (PP) e Paulo Paim (PT), com o ex-governador Germano Rigotto (PMDB) ficando de fora.
Curiosidade. Será a primeira eleição para governador desde 1990 a não ter segundo turno no estado.
Paraná
Acreditava que Beto Richa (PSDB) levaria no primeiro turno, mesmo porque os candidatos nanicos devem ter muito poucos votos. No entanto como o tucano está impedindo na Justiça a divulgação de novas pesquisas, começo a pensar que Osmar Dias (PDT) já o ultrapassou e levará a eleição.
Aliás, mesmo com toda a engenharia política que envolveu a candidatura de Osmar Dias – uma aliança entre PMDB, PT e PDT, e com intervenção direta do presidente Lula – Beto Richa é no momento a grande decepção tucana na disputa dos estados. Richa foi reeleito prefeito de Curitiba com mais de 60% dos votos válidos no primeiro turno de 2008.
Os representantes do estado do Paraná no Senado Federal deverão ser Roberto Requião (PMDB) – o mais corajoso governador brasileiro nos últimos sete anos – e Gleisi Hoffmann (PT).
Mato Grosso do Sul
As pesquisas são unanimes em apontar uma vitoria fácil do atual governador André Puccinelli (PMDB). Todavia as recentes denúncias contra o grupo de Puccinelli são fortes demais para imaginar que não respingarão na sua candidatura. Ademais Puccinelli, um troglodita de ultradireita, tem como adversário o governador Zeca do PT que em 1998 aparecia nas pesquisas sobre intenção de voto num longínquo terceiro lugar e acabou liquidando a fatura no primeiro turno. No Mato Grosso do Sul, a exemplo do Paraná e de diversos outros estados, os candidatos nanicos são irrelevantes do ponto de vista eleitoral, portanto ali também não deverá haver segundo turno.
Delcídio Amaral (PT) deverá se reeleger tranquilamente para o Senado e embora as pesquisas mostrem um empate técnico entre Waldemir Moka (PMDB) e Dagoberto Nogueira (PDT) com ligeira vantagem para o segundo, aposto na eleição do candidato peemedebista.
Alagoas
Talvez as eleições mais disputadas e emocionantes desse ano.
Para o governo aposto em segundo turno entre o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) e o governador candidato a reeleição Teotônio Vilela Filho (PSDB). As pesquisas apontam pequena diferença entre os três principais candidatos, no entanto parece haver uma concentração da artilharia contra o ex-presidente Fernando Collor, por isso dou mais fé num segundo turno entre o pedetista e o tucano.
Para o Senado não me surpreenderá caso Renan Calheiros (PMDB) e Benedito de Lira (PP) vierem a deixar a ex-senadora Heloisa Helena sem uma das vagas. De qualquer modo Calheiros tem tudo para ser o mais votado, deixando a outra vaga para ser decidida pela pseudo-socialista e o pepista.
domingo, 26 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
Estadão apoia Serra
Nada demais. Em alguns países, nos EEUU, por exemplo, é de praxe grandes veículos da mídia impressa declararem em editorial o apoio ao seu preferido. Faz parte do jogo político e não vejo nada demais nisso.
O problema do Brasil em relação a sua mídia está muito longe de ser o fato de ela vez ou outra se declarar favorável ao candidato azul ou vermelho. O problema no Brasil é a mídia oligopolizada se concentrar nas mãos de meia dúzia de famílias.
E não é problema meramente eleitoral, é um problema que obstrui a realização de uma sociedade verdadeiramente democrática. Democrática no sentido que C.B. McPherson, Noam Chomsky, José Saramago, Bertrand Russel e Immanuel Wallerstein, dentre outros, propõem – e aqui não interessa se usavam ou não o termo “democracia substancial” e sim que se extrai do pensamento desses intelectuais.
Não bastassem os ataques infames com os quais bombardeou o governo Lula desde antes dele tomar posse, a mídia oligopolizada – ou Partido do Capital como Gramsci chamava –, deflagrou nas últimas semanas uma guerra nada surda contra a candidata petista Dilma Rousseff. Todos os parâmetros do jornalismo sério, isento, imparcial e independente foram rasgados e jogados na lata do lixo.
Agora, a uma semana do pleito e vendo que a série de factoides levantados pelo Partido do Capital contra o Partido dos Trabalhadores tiveram efeito quase nulo, o que restou a mídia oligopolizada foi explicitar para os 4% da população que acham o governo Lula ruim ou péssimo, e para a classe média analfabeta política, que o seu candidato é José Serra.
Nada que alguém que consiga usar dois neurônios já não soubesse.
Só para terminar. Não se trata de deslegitimar aqueles que votarão ou apoiam José Serra. A questão é que a mídia oligopolizada se furtou de promover um debate sobre o Brasil e passou a utilizar o quanto pior melhor nos últimos anos. Algumas denúncias contra o governo Lula tinham fundamento? Parece que sim. Mas a maioria não passou de estórias mirabolantes com claro intuito eleitoral, e infelizmente conseguiu vender esse quanto pior melhor para parcela considerável da classe média, aquela parcela sempre alinhada às propostas conservadoras e que acha a revista Veja um veiculo sério de informação.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Lançamento de livro sobre história econômica de Poços de Caldas
"O Professor Yuri de Almeida Gonçalves lançará no próximo sábado seu livro acerca da história econômica de Poços.
Já li o livro e garanto que além de se tratar de um trabalho seriíssimo trazendo informações praticamente inéditas, o livro possui potencial para ser fonte de pesquisa e referência para os interessados no assunto".
No dia 25 de setembro, a Câmara Municipal de Poços de Caldas recebe o historiador e professor mineiro Yuri de Almeida Gonçalves, que lança o livro Poços de Caldas – uma leitura econômica. A obra revela um retrato da história econômica da cidade, cobrindo o período de sua fundação aos dias atuais. Dividido em 14 tópicos, o livro é escrito a partir da leitura historiográfica marxista.
De acordo com o autor, aspectos que desmistificam as ideias pré-concebidas sobre o desenvolvimento de Minas Gerais e, conseqüentemente de Poços de Caldas, além de uma análise da conjuntura econômica do país e sua reflexão sobre os municípios são apresentados no livro, que delineia um panorama da economia do Estado a partir do século XVIII, identificando que Minas Gerais não esteve presa somente à mineração do ouro.
“O principal objetivo do livro foi traçar um panorama histórico-econômico de Poços de Caldas, a partir de dados que ainda não haviam sido compilados. O fato de a cidade ter se tornado a maior do sul de Minas sempre me foi motivo de indagações. Na verdade como o motor propulsor da história e a infra-estrutura da sociedade é a economia, já previa que foram aspectos econômicos que motivaram a expansão do município. A partir dessa visão, fui incentivado por professores de Varginha e Três Corações a me lançar na pesquisa, que resultou em minha especialização em História e Construção Social no Brasil, através da Unincor”, informou o escritor.
O livro Poços de Caldas – uma leitura econômica é aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e conta com o apoio cultural da Circullare Auto Omnibus, sendo gratuitamente distribuído para todas as bibliotecas públicas municipais e escolares de Poços de Caldas, além de bibliotecas de referência em todo o país. A abertura do lançamento é marcada por apresentação musical da cantora Jesuane Salvador, que interpreta canções afinadas com a proposta, passando por Mercedes Sosa e Milton Nascimento.
Serviço:
Lançamento do livro “Poços de Caldas – uma leitura econômica”, do escritor Yuri de Almeida Gonçalves
Local: Câmara Municipal de Poços de Caldas, rua Junqueiras, 454 – Centro. Poços de Caldas/MG
Horário: 19h
Entrada franca
Mais informações
Jesuane Salvador
CulturAlternativa Comunicação
(11) 6541-6849
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Didi e os Trapalhões; Groucho e os Irmãos Marx; O Bobo da Corte e sua Trupe
E mais. Que a campanha de José Serra é uma campanha sem projeto, sem rumo e sem saber a que veio, todos já sabem também.
Mas o que ninguém pode negar é que a campanha de Serra ao menos tem nos feito dar boas gargalhadas.
E não é apenas pela provável surra de rabo de tatu que Dilma e o PT darão aos tucanos nas urnas.
Não, não é mesmo. Afinal, primeiro foi o Serra convidando e desconvidando Álvaro Dias para o cargo de vice. Depois o Serra dizendo que “comia” todo mundo. Daí ele veio dizendo que muitos eleitores vinham lhe falar que preferiam-no a Dilma como presidenciável de Lula e a imagem de Lula no horário eleitoral gratuito do PSDB/DEMO/PPS/PTB.
Por último veio a fase populista de Serra afirmando que aumentará o salário mínimo para R$600,00 e concederá reajuste de 10% aos aposentados e pensionistas – vale lembrar que o próprio Serra foi ministro do Planejamento e Orçamento de FFHH entre 1995 e 1996, e naquela época não propôs nenhuma política de ganho salarial ou tampouco de redução das perdas de segurados do INSS.
Não bastassem as trapalhadas do presidenciável tucano, os seus colaboradores, talvez na ânsia de seguirem o exemplo do líder mor, também resolveram fazer das suas. O primeiro foi Paulo Preto, responsável pela arrecadação “informal” da campanha, que depois de angariar alguns milhões de reais, simplesmente deu no pé.
Hoje foi o dia de Soninha Francine (PPS), subprefeita da Lapa e coordenadora da campanha tucana na internet, insinuar que a culpa pela paralisação de três horas do metrô de São Paulo, e consequentemente pelo transtorno causado a milhões de cidadãos, foi – adivinhem de quem??? – do Partido dos Trabalhadores!!!
Mais uma vez parafraseio José “Macaco” Simão: “vivemos no país da piada pronta”.
domingo, 19 de setembro de 2010
Professor Fábio Konder Comparato: Financiamento público de campanhas e referendo revogatório
Pelo Professor Fábio Konder Comparato, no Conversa Afiada
Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?
Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.
Povo, o grande ausente
Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.
Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.
Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:
“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.
Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:
“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”
A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”
A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”
O disfarce partidário-eleitoral
Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.
No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.
A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.
Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.
Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.
O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.
O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.
Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.
Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.
Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.
Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.
Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?
A emancipação política do povo brasileiro
É preciso atacar desde logo o ponto principal.
A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.
Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.
O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.
Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.
É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.
Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!
Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.
A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.
Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.
Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.
Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.
Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.
Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.
Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.
Fábio Konder Comparato é Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.
Música de Domingo – Cuitelinho (Pena Branca)
Valeu Tiago e Wesley!!!
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Maria Inês Nassif: Um modelo partidário trazido do atraso
Só um adendo. Hoje existem fartos relatos que Roberto Freire – que durante a Ditadura Militar foi deputado pelo PMDB, embora já fosse líder do antigo PCB, então na clandestinidade – na verdade prestava serviços para a direita.
Boatos? Talvez. No entanto se analisarmos a guinada a direita que o PPS deu tão logo os liqüidacionistas tentaram extinguir o antigo Partidão, dá até pra acreditar.
Vale ainda ressaltar que o PCB, após longa disputa na Justiça entre os chamados liqüidacionistas que haviam se apoderado do Partidão e uma ala contrária àqueles e ainda fiel aos princípios socialistas – sobretudo marxista-leninistas – continua existindo, tendo inclusive candidato à presidência da República, Ivan Pinheiro.
Por Maria Inês Nassif, no Valor Econômico
A “mexicanização” do quadro partidário brasileiro é um debate a ser colocado em devidos termos. A ameaça de que o PT, depois das eleições de outubro, se transforme num Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000, é apresentada como “denúncia”. Isso é, no mínimo, um equívoco.
A questão merece ser tratada criticamente por todos os atores do cenário político, sob pena de a eleição consolidar, de fato, e por um bom tempo, um único partido com condições de acesso ao poder pelo voto.
Essa perspectiva está colocada não porque o PT trapaceou, mas porque a oposição acreditou demais no seu poder de influenciar massas via convencimento das elites.
É uma estratégia medíocre de ação política, num mundo onde o acesso à informação tem aumentado e ao mesmo tempo saído da órbita exclusiva da influência dos grandes grupos, e num Brasil onde um grande número de cidadãos-eleitores deixou a pobreza absoluta, outro tanto ascendeu à classe média, a escolaridade aumentou, o acesso à internet é maior e a influência das elites sobre os mais pobres tornou-se muito, muito relativa.
Dos partidos na oposição, apenas o PSol, em passado recente, e o PPS, quando remotamente era PCB, conseguiram pelo menos formular idealmente um conceito de partido de massas.
O PSol fracassou porque foi criado na contramão de um crescimento espantoso do PT, partido do qual se originou, e do recuo de setores que, durante o mensalão, ensaiaram abandonar o partido de Lula. Amedrontados com a retórica pré-64 da oposição, esses setores acabaram lentamente retornando à órbita do petismo.
O PCB conseguiu a façanha de ser um partido de massas apenas quando tinha um líder carismático, Luiz Carlos Prestes. Como viveu boa parte de sua existência na clandestinidade, é difícil saber se teria vocação para sair da política de vanguarda e ganhar substância em setores mais amplos. O PPS, que o sucedeu, certamente não mostra essa capacidade.
O PT continua a exceção no quadro partidário. A estrutura montada pelo partido nacionalmente, quando começava a se perder na burocratização da máquina, foi salva pelo lado popular do governo Lula e pela ofensiva oposicionista. O partido não é mais o que era quando foi fundado, mas é certo que tem uma representação social.
As demais legendas, em especial as de oposição, não conseguiram sair da camisa de força dos partidos de quadros. O PSDB, que catalisou a oposição a Lula, e o DEM, com o qual é mais identificado, terceirizaram a ação partidária para uma mídia excessivamente simpática a um projeto que, mais do que de classes, é antipetista.
Todo trabalho de organização partidária, de formulação ideológica e de articulação orgânica foi substituído por uma única estratégia de cooptação, a propaganda política assumida pelos meios de comunicação tradicionais.
A vanguarda oposicionista tem sido a mídia. Esta, espelhando-se na velha estrutura social do país, tem praticado uma conversa exclusiva com os seus: assumiu um discurso para agradar a elite, que por sua vez perdeu quase totalmente seu poder de influência sobre os menos ricos e escolarizados. Os partidos de oposição e a mídia falam um para o outro. Pouco têm agregado em apoio popular, que significaria voto na urna e, portanto, vitória eleitoral.
A ideia de propaganda política via mídia, que para a esquerda pré-Muro de Berlim era uma parte da estratégia de tomada do poder, e para os social-democratas a estratégia de conquista do poder pelo voto, tornou-se a única ação efetiva da oposição brasileira, exercida, porém, de fora dos partidos.
Teoricamente, a mídia tradicional brasileira não é partidária. Na prática, exerce essa função no hiato deixado pela deficiente organização dos partidos que hoje estão na oposição ao presidente Lula. E o produto final não é exatamente a agregação de adeptos, mas uma conversa entre iguais, que se autoalimenta de um discurso trazido do udenismo, pouco propenso a conduzir um debate propriamente ideológico.
Esse não é um fenômeno pós-Lula simplesmente, embora os dois governos do presidente petista tenham dado grande contribuição a esse descolamento entre a “opinião pública” e a “opinião dos pobres”. Logo no início da redemocratização, foi instituído o voto do analfabeto.
Ao longo dos dois últimos governos – portanto, nos últimos 15 anos – ocorreram ganhos de cidadania via aumento de escolaridade e renda que, por si só, incentivam a autonomia do voto. Nos últimos sete anos, os programas de transferência de renda reforçaram essa tendência.
Esse contingente de novos eleitores ganhou autonomia de voto e se descolou da mídia tradicional. Nesse universo, os formadores de opinião pública – por sua vez formados pela mídia – não têm o mesmo acesso que tinham antigamente.
O ingresso dos antigos desletrados na era da informação tem se dado pela televisão – e aí o horário eleitoral gratuito é neutralizador – e um pouco pela internet, mas a decisão política ocorre por ganhos de cidadania.
Como a mídia tradicional é a única a operar como “propagandista” dos partidos de centro e de direita que nunca acharam necessário incorporar militância, formar quadros ou mesmo publicizar ideário, é de se supor que a capacidade de formação de consensos da mídia tradicional seja pouco significativa numa parcela do eleitorado que ascendeu recentemente ao mercado consumidor.
O bloco oposicionista, que inclui não apenas os partidos, mas a mídia tradicional, não entendeu as mudanças que ocorreram no país. O modelo partidário que trazem na cabeça é um que pressupõe alinhamento automático de parcelas da população com líderes distantes ou donos de votos locais, ou a submissão da “ignorância” popular à opinião formada por iluminados.
O novo Brasil não comporta mais isso. Esse modelo de política é elitista, porque não parte do princípio que as pessoas são iguais inclusive no direito de formar uma opinião própria.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Se te apertarem, saia correndo!!!
José Serra perdeu as estribeiras com Márcia Peltier e ameaçou encerrar a entrevista que concedia ao programa “Jogo do Poder” da rede de tv CNT.
Duas coisas. Márcia Peltier já chamou a Revista Fórum de ultra-esquerda. Para a apresentadora casada com Carlos Arthur Nuzman (COB) ser de ultra-esquerda no século XXI, equivale a ser um leproso na Idade Média. Já ameaçar de ir embora quando a entrevista não é do seu agrado ou mesmo sair correndo dela, não é exclusividade de um só tucano. Em 2006 Geraldo Alckmin – vulgo Príncipe do Atraso ou Picolé de Chuchu – se irritou com uma jornalista da BBC – será que a BBC também está aparelhada pelo lulo-petismo??? – e saiu correndo. Isso porque a jornalista insistia em tratar de segurança pública e da onda de ataques do PCC.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Rasgando a fantasia
Os principais veículos do Partido do Capital (mídia oligopolizada) foram fartos em denuncismo infundado nessa terça-feira, seja através de reportagens no mínimo caluniosas e levianas, seja através do suplicio para que a oposição farisaica capitaneada por José Serra encontre algo que ligue Dilma a qualquer coisa capaz de comprometer a pupila de Lula.
Por isso achei bem interessante o artigo de Janio de Freitas na Folha de São Paulo de hoje. No tal artigo está explicito o desejo – do Partido do Capital – de ver os tucanos retomando o poder ao preço que for preciso.
Quando o desespero bate à porta, a lucidez é a primeira desaparecer e rasgam-se as fantasias.
Os amigos de Dilma
Por Janio de Freitas na Folha de São Paulo, via Conteúdo Livre
Dilma Rousseff caminha, aos empurrões, para o inesperado. Quis ser candidata e talvez, com a ajuda de vontades celestiais e sobretudo da divindade planaltina, tornar-se presidente da República. Ao que os fatos sugerem, não é só o que o destino lhe promete.
O que se passa cabe em uma equação simples: ou os adversários de Dilma conseguem afinal comprometê-la com alguma prova, ao menos com algum indício inexplicável, ou Dilma chegará à eleição santificada por uma pureza jamais imaginada entre tantas bandalheiras nacionais.
O bombardeio incessante na base do "filho da sucessora" ou "filho do braço direito" que "teria feito", e da responsabilidade por quebra de sigilos na Receita, e até de alimentar "atentados à democracia" (como disse José Serra na semana passada), ficam como acusações só por acusar.
E o acúmulo dos seus insucessos compõe um atestado de idoneidade exemplar. Como efeito final, levam grande parte do eleitorado ao oposto do pretendido. O que já está captado em reportagens.
A José Serra e aos demais adversários ferrenhos de Dilma Rousseff só restam três semanas para conseguir que uma de suas novas ofensivas, ao menos uma, não se exponha como apelação nada dignificante para os autores.
domingo, 12 de setembro de 2010
Música do Domingo – The Passenger (Iggy Pop)
Muito bacana!!!
sábado, 11 de setembro de 2010
11 de setembro, 37 anos: Allende vive
São 8:54 h em Brasília. A esta hora, há exatos 37 anos, a aviação chilena começava seu bombardeio ao palácio presidencial La Moneda. Depois de derrotada nas eleições parlamentares de 1972, a direita chilena decide abandonar a via eleitoral e o caminho da mera agitação golpista e da sabotagem. Passa a preparar o golpe militar que interromperia uma das interessantes experiências de um povo na reconquista de sua autoestima.
Apesar da intensa sabotagem, dos assassinatos cometidos por grupos de extrema-direita como o Patria y Libertad, dos blecautes patronais e do clima de desestabilização promovido pelo golpismo chileno e pela CIA, a Unidade Popular (coalizão que dava sustentação ao Presidente Salvador Allende, formada pelos Partidos Socialista e Comunista, além de importantes grupos de esquerda como o MIR e o MAPU) havia conseguido ainda mais votos em 1972 que nas eleições presidenciais que levaram Allende ao poder, em 1970.
Acossado em seu palácio sob intenso bombardeio, o Doutor Allende se comporta de maneira impecável: libera os seus funcionários para que salvem suas vidas (oferta que a esmagadora maioria deles recusa, optando por resistir junto a seu amado presidente), realiza gestões para que vários chilenos se protejam em embaixadas (notadamente a cubana) e faz um inesquecível discurso pelo rádio, em que insiste que sua vida não pertence a ele próprio, mas ao povo. Esse discurso imortaliza uma frase que até hoje emociona milhões de chilenos: Pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Allende resiste por algum tempo, com uma mera pistola e sua guarda presidencial.
Na saída do palácio que fica na Rua Morandé, 80, chilenos desarmados se rendiam e mesmo assim eram espancados pelas forças policiais. Já nos primeiros dias, um imenso campo de concentração se formava no Estádio Nacional. A casa do poeta maior, Pablo Neruda, foi pilhada e saqueada. A viúva de Allende foi até mesmo obrigada a enterrar seu amado em segredo, tal era o terror que tinham os militares da força simbólica do legado daquele que os chilenos chamavam de Compañero Presidente.
A experiência vivida pelo povo chileno entre o ano de 1970 e o 11 de setembro de 1973 é das histórias mais instrutivas e emocionantes da era moderna. Mesmo que você não entenda espanhol muito bem, reserve 90 minutos para assistir ao documentário de Patricio Guzmán, La Batalla de Chile. Trata-se de um filme que já trabalhei algumas vezes em sala de aula, mas hoje devo crédito ao Cristóvão Feil, por me lembrar que a obra está disponível no Google Videos:
37 anos depois, o general que traiu seu presidente e comandou o golpe é quase universalmente desprezado como um fascínora torturador que, além de tudo, revelou-se depois, roubou dinheiro do seu povo em ato de enriquecimento ilícito. A memória do médico que entregou, com dignidade, sua vida num combate desigual é cada vez mais cultuada. Especialmente nos bairros mais pobres de Santiago e de outras cidades chilenas, não é raro ver uma foto do Compañero Presidente já logo na sala de estar. É uma experiência inesquecível visitar essas áreas mais humildes, conhecidas no Chile como poblaciones, e ouvir os relatos que ilustram a admiração e o amor que a memória de Allende evoca.
A luta dos chilenos entre 1970 e o 11 de setembro de 1973 para defender seu presidente se cristaliza na trajetória dessa simples palavra, compañero, que não deixaria de impactar outras línguas e passaria, sozinha, a significar o nome de toda uma experiência histórica. Parafraseando uma consigna muito usada nas assembleias populares chilenas a partir de 1970, e num gesto de carinho pelo país que me recebeu tantas vezes e onde tenho tantos amigos, deixo aqui minha homenagem à memória desse homem e dessa experiência: Compañero Biscoito, presente.
Não deixem de assistir ao documentário de Guzmán. Trata-se não só de uma aula de história e de política. É uma aula sobre o que é a dignidade.
Allende vive.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Macartismo Mineiro
Nelson Rodrigues costumava dizer que toda unanimidade é burra. Em Minas Gerais, a unanimidade em torno do governador Aécio Neves vai mais longe. É, além de burra, truculenta, cega e venal. Nenhum outro governador brasileiro ostenta índices tão altos de aprovação e popularidade. Apontado como um dos favoritos ao Planalto em 2010, Aécio raramente aparece na mídia em situações desconfortáveis ou constrangedoras. Quando isso acontece, como no caso do “mensalão tucano”, a imprensa mineira é a última tocar no assunto. Via de regra, espera um sinal de fumaça do Palácio da Liberdade para entrar na pauta, sempre na esteira da defesa do governador. Mas de onde vem esse fervoroso engajamento jornalístico? Será bairrismo em torno da perspectiva de um mineiro na presidência? Ou é o fato de o governador ser jovem, boa pinta e austero com as finanças?
Nos bastidores do Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro, existe uma azeitada máquina de comunicação e propaganda trabalhando a todo vapor para manter a imagem de Aécio intacta e em alta até as eleições de 2010. Esse projeto de poder, que começou a ser gestado em 2002, é baseado no binômio truculência e dinheiro. Em Minas, é proibido falar mal do governador. Casos de jornalistas que ousaram quebrar essa regra e foram demitidos ou ameaçados existem aos borbotões. O resultado, em muitos casos, é a opção pela auto-censura como forma de sobrevivência.
Esse consenso tem sido financiado por uma farta publicidade estatal. Não é a administração direta, mas as estatais que mais gastam em comunicação e publicidade. Com isso, fica mais difícil a fiscalização da Assembléia Legislativa, que ainda por cima conta com uma oposição pouco coesa. “Minas é um estado com alto grau de censura. A imprensa, aqui, é porta-voz do governo Aécio. Existem muitas denúncias de jornalistas perseguidos pelo Palácio da Liberdade. A intervenção do governo se dá de forma direta. Eles pedem a demissão de funcionários e, em muitos casos, são atendidos. Hoje, a censura é mais econômica, já que a cota de publicidade (estatal) nunca foi tão alta. O gasto de publicidade de Aécio cresceu 500% em relação a Itamar. Na execução fiscal de 2006, ele gastou 400% a mais que o previsto”, relata o deputado estadual Carlin Moura, do PCdoB.
A pedido da Fórum, Carlin enviou um requerimento ao governo pedindo uma planilha detalhada com todos os investimentos publicitários do estado, incluindo as estatais. Até o fechamento desta edição, esses dados ainda não haviam sido liberados. “Existe uma caixa preta, já que a maioria dos gastos é feita por empresas estatais, como a Cemig e a Copasa, sobre as quais a Assembléia não tem controle. Eles não dão as rubricas separadas”, conclui Carlin. Em tempo. Segundo dados do Diário Oficial de Minas, a Copasa gastou, só no primeiro trimestre de 2007, R$ 5.208.000. A estatal opera com duas agências, a 3P Comunicação e a RC Comunicação Ltda. No segundo trimestre, a estatal gastou mais R$ 6.615.000, sempre com as mesmas agências. “As empresas são obrigadas, por um dispositivo legal, a informar o volume de gastos, mas não temos como fazer o acompanhamento orçamentário”, informa um assessor da Assembléia Legislativa. O Diário Oficial informa, ainda, que, em 2007, a Secretaria de Estado de Governo já ultrapassou os R$ 30 mil.
Não foi por acaso que Minas Gerais foi o estado que registrou a maior adesão à Semana de Democratização da Mídia. No último dia 5 de outubro, cerca de mil manifestantes de entidades como Abraço, FNDC, Fenaj, CUT, UNE e MST se concentraram em frente ao Palácio da Liberdade. Além de pedir transparência nos processos de concessão de TV, os mineiros denunciaram a falta de liberdade de imprensa no estado. “Em Minas Gerais a liberdade de pensamento é muito mais atacada, pois vivemos sob uma pesada censura praticada pelo governo do estado em parceria com os donos dos principais veículos. Com o objetivo de promover a blindagem em torno da figura do governador Aécio Neves, vários jornalistas foram demitidos por produzirem matérias que desagradaram o Palácio da Liberdade. Depois dessa perseguição, nunca mais se viu ou se ouviu uma única reportagem que contrariasse o interesse da elite que governa Minas Gerais”, resumiu o manifesto batizado de “Carta de Belo Horizonte”, produzido pelos manifestantes.
“O maior jornal do estado, O Estado de Minas, eu chamo de ‘O Estrago de Minas’. Ele é totalmente ligado ao governador. A verdade é que todos estão comprometidos. Não sobra nenhum. Chamam o Aécio de ‘o filho do avô’. Ele não tem tradição nenhuma na política, mas é blindado. Por quê? Falam do mensalão mineiro, mas deviam investigar é o mensalão da mídia mineira”, diz José Guilherme Castro, coordenador de comunicação e cultura da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) e secretário geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). “Aqui em Minas não saiu nada sobre o mensalão mineiro. Só começaram a publicar essa história quando veio a reação do Aécio”, conclui Kerisson Lopes, um dos organizadores da manifestação do dia 5 de outubro, em Minas.
Neste último mês, Fórum conversou com jornalistas, políticos, pesquisou números e levantou histórias reveladoras sobre os bastidores de uma relação mais que promíscua entre o primeiro e o quarto poder em Minas Gerais.
Coco e romance em Ipanema
Em plena tarde de quinta feira, três carros de luxo estacionam em frente a um quiosque de Ipanema, na altura do Jardim de Alah. Os curiosos param para ver a cena. Um casal desce cercado por seguranças e pede água de coco. No dia seguinte, os jornais cariocas revelam o nome dos pombinhos: Aécio Neves e a miss Natália Guimarães. A nota repercutiu no país inteiro, menos em Minas Gerais. Ocorre que, naquele mesmo dia, o governador tinha um importante compromisso – uma solenidade em homenagem à cultura mineira. Diante da inusitada ausência do governador, o vice Antônio Augusto Anastásia teve de improvisar o discurso. Esse pequeno episódio foi lembrado pelo deputado Carlin para um plenário vazio na Assembléia Legislativa de Minas.
Não houve repercussão. Ninguém tocou no assunto, nem mesmo nas colunas sociais locais. O “namoro” só veio à tona na base de Aécio quando sua assessoria achou conveniente. “O romance do governador com a miss Brasil”, estampou, na capa, a revista IstoÉ Gente do último dia 15 de outubro. O episódio é menor, mas cheio de significado. Apesar do clima de macartismo, alguns profissionais ousam revelar os bastidores do esquema. Fórum conversou com um dos editores de um dos maiores jornais mineiros. Por motivos óbvios, ele pede para não ter seu nome revelado. “As pautas chegam com algumas ‘rec’s’ (recomendações). É o editor-chefe quem administra isso. Ele precisa ter jogo de cintura. Para garantir essa blindagem, o governo ataca em massa e manda fazer cadernos especiais de estatais, especialmente da Copasa. Quem cuida dessa interlocução diretamente é a irmã do Aécio, Andrea Neves. É ela que manda na área de imprensa. O Aécio paira por cima. Andrea provocou a demissão de vários companheiros.”
O nome de Andrea Neves da Cunha, 48 anos, irmã mais velha de Aécio e chefe do serviço de assistência social do estado, causa calafrios nas redações mineiras, especialmente nas de Belo Horizonte. Apesar de, formalmente, ocupar um cargo que tradicionalmente pertence à primeira dama, na prática é ela a comandante de fato da área de comunicação da administração. Em reportagem publicada em outubro no jornal Valor Econômico, os repórteres César Felício e Ivana Moreira revelaram ao Brasil o que todo jornalista mineiro já sabia. Coube a Andrea o comando da operação colocada em curso para minimizar os danos do noticiário do mensalão tucano sobre seu irmão. Foi ela que decidiu pela estratégia de aguardar uma semana para que Aécio se pronunciasse oficialmente.
Além do serviço social, a irmã de Aécio também comanda o Grupo Técnico de Comunicação, uma equipe de 12 profissionais de mídia empregados na estrutura do estado e que determina as ações de marketing. Não é exagero dizer que esse é o quartel general da inquisição.
Andrea mãos de tesoura
Era para ser apenas um trabalho de conclusão de curso, mas se tornou um dos vídeos mais assistidos do site YouTube. Em 2003, o estudante de comunicação da UFMG, Marcelo Baeta, recebeu anonimamente uma lista de jornalistas demitidos a pedido do governador. Ficou com a pulga atrás da orelha e passou a prestar mais atenção no noticiário. A decisão definitiva de fazer um documentário foi tomada em novembro de 2004, quando o governo lançou uma campanha maciça para anunciar o “déficit zero”. Baeta notou que a matéria do repórter Ismar Madeira, no Jornal Nacional, era bem parecida com os anúncios publicitários do governo do intervalo, onde um ator-repórter anunciava que “Minas Gerais superou uma década no vermelho”. Um escândalo. No fim da noite, Aécio apareceu no programa Jô Soares, no qual foi fartamente elogiado pelo apresentador bonachão.
A apuração de Baeta revelou a faceta mais brutal do governo Aécio. Um dos entrevistados foi o jornalista Marco Nascimento, hoje diretor de jornalismo da TV Gazeta, em São Paulo. Ele conta, sem rodeios, que Andrea Neves pediu sua cabeça logo depois das eleições, quando Nascimento era diretor de jornalismo da Globo MG, em função de uma série de matérias “que estavam sendo ruins para o governo”. “Imaginei que contaria com o apoio da Globo no Rio, mas estava enganado”, disse a Baeta. Procurado por Fórum, Nascimento disse que prefere não falar mais sobre esse assunto. Ele não imaginava que um trabalho de conclusão de curso fosse ter tamanha repercussão, a ponto de ser citado em matérias publicadas na Europa.
Outro que denunciou os abusos de Aécio, mas acabou voltando atrás, foi o jornalista esportivo Jorge Kajuru. Em maio de 2004, ele ficou furioso na véspera de um jogo da seleção brasileira no Mineirão. Com o microfone em punho, esbravejou: “Sobra ingresso para os convidados do governador de Minas, falta para o torcedor”. Resultado: foi demitido no intervalo. Irado, Kajuru fez um desabafo no programa do apresentador Clodovil. “A irmãzinha dele (Aécio) pede a cabeça de jornalista. Tem jornalista em Belo Horizonte perdendo emprego por causa dela. A emissora sofreu uma pressão enorme. Aécio deve estar rindo agora.”
Não resta dúvida de que o período mais agressivo das investidas de Andrea Neves contra os jornalistas foi entre 2003 e 2004. “Nos primeiros anos de governo, recebíamos muitas denúncias graves de jornalistas que reclamavam de cerceamento por parte dos editores. Havia ingerência direta do governo e da assessoria na cobertura. Era escancarado. Os proprietários eram pressionados e pressionavam os editores para barrar a divulgação de matérias ruins para o governo”, revela Alexandre Campelo, diretor do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais. “Os repórteres denunciavam mudanças e distorções nas matérias que escreviam. Nos últimos dois anos, as queixas diminuíram. Na minha opinião, a pressão, hoje, é mais financeira. A conjuntura profissional – leia-se falta de emprego – colabora para deixar os jornalistas com medo. A cobertura, por sua vez, continua chapa branca. É difícil ver notícias de impacto contra o governo ou o governador. Denúncias só aparecem em veículos de outros estados”, completa.
O caso Lindemberg
Não é de hoje que a imprensa mineira mantém relações promíscuas com o governo estadual. Há quem diga que a tradição nasceu com Assis Chateubriand e seu império, os Diários Associados, grupo que ainda hoje é forte no estado – é dono do jornal O Estado de Minas. Especulações à parte, existe um episódio curioso que passou completamente batido pela grande imprensa nacional, mas que merece ser observado com lupa. No último dia 19 de setembro, a revista IstoÉ publicou uma reportagem explosiva: “Exclusivo: Os documentos do mensalão mineiro”.
A repercussão foi imediata em todo o país, menos em Minas. Mas isso não vem ao caso. O que chama atenção é o fato de que o documento que deu origem à matéria – um relatório da Polícia Federal – está, hoje, disponível na internet para quem quiser ler e repercutir. Mas, curiosamente, existe pouca gente interessada no assunto. Fórum imprimiu e esmiuçou as 172 páginas do relatório. E descobriu que ainda existe muita pauta quase inédita para ser publicada. Em linhas gerais, o relatório – que se refere ao período em que o tucano Eduardo Azeredo foi governador e candidato a reeleição – mostra que toda a estrutura de caixa dois criada por Marcos Valério passava pela comunicação, por meio da simulação de gastos com comunicação.
Mas isso também não é novidade. Na página 151, entretanto, um nome salta aos olhos: Carlos Lindemberg Spínola Castro. Para quem não sabe, ele era na época e ainda é editor do jornal Hoje em Dia, que pertence à Igreja Universal e é um dos maiores do estado. No período investigado, o ano de 1998, quando Azeredo tentou a reeleição, Lindemberg recebeu da SMP&B, portanto da campanha, R$130 mil para dar “opiniões políticas”. Em depoimento para a Polícia Federal, ele reconhece que recebeu R$ 50 mil. Existe algum problema no fato de Lindemberg ser o responsável por um dos principais jornais do estado e receber dinheiro da campanha do governador que tenta a reeleição? A imprensa mineira acha que não. Tanto é que apenas um site no estado, o Novo Jornal, tocou no assunto. Outros jornais e revistas do Brasil chegaram a ensaiar a publicação do caso, mas foram “convencidos” a deixar quieto.
Fórum conversou com Lindemberg, que se defende. “Não existe relação entre uma coisa (ser diretor de um jornal) e outra (prestar serviço como consultor). Sempre prestei consultoria. Não trabalho para nenhum político ou agência, fui pago por uma agência de forma limpa. Tanto é que não há ilicitude em relação a mim.” Além de dizer que toda unanimidade é burra, Nelson Rodrigues (sempre ele) também disse, certa vez, em sua Flor de Obsessão: “o mineiro só é solidário no câncer”. Dessa vez, contudo, parece que ele errou.
Jornal mineiro é o mais vendido do Brasil
Pela primeira vez na história da imprensa brasileira os mineiros têm um jornal que é líder de circulação no país. Informa o Instituto de Verificador de Circulação (IVC) de agosto que o Super Notícia, tablóide diário de 25 centavos, vem mantendo uma média diária de 300.322 exemplares distribuídos. Isso é mais que a Folha de S.Paulo (299.010), O Globo (276.733), Extra (238.937) e O Estado de S.Paulo (238.752). Com 32 páginas de editorial e 13 de anúncio, o Super se transformou em um fenômeno abusando de sangue, mulher e futebol e reciclando material editorial dos jornais O Tempo e Pampulha, que pertencem ao mesmo grupo. O pai da idéia e dono do jornal é o empresário e político Vittorio Medioli, ex-deputado federal pelo PSDB, atualmente no PV.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
O Grito dos Excluídos e o Aprendiz de Coronel
E o grande protagonista de tudo isso foi o prefeito Paulinho Courominas, que mais uma vez deu razão àqueles que o acusam de não ter personalidade e constantemente fugir da raia.
Um grupo de cidadãos comuns organizados em torno de sindicatos, de pastorais, do Educafro e da Coordenação dos Movimentos Sociais de Poços teve o seu direito de liberdade de expressão cerceado pelo ilustre prefeito municipal.
O aprendiz de coronel, através dos organizadores do tradicional desfile de 7 de Setembro, tentou de todas as maneiras impedir que o “Grito dos Excluídos”, um evento que acontece em todo o Brasil no 7 de Setembro, se realizasse em Poços de Caldas.
Todavia mesmo debaixo de chuva e da ameaça de cassetetes os manifestantes não recuaram e concentraram-se em frente ao prédio da prefeitura a fim de participarem do evento, carregando consigo uma enorme bandeira com as cores do Brasil, alguns cartazes em prol do limite da propriedade rural e outros lembrando o descaso e a incompetência da atual administração para com os munícipes.
Lambanças da atual administração
Dentre outras lambanças, afinal são tantas que é até difícil enumerá-las, o “Grito dos Excluídos” destacou:
Caos do transporte público;
Demora na entrega do material escolar para alunos da rede pública municipal;
Aumento escorchante do IPTU camuflado na taxa de lixo;
Poluição da represa Saturnino de Brito;
Aprovação (por parte da Câmara com forte pressão do Executivo) do Paço Municipal em área de reserva ambiental;
Sucateamento da Festa do Uai;
Não negociação com os servidores públicos municipais sobre a data-base e tentativa de empurrar goela abaixo destes a alteração do regime jurídico para estatutário, num projeto recheado de inconstitucionalidades;
Descaso com os constantes incêndios na Serra de São Domingos;
Racionamento de água.
Manifestação
A PM e a Guarda Municipal a pedido do prefeito aprendiz de coronel, só liberaram a manifestação pacifica após o desastrado prefeito, mais os vereadores presentes ao evento e os deputados Geraldo Thadeu (PPS) e Carlos Mosconi (PSDB), ambos candidatos a reeleição em outubro próximo, terem se retirado do palanque donde haviam acompanhado os demais desfiles. Curiosamente antes do Grito dos Excluídos ter sua manifestação liberada, a frente do palanque foi tomada por cabos eleitorais do “Boneco de Ventríloquo”, Antonio Anastasia, portando enormes bandeiras da campanha do candidato a governador apoiado por Courominas, Thadeu e Mosconi.
Iniciada a manifestação o único vereador a presenciá-la foi o presidente da Câmara, Marcus Togni (PPS), justamente um dos defensores mais ferrenhos da construção do Paço Municipal, uma das principais criticas dos manifestantes nesse ano.
Sobre o tal paço, além do terreno adquirido para sua instalação ser uma área de reserva ambiental, há uma enorme duvida sobre sua viabilidade tanto política quanto financeira. Ainda assim o projeto assinado por Oscar Niemayer para a sede da futura Câmara Municipal custou ao povo de Poços a bagatela de 1,25 milhão de reais.
Imaginemos então: o quanto custará a construção em si da Câmara e dos demais prédio que o Paço Municipal deverá abrigar? Esse “quanto” é uma enorme incógnita, de cifra certamente exorbitante, para todos os cidadãos poçoscaldenses.
Fuga de prefeito, deputados e vereadores
O prefeito já era de se esperar que não ficasse, pois ele não gosta de ser contrariado. Mas os vereadores e deputados bem que poderiam ter-lhe dado exemplo de civilidade e respeito à democracia e esperado a passagem do Grito dos Excluídos.
Caso eu não esteja enganado, o único vereador a não subir no palanque ao lado do prefeito e dos deputados aliados da atual administração, foi o Professor Flávio Faria (PT), por sinal o mais coerente e combativo vereador da oposição nessa legislatura, uma das mais fracas da história política de Poços. Os demais vereadores estavam no palanque tentando tirar uma “casquinha” e foram embora antes da passagem do Grito dos Excluídos. Inclusive a pseudo-vereadora Maria Cecília Opípari, a Ciça do PSB – que se diz de oposição, mas adora posar em fotos ao lado do aprendiz de coronel e sempre se reúne com ele e a sua bancada de apoio no prédio da Francisco Salles, além de já ter declarado que a construção do Paço Municipal será positiva, pois este poderá se tornar mais um "ponto turístico" na cidade – correu e não quis presenciar a passagem dos manifestantes.
Aliás, essa menina é das mais oportunistas que já vi. Em sua campanha rumo a Câmara de Vereadores se portou como uma legitima demagoga, prometendo ações fora da alçada do edil e atacando histericamente a administração Navarro por todos os lados, muitas vezes com denúncias infundadas. Também chegou a se autodeclarar representante dos movimentos sociais sem, no entanto, jamais ter participado de qualquer um.
Encerramento
Mesmo sem o ato de civilidade e o conseguinte gesto de desrespeito à democracia protagonizada pelo prefeito, pelos deputados e pelos vereadores – a exceção de Marcus Togni – o Grito dos Excluídos seguiu adiante, cantando a simbólica “Caminhando e Cantando” e depois com palavras de ordem do tipo: “Cansado sou eu de ser explorado” – em alusão a implantação do SIGA(O)– e “um, dois, três, quatro, cinco mil, o Paulinho fugiu” para depois encerrar de maneira democrática e com efusivos aplausos da população presente a sua participação no 7 de Setembro.
domingo, 5 de setembro de 2010
GRITO DOS EXCLUÍDOS EM POÇOS DE CALDAS
A concentração se dará a partir das 10:30h, em frente ao Fórum (Rua Pernambuco) e às 11:30h na esquina da Rua Minas Gerais com Rua Paraíba.
Sairemos após a última banda a se apresentar no Desfile em comemoração à nossa “independência” e iremos protestar por:
- Um modelo de transporte público de qualidade que atenda às necessidades da população e não de uma determinada empresa (MANIFESTAÇÃO CONTRA O SIGA – Sistema Integrado Grande Amigo);
- Uma taxa de lixo compatível com a renda e realidade econômica da maiora da população de Poços de Caldas, pois o aumento desse ano efetuado pela Prefeitura chega a quase 60% para muitos cidadãos, refletindo no aumento do custo de vida, do aluguel e outros;
- Uma explicação sobre o que houve com nossa água “esverdeada” da Represa Saturnino de Brito contra a falta de água que assola bairros da cidade;
- Uma relação de respeito e garantia da reposição salarial dos funcionários públicos municipais, que até hoje estão sem aumento de salário e sem explicação condigna com a função social do servidor público;
- Respeito ao meio ambiente, com atenção para o que dizem órgãos respeitados na área sobre a construção do Paço Municipal em área dita de recarga de mananciais d’água e de preservação ambiental;
- Respeito à vontade da população no que for decidido pelo Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra;
- Atenção às reivindicações da juventude quanto à valorização dos artistas locais, da cultura e esporte e incentivo à educação;
PARTICIPE DESSA MANIFESTAÇÃO CÍVICA, POPULAR E DEMOCRÁTICA!
AJUDE A DIVULGAR, VAMOS DEMONSTRAR ÀS AUTORIDADES QUE O POVO UNIDO FAZ HISTÓRIA!
Isabella Taviani - Vinte e Nove
Hoje vamos de Isabella Taviani e a bela "Vinte e Nove" de Reanto Russo.
sábado, 4 de setembro de 2010
As aventuras do careca: Fábula de um país imaginário
-- Rapaz, eu te falei que esse negócio dos nossos jornais não darem uma linha sobre a história era burrada. A imprensa inteira fazendo o maior auê e a gente dando manchete sobre o aumento da poluição em BH? Foi bandeira demais. Os caras só seguiram a pista.
-- Eu disse ao Alvim. Era só repetir a ladainha “o aparelhamento da Receita, o Estado policial, patati patatá”. Mas não. Ficaram no silêncio, deu no que deu. Ficou óbvio demais.
-- Uso do cachimbo deixa a boca torta.
-- Pois é.
-- O negócio já estava agourado lá atrás, quando o Ecim bateu na namorada. Pô, tá achando que Copacabana é Barão de Cocais? Lá vaza mesmo. A moça lá da Folha que é dona da boate contou, mas não deu nome nenhum.
-- Quem deu?
-- Aquele jornalista lá, do futebol.
-- Por que o cara fez isso?
-- Ele vive afogado em processos, o Ric o odeia.
-- O Rick o está processando também?
-- Não, sua besta, esse é outro Ric, o do futebol!
-- Ah, sei. Mas o que tem a ver?
-- É que o Ric é chapa do Ecim.
-- Isso aí foi antes ou depois daquele recado do careca, o pó pará?
-- Depois. O Ecim já sabia que o chumbo era grosso. Mas aí o Ecim já estava com a galera nossa aqui, já tinha chamado o Yruama. Quando o careca descobriu que o Rick estava processando o Yruama, endoidou. Ele é feio e desengoçado, burro ele não é. Mas aí Inês já era morta, tinha que continuar com a ladainha de que era o partido dos barbudos. Como réu, o Yruama tinha acesso aos autos. Imagina, o Yruama, repórter, macaco velho, com aquela papelada toda. O sujeito até salivou. Um franguinho assado no colo.
-- O que tem na papelada?
-- Toda a história de Lilliput nos anos 90. Como venderam tudo, as negociatas, tudim, tudim. O careca entrou em pânico.
-- O lance é que o careca tentando fingir de indignado não convence nem minha vovozinha. É mais fácil ele aprender a dançar forró que se fingir ultrajado. Aí fodeu mesmo.
-- Mas o plano não era incriminar o partido dos barbudos com o material do Yruama, aproveitando que era sigiloso?
-- Tentaram. Foram lá em Brasília com aquele delegado. O sargentão estava lá também. Não conseguiram nem um aloprado pra arrastar.
-- Mas a Óia não deu a matéria assim mesmo, dizendo que era o partido dos barbudos?
-- Os caras foram lá, mas a história era tão fantasiosa que nem o Quaresma achou que dava pra vender.
-- Mas a matéria saiu.
-- Saiu, porque ali sacumé. Até o cruzamento da mandioca com o rinoceronte eles já inventaram.
-- E aí, o que rolou?
-- A matéria saiu na internet num sábado. Veio o domingo e nada de repercussão. Veio a segunda, nada. Não sei o que rolou na segunda, mas na terça A Esfera entrou solando, publicou matéria repercutindo. O rapaz da Folha até contou que eles nem iam pegar essa história, era vexame demais, mas como A Esfera já tinha publicado, eles tinham que seguir.
-- Nem com a matéria eles conseguiram algum bobo do partido dos barbudos pra pegar um dado sigiloso e depois ser incriminado?
-- Nem um. Filhos da puta. Os barbudos estão ficando espertos.
-- Como é que eles descobrem a relação disso tudo aí com a cidade do Visconde?
-- Internet, meu filho. Lilliput em 2010 não é Lilliput em 1989. Não sei quem foi, mas às 15 h o trem já estava pegando fogo na internet.
-- Qual foi a besta quadrada que saiu da reunião dizendo “a internet já descobriu que foi o Ecim”?
-- Não sei quem foi, mas vazou isso também.
-- Como é que está Ecim?
-- Ecim está tranquilo. Agora, o careca está em pânico.
-- E o nosso esquemão aqui?
-- Complicado. Descobriram as matérias clandestinas feitas à noite aqui, pra não sair no jornal e vazar pra outros.
-- Como descobriram? Porra, estamos no oitavo andar!
-- A meia dúzia de quarteirões do Ecim. Eu já te falei, Lilliput em 2010 não é Lilliput em 1989.
-- Como se chama este bairro aqui?
-- Bairro da Serra.
-- Avenida Getúlio Vargas no bairro da Serra?
-- Eu sei, pode rir.
-- E o careca agora?
-- Ficou doidão. Não pode revelar o esquema, começou a brigar com os blogs.
-- Blogs?
-- É uma turma suja que escreve na Internet.
-- O cara quer governar Lilliput e está brigando com os blogs?
-- Desespero, mô fio. O Ecim é que é esperto. O careca odeia o Ecim até mais que ele odeia o barbudão. Do barbudão ele tem é inveja.
-- E o barbudão?
-- Estava lá em Porto Alegre quando vazou tudo. Sendo beijado pelo povo, aquela nojeira.
-- Tem perigo disso sair na imprensa?
-- Tem não. Morrem de medo, rabo preso, sacumé. O lance é que dá na mesma, está todo mundo migrando pra internet.
-- O Yruama está se cuidando?
-- Aquele ali é doido de pedra. Você sabe, ele voltou pra Minas depois que levou aquele tiro em Brasília.
-- Nosso esquemão aqui sobrevive?
-- Claro. Minas é tranquilo.
-- Então a mulher vai ganhar mesmo?
-- De lavada.
-- E o careca?
-- Se fodeu.
-- Acho que é até melhor pra nós.
-- Com certeza.
-- O careca ficou sozinho então?
-- Ficou sozinho.