No primeiro turno quase não houve debate sobre os reais problemas do Brasil. A questão da desigualdade social, que ainda é monstruosa, mesmo que o governo Lula a venha diminuindo de forma progressiva; a internacionalização de nossas terras; a questão, sempre pendente, de uma reforma agrária profunda; a falta de investimentos/fomentação do Estado em relação a ciência e tecnologia, o que ainda nos mantém atados ao nível mais baixo da divisão internacional do trabalho; o tema de uma reforma política ampla e a desobstrução dos canais de efetiva participação popular no processo democrático; a guerra cambial que se alastra pelo mundo com o Brasil enfrentando dificuldades em suas contas externas; etc., etc.,etc.
Como partidos e candidatos no mundo todo assumem cada vez mais posições de “centro”, o debate torna-se pasteurizado e próximo do ideário conservador.
Quem explica isso de forma brilhante é Immanuel Wallerstein. Um pequeníssimo fragmento da obra de Wallerstein nos deixa claro como funciona e o porquê do discurso de centro: “Na arena política ninguém declara suas escolhas políticas. Pelo menos no mundo moderno, todos nós temos que pedir apoio para nossos argumentos não só àqueles que compartilham de nossos interesses e preferências imediatas, mas também a um grupo muito mais amplo de pessoas. E é isso que gera a legitimidade. Legitimidade é o resultado de um processo de longo prazo que tem, como elemento central, um tipo especifico de persuasão” (Utopística ou As Decisões Históricas do Século Vinte e Um – Editora Vozes, 2003).
E no Brasil não é diferente. A última eleição em que vimos um candidato forte propor algo que fugisse do “centro”, e que, portanto, buscasse construir a legitimidade sobre outras bases, foi Lula em 1989. Mas aquele era um momento histórico completamente diverso do veio a seguir já dentro daquilo que se convencionou chamar “normalidade democrática”. Nas campanhas posteriores a retórica pasteurizada tomou conta do debate. Nesse ano de 2010, Plínio de Arruda Sampaio ensaiou romper a barreira invisível que separa o “centro” das discussões mais aprofundadas. Contudo Plínio encerrou sua participação com ínfimos 0,87% dos votos válidos, o que mostra que a sociedade brasileira, por ser bastante conservadora, não aceita, por ora, nada além do satatus quo.
Entretanto isso não quer dizer que não hajam diferenças substanciais entre o projeto representado pela sacrossanta aliança PSDB/DEMO/PPS e o projeto encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores. A visão que o PT tem da desigualdade social como efeito da construção histórica de nossa sociedade onde a concentração de renda e a patrimonialismo são sua causa, é diametralmente oposta à visão tucana, cuja desigualdade social é apenas causa natural do sistema e tende a ser diluída na media em que outros problemas sejam sanados. Obviamente que cada visão traz consigo uma receita diferente de como enfrentar a questão.
Foi justamente isso o que ficou de fora dos debates no primeiro turno desse ano. Em 2006 Lula conseguiu abafar Geraldo Alckmin no segundo turno quando diferenciou o modelo de Estado que o PT representava daquele representado pelo PSDB. Agora em 2010 seria de grande valia retomar esse tema e mostrar como ambos partidos e seus respectivos presidenciáveis, Dilma Rousseff e José Serra, veem o combate à desigualdade social, por exemplo.
Infelizmente o que levou José Serra ao segundo turno foi uma campanha sórdida urdida no submundo das trevas e que nada adiciona a sua biografia a não ser a pecha de político capaz de utilizar de meios nada éticos para atingir o fim proposto.
Esperemos que o segundo turno seja mais fértil em debates, nos ajude a imaginar uma sociedade menos desigual e que a partir dela o Brasil seja mais democrático no sentido substancial do termo. No entanto, para que isso ocorra, resta apenas uma alternativa viável e não é aquela urdida no submundo das trevas.
Um comentário:
Afinal vemos se aperoximando o final dessa campanha presidencial tão mal estrutura pelos candidatos que, aliás, foram os piores em 50 anos.
Vença quem vencer, não vejo nada de novo e de bom para o nosso país no horizonte de nossas necessidades.
Não há mais jeito para o país, acredite-me. Jamais alcançaremos o nível dos países da Ásia, economicamente e socialmente falando. O nosso país é como um cego que teima andar sózinho sem o auxílio da bengala ou à mão de pessoas iluminadas. Só copiamos o que não presta; imitamos o que em outras Nações já não mais faz parte dos planejamentos de suas autoridades; estamos órfãos de cidadãos sérios; somos pedintes, apenas. Estamos envelhecendo e ainda não obtivemos a tão sonhada sabedoria. Há que ter um consenso coletivo para mudanças estruturais profundas: civismo, respeito aos direitos, educação, justiça e fraternidade entre os cidadãos. Essas deverão ser as bandeiras de um Brasil que se deseja novíssimo. Conservador como é o brasileiro parece um ébrio que ao caminhar vai de encontro às paredes e muros e, por fim, à direção de um buraco
sem fim onde não haverá mais como retornar. braços
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